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PROPRIEDADE<br />
DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />
Direcção, Redacção e Administração<br />
Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />
1069-020 Lisboa<br />
Telef: 213 567 700<br />
Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091<br />
E-mail: jornal.do.exercito@mail.exercito.pt<br />
E-mail: jornal.exercito@sapo.pt<br />
E-mail − Intranet: Jornal do <strong>Exército</strong><br />
Home page: www.exercito.pt<br />
DIRECÇÃO<br />
Director<br />
Coronel de Infantaria<br />
José Custódio Madaleno Geraldo<br />
Secretária<br />
Ass Técnica Teresa Felicíssimo<br />
Soldado Condutor RC Pedro Ferreira<br />
REDACÇÃO<br />
Chefe<br />
Tenente-Coronel J. Pinto Bessa<br />
Redactores<br />
Tenente RC Paulo Moreira<br />
Alferes RC Nelson Cavaco<br />
Tenente RC Rico dos Santos<br />
Mauro Matias<br />
Operadoras Informáticas<br />
Ass Técnica Elisa Pio<br />
Ass Técnica Guiomar Brito<br />
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO<br />
Chefe<br />
Major Augusto Correia<br />
Operadores Informáticos<br />
Ass Técnica Tânia Espírito Santo<br />
2.º Cabo Gonçalo Silva<br />
Biblioteca<br />
Ass Técnica Joana Moita<br />
SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS<br />
Operador Informático<br />
Sargento-Ajudante João Belém<br />
Distribuição e Publicidade<br />
Sargento-Ajudante Luís Silva<br />
Ass Operacional Filomena Remédios<br />
SECRETARIA<br />
Sargento-Chefe Costa e Silva<br />
COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />
Lusa - Agência de Notícias<br />
de Portugal, SA<br />
Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />
RCRPP/GabCEME<br />
EXECUÇÃO GRÁFICA<br />
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Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />
Lisboa<br />
Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />
Europress@mail.telepac.pt<br />
Tiragem − 6 000 exemplares<br />
Sumário<br />
Ano L - N.º 588 - Outubro de 2009<br />
A Guerra 16<br />
D. Afonso Henriques<br />
Patrono do <strong>Exército</strong> 24<br />
KTM/KFOR – Escola de Quadros e<br />
de Vida de Excelência 32<br />
Suplemento<br />
VI – Nuno Álvares Pereira<br />
e a Batalha de Atoleiros<br />
Secções<br />
Monumentos com História Militar – Escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães – 4<br />
Editorial – 5<br />
Figuras e Factos – 8 a 15<br />
Livros – 44<br />
Desporto / Regulamento do “Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>” – 45<br />
Passatempos de outros tempos – 46<br />
Capa: O Ataque dos Cruzados e dos Portugalenses às Muralhas de Lisboa (1147), Litografia de Portugal.<br />
Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />
Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />
Depósito Legal n.º 1465/82<br />
ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60
4<br />
MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />
Escultura de D. Afonso Henriques,<br />
em Guimarães<br />
A<br />
data do seu nascimento é incerta, dividindo-se a<br />
opinião dos historiadores entre os remotos anos de<br />
1109 e 1111. Igualmente, o seu lugar de nascimento encontrase<br />
envolto em alguma controvérsia, embora a tradição<br />
histórica lhe atribua a naturalidade à cidade de Guimarães. E<br />
outros episódios ainda, desde o “milagre de Ourique” até à<br />
transladação do seu corpo, em 1520, que o revelou incorrupto,<br />
envolvem numa aura de mistério a vida do primeiro rei de<br />
Portugal, D. Afonso Henriques.<br />
Durante mais de quarenta anos, D. Afonso Henriques<br />
duplicou o território que o seu pai, o Conde Henrique de<br />
Borgonha, lhe deixou. Por volta de 1123 ou 1125, ou seja,<br />
quando teria entre 12 e 15 anos, arma-se cavaleiro na Catedral<br />
de Zamora e cinco anos depois, na Batalha de S. Mamede,<br />
assume sozinho o governo de Portucale, após ter derrotado<br />
a facção galega, encabeçada pela sua própria mãe, D. Teresa.<br />
Em 1140, apoiado pelos seus homens, autoproclama-se Rei<br />
de Portugal, título que lhe é reconhecido logo em 1143, no<br />
Tratado de Zamora. Em 1147, Afonso I de Portugal chega às<br />
portas de Lisboa, então ocupada pelos mouros. Entre Julho<br />
e Outubro daquele ano, as forças de Afonso Henriques, por<br />
terra, e um contingente de Cruzados que chegaram por mar,<br />
submetem a cidade a um apertado cerco. Só as sólidas<br />
muralhas conseguiram conter o ímpeto cristão durante<br />
aquelas longas semanas. Mas, das pequenas escaramuças<br />
aos confrontos violentos, Lisboa foi cedendo, incapaz de<br />
se libertar do inquebrantável sequestro. A 25 de Outubro de<br />
1147, um sábado, o rei português entra na cidade,<br />
consumando a sua conquista, eternizando a data pelos<br />
séculos vindouros. Neste dia é actualmente comemorado o<br />
Dia do <strong>Exército</strong>.<br />
No ano de 1169, D. Afonso Henriques é ferido em Badajoz<br />
e também incapacitado para o comando. Dez anos mais tarde,<br />
a Bula Papal Manifestis Probatum, do Papa Alexandre III,<br />
reconhece Portugal como país independente e Afonso<br />
Henriques como seu rei.<br />
Guimarães, frequentemente chamada de Berço da<br />
Nacionalidade e provável local de nascimento do primeiro<br />
monarca português, alimenta um antiquíssimo culto à sua<br />
figura e memória.<br />
Ali, em 1874, na Praça D. Afonso Henriques, foi<br />
inaugurada uma escultura em bronze da autoria de Soares<br />
dos Reis, retratando o monarca em pose guerreira, trajando<br />
correspondentemente, de espada em punho, escudo no<br />
braço esquerdo e um elmo protector que lhe endurece o<br />
olhar heróico.<br />
Entretanto deslocada para o Largo do Toural e, mais<br />
tarde, para a Colina Sagrada, prevê-se que a escultura<br />
regresse à sua morada original, cuja proposta de execução<br />
já consta do dossier de candidatura a Capital Europeia da<br />
Cultura – Guimarães 2012.JE<br />
Tenente RC Paulo Moreira
Neste ano de 2009, em que têm lugar as eleições legislativas e autárquicas nacionais,<br />
comemoram-se os novecentos anos do nascimento de D. Afonso Henriques,<br />
primeiro rei de Portugal. A bruma dos tempos envolve em mistério a data e o local do seu<br />
nascimento. É natural que uma figura de importância colossal como é a do primogénito<br />
da Pátria Portuguesa desperte nos Portugueses, de todos os tempos, curiosidade e<br />
paixão. Apetecia-nos esmiuçar a sua vida, desde o berço até à tumba, pois temos a<br />
certeza de que em cada gesto seu há uma lição de patriotismo e de grandeza que serve<br />
de exemplo aos Portugueses de sempre. Com a presença da sua memória, Portugal será<br />
eterno.<br />
O <strong>Exército</strong>, junto com os outros Ramos das Forças Armadas, é um dos pilares da<br />
Nação e por isso escolheu para seu Patrono D. Afonso Henriques, pois com o seu<br />
espírito está garantida a perenidade da Nação Portuguesa. A vontade de um povo, que<br />
quis ser livre e independente desde o tempo do seu primeiro rei, revê-se numas Forças<br />
Armadas respeitadas e dignas de ombrear com as suas pares na NATO e na União<br />
Europeia, para que sejam sempre capazes de defender os mais altos interesses de quem<br />
representam − os Portugueses e Portugal.<br />
O <strong>Exército</strong> celebra o seu dia na data em que a capital portuguesa, de hoje, foi tomada<br />
aos mouros, em Outubro de 1147. Já naquele tempo as alianças eram comuns, como<br />
podemos confirmar adiante nos extractos da Crónica de D. Afonso Henriques por<br />
Duarte Galvão, dedicada a D. Manuel I. Quando D. Afonso Henriques cercava Sintra e<br />
depois a tomou “appareceo no mar uma frota de cento e oitenta velas, de gentes, que<br />
naquelle tempo moveram de Alemanha, e de Inglaterra, e de França, para guerrear os<br />
infiéis por serviço de Deos, e vindo assi todos de mar em fóra demandar terra á rocha de<br />
Sintra. [...] Christãos partidos de suas terras para virem guerrear por serviço de Deos os<br />
Mouros imigos de sua santa Fé.”<br />
Concordaram então cercar a cidade de Lisboa, portugueses por terra e estrangeiros<br />
por mar. “El-Rei acentou seu arrayal da parte do Oriente, onde agora está o Moesteiro de<br />
S. Vicente de Fóra, e os Inglezes, e outras gentes tomaram parte do Ponente, onde ora<br />
são os Mártyres. Durou o cerco perto de cinco mezes, por a Cidade ser mui forte, de<br />
sitio, e cerca, e estarem dentro muitos Mouros, que a mui bem defendiam; [...]. Cada um<br />
arrayal dos Christãos, edeficou sua Egreja em que enterrassem os que alli morriam, e El-<br />
Rei D. Affonso fez a sua, onde depois foi edificado o Moesteiro de S. Vicente á honra do<br />
Martyre S. Vicente, e os estrangeiros edificaram outra que ora é chamada Santa Maria<br />
dos Martyres.”<br />
Camões, melhor do que ninguém, descreve-nos em versos imortais a Tomada da<br />
nossa Lisboa:<br />
E tu, nobre Lisboa, que no Mundo<br />
Facilmente das outras és princesa<br />
Que edificada foste do facundo<br />
Por cujo engano foi Dardónia acesa;<br />
Tu, a quem obedece o Mar profundo,<br />
Obedeceste à força Portuguesa,<br />
Ajudada também da forte armada<br />
Que das Boreais partes foi mandada.<br />
[...]<br />
Cinco vezes a Lua se escondera<br />
E outras tantas mostrara cheio o rosto,<br />
1 Os Lusíadas, Canto III, ests. 57, 59 e 61.<br />
Quando a cidade, entrada, se rendera<br />
Ao duro cerco que lhe estava posto.<br />
Foi a batalha tão sanguina e fera<br />
Quanto obrigava o firme pressuposto<br />
De vencedores ásperos e ousados,<br />
E de vencidos já desesperados.<br />
[...]<br />
Que cidade tão forte porventura<br />
Haverá que resista, se Lisboa<br />
Não pôde resistir à força dura<br />
Da gente cuja fama tanto voa?[...] 1<br />
5
8<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Comemorações do Dia da Engenharia<br />
O<br />
Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />
Luís Pinto Ramalho, presidiu no dia 10 de Julho, às<br />
comemorações do dia da Arma de Engenharia na Escola Prática<br />
de Engenharia.<br />
Das várias actividades previstas e que assinalaram o dia<br />
festivo, salientam-se a cerimónia militar, a demonstração de<br />
capacidades no âmbito das forças da Força Operacional do<br />
<strong>Exército</strong> e a apresentação do novo Centro de Simulação de<br />
Explosivos e Contra-Medidas e Defesa Nuclear Biológica<br />
Química e Radiológica, que se destina a apoiar a formação dos<br />
