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o trotskismo no brasil da década de 1930: a historiografia recente e ...

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RESUMO<br />

O TROTSKISMO NO BRASIL DA DÉCADA DE <strong>1930</strong>: A<br />

HISTORIOGRAFIA RECENTE E SUAS FONTES<br />

Mestrando Roberto Borges Lisboa 1∗<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria<br />

rb_lisboa@yahoo.com.br<br />

Dr.ª Gláucia Vieira Ramos Konrad 2∗∗<br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria<br />

glaucia-k@uol.com.br<br />

Este trabalho tem como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> a pesquisa “A Luta <strong>de</strong> Classe: O Brasil pelo<br />

viés dos trotskistas (<strong>1930</strong>-1939)” e busca evi<strong>de</strong>nciar alguns aspectos relevantes para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do estudo acerca <strong>da</strong> dissidência do Partido Comunista do Brasil (PCB).<br />

Saliento que ao me <strong>de</strong>parar com a <strong>historiografia</strong> do <strong>trotskismo</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong> dois<br />

aspectos complementares ficaram evi<strong>de</strong>ntes: a) a opção <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a trajetória <strong>da</strong>s<br />

organizações políticas trotskistas em suas ligações com o PCB e conecta<strong>da</strong> às divergências<br />

com as posturas políticas na Internacional Comunista; b) os <strong>no</strong>vos estudos evi<strong>de</strong>nciaram<br />

que estas divergências com o PCB continham fortes elementos <strong>de</strong> disputa quanto ao<br />

entendimento do momento político que vivenciava o Brasil. Assim, este trabalho visa<br />

estabelecer um diálogo com os estudos do <strong>trotskismo</strong>.<br />

Palavras – Chave: Trotskistas, Partido Comunista do Brasil, Historiografia.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A história <strong>da</strong>s organizações políticas <strong>de</strong> extração trotskista <strong>no</strong> Brasil é parte<br />

integrante <strong>da</strong> história do movimento operário e <strong>da</strong>s organizações políticas dos trabalhadores<br />

<strong>brasil</strong>eiros. As pesquisas do último quartel do século XX tiveram a importância <strong>de</strong><br />

reorientar e reabilitar tanto a história dos trabalhadores – não mais circunscrita unicamente<br />

a perspectiva <strong>de</strong> seus movimentos políticos – quanto à história <strong>da</strong>s organizações políticas<br />

1 ∗ Estu<strong>da</strong>nte do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em História <strong>da</strong> UFSM/RS. Bolsista REUNI.<br />

2 ∗∗ Orientadora. Professora Adjunta do Departamento <strong>de</strong> Documentação <strong>da</strong> UFSM/RS.<br />

1251


dos trabalhadores surgi<strong>da</strong>s em fins do século XIX e início do século XX e, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong><br />

dissidência comunista do Partido Comunista do Brasil (PCB).<br />

É importante ressaltar que foram <strong>no</strong>s momentos em que o PCB engatinhava seus<br />

primeiros movimentos que fricções internas produziram a Oposição <strong>de</strong> Esquer<strong>da</strong> (OE),<br />

inicialmente na perspectiva <strong>de</strong> reforma partidária, e organizações políticas que propuseram<br />

se diferenciar dos comunistas e afirmar outra política <strong>no</strong> movimento dos trabalhadores<br />

on<strong>de</strong> lograram intervir, estes conhecidos internacionalmente pelo epíteto do <strong>trotskismo</strong>.<br />

Conforme indica Bensaid (2010, p. 15), a dissidência comunista <strong>de</strong> modo geral:<br />

Assumiram por <strong>de</strong>safio uma <strong>de</strong><strong>no</strong>minação que se queria infamante, os<br />

‘trotskistas’ dos a<strong>no</strong>s <strong>1930</strong> preferiam <strong>de</strong>finir-se como ‘bolcheviques –<br />

leninistas’, ‘marxistas revolucionários’ ou ‘comunistas internacionalistas’,<br />

pleonasmo tornado necessário para se distinguirem do comunismo confiscado<br />

pela reação burocrática.<br />

Ain<strong>da</strong>, este artigo objetiva evi<strong>de</strong>nciar questões concernentes a temática do<br />

<strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>, especificamente, os itinerários e fontes <strong>de</strong> suas<br />

pesquisas <strong>recente</strong>s.<br />

É necessário evi<strong>de</strong>nciar que existem duas questões recorrentes e complementares<br />

nas pesquisas do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>, ou seja: a) a opção <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar<br />

a trajetória <strong>da</strong>s organizações trotskistas, principalmente, em sua ligação com o PCB e<br />

conecta<strong>da</strong> às divergências com as posturas políticas na Internacional Comunista (IC);<br />

b) estas divergências com o PCB continham fortes elementos <strong>de</strong> disputa quanto ao<br />

entendimento do momento político que vivenciava o Brasil. Desta forma, o caminho<br />

percorrido neste artigo se verifica diante do itinerário exposto acima, o <strong>da</strong> temática <strong>da</strong><br />

dissidência comunista que se organizou referencia<strong>da</strong> teórico-politicamente em Leon<br />

Trotsky.<br />

AS FONTES DE PESQUISA DA DISSIDÊNCIA DO PCB<br />

Pesquisador contemporâneo do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro, Dainis Karepovs, tem<br />

subsidiado com seus estudos questões <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental interesse para a pesquisa <strong>de</strong>sta<br />

temática, especialmente, <strong>no</strong>s períodos entre <strong>1930</strong> – 1960 e 1966 – 2000. Em 2005, em<br />

artigo publicado pelos CADERNOS Arquivo Edgard Leuenroth 3 , o autor apresentou a<br />

situação <strong>da</strong>s pesquisas do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil cujo ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> foram os estudos <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970 4 .<br />

3 AEL <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas / UNICAMP.<br />

4 ALEXANDER, R. J. Trotskyism in Latin America. Stanford: Hoover Institution Press, 1973; DULLES,<br />

J. W. F. Anarquistas e comunistas <strong>no</strong> Brasil (1900 – 1935). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1977; CARO-<br />

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No que diz respeito às fontes utiliza<strong>da</strong>s, Karepovs (2005, p. 272 – 273) indica que<br />

Alexan<strong>de</strong>r ocupou em parte <strong>de</strong> seu texto <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> antigos militantes trotskistas,<br />

que Dulles teve acesso – em fins dos a<strong>no</strong>s 1960 – a documentação do anarquista Edgard<br />

Leuenroth e, Carone, que por sua vez, teve como base <strong>de</strong> pesquisa a documentação do<br />

antigo militante trotskista Lívio Barreto Xavier. Em segui<strong>da</strong>, o autor situa as pesquisas na<br />

primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, nas quais, Dulles e Carone 5 tiveram acesso ao acervo<br />

do antigo militante Hermínio Sacchetta posteriormente doado ao AEL.<br />

Sobre estas obras <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar o trabalho <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r em o dois momentos.<br />

Primeiramente, pelo seu imenso valor documental, ou seja, a gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

materiais e testemunhos orais, em que pese negativamente a falta <strong>de</strong> elaboração histórica<br />

e, consequentemente, a confecção <strong>de</strong> um trabalho altamente <strong>de</strong>scritivo. De qualquer<br />

forma, este é o primeiro trabalho a se ater especificamente na temática do <strong>trotskismo</strong> na<br />

América Latina e <strong>no</strong> Brasil.<br />

Ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, publicaram-se obras <strong>de</strong> cunho geral que abor<strong>da</strong>vam<br />

<strong>de</strong> maneira geral as primeiras dissidências dos partidos comunistas. Sobre esta questão,<br />

temos na América Latina o livro <strong>de</strong> Coggiola 6 <strong>no</strong> qual se apresenta uma breve pa<strong>no</strong>râmica<br />

<strong>da</strong> história do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. As fontes consulta<strong>da</strong>s pelo autor<br />

foram essencialmente as do AEL.<br />

Outros exemplos são os livros <strong>de</strong> Campos e Silva. Campos 7 busca esclarecer o<br />

que seria a temática do <strong>trotskismo</strong> e traria um breve capítulo sobre os passos iniciais<br />

<strong>da</strong>s dissidências comunistas que formariam a Oposição <strong>de</strong> Esquer<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil a partir<br />

<strong>da</strong> consulta <strong>de</strong> poucos números do jornal A Luta <strong>de</strong> Classe. De outro modo, Silva 8 busca<br />

apresentar comunistas e trotskistas com suas divergências <strong>no</strong>s principais acontecimentos<br />

políticos na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. Não obstante, <strong>de</strong>ve-se ressaltar a escassez <strong>da</strong>s fontes dos<br />

trotskistas consulta<strong>da</strong>s e a magnitu<strong>de</strong> do empreendimento que busca tratar <strong>da</strong>s tendências<br />

políticas <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> até fins <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, período <strong>de</strong> surgimento do Partido dos<br />

