Alfabetização e escola em Portugal no século XX: Censos ...
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ções, sugere uma relação entre estes factores<br />
combinados e o crescimento da alfabetização<br />
e da <strong>escola</strong>rização.<br />
e) apesar de a coincidência não ser total, sociedades<br />
com graus de alfabetização mais<br />
intensas, tend<strong>em</strong> a <strong>escola</strong>rizar-se mais cedo<br />
do que aquelas <strong>em</strong> que a penetração da<br />
cultura escrita é mais débil, e isto independent<strong>em</strong>ente<br />
das legislações nacionais sobre<br />
educação e <strong>em</strong> particular, sobre a obrigatoriedade<br />
de frequência <strong>escola</strong>r;<br />
f) apesar de estas tendências se prolongar<strong>em</strong><br />
<strong>no</strong> t<strong>em</strong>po, o <strong>século</strong> <strong>XX</strong> vai assistir a casos<br />
de sucesso de alfabetização e sobretudo de<br />
<strong>escola</strong>rização que quebram <strong>em</strong> parte estas<br />
tendências antes assinaladas, e que se dev<strong>em</strong><br />
a factores políticos e económicos<br />
muito dependente de opções de Estado, caso<br />
entre outros de uma parte dos países<br />
dos Balcãs, dos regimes que <strong>em</strong> 1918 e <strong>em</strong><br />
1945 se tornam socialistas, e também de<br />
algumas sociedades do Centro-Sul da Europa,<br />
como se poderá constatar do Quadro<br />
1.<br />
g) o caso português é, durante mais de um<br />
<strong>século</strong>, segundo todos os dados disponí-<br />
veis quer se trat<strong>em</strong> de dados de orig<strong>em</strong><br />
nacional ou externa, um caso singular de<br />
dupla periferia <strong>no</strong> contexto europeu: periferia<br />
face ao «núcleo duro» da alfabetização,<br />
e <strong>no</strong> decorrer do <strong>no</strong>sso <strong>século</strong>, periferia<br />
face aos limites Sul, Leste e Oeste<br />
que historicamente foram me<strong>no</strong>s impregnados<br />
pela cultura escrita.<br />
O Quadro 1 que de seguida expomos, com<br />
todas as inexactidões inerentes a este tipo de<br />
cifras, reflecte o essencial das tendências que<br />
acabamos de referir.<br />
As cifras indicadas falando por si, resta-<strong>no</strong>s<br />
dizer que tais cifras não são isoladas, antes confirmando<br />
as tendências que antes assinalámos.<br />
Mas mais do que a comparação dos dados<br />
sobre <strong>Portugal</strong> com outras sociedades do mesmo<br />
espaço geográfico e cultural, os quais iriam repetir<br />
o que sobressai <strong>no</strong> Quadro anterior, interessa-<strong>no</strong>s<br />
perceber a forma como a sociedade<br />
portuguesa foi construindo laços com a escrita,<br />
assim como os ritmos e as maneiras como tais<br />
relações se foram estabelecendo.<br />
Como entrada nesta t<strong>em</strong>ática, propomo-<strong>no</strong>s<br />
apresentar e discutir um quadro referente à evo-<br />
QUADRO 1<br />
Cálculo da alfabetização na Europa entre 1850 e 1950, a partir de <strong>Censos</strong>, taxas de alfabetização<br />
de recrutas e condenados, e assentos matrimoniais<br />
1850 1900 1950<br />
Países Nórdicos, Al<strong>em</strong>anha 95% aprox. 98% aprox. 98%<br />
Escócia, Holanda e Suiça<br />
Inglaterra e País de Gales 70% aprox. 88% aprox. 98%<br />
França, Bélgica e Irlanda 55% 80% aprox. 98%<br />
Áustria e Hungria 35% 70% aprox. 98%<br />
Espanha, Itália e Polónia 25% aprox. 40% aprox. 80%<br />
Rússia, Balcãs e <strong>Portugal</strong> aprox. 15% aprox. 25% U.R.S.S. - aprox. 90%;<br />
Bulgária e Roménia - 80%<br />
Grécia e Yugoslávia - aprox. 75%<br />
<strong>Portugal</strong> - aprox. 55%<br />
in Johansson, citado por Graff, 1991, 375