especialistas Explosive Ordnance Disposal (EOD), Nuclear<br />
Biológica e Química (NBQ) e cursos avançados de demolições<br />
de emergência, a manutenção da proficiência dos especialistas<br />
Comemorações do Cerco de Almeida<br />
O<br />
concelho de Almeida comemorou o 199.º aniversário<br />
do Cerco de Almeida no dia 30 de Agosto de 2009,<br />
contando com a participação do <strong>Exército</strong> Português em<br />
na gestão de incidentes e na operação de equipamentos, bem<br />
como entidades militares e civis na análise de vulnerabilidade<br />
de instalações críticas, Sistema de Alerta e Informações NBQ e<br />
no âmbito das demolições de emergência.<br />
A cerimónia militar contou com a presença de<br />
representantes de todas as unidades de Engenharia Militar e<br />
ainda com o Bloco de Estandartes das várias subunidades de<br />
Engenharia que estiveram presentes nos diversos Teatros de<br />
Operações, desde o ex-Ultramar ao Líbano.<br />
Na demonstração de capacidades foram apresentadas as<br />
múltiplas valências da Engenharia Militar, destacando-se:<br />
A transposição de um vão, utilizando a Viatura Blindada de<br />
Lançamento de Ponta, com posterior abertura de brecha manual<br />
e explosiva, executada por duas Secções de Sapadores de<br />
Engenharia de Combate da Companhia de Engenharia da Brigada<br />
Mecanizada; o reconhecimento de indícios de contaminação<br />
bioquimica e a descontaminação do pessoal e equipamento por<br />
militares da Companhia de Defesa NBQ, que fazem parte do<br />
recentemente criado Elemento de Defesa BQ (para fazer face a<br />
ameaças terroristas em território nacional); a montagem de um<br />
Pontão de Alumínio M4T6, de elementos das pontes de apoios<br />
fixos Treadway, Bailey e Mabey e a operação de meios da ponte<br />
de apoios flutuantes “Ribbon”, por militares da Companhia de<br />
Pontes; a inactivação de um Engenho Explosivo Improvisado,<br />
pelo Grupo de Equipas EOD; a simulação de uma destruição pelo<br />
Pelotão de Engenharia/Brigada de Reação Rápida.<br />
As comemorações permitiram assim transmitir uma<br />
perspectiva global das actuais capacidades da Engenharia<br />
Militar e do seu carácter inovador.<br />
alguns eventos, presididos pelo Major-General Adelino de<br />
Matos Coelho, Director da História e Cultura Militar<br />
(DHCM).<br />
A evocação histórica do cerco da vila, verificado durante<br />
as Invasões Francesas, contemplou no seu programa<br />
a Recriação Histórica do mesmo, que começou no dia 28 de<br />
Agosto e culminou a 30 de Agosto, com a recriação da<br />
queda da fortaleza, o assalto final e a conquista da fortaleza<br />
por parte das tropas francesas sob o comando de Massena.<br />
O fogo lançado pelas baterias de artilharia francesas<br />
marcaram o dia 26 de Agosto de 1810, provocando a fatídica<br />
explosão do castelo, após o paiol ter sido atingido e causado<br />
a destruição do Castelo.<br />
O <strong>Exército</strong> Português marcou presença pelas 09h00 na<br />
Cerimónia oficial de hastear bandeiras na Câmara Municipal,<br />
seguindo para o castelo onde depositou uma coroa de<br />
flores na Cerimónia de Homenagem aos Mortos do Cerco<br />
de Almeida. Para o efeito foi empenhado 1 pelotão e 1<br />
fanfarra, que concluíram, pelas 12h30, a sua participação<br />
na Missa de Homenagem às vítimas que decorreu na Igreja<br />
Paroquial.
O<br />
Auditório da Escola Prática de Artilharia (EPA)<br />
acolheu a apresentação do livro “EPA: das origens<br />
ao alvorecer do III Milénio” da autoria de Artur A1eixo Pais,<br />
no dia 5 de Agosto.<br />
A apresentação do livro e o resumo biográfico do autor<br />
esteve a cargo do Comandante da EPA, Coronel Maurício<br />
Simão Tendeiro Ra1eiras, que usou da palavra após as<br />
intervenções do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />
José Luís Pinto Rama1ho – que presidiu à cerimónia – e<br />
do Presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas, Dr.<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Curso de Liderança para Jovens Empresários<br />
Numa iniciativa conjunta da Academia Militar (AM)<br />
e da Associação Nacional de Jovens Empresários<br />
(ANJE), realizou-se, no período de 27 a 31 de Julho de 2009,<br />
nas instalações e áreas da AM, do Centro Militar de Educação<br />
Física e Desportos (CMEFD), da Escola Prática de Infantaria<br />
(EPI) e da Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), a 2.ª edição<br />
do Curso de Liderança da ANJE, dirigido aos seus<br />
associados.<br />
Participaram no Curso 15 jovens empresários, de<br />
diferentes sectores empresariais.<br />
O Curso de Liderança envolve conteúdos programáticos<br />
no âmbito do Comportamento Organizacional, provas de<br />
projecto e planeamento, provas de situação, prova de<br />
confirmação (liderança), adaptação ao meio ambiente,<br />
orientação topográfica, treino físico e desportos.<br />
O Curso tem como objectivo desenvolver competências<br />
comportamentais, nomeadamente de relacionamento<br />
interpessoal, visando a liderança eficaz de equipas, recorrendo<br />
a métodos pedagógicos sempre participativos, promovendo Presidiu à cerimónia de encerramento o Chefe do Estadoo<br />
culto dos valores e o exemplo da Instituição Militar. Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />
Apresentação do livro “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio”<br />
José Figueira. A cerimónia contou ainda com a<br />
presença de outras Altas Entidades, das quais se<br />
destacam o Comandante da lnstrução e Doutrina,<br />
Tenente-General António José Maia de<br />
Mascarenhas e o General José A1berto Loureiro<br />
dos Santos.<br />
O livro remonta ao ano de 1728 para contar a<br />
história do Palácio mandado construir por D.<br />
João V, que, a partir do ano de 1861, se tomou a<br />
EPA. Originalmente o Palácio servia de local de<br />
pernoita da comitiva real para as deslocações à<br />
fronteira do Caia, sendo conhecido como o<br />
“Palácio das Passagens”. Estas deslocações<br />
tinham como finalidade o casamento entre<br />
príncipes e princesas das coroas portuguesa e<br />
espanhola. Já no reinado de D. Pedro V, o Palácio<br />
tornar-se-ia a actual EPA e o autor apresenta<br />
uma série de eventos relacionados com a Escola<br />
e a sua inserção na sociedade que a acolheu. A<br />
obra conta ainda com uma nota final que contém uma<br />
súmu1a de factos que fundamentam a sua edição e a visão<br />
do Comandante da EPA sobre a mesma, assim como um<br />
soneto dedicado à EPA, intitu1ado “Pelo Bem e Pela Paz<br />
de Portugal”, da autoria de Jodro, pseudónimo de João<br />
Grazina, figura conhecida de Vendas Novas. Artur A1eixo<br />
Pais finalizou a cerimónia com uma a1ocução onde<br />
agradeceu o apoio prestado pela EPA no acesso à<br />
informação, seguindo-se um Porto de Honra e a tradicional<br />
sessão de autógrafos.<br />
9
10<br />
Condecoração de Adidos<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Dia da Unidade no Regimento de Transmissões<br />
O<br />
Regimento de Transmissões recebeu a 17 de<br />
Setembro a visita do Comandante Operacional do<br />
<strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro, para presidir às<br />
cerimónias de comemoração do Dia da Unidade.<br />
Instituído desde 17 de Setembro de 1873, data em que entrou<br />
em funcionamento o Serviço Telegráfico Militar (1.ª rede<br />
telegráfica militar), o Regimento de Transmissões adoptou a<br />
data por ser o herdeiro natural do referido serviço. Sediado<br />
em Lisboa, nas actuais instalações, desde 1977, a Unidade<br />
recebeu pelas 10h30 a chegada do Tenente-General Artur<br />
Neves Pina Monteiro, recebendo as honras militares à Porta<br />
de Armas, na presença do Major-General José Artur Paula<br />
Quesada Pastor, Director Honorário da Arma de Transmissões<br />
e Director de Comunicações e Sistemas de Informação e<br />
pelo Comandante da Unidade, Coronel Nelson Martins Viegas<br />
O<br />
Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />
Luís Pinto Ramalho, condecorou em 15 de Julho,<br />
no Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, com a Medalha D. Afonso<br />
Henriques 1.ª Classe, o Coronel Waldeísio Ferreira<br />
Campos, da Força Aérea Brasileira, Adido do <strong>Exército</strong> e<br />
Aeronáutico, e com a Medalha de Mérito Militar 2.ª Classe,<br />
o Tenente-Coronel Javier Gallegos Lorenzana, do <strong>Exército</strong><br />
Espanhol, Adjunto do Adido de Defesa e Adido do<br />
<strong>Exército</strong>.<br />
Estiveram presentes na Cerimónia várias entidades<br />
Militares, representantes das respectivas Embaixadas e<br />
familiares dos Adidos.<br />
Pires.<br />
Após a revista às tropas formadas na Parada, a cerimónia<br />
iniciou-se com a entrega do Estandarte Nacional, seguido<br />
de um discurso e de uma oração do Capelão Chefe do <strong>Exército</strong><br />
Cláudio Correia Ferreira em homenagem aos mortos.<br />
Seguidamente escutaram-se as palavras do Comandante<br />
da Unidade e do Director Honorário da Arma, que salientaram<br />
o papel da Arma na actualidade e os seus compromissos e<br />
objectivos. De realçar a postura pró-activa que a Arma<br />
procura implementar através da aposta nas novas<br />
tecnologias, “estando em fase de conclusão a aquisição e<br />
instalação de novos sistemas e equipamentos de<br />
comunicação e dados”, segundo o Coronel Viegas Pires. O<br />
Tenente-General Pina Monteiro felicitou a Arma de<br />
Transmissões pelo excelente desempenho da Companhia<br />
no Afeganistão e o valor do trabalho do Regimento na era<br />
da “guerra da informação”.<br />
Os presentes assistiram ainda à entrega de medalhas na<br />
parada, nomeadamente, medalhas de Serviços Distintos,<br />
Mérito Militar 2.ª e 4.ª classe, D. Afonso Henriques 2.ª,3.ª e<br />
4.ª classe, Comportamento Exemplar de grau cobre e prata e<br />
Comemorativa de Comissão de Serviços Especiais: Timor,<br />
Bósnia e Kosovo.<br />
Além das condecorações de cariz militar, a Unidade<br />
homenageou um militar pelo seu desempenho académico,<br />
com a entrega de um diploma de RVCC, fruto do programa<br />
Novas Oportunidades.<br />
Após o desfile das forças, seguiu-se uma apresentação<br />
no Auditório do Regimento sobre a aplicação de um software<br />
informático que permite a confidencialidade e<br />
encriptação de mensagens via e-mail, revelando a<br />
preocupação do Regimento na salvaguarda de informação<br />
na era da guerra informática.