Trabalhadores.<br />

Deve-se ressaltar que as obras cita<strong>da</strong>s acima indicam os primeiros movimentos<br />

cuja abor<strong>da</strong>gem do <strong>trotskismo</strong> é fun<strong>da</strong>mental, pois, segundo Karepovs (2005, p. 272):<br />

Até então o movimento dos trotskistas <strong>brasil</strong>eiros havia sido objeto <strong>de</strong><br />

referências pontuais e feitas sob ótica estigmatizante em obras <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s à<br />

NE, E. A República Nova (<strong>1930</strong> – 1937). São Paulo: DIFEL, 1974.<br />

5 CARONE, E. A República Liberal. São Paulo: DIFEL, 1985; DULLES, J. W. F. O Comunismo <strong>no</strong> Brasil:<br />

repressão em meio ao cataclismo mundial. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />

6 COGGIOLA, O. O <strong>trotskismo</strong> na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 30 – 37.<br />

7 CAMPOS, José Roberto. O que é Trotskismo. São Paulo: Nova Cultural / Brasiliense, 1986.<br />

8 SILVA, Antônio Ozaí <strong>da</strong>. História <strong>da</strong>s tendências <strong>no</strong> Brasil: origens, cisões e propostas. 2. ed. São<br />

Paulo, [S.l.: s.n.], [19—].<br />

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história do PCB ou, então, <strong>de</strong> forma episódica e localiza<strong>da</strong>, em textos <strong>de</strong> antigos<br />

militantes publicados em meados dos a<strong>no</strong>s 1940 na imprensa, <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s, por<br />

sua vez, a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s passagens dos primeiros momentos <strong>da</strong> trajetória do<br />

<strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro.<br />

As pesquisas <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 até o presente momento<br />

trouxeram uma re<strong>no</strong>vação <strong>da</strong> história do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro e suas organizações<br />

políticas <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. O uso <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas fontes e, consequentemente, o alargamento<br />

dos itinerários e, ain<strong>da</strong>, um aumento dos estudos <strong>de</strong> caso, tanto episódica quanto<br />

comparativamente trouxeram avanços significativos.<br />

De fun<strong>da</strong>mental contribuição à história <strong>de</strong>stes comunistas internacionalistas,<br />

especialmente <strong>no</strong> Brasil, foi a criação do CEMAP 9 em 1981. Em 1984, publicavam-se<br />

os Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s CEMAP com o objetivo subsidiar as pesquisas concernentes ao movimento<br />

operário. No primeiro número 10 , o relato dos 50 a<strong>no</strong>s dos 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1934 11 , <strong>de</strong> Fúlvio<br />

Abramo, aponta itinerários fun<strong>da</strong>mentais para se escrever uma história dos trotskistas<br />

<strong>brasil</strong>eiros, tais como, a criação do jornal antifascista “O Homem Livre” e a formação<br />

e atuação política <strong>da</strong> Frente Única Antifascista (FUA). Ain<strong>da</strong>, está presente a tensa<br />

relação estabeleci<strong>da</strong> <strong>no</strong> período entre comunistas, socialistas, trotskistas e anarquistas.<br />

No Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, encontram-se subsídios para <strong>no</strong>vas pesquisas através <strong>de</strong> documentos dos<br />

jornais militantes <strong>da</strong> época.<br />

Com o esforço <strong>de</strong> subsidiar <strong>no</strong>vas pesquisas, o CEMAP publica ain<strong>da</strong> o Boletim<br />

Bibliográfico 12 que, em fevereiro <strong>de</strong> 1985, traz catálogos <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> Leon Trotsky<br />

publicados <strong>no</strong> jornal A Luta <strong>de</strong> Classe, principal ferramenta política <strong>de</strong> difusão <strong>da</strong>s idéias<br />

<strong>da</strong>s organizações políticas trotskistas na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. EM 1987, o CEMAP, seguindo<br />

a tendência inicia<strong>da</strong> com os Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s e Boletim Bibliográfico, publica coletânea <strong>de</strong><br />

documentos, especialmente, dos Grupo Comunista Lênin, Liga Comunista do Brasil e Liga<br />

Comunista Internacionalista. Publicados <strong>no</strong> livro Na Contracorrente <strong>da</strong> História 13 , este<br />

sistematizou importantes textos políticos que subsidiaram o entendimento dos trotskistas<br />

<strong>brasil</strong>eiros sobre o momento histórico vivenciado <strong>no</strong> Brasil <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que estes documentos inéditos ficaram acessíveis, estudos<br />

9 Centro <strong>de</strong> Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa que se encontra <strong>no</strong> Centro <strong>de</strong> Documentação<br />

e Memória (CEDEM) <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> São Paulo / UNESP.<br />

