Alfabetização e escola em Portugal no século XX: Censos ...
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QUADRO 11<br />
Distribuição do trabalho produtivo de acordo com o género, na geração dos avôs e dos netos<br />
Avôs Masculi<strong>no</strong> F<strong>em</strong>ini<strong>no</strong> Total Freq.<br />
Trabalho Sist<strong>em</strong>ático 8 9 17<br />
Trabalho Esporádico 2 1 3<br />
Total 10 10 20<br />
Netos<br />
Trabalho Sist<strong>em</strong>ático 1 3 4<br />
Trabalho Esporádico 9 7 16<br />
Total 10 10 20<br />
in Simões 1998, p. 142.<br />
«trabalho produtivo» <strong>no</strong>s seus quotidia<strong>no</strong>s de<br />
crianças <strong>no</strong> caso dos primeiros, e actuais <strong>no</strong> caso<br />
dos últimos, é ilustrado pelo Quadro 11.<br />
Deste Quadro se percebe que o trabalho produtivo<br />
era visto como fundamental na eco<strong>no</strong>mia<br />
doméstica das famílias a que pertenciam a maioria<br />
dos indivíduos da geração dos avôs da freguesia<br />
do Beco, enquanto que <strong>no</strong> caso dos netos,<br />
o seu trabalho parece ser encarado como um<br />
compl<strong>em</strong>ento dos proventos familiares <strong>no</strong> sentido<br />
<strong>em</strong> que aliviam o trabalho dos adultos e dispensam<br />
a contratação eventual de assalariados. No<br />
entanto, e as entrevistas mostram-<strong>no</strong>, este trabalho<br />
das crianças da geração dos netos também se<br />
inscreve <strong>no</strong>s restos de uma tradição de educação<br />
camponesa <strong>em</strong> que todos trabalham desde criança<br />
e <strong>em</strong> que o lazer é visto de forma negativa.<br />
Repare-se, mais uma vez, nas diferenças existentes<br />
quanto a este «it<strong>em</strong>», entre rapazes e raparigas.<br />
Juntando as duas amostras, verificamos<br />
que <strong>no</strong>ve rapazes trabalham de forma sist<strong>em</strong>ática<br />
<strong>no</strong>s dois períodos de t<strong>em</strong>po analisados, estando<br />
doze raparigas na mesma situação. Uma análise<br />
mais extensiva do tipo de trabalhos executados<br />
por rapazes e raparigas mostraria quer «especializações»<br />
conforme o sexo, quer também a existência<br />
de domínios de trabalho comuns, mas o<br />
esforço físico necessário para o cumprimento das<br />
tarefas atribuídas a ambos os sexos seriam s<strong>em</strong>elhantes.<br />
No entanto e como antes diss<strong>em</strong>os e o Quadro<br />
anterior <strong>no</strong>s mostra, as diferenças eram importantes<br />
de uma para a outra geração.<br />
A comparação entre os tipos de tarefas rurais<br />
executadas por avôs e netos e sobretudo a frequência<br />
com que são mencionadas nas entrevistas,<br />
tendo <strong>em</strong> conta que o número de indivíduos<br />
de cada sub-amostra é igual (20), ilustra tais diferenças<br />
(Quadro 12).<br />
Por outras palavras, o número de referências<br />
encontradas sobre as actividades produtivas<br />
rurais <strong>no</strong> discurso das pessoas pertencendo à<br />
«geração dos avôs» é mais do dobro do número<br />
de referências ao mesmo tipo de actividades<br />
que se encontram <strong>no</strong> discurso das crianças da<br />
«geração dos netos».<br />
Sendo assim, os dados de que dispomos sobre<br />
o papel que o trabalho ocupa na estruturação dos<br />
quotidia<strong>no</strong>s destas duas gerações, faz<strong>em</strong>-<strong>no</strong>s<br />
supor que ele agirá como a peça central <strong>no</strong> tipo<br />
de relações que se estabelec<strong>em</strong> com as outras<br />
duas categorias por nós investigadas, ou seja, o<br />
lazer e a <strong>escola</strong>.<br />
Inquiridas sobre o t<strong>em</strong>po de que dispunham<br />
para brincar, ambas as amostras <strong>no</strong>s dão respostas<br />
diferentes, conforme se verá <strong>no</strong> Quadro 13.<br />
Pod<strong>em</strong>os por aqui verificar que as representações<br />
produzidas por ambas as gerações sobre o<br />
t<strong>em</strong>po de que dispunham para brincar é substancialmente<br />
diferente, com quinze das vinte pessoas<br />
da «geração dos avôs» a achar<strong>em</strong> que ou<br />
não brincavam ou brincavam pouco, enquanto<br />
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