O<br />
Comando de Instrução e Doutrina (CID) em<br />
colaboração com o Centro de Saúde de Évora,<br />
realizou em 10 de Setembro, uma palestra sobre o Tema “Gripe<br />
A (H1N1) – A 1.ª Pandemia do Séc. XXI”, organizada em Évora<br />
pela Unidade de Apoio do CID.<br />
Esta acção enquadra-se no âmbito das recomendações<br />
emanadas pelo Comando do <strong>Exército</strong> como mais uma forma<br />
de controlar o contágio da Gripe A. Assistiram à palestra um<br />
elevado número de Oficiais, Sargentos, Praças e Civis que<br />
trabalham no CID.<br />
Da agenda constaram os seguintes temas: “O vírus”, “A<br />
Gripe Sazonal”, “A Gripe A” e “A Gripe no <strong>Exército</strong>”. A palestra<br />
terminou com algumas reflexões do palestrante e com um<br />
período reservado a questões, onde os militares puderam<br />
colocar as suas dúvidas. Esta acção, sobre um tema bastante<br />
actual, deu a conhecer e alertou para procedimentos a tomar,<br />
quer individualmente quer a nível da Cadeia de Comando.<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Gripe A motiva palestra pelo Comando de Instrução e Doutrina<br />
Lançamento do segundo livro<br />
da Colecção Segurança e Defesa<br />
O<br />
segundo livro da Colecção<br />
Segurança & Defesa - “A<br />
Circunstância do Estado Exíguo”, da<br />
autoria do Professor Doutor Adriano<br />
Moreira – foi apresentado no<br />
passado dia 16 de Setembro, no<br />
Instituto de Defesa Nacional em<br />
Lisboa, numa sessão que contou com a presença do<br />
Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano<br />
Teixeira. A apresentação ficou a cargo da Dra. Alice Feiteira,<br />
directora da Colecção Segurança & Defesa, e do Prof. Doutor<br />
João Carlos Espada.<br />
Na sessão estiveram presentes, entre outros, o Secretário<br />
de Estado da Defesa Nacional, Dr. João Mira Gomes, o Chefe<br />
de Estado-Maior da Armada, Almirante Melo Gomes, o Chefe<br />
do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General Pinto Ramalho, o General<br />
Loureiro dos Santos, o Dr. Figueiredo Lopes, a Dra.<br />
Maria Barroso.<br />
11
12<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Sintra assiste à Cerimónia comemorativa da Brigada de Reacção Rápida<br />
Cerca de 1300 militares participaram<br />
em Sintra, a 13 de Setembro de 2009,<br />
nas Comemorações do Dia da Brigada de Reacção<br />
Rápida (BrigRR), onde demonstraram ao<br />
público as suas capacidades militares.<br />
Assentando a sua missão na defesa do<br />
território nacional, em acções de salvaguarda<br />
dos interesses nacionais e na satisfação dos<br />
compromissos internacionais assumidos pelo<br />
Estado Português, esta unidade operacional<br />
do <strong>Exército</strong> Português remonta às unidades<br />
Pára-quedistas que existiram no passado e que<br />
foram reorganizadas após a Guerra Colonial.<br />
Actualmente, a BrigRR, criada em 1 de Janeiro<br />
de 2006, é comandada pelo Major-General<br />
Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha<br />
e é constituída por: 1.º Batalhão de Infantaria<br />
Pára-quedista (1.º BIPara), do Regimento de Infantaria N.º15;<br />
2.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (2.º BIPara), do<br />
Regimento de Infantaria N.º10; Força de Operações Especiais<br />
do Centro de Tropas de Operações Especiais; Batalhão de<br />
Comandos, do Centro de Tropas Comandos; Esquadrão de<br />
Reconhecimento (ERec), do Regimento de Cavalaria N.º3;<br />
Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), da Escola de Tropas<br />
Pára-quedistas; Companhia de Transmissões (CTm) e o Grupo<br />
de Helicópteros do <strong>Exército</strong>, da Unidade de Aviação Ligeira do<br />
<strong>Exército</strong>; Bateria de Defesa Aérea, do Regimento de Artilharia<br />
Anti-Aérea N.º1, Companhia de Engenharia da Escola Prática<br />
de Engenharia e um Grupo de Campanha do RA4, sedeado na<br />
BrigRR.<br />
A vila de Sintra assistiu, então, a uma demonstração das<br />
capacidades operacionais da BrigRR, que, de forma activa,<br />
promoveu a imagem e os<br />
valores do <strong>Exército</strong> junto da<br />
população civil. Acção que<br />
também teve como finalidade<br />
iniciar um ciclo de<br />
demonstrações ao público<br />
em geral em cidades/vilas<br />
onde se encontram sediadas<br />
Unidades da Brigada.<br />
As comemorações iniciaram-se<br />
pelas 09h30 na<br />
Igreja de São Martinho,<br />
onde teve lugar a cerimónia<br />
eclesiástica, à qual assistiu<br />
um grande número de elementos<br />
do <strong>Exército</strong>, assim<br />
como da população civil.<br />
Seguidamente,<br />
assistiu-se à Parada Militar,<br />
pelas 11h00, no Parque<br />
da Liberdade/Volta do<br />
Duche, onde as forças<br />
formaram perante uma<br />
plateia de altas entidades militares e civis, de entre as quais<br />
se salientava a presença do General Chefe Estado Maior<br />
do <strong>Exército</strong>, José Luís Pinto Ramalho e do Presidente da<br />
Câmara Municipal de Sintra, Dr. Fernando Seara. No seu<br />
discurso, o Comandante da BrigRR dirigiu-se primeiramente<br />
ao General CEME, ao Presidente da Câmara de Sintra, ao<br />
Tenente-General Artur Neves Pina Monteiro e ao General<br />
João de Almeida, agradecendo as suas presenças, a<br />
confiança em si depositada para presidir ao dia da BrigRR<br />
e, em particular, à Câmara Municipal de Sintra pela cedência<br />
dos espaços nobres para a realização da cerimónia. O seu<br />
discurso prosseguiu, efectuando uma resenha histórica<br />
sobre a BrigRR, percorrendo todo o seu historial, assim<br />
como a missão e objectivos da Brigada e acções de destaque<br />
nas quais tem participado.<br />
A mensagem do General CEME enalteceu o papel da<br />
BrigRR, salientando que esta “constitui-se como uma<br />
Unidade de referência no seio da nossas Forças Armadas,<br />
não só pelas suas características intrínsecas, grande<br />
motivação e elevada preparação do seu pessoal, mas<br />
particularmente pelo espírito próprio e pela sua alta<br />
prontidão e eficácia demonstradas no cumprimento de<br />
inúmeras missões, muitas das quais na satisfação dos<br />
compromissos internacionais que Portugal assumiu junto<br />
dos seus aliados”.<br />
Após o período reservado aos discursos, assistiu-se à<br />
entrega do Estandarte Nacional ao Coronel Correia da<br />
BrigRR, assim como a condecoração de vários Oficiais,<br />
Sargentos e Praças pertencentes à Brigada. A Parada Militar<br />
terminou com o desfile de uma representação de todas as<br />
subunidades que compoem a brigada, bem como de alguns<br />
meios que a equipam.<br />
O Largo do Palácio Nacional de Sintra, onde estava<br />
patente ao público uma exposição estática com<br />
equipamentos da Brigada, foi o local escolhido para terminar<br />
as comemorações, com uma demonstração de saltos em<br />
queda livre pela Equipa de Pára-quedistas do <strong>Exército</strong> “os<br />
Falcões Negros”.