10 ABRAMO, Fúlvio. 7 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1934 – 50 a<strong>no</strong>s. In. Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s CEMAP, São Paulo, n. 1, out. 1984,<br />

p. 02 – 93.<br />

11 Episódio conhecido como Batalha <strong>da</strong> Sé na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo on<strong>de</strong> se confrontaram Antifascistas e<br />

Integralistas.<br />

12 KAREPOVS, Dainis. Trotsky n’A Luta <strong>de</strong> Classe. In. Boletim Bibliográfico CEMAP, São Paulo, n. 3,<br />

fev. 1985, p. 01 – 18.<br />

13 ABRAMO, Fúlvio; KAREPOVS, Dainis. (Orgs.). Na Contracorrente <strong>da</strong> História: Documentos <strong>da</strong><br />

Liga Comunista Internacionalista (<strong>1930</strong> – 1933). São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 41 – 179.<br />

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começaram a ser publicados utilizando basicamente a documentação do AEL e CEMAP 14 .<br />

As pesquisas incorporavam ain<strong>da</strong>, segundo Karepovs (2005, p. 274), materiais “dos<br />

processos do Tribunal <strong>de</strong> Segurança Nacional, preservados <strong>no</strong> Arquivo Nacional, do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, conservando a documentação apreendi<strong>da</strong> pela repressão <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong> após o<br />

putsch stalinista <strong>de</strong> 1935”.<br />

Neste sentido, é importante ressaltar também a publicação em 1993 <strong>da</strong>s cartas <strong>de</strong><br />

Mário Pedrosa en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong> a Lívio Xavier entre os a<strong>no</strong>s 1926 e <strong>1930</strong>. Estas que permitem<br />

situar os <strong>de</strong>bates condizentes aos rumos do PCB e <strong>da</strong> IC com suas divergências 15 .<br />

Ain<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>-se que dizer que apesar <strong>de</strong> já explora<strong>da</strong>s por algumas pesquisas, as<br />

fontes do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong> ain<strong>da</strong> carecem <strong>de</strong> uma sistematização que<br />

evi<strong>de</strong>nciem suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisas e itinerários possíveis <strong>de</strong> serem aprofun<strong>da</strong>dos<br />

a esta temática.<br />

Atualmente, um facilitador para esta sistematização <strong>de</strong>ve ser o caminho <strong>da</strong><br />

digitalização dos documentos existentes <strong>no</strong>s acervos públicos em geral que abarcam a<br />

dissidência comunista. Aqui, cabe lembrar a iniciativa do CEMAP que já digitalizou boa<br />

parte <strong>de</strong> sua documentação e <strong>de</strong>stacar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acessar quase to<strong>da</strong> a documentação<br />

presente em seu acervo acerca do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro. Entre os documentos já<br />

digitalizados e que po<strong>de</strong>m ser úteis às <strong>no</strong>vas pesquisas estão os jornais A Classe Operária<br />

do PCB (1928 – 1940), A Luta <strong>de</strong> Classe 16 (<strong>1930</strong> – 1939), O Homem Livre 17 (1933 –<br />

1934), O Comunista 18 (1934), O Proletário 19 (1935 – 1936), Sob Nova Ban<strong>de</strong>ira 20 (1937)<br />

e Luta Proletária 21 (1945); bem como, boletins <strong>da</strong> Liga Comunista do Brasil, do POL e<br />

do PSR. Também, já estão digitaliza<strong>da</strong>s pelo CEMAP as correspondências dos militantes<br />

trotskistas Mário Pedrosa e Plínio Mello e, ain<strong>da</strong>, diversos documentos <strong>da</strong> LCI.<br />

Portanto, a seguir é objetivo evi<strong>de</strong>nciar os caminhos já percorridos pelas pesquisas<br />

do <strong>trotskismo</strong> nas duas últimas déca<strong>da</strong>s e indicar <strong>no</strong>vas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para seu contínuo<br />

14 Publicados, essencialmente, pela revista Estudos do Centro <strong>de</strong> Estudos do Terceiro Mundo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo e dirigi<strong>da</strong> pelo professor Osvaldo Coggiola.<br />

15 NETO, José Castilho Marques. Solidão Revolucionária: Mário Pedrosa e as origens do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong><br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1993, p. 254 – 338.<br />

16 O jornal A Luta <strong>de</strong> Classe é consi<strong>de</strong>rado o fio <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> entre as organizações políticas do<br />

<strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> período <strong>de</strong> sua publicação, respectivamente, Grupo Comunista Lênin (GCL), Liga Comunista<br />

do Brasil, Liga Comunista Internacionalista (LCI), Partido Operário Leninista (POL) e Partido Socialista<br />