FIGURAS e FACTOS<br />
Exercícios Finais Da Academia Militar 2009<br />
Inserido no planeamento de actividades para o ano<br />
lectivo 2008/2009, realizaram-se em Santa Margarida,<br />
entre 1 e 10 de Julho de 2009, os Exercícios Finais da Academia<br />
Militar.<br />
De 1 a 5 de Julho, com o Corpo de Alunos constituído em<br />
Destacamento da Academia Militar em Exercícios no Quartel<br />
da Pucariça, decorreu um bloco de Formação Militar e o<br />
Exercício “TIGRE”, compreendendo entre outros, a execução<br />
de marchas, pistas de combate e patrulhamentos nos limites<br />
do campo militar e áreas circundantes, que visaram a<br />
aplicação dos conhecimentos técnicos apreendidos ao longo<br />
do ano no âmbito da Formação Geral Militar.<br />
De 6 a 10 Julho teve lugar o Exercício “LEÃO 2009”, com a<br />
finalidade de propiciar aos cadetes do <strong>Exército</strong> e da Guarda<br />
Nacional Republicana, a exercitação das técnicas, tácticas e<br />
procedimentos essenciais, próprios de cada Arma e Serviço,<br />
adquiridos no decurso do ano escolar e cuja prática não foi<br />
possível em aquartelamento, nomeadamente os saberes que<br />
se inserem no âmbito do Departamento de Ciências e Exercício Táctico Integrado (LIVEX), de escalão companhia,<br />
Tecnologias Militares. Para o efeito, foi proporcionado aos no desempenho de diversas funções ao nível das<br />
alunos, numa fase inicial, o contacto in loco com as unidades subunidades elementares de manobra e dos módulos de apoio,<br />
de manobra, de apoio de combate e de serviços da Brigada tendo praticado os procedimentos de Comando e a conduta<br />
Mecanizada, a oportunidade de se inteirarem da respectiva das operações militares de baixo escalão, em ambiente de<br />
organização e missões, de se identificarem com o elemento guerra convencional. A culminar o exercício “LEÃO 2009”, o<br />
humano bem como com os diversos equipamentos, Distinguished Visitors Day (DVD), em 9 de Julho, teve<br />
plataformas e sistemas de armas que guarnecem aquela GU, oportunidade de apresentar aos convidados presentes<br />
cujo Comando prontamente dispôs a pedido da Academia demonstrações bem elucidativas, tanto de uma força de escalão<br />
Militar, com vista a contribuir para a sedimentação de subgrupamento na condução de um ataque deliberado<br />
conhecimentos e a valorização formativa do Cadete. executado pelos alunos do <strong>Exército</strong>, como de variadas acções<br />
Posteriormente, os alunos tiveram ensejo de participar num militares e técnicas policiais a cargo dos alunos da GNR.<br />
Actividade operacional do Regimento de Guarnição n.º 1<br />
Os dois exercícios do encargo operacional do Regimento<br />
de Guarnição n.º 1 (RG1) – METROSÍDERO 091 e 092<br />
– decorreram este ano, respectivamente, nas ilhas das Flores e<br />
Graciosa, com objectivos semelhantes: treinar a projecção e<br />
retracção de forças para as ilhas da área de responsabilidade<br />
do RG1 (os Grupos Central e Ocidental); familiarizar os militares<br />
com possíveis áreas de actuação; identificar pontos e áreas<br />
sensíveis e locais para estacionamento de tropas, em caso de<br />
necessidade (militar ou humanitária); mostrar a presença do<br />
<strong>Exército</strong> em ilhas onde não existe guarnição militar.<br />
O primeiro exercício decorreu em Julho, em simultâneo com<br />
o FOCA 091 (conjunto com a Marinha). Foi precedido de uma<br />
fase de treino de natação militar e de embarque e desembarque<br />
na corveta por bote e rede de abordagem. Os militares foram<br />
projectados na corveta João Roby e as viaturas em ferry<br />
comercial. Há 9 anos que não se realizava um exercício nas<br />
Flores.<br />
O segundo exercício decorreu em Setembro. Toda a força<br />
foi projectada por meios marítimos comerciais. Durante este<br />
exercício realizou-se também, já na Graciosa, o CANÁRIO 093,<br />
que consistiu em treino de heli-transporte num Puma da BA4. O<br />
último exercício na Graciosa fora realizado há 6 anos.<br />
13
14<br />
TABELA DE PREÇOS PARA 2009<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Tenente-General João António Pinheiro (1921-2009)<br />
Da sua nativa Bragança até Oeiras<br />
onde viveu 48 anos, o General João<br />
Pinheiro percorreu um caminho árduo e<br />
trabalhoso, em que deixou a marca da sua<br />
visão, do seu poder de decisão e da sua<br />
força de vontade.<br />
De 1955 a 59, exerceu intensa actividade<br />
pedagógica como professor da Escola do<br />
<strong>Exército</strong>, dos Cursos de Promoção a Oficial<br />
Superior e dos Cursos de Estado-Maior.<br />
As suas qualidades não passaram<br />
despercebidas: em 1962, ainda major, foi<br />
chamado para o cargo de Subsecretário do<br />
<strong>Exército</strong>, o primeiro colaborador do Ministro<br />
nas vertentes administrativa e logística.<br />
Estávamos então em operações em Angola com as unidades a<br />
milhares de quilómetros de Lisboa. O rigor na gestão das<br />
avultadas verbas necessárias para a expansão do <strong>Exército</strong> e<br />
condução das operações permitiu também a preparação de estruturas<br />
de apoio, possibilitando que os abastecimentos, correio e<br />
apoio sanitário chegassem onde quer que houvesse soldados.<br />
Simultaneamente, João Pinheiro tentou construir um Hospital<br />
para os 3 Ramos das Forças Armadas, tão necessário para<br />
tratar os doentes e feridos evacuados do Ultramar. Impedido de<br />
o fazer pelo Ministro da Defesa, planeou a construção dum<br />
Pavilhão da Família Militar no Hospital da Estrela, em<br />
substituição do antigo. Depois chamado “Casa de Saúde”, foi<br />
fundamental para o tratamento dos militares e suas famílias.<br />
Muitos de nós ainda usamos a Casa de Saúde mas poucos<br />
sabem quem a mandou fazer.<br />
Entre 1971 e 1973, escolhido pelo General Costa Gomes,<br />
então Comandante-Chefe em Angola, o Brigadeiro Pinheiro<br />
comandou o Sector de Cabinda simultaneamente com as funções<br />
de Governador de Distrito. As coisas estavam mal por lá, devido<br />
a erros políticos e promessas não cumpridas. Seis meses depois<br />
de tomar posse, tinha acalmado a população e as Tropas<br />
Especiais (forças nativas ex-FNLA) e posto em marcha um plano<br />
de valorização social e económica – o Plano Calabube. Foram<br />
construídos mais de 300 edifícios essencialmente postos<br />
sanitários, enfermarias e escolas. Foram abertas novas estradas,<br />
criados campos de desporto e electrificadas povoações. Enfim,<br />
a paz voltou ao território.<br />
Tem interesse notar que, 25 anos depois da independência<br />
de Angola, um regedor de Cabinda referindo-se ao Plano<br />
Calabube afirmou ser “o mais promissor e<br />
inventivo programa da administração colonial<br />
portuguesa em Cabinda”.<br />
Regressado à Metrópole, o Brigadeiro<br />
Pinheiro serviu em vários lugares até que,<br />
após o golpe militar de 25 de Abril de 1974,<br />
foi nomeado Adjunto do Chefe do Estado-<br />
Maior General das Forças Armadas. A<br />
situação era tal que chegou a exercer a<br />
direcção de 7 organismos diferentes<br />
integrados ou ligados ao Estado-Maior. Ao<br />
fim de 16 meses, esgotado fisicamente e<br />
desgostoso com a situação das Forças Armadas,<br />
pediu a passagem à reserva.<br />
Felizmente para todos, só o deixaram<br />
descansar um ano. Em 1976, o General Eanes, Chefe do Estado-<br />
Maior General das Forças Armadas, chamou-o para Presidente<br />
dos Serviços Sociais das Forças Armadas com a missão de<br />
fazer deles uma instituição eficiente. Teve então ocasião de<br />
realizar a “obra da sua vida”, como uma vez referiu. Sempre<br />
interessado nos problemas dos mais velhos e no apoio aos<br />
deficientes e aos mais fracos, o General Pinheiro deitou as mãos<br />
à obra e, mais uma vez, demonstrou a sua enorme capacidade<br />
de realizar.<br />
Após cerca de 70 reuniões em comandos e unidades militares<br />
para ouvir as pessoas e de várias visitas a estabelecimentos de<br />
saúde em Paris, concebeu a construção de complexos sociais<br />
polivalentes para apoio à 3ª idade. Conseguiu um plano<br />
financeiro para obter as verbas necessárias sem penalizar os<br />
orçamentos militares. O primeiro começou a ser construído em<br />
Oeiras em 1981. Em meados da década de 90 estavam prontos 6<br />
dos 7 edifícios planeados.<br />
O que foi feito ultrapassou as expectativas iniciais. O General<br />
Eanes salientou-o numa carta de 1990: “A realidade da sua<br />
obra excede em muito a imagem que dela construíra”.<br />
Um pequeno episódio, sucedido há anos revela a dimensão<br />
da obra. Um General canadiano em serviço na OTAN veio a<br />
Portugal e levei-o a ver o Complexo de Oeiras. Espantado, disseme:<br />
“Não compreendo como sendo Portugal um país<br />
considerado pobre tem uma obra destas de apoio aos veteranos,<br />
e sendo o Canadá um país rico, não tem”. Respondi-lhe:<br />
“Arranjem um General Pinheiro lá no Canadá”.<br />
Renato F. Marques Pinto<br />
Major-General<br />
PREÇO DE CAPA • 2,00<br />
ASSINATURA ANUAL (11 números)<br />
VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00<br />
VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00<br />
NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente<br />
NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00<br />
Os preços incluem IVA à taxa de 5%<br />
N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56.