Revolucionário (PSR). Foram publicados 45 números <strong>de</strong>ste jornal, dos quais, estão disponíveis <strong>no</strong> CEMAP<br />

36 números.<br />

17 Foram publicados 22 números <strong>de</strong>ste jornal que fora entendido pelos trotskistas como instrumento <strong>da</strong><br />

luta antifascista através <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> se ampliar a frente única para to<strong>da</strong>s as organizações sindicais e políticas<br />

<strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> paulista.<br />

18 Publicação <strong>da</strong> LCI <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, especificamente, os números 3, 4 e 5.<br />

19 Publicação <strong>da</strong> LCI em São Paulo, especificamente, os números 1, 2, 3 e 5.<br />

20 Publicado pelo POL e que está disponível o número 3.<br />

21 Publicado pelo PSR. Estão disponíveis os números 1, 6 e 9.<br />

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<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

AS PESQUISAS RECENTES DA TEMÁTICA DO TROTSKISMO<br />

Publicado em 1995, o artigo Trotsky e o Brasil buscava articular os aportes teóricos<br />

e políticos <strong>de</strong> Leon Trotsky e relacioná-los as formas <strong>de</strong> apropriação <strong>da</strong> Oposição <strong>de</strong><br />

Esquer<strong>da</strong> para a luta política <strong>no</strong> movimento operário <strong>brasil</strong>eiro. Estes aportes i<strong>no</strong>vadores<br />

ao marxismo, a saber, a teoria <strong>da</strong> revolução permanente e o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação<br />

burocrática não se reduziam a tradição bolchevique (KAREPOVS, LOWY & NETO, 1995,<br />

p. 223 – 228). Ain<strong>da</strong>, o artigo sustentava que a explicação do surgimento do <strong>trotskismo</strong><br />

<strong>brasil</strong>eiro <strong>de</strong>veria ser encontra<strong>da</strong> nas transformações <strong>da</strong> União Soviética, <strong>da</strong> IC e na<br />

consi<strong>de</strong>ração <strong>da</strong>s peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua seção <strong>brasil</strong>eira, o PCB (Ibid, p. 231.). Também,<br />

critica o “simples roteiro” que sugere a origem do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro está liga<strong>da</strong> a<br />

viagem <strong>de</strong> Mário Pedrosa, <strong>de</strong>signado pelo PCB para participar <strong>da</strong> Escola Leninista em<br />

Moscou em fins <strong>de</strong> 1927, que convalescendo <strong>de</strong> doença na Alemanha adiou sua viagem<br />

a Moscou e entrou em contato com oposicionistas franceses a<strong>de</strong>rindo às posições <strong>de</strong><br />

Trotsky. A partir <strong>de</strong> contato com o militante comunista Lívio Xavier, este teria preparado<br />

o trabalho para os oposicionistas. Para Karepovs, Lowy e Neto, “essas diferenças com<br />

as teses locais do Partido Comunista correm paralelamente à clarificação do quadro<br />

internacional”. Ain<strong>da</strong>, <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> embarque a Moscou, Mário Pedrosa já conhecia<br />

muitas <strong>da</strong>s questões polêmicas referentes à IC e a União Soviética (Ibid, p. 231 – 233).<br />

Este roteiro proposto em Trotsky e o Brasil já havia sido articulado por Neto 22 que<br />

se utilizando <strong>da</strong> documentação do jornal A Luta <strong>de</strong> Classe e Boletim <strong>de</strong> Opposição buscou<br />

“as origens do <strong>trotskismo</strong> <strong>brasil</strong>eiro” 23 .<br />

Neste sentido, outro artigo seria publicado em conjunto por Karepovs e Neto<br />

referindo-se a trajetória dos trotskistas e levando em consi<strong>de</strong>ração o roteiro proposto por<br />

eles em 1995. Em Os trotskistas <strong>brasil</strong>eiros e suas organizações políticas (<strong>1930</strong> – 1966),<br />

os autores <strong>de</strong>finiram as dissensões 24 <strong>no</strong> interior do PCB que culminaram na formação dos<br />

22 Ver citação 13.<br />

23 Neto também refuta a tese que imputa à disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e controle partidário entre comunistas como<br />

explicação para o surgimento dos oposicionistas na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920. In: NETO, 1993,<br />

p. 92.<br />

24 Em outubro <strong>de</strong> 1927, a divergência <strong>de</strong> Rodolfo Coutinho e Joaquim Barboza diante <strong>da</strong> proposta <strong>de</strong><br />

aliança com o tenentista Luis Carlos Prestes na reunião <strong>da</strong> direção do PCB. Em fevereiro <strong>de</strong> 1928, Joaquim<br />