FIGURAS e FACTOS<br />
Assinatura de Protocolo entre <strong>Exército</strong> Português e a Faculdade<br />
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa<br />
Tendo em vista proporcionar aos militares do<br />
<strong>Exército</strong> que prestam serviço na dependência da<br />
Direcção de História e Cultura Militar (DHCM), ou que<br />
estejam interessados em ali vir a desempenhar funções, a<br />
possibilidade de obterem formação específica nas áreas de<br />
arquivística, biblioteconomia e museologia, foi assinado, em<br />
30 Julho, um protocolo de colaboração entre o <strong>Exército</strong><br />
Português e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />
Universidade Nova de Lisboa. O protocolo possibilita a<br />
frequência de cursos de mestrado, nas áreas de<br />
conhecimento acima mencionadas.<br />
A assinatura do protocolo teve lugar na DHCM, pelo<br />
seu Director, Major-General Adelino Matos Coelho, cujos<br />
poderes de representação foram conferidos por despacho<br />
do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, e pelo Director da<br />
FCSH/UNL, Professor Doutor João Sàágua.<br />
15
16<br />
Coronel António José Pereira da Costa*<br />
“Guerra subversiva é uma luta conduzida no interior de um território, por uma parte dos seus<br />
habitantes, ajudados e reforçados ou não do exterior, contra as autoridades de direito ou de facto<br />
estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território ou, pelo menos, de<br />
paralisar a sua acção”.<br />
(in O <strong>Exército</strong> na Guerra Subversiva 1 )<br />
A<br />
propósito do programa passado na RTP,<br />
com o título deste artigo ocorreu-me a<br />
realização de uma análise de certas características<br />
das Campanhas de África 1961-74.<br />
Não considero uma questão crucial o nome que<br />
se deu à “guerra”. Colonial, para os que não a<br />
apoiavam e contestavam, do Ultramar, para os que a<br />
aceitavam e pareciam fazê-la com certo empenho, de<br />
África, para os que, hoje, pretendem criar um meiotermo<br />
sem hostilizar ninguém, cada um poderá dar-lhe<br />
o nome que quiser, sendo certo que o fenómeno de<br />
que falamos é o mesmo. A designação que acima uso<br />
está relacionada com aquilo que entendo que ela foi<br />
de facto: um prolongamento da instabilidade que<br />
sempre terá caracterizado o ultramar português<br />
(províncias ou colónias) e, porventura as<br />
possessões de todos os outros países europeus. A<br />
expressão “Campanhas de África 1961-74” pretende<br />
apenas distingui-las das campanhas que tiveram<br />
lugar no fim do Séc. XIX e início do Séc. XX.<br />
Relembro que, sabendo do que se fala, o nome não<br />
acrescenta nem diminui nada às características de<br />
qualquer fenómeno histórico. Não consta que,<br />
alguma vez, os dirigentes políticos ou militares que<br />
se decidiram pela realização de uma qualquer guerra,<br />
tenham perdido o sono a pensar no nome que lhe
dariam ou no nome com que ela iria passar à<br />
História.<br />
Resolvida a questão do nome da guerra,<br />
passaria a dar o meu contributo para analisar o que<br />
ela foi na sua essência. Para tal, socorrer-me-ia da<br />
definição de “Guerra Subversiva”, que o <strong>Exército</strong><br />
Português adoptou na altura e que ainda hoje se<br />
mantém plenamente aplicável.<br />
Começo por considerar muito relevante que, de<br />
acordo com a definição regulamentar, a Guerra<br />
Subversiva é uma luta, quando, como o nome indica,<br />
seria normal que fosse apontada como um tipo de<br />
guerra, como vários há, e que o manual, poucas<br />
páginas à frente, se apressa a enumerar e a caracterizar<br />
sumariamente. O recurso ao dicionário permitirá<br />
verificar a diferença subtil, mas clara, entre um termo e<br />
outro. Na nossa História, até se registam as “Lutas<br />
Liberais”, uma feroz guerra civil em cuja designação a<br />
palavra “luta” aparece no plural. É muito provável<br />
que, quem estabeleceu a definição, quisesse sublinhar,<br />
logo à partida, uma das características da guerra<br />
subversiva, situando-a fora da área da guerra<br />
entendida como choque entre países ou alianças,<br />
através dos respectivos exércitos, colocando-a antes<br />
na área da luta política e social, logo por inteiro, no<br />
campo da sociologia. Como aspecto lateral, lembremos<br />
que os países que obtiveram a sua independência<br />
através de uma guerra subversiva falam muitas vezes<br />
de uma “Luta de Libertação”.<br />
Depois, detenhamo-nos na afirmação redundante<br />
de que é uma luta conduzida no interior de um território.<br />
Era de calcular que assim fosse. Efectivamente, todas<br />
as lutas ou guerras terão forçosamente lugar no interior<br />
de um dado território, mais ou menos extenso. Não<br />
será mesmo possível que possam ter lugar “no exterior<br />
de um território” sem certamente caírem dentro de um<br />
outro, contíguo ou mais ou menos próximo...<br />
Uma guerra pode conter várias batalhas, que<br />
podem ter lugar no ar, na terra e no mar, mas a<br />
condução de uma luta no “exterior de um território”<br />
determinará sempre que seja levada a cabo no interior<br />
de um outro território.<br />
A definição começa a tornar-se mais clara e<br />
especificamente determinante quando declara quem<br />
são os contendores: uma parte dos (...) seus<br />
habitantes (do território) e as autoridades de direito<br />
ou de facto estabelecidas (no território).<br />
O facto de habitantes que desencadeiam a luta<br />
poderem ser ajudados e reforçados, ou não, do<br />
exterior pode influenciar a conduta e determinar um<br />
êxito mais fácil, mas não será, por si só, condição de<br />
sucesso. É óbvio que, em princípio, o apoio exterior<br />
será um catalisador do êxito, especialmente na actual<br />
conjuntura, mas é possível encontrar na História,<br />
casos em que aquela ajuda e apoio foram pouco<br />
consistentes e a vontade da população acabou por<br />
se impor à das autoridades. Realcemos que o<br />
definidor não diz que é uma luta entre duas facções<br />
da população, nem entre dois exércitos.<br />
Atentemos agora no objectivo da luta.<br />
Segundo a definição, as forças insurrectas têm<br />
como a finalidade (...) retirar o controlo desse<br />
território às autoridades de direito ou de facto<br />
constituídas ou, pelo menos, (...) paralisar a sua<br />
acção. Daqui podemos concluir que, por um lado<br />
a simples paralisia da acção das autoridades concede<br />
a vitória à subversão e, por outro, a derrota<br />
daquelas materializa-se inapelavelmente na perda<br />
de controlo do território, a favor da parte da<br />
população que conduziu a luta.<br />
Ao termo “subversivo”, pouco utilizado até<br />
então, passou, a partir da altura em que a guerra<br />
teve início, a ser emprestado um significado pejorativo,<br />
mesmo ofensivo, que não corresponde ao seu<br />
17
18<br />
verdadeiro sentido. Efectivamente, este termo “não<br />
envolve, em si qualquer juízo ético ou moral 2 ” e pode<br />
ser aplicado noutros contextos que não a guerra,<br />
como sejam a filosofia ou a arte, quando se pretende<br />
falar de um alteração drástica com o que se vinha<br />
praticando ou uma contestação crítica (não<br />
obrigatoriamente pela negativa) às regras<br />
observadas do antecedente.<br />
Sabemos também que a guerra subversiva traduz<br />
e representa sempre uma crise de legitimidade política<br />
no território em apreço 3 . Estamos, de facto, numa<br />
situação em que um grupo activo no interior da<br />
sociedade conseguiu − certamente apresentando<br />
razões lógicas e válidas − influenciar uma larga massa<br />
da população e levá-la a contestar as autoridades,<br />
em defesa dos seus interesses (antagónicos e<br />
inconciliáveis com os das autoridades), pelo menos,<br />
numa primeira fase. Esgotada a possibilidade de uma<br />
conciliação, é sabido que a luta prossegue, numa<br />
escalada de violência, cujo fim é, normalmente,<br />
favorável à subversão.<br />
Analisada a definição de guerra subversiva, ainda<br />
hoje em vigor e com aplicação em alguns teatros de<br />
operações actuais, prossigamos na análise dos<br />
acontecimentos na Guiné, Angola e Moçambique,<br />
entre 1961 e 1974, tendo sempre como referência aquela<br />
definição.<br />
Comecemos por recordar que uma guerra só surge<br />
quando há condições para tal e que, sucintamente,<br />
podemos dizer que essas condições decorrem de<br />
causas de ordem económica, social, religiosa ou<br />
político-ideológica e que só é possível fazer com que<br />
uma dada população aceite participar em acções<br />
bélicas, organizadas e constantes, se lhe for<br />
previamente criada a necessária disposição anímica<br />
(e até necessidade) para tal. Por outras palavras: há<br />
que criar uma certa agressividade, pelo menos num<br />
dos beligerantes que o leve a reconhecer o inimigo e<br />
a estar convicto de que a razão lhe assiste. É de excluir,<br />
à partida, a possibilidade de se desencadearem acções<br />
violentas só pelo facto de um dado país ou facção<br />
dispor de forças armadas de certa capacidade bélica.<br />
Não é possível fazer surgir uma guerra do nada,<br />
quase por geração espontânea, como, muitas vezes<br />
nos querem fazer crer, com causas pouco claras, mas<br />
muito apregoadas, como sejam: a infiltração de<br />
elementos agitadores, as ameaças sobre a população<br />
que, assim, será obrigada a combater, o carisma dos<br />
chefes, variável, vago e momentâneo, etc..<br />
Salientemos que os “agitadores” só têm conseguido<br />
actuar se explorarem o descontentamento (bem<br />
palpável) da população e que o carisma é algo<br />
indefinido, inexplicável, mas que todos parecem<br />
saber o que seja e como se manifesta...<br />
Desenho de A. de Bar<br />
As guerras podem decretar-se,<br />
mas não se improvisam<br />
É nossa opinião de que, no caso do ultramar<br />
português, o caldo de cultura para uma guerra<br />
subversiva vinha sendo criado há séculos.<br />
Efectivamente, a colonização europeia foi sempre<br />
feita mais na mira da exploração dos recursos locais,<br />
que tanto podiam ser matérias-primas ou pedras<br />
preciosas, madeiras ou produtos da terra, como<br />
“recursos humanos”, (leia-se escravos) do que com<br />
intuitos de expansão civilizacional. Era a mentalidade<br />
do tempo e Portugal não teria de fazer excepção. A<br />
História é eloquente na demonstração desta verdade<br />
e, mesmo a Igreja, a quem tocaria a conquista de<br />
novas almas para a cristandade, salvo excepções,<br />
como a do Padre António Vieira, nunca se opôs<br />
fortemente à situação de exploração que se vivia nas<br />
colónias, nem teria condições para tal 4 .<br />
Por outro lado, um país, como o nosso, pequeno<br />
e com pouca capacidade para se impor, não poderia<br />
ocupar grandes áreas do continente africano.<br />
Restava-lhe fixar-se em locais onde as condições de<br />
vida e de defesa fossem mais favoráveis, procurando<br />
relacionar-se de forma mais ou menos hábil com os<br />
habitantes das redondezas para obter vantagens<br />
comerciais. Foi o que sucedeu (por exemplo) em<br />
Angola, com a fundação de Luanda (em 1576),<br />
mesmo assim a ocorrer 92 anos após a chegada de<br />
Diogo Cão à foz do rio Zaire. De uma forma simplista,<br />
mas que traduz o que se passou, podemos dizer que<br />
Vila de S. Paulo de Luanda.
João Teixeira Pinto, Carlos Fortunato, historiaguine.com<br />
Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto foi conduzida com bastantes dificuldades e com baixas muito consideráveis<br />
a Europa só acordou verdadeiramente para a África,<br />
por alturas da Conferência de Berlim (1884), quando<br />
retalhou aquele continente, através de convenções<br />
e com critérios aos quais só poderemos chamar<br />
discutíveis. E não se pode dizer que fosse cedo...<br />
Só para se aquilatar da situação que se viveria<br />
nas colónias portuguesas em África, procuremos<br />
determinar por que seria que a Corte portuguesa, em<br />
1807, não fugiu para Cabo Verde, Guiné, S. Tomé ou<br />
até Angola (cuja colonização efectiva só começou<br />
após a independência do Brasil) já que seriam<br />
territórios completamente fora do alcance de<br />
Napoleão. É notório que estas possessões<br />
ultramarinas, embora mais próximas de Lisboa, não<br />
eram destinos possíveis para uma Corte em fuga,<br />
acompanhada por alguns milhares de nobres,<br />
funcionários e “apoiantes”. A ocupação dos territórios<br />
africanos estaria numa fase de tal modo embrionária<br />
que a escassez de recursos locais e a<br />
insegurança levaram a que a possibilidade de a Corte<br />
ali se instalar nem sequer tivesse sido equacionada.<br />
Fazendo o tempo avançar um pouco, recordemos<br />
que, só na Guiné, entre 1891 e 1912, tiveram lugar 11<br />
sublevações populares, quase todas a distâncias<br />
relativamente curtas de Bissau, muitas das quais<br />
reprimidas com grande violência e nem sempre com<br />
os melhores resultados para as “forças da ordem”.<br />
Houve mesmo casos que se saldaram por derrotas<br />
muito pesadas, como foi o sucedido em 1891, na Ilha<br />
de Bissau (Região dos Papéis), e ocorrido em 1897,<br />
no Oio. Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto,<br />
entre 1912 e 1915, a mais conhecida de todas, e a que<br />
parece ter sido mais eficaz, foi conduzida com<br />
bastantes dificuldades e com baixas muito<br />
consideráveis. Ter-se-á então verificado uma certa<br />
acalmia nas relações entre as populações locais e as<br />
autoridades coloniais, mas data de 1931 5 uma revolta<br />
dos Papéis e Mancanhas em Bissau, que terá sido a<br />
última sublevação antes de Pidjiguiti (Agosto de<br />
1959), esta tendo por pano de fundo um conflito<br />
laboral. Relativamente às outras nem sequer sabemos<br />
que causas tiveram.<br />
Nas restantes possessões o ambiente seria<br />
certamente próximo do da Guiné. As populações<br />
locais nunca aceitaram bem o domínio das<br />
autoridades portuguesas e as relações entre os<br />
colonos chegados da Metrópole ou os seus<br />
descendentes e as populações autóctones nunca<br />
foram pacíficas. Na melhor das hipóteses, revestiam<br />
relações de trabalho que, por vezes, se aproximavam<br />
das relações de produção da Idade Média.<br />
Procurando explorar o descontentamento das<br />
populações das colónias portuguesas, é também<br />
conhecida a acção das autoridades coloniais dos<br />
países limítrofes, no âmbito da aplicação das<br />
fronteiras da Conferência de Berlim que, quando a<br />
influência sub-reptícia não resultava, recorriam a<br />
acções de força a nível local ou à pressão<br />
diplomática, como sucedeu com o Ultimatum<br />
Britânico, no fundo um outro tipo de acção de força.<br />
Está, portanto, claramente demonstrado que as<br />
colónias/províncias ultramarinas de Portugal viveram<br />
sempre um ambiente de instabilidade larvar que se<br />
manifestou noutras ocasiões e locais como em Batejá,<br />
(S. Tomé, Fevereiro de 1953). Esta última sublevação,<br />
também de raiz laboral e sem grandes possibilidades<br />
de êxito é o paradigma daquilo que vimos<br />
demonstrando: que a ocupação de África pelos<br />
Portugueses (e não só) não foi um fenómeno pacífico<br />
e bem aceite pelas populações locais, as quais,<br />
19
20<br />
mesmo em períodos de “paz social”, reprimiam sempre<br />
uma dose residual de descontentamento e<br />
antagonismo relativamente à administração colonial<br />
e a quem a praticava ou impunha.<br />
Foi assim até ao final da II Guerra Mundial.<br />
A partir daí, já é conhecido com precisão e não<br />
deixa margem para dúvidas o trajecto político da<br />
África até ao final dos anos 50 e início dos anos 60<br />
do Séc. XX. Por razões já inventariadas, as<br />
populações das colónias espalhadas pela Ásia,<br />
África e Oceânia iniciaram um processo de<br />
contestação às respectivas administrações coloniais<br />
e as independências sucederam-se a um ritmo que<br />
rapidamente influenciou o sentido das votações do<br />
Assembleia Geral da ONU. Em África, num processo<br />
mais ou menos rápido e pacífico (a Argélia foi<br />
excepção, mas só durante algum tempo) a<br />
independência alastrou, de tal sorte que, apenas o<br />
Marrocos Espanhol e as colónias portuguesas não<br />
se tornaram independentes com uma administração<br />
exercida pelas populações locais. Curiosamente, os<br />
países que iam surgindo guardavam as fronteiras da<br />
Conferência de Berlim, talvez por não terem a sua<br />
identidade bem definida e não estarem em condições<br />
de o fazer, sem que isso provocasse um ambiente de<br />
guerra generalizado, sempre que os limites entre as<br />
áreas habitadas pelos diferentes grupos étnicos não<br />
coincidissem com as fronteiras impostas pela<br />
Conferência. Só a África do Sul, governada por uma<br />
administração com base na população branca<br />
minoritária e a Rodésia procuravam seguir um caminho<br />
oposto, com pouco êxito, como sabemos.<br />
Neste ambiente internacional − quer consideremos<br />
apenas a África quer o mundo, na sua<br />
globalidade – a posição política da administração<br />
portuguesa era absolutamente insustentável. Se<br />
dúvidas houvesse, esta situação de insustentabilidade<br />
ficaria claramente demonstrada com a invasão<br />
de Goa, Damão e Diu (Dezembro de 1961), pela União<br />
Indiana, levada a cabo sem que comunidade<br />
internacional tivesse tomado qualquer atitude<br />
consequente antes da sua materialização. Claro que<br />
depois dela já não haveria qualquer campo político<br />
para que as forças invasoras retirassem e o território<br />
voltasse à posse de Portugal. Teria sido bom que as<br />
autoridades portuguesas tivessem tirado as devidas<br />
conclusões no que toca ao peso e influência do País<br />
na comunidade internacional.<br />
No que respeita às três colónias inseridas na<br />
massa continental africana, havia ainda a considerar<br />
a existência do elemento catalisador (apoio externo)<br />
que era facilmente actuante e eficaz e, frequentemente,<br />
determinante nos êxitos da subversão.<br />
Temos, portanto, três territórios africanos onde<br />
a paz social nunca foi um facto adquirido e a luta de<br />
blogueforanadaevaotres.blogspot.com<br />
Observemos ainda, que a descontinuidade territorial que o<br />
país apresentava pesava fortemente na situação políticosocial<br />
de cada parcela<br />
classes tinha todas as razões para proliferar, a serem<br />
atingidos pelas novas ideias separatistas e<br />
independentistas, em expansão, por todo o mundo.<br />
Se às condições enunciadas juntarmos o racismo,<br />
sempre pronto a emergir nas sociedades africanas,<br />
temos a mistura explosiva para o eclodir da<br />
insurreição. Lembremo-nos de que, se é um facto<br />
que a existência de condições nem sempre arrasta a<br />
ocorrência de uma sublevação, é verdade que as<br />
sublevações necessitam sempre de condições para<br />
eclodirem e progredirem.<br />
Havia assim condições óptimas para que a<br />
subversão germinasse.<br />
Observemos ainda, que a descontinuidade<br />
territorial que o país apresentava (entendendo-se<br />
Portugal como um todo constituído por vários
territórios dispersos pelo mundo, sob uma mesma<br />
administração) pesava fortemente na situação<br />
político-social de cada parcela. É esta<br />
descontinuidade territorial do país que permite a<br />
mobilização maciça e pouco contestada de um sempre<br />
crescente número de unidades militares, na<br />
Metrópole (onde o potencial humano era maior e as<br />
condições sociopolíticas o permitiam) lançadas,<br />
depois, nas colónias em apoio da política do governo.<br />
A descontinuidade territorial determinou também<br />