Barbosa e João <strong>da</strong> Costa Pimenta, responsáveis pela política sindical do partido são criticados por suposto<br />

corporativismo na Conferência <strong>de</strong> Organização <strong>da</strong> Região do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Barbosa resolve polemizar<br />

com o partido em carta aberta que através do Comitê Central Executivo proibi sua difusão sofrendo severas<br />

críticas à <strong>de</strong>mocracia interna <strong>no</strong> partido, o que acarretou <strong>no</strong> pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> 46 militantes. Entre<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1928 e janeiro <strong>de</strong> 1929, <strong>no</strong> III Congresso do PCB começa a incorporação <strong>da</strong> política <strong>da</strong> IC do<br />

“terceiro período” e seus “sindicatos vermelhos”. Ain<strong>da</strong>, têm-se o <strong>de</strong>sfecho <strong>da</strong> greve <strong>de</strong> 72 dias dos gráficos<br />

1256


primeiros oposicionistas e sugeriram um fio parcial <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> entre duas gerações<br />

<strong>de</strong> militantes trotskistas cuja transição se <strong>da</strong>ria <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1939 com a dissidência <strong>de</strong><br />

Hermínio Sacchetta e <strong>de</strong> outros militantes do PCB que a<strong>de</strong>riram aos posicionamentos <strong>da</strong><br />

recém fun<strong>da</strong><strong>da</strong> Quarta Internacional.<br />

Também, os autores situaram uma quebra <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a segun<strong>da</strong> e<br />

terceira geração que formaria em 1952 o Partido Operário Revolucionária. Cabe lembrar<br />

que esta pesquisa é subsidia<strong>da</strong> amplamente pelos jornais A Luta <strong>de</strong> Classe, O Comunista,<br />

O Proletário, Sob Nova Ban<strong>de</strong>ira além dos boletins publicados na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. Sua<br />

contribuição situa-se na tentativa <strong>de</strong> precisar uma pa<strong>no</strong>râmica <strong>da</strong>s organizações políticas<br />

trotskistas e na <strong>de</strong>finição do conteúdo <strong>da</strong>s cisões e realinhamentos políticos.<br />

Por outro lado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, pesquisas têm abor<strong>da</strong>do as organizações<br />

políticas trotskistas através <strong>de</strong> recortes referentes a “momentos específicos” 25 <strong>da</strong><br />

história <strong>da</strong> dissidência comunista. Também, o surgimento <strong>de</strong> pesquisas que abor<strong>da</strong>m<br />

conjuntamente “a intervenção dos comunistas e trotskistas com seus projetos políticos” 26<br />

aju<strong>da</strong>ram a enriquecer os estudos sobre o <strong>trotskismo</strong>. Estas pesquisas referem-se muitas<br />

vezes ao que está em disputa <strong>no</strong> movimento operário <strong>da</strong>quele período, o entendimento do<br />

momento político que vivenciava o Brasil e as propostas <strong>de</strong> suas organizações políticas<br />

para estabelecer uma conexão viva com o movimento operário <strong>brasil</strong>eiro.<br />

Neste sentido, o biênio 1933-1934, pesquisado por Castro, consistiu basicamente<br />

na problematização <strong>da</strong>s intervenções dos trotskistas e comunistas, socialistas e anarquistas<br />

na luta antifascista 27 com suas propostas e dissensões. Ain<strong>da</strong>, evi<strong>de</strong>nciam-se os confrontos<br />

paulistas fortemente critica<strong>da</strong> pelos futuros oposicionistas, entre março e maio <strong>de</strong> 1929, e o episódio <strong>da</strong> célula<br />

4-R em julho <strong>de</strong> 1929 que criticou a orientação esquerdista do PCB. In. KAREPOVS & NETO, 2002,<br />

p. 115 – 120. Outro texto que trata <strong>da</strong>s dissensões e trajetória dos oposicionistas po<strong>de</strong> ser encontrado em:<br />

KAREPOVS, Dainis; NETO, José Castilho Marques. O <strong>trotskismo</strong> e os trotskistas: os a<strong>no</strong>s 1920 e <strong>1930</strong>.<br />

In. FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão (Orgs.). A formação <strong>da</strong>s tradições (1889 – 1945). Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 379 – 406.<br />

25 Estes dois trabalhos inci<strong>de</strong>m sobre as origens do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil, porém, <strong>de</strong>sdobram, <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr<br />