que, após o desencadear da luta, a diferente situação<br />
− militar e sociopolítica − nas parcelas atingidas pela<br />
subversão tenha assumido também rapidamente<br />
diferentes características em cada uma e mesmo em<br />
certas regiões de cada colónia/província.<br />
A insurreição rebentou de forma muito violenta<br />
− selvática mesmo − e a resposta da administração<br />
central foi tão rápida e violenta quanto possível,<br />
naquele tempo. Se, inicialmente, os meios militares<br />
da subversão eram incipientes, a curto prazo, a<br />
utilização de todo o armamento ligeiro e pesado de<br />
Infantaria, por parte da guerrilha, permitiu uma melhor<br />
relação das forças em presença. De um lado grupos<br />
de cidadãos (camponeses-guerrilheiros), procurando<br />
bloquear a acção das autoridades constituídas, do<br />
outro as Forças Armadas Portuguesas, a procurar<br />
reverter a situação a favor daquelas. Mesmo<br />
salvaguardando as especificidades dos três teatros<br />
de operações é claro que, ao longo dos 13 anos que<br />
a guerra durou, a guerrilha foi sempre melhorando o<br />
seu potencial de combate, enquanto as Forças<br />
Armadas mantiveram o seu, mais ou menos imutável.<br />
Houve até casos de superioridade a favor da<br />
guerrilha − momentâneos ou mais duradouros, locais<br />
ou mesmo regionais − que se materializaram em<br />
situações muito delicadas, com perdas consideráveis<br />
para as Forças Armadas.<br />
Passado o primeiro embate, é um facto que, talvez<br />
por razões económicas, nunca houve um esforço que<br />
levasse a que fosse possível recuperar a situação<br />
favorável do potencial relativo de combate das forças<br />
em presença, antes pelo contrário, como foi o caso da<br />
Guiné, onde a ameaça antiaérea obrigou a reduzir<br />
substancialmente o apoio aéreo que muitas vezes<br />
resolvia a situação táctica que se vivia no terreno e o<br />
"empréstimo" de artilharia de campanha por parte da<br />
República da Guiné ao PAIGC, permitiu criar uma<br />
situação de superioridade pontual na fronteira Sul.<br />
Por outro lado, nunca houve uma grande<br />
passagem − brusca ou gradual − das populações do<br />
controlo da guerrilha para o das autoridades. E, numa<br />
“guerra” como esta, o que está em jogo é a população,<br />
(simultaneamente objectivo da luta e meio onde ela se<br />
desenrola) que é necessário cativar ou manter sob<br />
controlo autoconsentido e apoiante da administração.<br />
É também certo que a reacção da administração<br />
colonial foi tardia e que se processou já com a 2.ª<br />
fase da subversão muito avançada, à luz da doutrina<br />
que o <strong>Exército</strong> Português utilizava, o que<br />
comprometeu a possibilidade de uma vitória militar.<br />
Sabemos hoje que o governo português sempre<br />
subestimou as capacidades da parte contrária, num<br />
autoconvencimento por si mesmo forjado, que o<br />
impedia de reconhecer que havia razões,<br />
principalmente de carácter social e político, para o<br />
eclodir de movimentos sociais e de que a repressão<br />
destes já não resolveria todos problemas (como<br />
sucedera(?) no passado), antes pelo contrário.<br />
Ao fim de treze anos de luta ou guerra − como se<br />
lhe queira chamar − a situação piorava e, no caso da<br />
Guiné, apresentava sinais preocupantes de desenlace<br />
muito dramático. A subversão foi capaz de isolar e<br />
pressionar duas posições de nível companhia,<br />
forçando ao abandono de uma e sendo contrabatida,<br />
com bastante dificuldade na outra, para além de ter<br />
conseguido suster uma ofensiva das Forças<br />
Portuguesas, realizada numa escala considerável, no<br />
Sul da província.<br />
Não ignoremos que, se um colapso viesse a<br />
suceder na Guiné, seguir-se-ia, sem dúvida, um efeito<br />
de dominó que arrastaria, num período mais ou menos<br />
curto, a derrota militar em Angola e Moçambique,<br />
com consequências que hoje nem podemos imaginar,<br />
mas que, certamente seriam gravíssimas. Seria<br />
possível uma retirada de mais de 30.000 homens,<br />
acompanhados do respectivo material, sob pressão<br />
do inimigo e com uma linha de comunicações de<br />
5.000 km (cinco dias por via marítima e quatro horas<br />
por via aérea), mesmo recorrendo a um apoio<br />
intermédio em CaboVerde? Quais seriam as suas<br />
possíveis consequências? E depois de uma derrota<br />
na Guiné, como seria o cenário na Metrópole, em<br />
Angola e em Moçambique?<br />
Há outros fenómenos a referir que têm que ver<br />
com a reacção da população da metrópole a uma<br />
guerra tão prolongada a sem resultados decisivos à<br />
vista. De começo, as unidades iam fortemente<br />
moralizadas e cada militar mobilizado aceitava a sua<br />
tarefa como imperativo patriótico. Porém, o aumento<br />
do número de unidades mobilizadas (que cresceu<br />
sempre até surgirem indícios de exaustão do potencial<br />
humano) dava a indicação de que o conflito não<br />
tinha resolução próxima e foi desgastando ânimo da<br />
população. Os militares regressados e<br />
desmobilizados foram exercendo um efeito negativo<br />
na mentalização dos que se lhes seguiram, como se<br />
dispersassem um vírus de desconfiança.<br />
Por outro lado, os dirigentes políticos, marcados<br />
por desprestígio latente, não conseguiam fazer<br />
passar a mensagem da necessidade de manter a guerra<br />
21
22<br />
A manobra de conquista do apoio da população não produziu efeitos decisivos que seriam necessários para anular as<br />
intenções da subversão<br />
e a vida diária na Metrópole, com o seu<br />
funcionamento normal, mais inserido na Europa, onde<br />
o número de emigrantes não cessava de aumentar,<br />
levava a que os que regressavam não fossem<br />
recebidos como alguém que vem de fazer algo de<br />
válido e necessário, mas sim com uma indiferença<br />
que às vezes atingia o desprezo. A guerra tornou-se<br />
uma rotina, uma aborrecida rotina, um esforço que<br />
era obrigatório − que não necessário − fazer, embora<br />
já não se soubesse bem porquê. A delapidar de<br />
recursos financeiros numa altura em que a Europa se<br />
estava a lançar numa etapa de desenvolvimento,<br />
causava apreensão, mas o esforço económico e<br />
financeiro a que a guerra obrigava, não conduzia a<br />
uma superioridade clara das Forças Armadas sobre<br />
a guerrilha, embora as despesas com a guerra tenham<br />
atingido percentagens elevadas dos recursos<br />
financeiros do País.<br />
O tempo trabalhou a favor da subversão, quando<br />
deveria ter sido utilizado a favor da contra-subversão.<br />
Muito provavelmente não terá sido o tempo ou<br />
o uso que dele se fez que ditou o resultado neste<br />
aspecto, mas antes o falhanço completo em manter a<br />
mobilização inicial das retaguardas, demasiado<br />
distanciadas do teatro dos acontecimentos, quer se<br />
meça a distância real e física, quer se considere o seu<br />
sentir e a disposição anímico-ideológica para apoiar<br />
a guerra. Este falhanço verificou-se também nas<br />
Províncias Ultramarinas. Tanto nas que, pela sua maior<br />
extensão, permitiam um grande alheamento e até<br />
desconfiança das populações dos grandes centros<br />
cosmopolitas, relativamente ao que sucedia nas zonas<br />
onde a guerrilha estava activa; como das<br />
populações daquelas áreas que, dia após dia e ano<br />
após ano, eram confrontadas com a subversão e<br />
obrigadas a viver com ela e não viam uma alteração<br />
clara da situação no sentido que as autoridades diziam<br />
pretender obtê-lo. Estes aspectos do problema<br />
reforçam a ideia da incapacidade do governo para<br />
mobilizar vontades para a sua causa. Esta<br />
incapacidade tendia a acentuar-se com tempo e só um<br />
milagre na política internacional poderia retirar as<br />
diversas formas de apoio exterior à guerrilha. Uma<br />
análise fria da realidade teria permitido tirar as devidas<br />
conclusões sobre as reais consequências do<br />
prolongamento de uma situação política que se<br />
tornava, cada vez, mais um marasmo.<br />
Em resumo, podemos afirmar que a subversão −<br />
essencialmente uma forma de luta política e social −<br />
surgiu na África portuguesa quando tinha todas as<br />
condições políticas e sociais (que se vinham<br />
acumulando, há muito), para vingar e dispunha<br />
também de boas condições para se expandir, quer a<br />
nível local, quer a nível internacional. Deveria ter sido<br />