<strong>de</strong> seus estudos, questões e situações específicas pouco abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s. CASTRO, Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. A<br />

Oposição <strong>de</strong> Esquer<strong>da</strong> <strong>brasil</strong>eira: 1928-1934: teoria e prática. 1993. Dissertação (Mestrado em História)-<br />

Instituto <strong>de</strong> Ciências Humanas e Filosofia, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, Niterói, 1993. ALMEIDA,<br />

Miguel Tavares <strong>de</strong>. Liga Comunista Internacionalista: teoria e prática do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil: <strong>1930</strong>-1935.<br />

2003. Dissertação (Mestrado em História)- Pontifícia Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo,<br />

2003.<br />

26 CASTRO, Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. Contra a guerra ou contra o fascismo: as esquer<strong>da</strong>s <strong>brasil</strong>eiras e o<br />

antifascismo: 1933-1935. Tese (Doutorado em História)-Instituto <strong>de</strong> Ciências Humanas e Filosofia, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, Niterói, 1999. FERREIRA, Pedro. Roberto. O conceito <strong>de</strong> revolução <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong><br />

<strong>brasil</strong>eira: 1920-1946. Londrina: Ed. UEL, 1999. SILVA, Ângelo José <strong>da</strong>. Comunistas e Trotskistas: a<br />

crítica operária à Revolução <strong>de</strong> <strong>1930</strong>. Curitiba: Moinhos do Verbo, 2002.<br />

27 Sobre a luta antifascista, Castro teve publicado artigos que abor<strong>da</strong>ram a formação e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>da</strong> Frente Única Antifascista, O Comitê Antiguerreiro, o jornal O Homem Livre, a saber: In. CASTRO,<br />

Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. A Frente Única Antifascista (1933-34). In. FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel<br />

Aarão (Orgs.). A formação <strong>da</strong>s tradições (1889 – 1945). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2007,<br />

p. 429 – 451. CASTRO, Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. A Frente Única Antifascista (FUA) e o antifascismo <strong>no</strong><br />

1257


com a Ação Integralista Brasileira, li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> por Plínio Salgado, que começava a realizar<br />

encontros públicos em algumas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Os artigos citados <strong>de</strong> Castro, <strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong> sua dissertação <strong>de</strong> mestrado e<br />

tese <strong>de</strong> doutorado, foram fun<strong>da</strong>mentais para articular historicamente este momento vivido<br />

pelas esquer<strong>da</strong>s paulistas. As fontes utiliza<strong>da</strong>s pelo autor em seus estudos incluíam as<br />

existentes <strong>no</strong> fundo do Departamento <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Política e Social (DOPS) <strong>da</strong> Associação<br />

dos Procuradores do Estado <strong>de</strong> São Paulo, especificamente, do prontuário do Comitê<br />

Antifascista, além dos fundos do DOPS existentes <strong>no</strong>s Arquivos Públicos dos Estados<br />

<strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro. Castro 28 também abor<strong>da</strong>rá a intervenção e críticas <strong>da</strong>s<br />

esquer<strong>da</strong>s diante do processo <strong>de</strong> instalação e funcionamento <strong>da</strong> Assembléia Constituinte<br />

<strong>brasil</strong>eira <strong>no</strong> biênio referido acima perpassando também a luta antifascista.<br />

Outro artigo que abor<strong>da</strong> momentos específicos dos trotskistas refere-se a crítica dos<br />

trotskistas à Aliança Nacional Libertadora (ANL). Conforme Almei<strong>da</strong>, uma <strong>da</strong>s principais<br />

críticas à ANL foi o afastamento <strong>da</strong> revolução ao separar a luta contra o imperialismo <strong>da</strong><br />

luta contra o capitalismo, ou seja, os trotskistas criticavam a perspectiva <strong>de</strong> revolução<br />

<strong>de</strong>mocrático-burguesa do PCB que dirigia a organização (ALMEIDA, 2005, p. 88 – 89.).<br />

Neste estudo, o autor utilizou o jornal A Luta <strong>de</strong> Classe para buscar o entendimento <strong>de</strong>ste<br />

momento político pelos trotskistas e a crítica <strong>de</strong>stes após o fracasso dos levantes militares<br />

<strong>de</strong> 1935. Cabe lembrar que este artigo é <strong>de</strong>sdobrado <strong>de</strong> parte <strong>da</strong> dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

<strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> em 2003.<br />

Enfim, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>stacar ain<strong>da</strong> outra contribuição <strong>de</strong> Ferreira 29 que a partir dos<br />

documentos organizados <strong>no</strong> livro 30 publicado por Abramo e Karepovs buscou apresentar o<br />

viés dos trotskistas enquanto um projeto político que procurou enten<strong>de</strong>r o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

histórico <strong>brasil</strong>eiro. O autor, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> situar as divergências políticas entre trotskistas<br />

e comunistas, busca situá-las <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> histórico junto <strong>da</strong> localização do Brasil como parte<br />

atrasa<strong>da</strong> do capitalismo mundial. Neste sentido, Ferreira se preocupa evi<strong>de</strong>nciar como os<br />

trotskistas forjaram suas interpretação dos “Brasis” e como se utilizaram <strong>da</strong>s contribuições<br />

teóricas e políticas <strong>de</strong> Leon Trotsky.<br />

Brasil (1933 – 1934). TOPOI, Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>z. 2002, p. 354 – 388. CASTRO, Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. O<br />

Homem Livre: um jornal a serviço <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> (1933 – 1934). Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s AEL, Campinas, v. 12, n. 22/23,<br />

2005, p. 59 – 78. Destaca-se que estes artigos trabalham as organizações trotskistas do período como importante<br />

impulsionador <strong>da</strong> luta antifascista <strong>no</strong> Brasil.<br />

28 CASTRO, Ricardo Figueiredo <strong>de</strong>. As Esquer<strong>da</strong>s e o Processo Constituinte Brasileiro <strong>de</strong> 1933-34: Projeto<br />

e Ação Política. História Social, Campinas, n. 2, 1995, p. 55 – 88.<br />

29 FERREIRA, Pedro Roberto. O Brasil dos Trotskistas (<strong>1930</strong> – 1960). Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s AEL, Campinas, v. 12,<br />

n. 22/23, 2005, p. 11 – 58.<br />

30 Ver citação 11.<br />

1258


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Des<strong>de</strong> os a<strong>no</strong>s 1990, <strong>no</strong>s estudos do <strong>trotskismo</strong> <strong>no</strong> Brasil dos a<strong>no</strong>s <strong>1930</strong>, é recorrente<br />

um aumento na complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s tramas condizentes ao surgimento <strong>de</strong>stas organizações<br />

políticas <strong>de</strong> extração trotskista. Isto significa que o conhecimento histórico acerca <strong>de</strong>sta<br />

temática foi enriquecido <strong>de</strong>vido à disponibilização <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas fontes e <strong>de</strong> historiadores<br />

preocupados com uma história que fugisse <strong>de</strong> caminhos meramente <strong>de</strong>scritivos.<br />

Também, é latente um ganho em complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> na trama vivencia<strong>da</strong>, ao longo<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>, após o surgimento <strong>da</strong> palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> uma quarta<br />

internacional que agitou as dissidências comunistas. Estas, muitas vezes reduzi<strong>da</strong>s<br />

numericamente, mas com uma intensa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> política – que se organizaram em<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> países e foram parte <strong>da</strong>s lutas do movimento operário internacional alçando<br />

importância em alguns momentos específicos <strong>da</strong> luta <strong>de</strong> classes.<br />

To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong> percebem-se lacunas acerca <strong>da</strong> plataforma e programas políticos<br />

<strong>de</strong>stas organizações, ora pouco explorados ora pouco dimensionados nas pesquisas<br />

existentes. Não se trata <strong>de</strong> buscar estas questões apenas na linha política <strong>da</strong> Quarta<br />

Internacional ou <strong>no</strong>s escritos políticos <strong>de</strong> Leon Trotsky – o que muitas vezes é recorrente,<br />

mas <strong>de</strong> buscar a significação dos trotskistas, na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>1930</strong>,<br />

condizentes ao momento político vivenciado pelo Brasil sob o Estado Novo e diante <strong>da</strong><br />

meia <strong>no</strong>ite do século.<br />

Trata-se <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s efetiva<strong>da</strong>s historicamente a partir do campo<br />

<strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s abertas, mas também <strong>de</strong> entrever as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s abstratas que foram<br />

<strong>de</strong>rrota<strong>da</strong>s, mas que um historiador atento não se esquecerá <strong>de</strong> situá-las <strong>no</strong> tempo <strong>da</strong><br />

política pelos seus anseios e propostas e <strong>no</strong> tempo histórico pelas conseqüências <strong>de</strong>riva<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> sua práxis. Apenas <strong>de</strong>sta forma será possível afastar a recorrência do esquecimento e<br />

<strong>da</strong> falsificação que muitas vezes permearam a temática do <strong>trotskismo</strong> – outrora apêndice<br />

<strong>da</strong> história dos partidos comunistas.<br />

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