contrariada com oportunidade, o que exigiria prever<br />
(antecipadamente, com humildade e realismo), antes<br />
de prover (tarde e com grande sacrifício das pessoas<br />
e esforço económico-financeiro). Além disso, a<br />
violência utilizada contra a subversão revelou-se<br />
ineficaz para a contrariar, foi longa e a manobra de<br />
Foto: arquivo JE
conquista do apoio da população (a realizar em<br />
simultâneo) não produziu efeitos decisivos que seriam<br />
necessários para anular as intenções da subversão. A<br />
manobra de conquista e adesão das diferentes<br />
retaguardas nos diferentes territórios falhou e, por<br />
fim, o esforço económico-financeiro para manter a<br />
contra-subversão acabou por se tornar incomportável.<br />
Do impossível estratégico − que sempre existiu,<br />
em última análise − caiu-se no impossível táctico.<br />
No primeiro dia de Verão de 2008.JE<br />
*O Coronel António José Pereira da Costa nasceu<br />
em 22 de Junho de 1947. Tem o Curso de Artilharia da<br />
Academia Militar, tendo ascendido ao actual posto em<br />
1 de Dezembro de 1997.<br />
Cumpriu duas comissões na Guiné: a primeira entre<br />
Janeiro de 1968 e Janeiro 1969; a segunda entre Maio<br />
de 1971 e Agosto de 1973. Foi delegado de Portugal no<br />
Grupo de Trabalho “FINABEL MIKE” nos anos de<br />
1996 e 1997 e no Army Sub-Group/NATO Training<br />
Group durante o ano de 1996. É autor do livro “A<br />
Cidadela de Cascais – Pedras Homens e Armas”. É o<br />
Director da Biblioteca do <strong>Exército</strong>.<br />
1 O <strong>Exército</strong> na Guerra Subversiva, Tomo I −<br />
Generalidades, Ministério do <strong>Exército</strong>, Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, 28 de Fevereiro de 1963, O. E. N.º 2, 1.ª Série,<br />
pág. 63.<br />
2 Ver Couto, Abel Cabral, Elementos de Estratégia<br />
Apontamentos para um Curso, Vol. 2, 6.ª Parte, pág. 212<br />
e seguintes, Instituto de Altos Estudos Militares, Lisboa,<br />
1989.<br />
3 Ver Couto, Abel Cabral, Obra já citada.<br />
4 Só a título de exemplo, no que à região da Guiné diz<br />
respeito, veja-se o Tratado Breve dos Rios da Guiné do<br />
Cabo Verde desde o rio Sanagá até aos Baixos de Sant'Ana<br />
& etc, pelo Capitão André Alves d'Almada, 1594, publicado<br />
em 1841, por Diogo Köpke capitão da 3ª Secção do <strong>Exército</strong><br />
e lente da Academia Polytéchnica do Porto, Typographia<br />
Comercial Portuense, Largo de S. João Novo n.º 12, Porto.<br />
5 Eventualmente ligada à Revolta da Madeira que teve<br />
lugar no mesmo ano.<br />
23
24<br />
Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto
Quadro de Joaquim Rodrigues Braga, Museu Nacional Soares dos Reis/IPM<br />
Como todos sabemos, D. Afonso Henriques<br />
nasceu, segundo muitos, em Guimarães,<br />
conforme alguns, em Coimbra1 e, de acordo com<br />
outros, em Viseu em meados de Agosto de 11092 .<br />
A 17 de Maio de 1125, aos 15 anos de idade,<br />
armou-se a si próprio cavaleiro na Catedral de<br />
Zamora, prática exclusiva de reis, tornando-se, a<br />
partir de então, num verdadeiro combatente pela<br />
liberdade do condado que herdara de seus maiores.<br />
Tendo morrido em Coimbra a 6 de Dezembro de<br />
1185, teve um combate de 60 anos, ao longo dos<br />
quais ficaram claramente demonstradas as suas<br />
altíssimas qualidades políticas e diplomáticas, por<br />
um lado, mas também, por outro, as suas capacidades<br />
como estratega, táctico e chefe militar.<br />
Qualidades estas sobre as quais muitos se têm<br />
já pronunciado, bastando lembrar-se, como<br />
comentários menos abonatórios: que era “naturalmente<br />
belicoso” e um “mestre, acabado na arte de<br />
enganar e na arte de combater..., sendo a separação<br />
de Portugal um facto consumado graças ao seu<br />
valente, medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter,”<br />
como referem respectivamente Alexandre Herculano<br />
e Oliveira Martins3 .<br />
Mas há, divergindo destas, opiniões bem<br />
favoráveis, de que lembramos: tratar-se de “varão<br />
valoroso no manejo das armas; eloquente e<br />
prudentíssimo em todos os seus feitos e dotado de<br />
claro engenho”, como é referido na Crónica dos<br />
Godos, e com “o animoso fervor e ardente esforço<br />
de Júlio César e a segurança mui confiada de Publio<br />
Cepião Africano, em tanto grau que tudo o que<br />
estava por fazer, cometia como se tivesse feito”,<br />
como nos diz Duarte Galvão4 .<br />
Por sua vez, Torquato de Sousa Soares diz-nos<br />
que “apesar de hábil negociador, que sabia muito<br />
bem fazer o seu jogo e defendê-lo, sempre se<br />
manteve fiel à palavra dada e a compromissos<br />
formalmente tomados” vendo-o como “figura<br />
hercúlea de guerreiro, de político − talvez melhor −<br />
de rei, ainda hoje avulta tanto que não encontramos,<br />
para a medir, termo de comparação” 5 .<br />
E Luís da Câmara Pina considera que possuía<br />
“exigências especiais nas operações militares e<br />
grande clarividência como chefe militar” referindo<br />
que “só um grande chefe militar como ele<br />
conseguiria criar no Portugal do século XII uma<br />
situação de coesão reduzível a três conceitos, a<br />
saber: unidade de sentimento, unidade intelectual<br />
e unidade de doutrina” 6 .<br />
Finalmente, António Barrento7 destaca e<br />
considera incontroversa a sua figura como a de um<br />
chefe militar, no qual se confundiam o senso e a<br />
coragem, se notavam a perseverança e a determinação<br />
que sempre o acompanharam, a sua vontade<br />
Foto: Tenente Paulo Moreira<br />
Perspectiva de uma representação escultórica do 1º Rei de<br />
Portugal, pela mão do escultor Daniel Luzia Silva, 1960,<br />
Unidade de Apoio da Área Militar Amadora-Sintra.<br />
nunca satisfeita, registando o elevado sentido de<br />
oportunidade das suas acções, mostrando o espírito<br />
esclarecido de um jogador que calcula os riscos,<br />
os aceita e se empenha decisivamente na vitória.<br />
Termina, esclarecendo ainda, que poderia ser apenas<br />
um comandante militar que utilizasse o poder de<br />
que estava investido para se fazer obedecer, mas<br />
foi mais longe conseguindo que os portugueses<br />
do seu tempo aderissem aos seus projectos e os<br />
considerassem como seus, tomando-se assim um<br />
incontestado chefe militar.<br />
Nestas circunstâncias surge, com toda a<br />
naturalidade, o despacho do Chefe do Estado-<br />
Maior do <strong>Exército</strong>, General Pedro Cardoso,<br />
1 Cf. Torquato de Sousa Soares.<br />
2 Cf. A. de Almeida Fernandes, Viseu, Agosto de 1109,<br />
Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 2007, que MATTOSO,<br />
D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, 2006, pp. 1718,<br />
considera demonstrar a sua tese com verosimilhança<br />
suficiente para ter que se admitir como possível ou mesmo<br />
a mais provável das três teses.<br />
3 Cf. transcrição de BARRENTO, António, D. Afonso<br />
Henriques a Guerra e os Objectivos Nacionais, EME, 1983,<br />
pp.72-73.<br />
4 Idem, Ibidem, p. 72.<br />
5 Idem, Ibidem, pp. 73-75.<br />
6 Idem, Ibidem, p. 75.<br />
7 BARRENTO, António, op.cit., pp. 76-77.<br />
25
26<br />
designando D. Afonso Henriques para patrono do<br />
<strong>Exército</strong> Português 8 . Para além de rei fundador era,<br />
simultaneamente, o nosso primeiro grande estratega<br />
e chefe militar incontestado.<br />
Tomava-se agora necessário encontrar uma<br />
data que fosse significativa para nela se comemorar<br />
o Dia do <strong>Exército</strong>.<br />
De imediato surgiu a data que parecia ajustarse<br />
perfeitamente ao patrono e às finalidades de tal<br />
celebração − 25 de Julho − data da batalha de<br />
Ourique, há muito considerada quase como sendo<br />
a data da fundação do Reino de Portugal, graças à<br />
acção militar de D. Afonso Henriques. Pelo<br />
despacho anteriormente referido, o General Pedro<br />
Cardoso, determina como Dia do <strong>Exército</strong> o dia da<br />
Batalha de Ourique, 25 de Julho.<br />
Com o passar do tempo, o serviço militar deixou<br />
de ser universal e obrigatório e passou a serviço<br />
voluntário. As finalidades do Dia do <strong>Exército</strong>,<br />
consequentemente, passaram também a ter em<br />
conta a divulgação do conhecimento do <strong>Exército</strong><br />
a uma juventude que só seria voluntária se lhe<br />
fosse despertado o interesse por tal actividade.<br />
Em termos de marketing o dia 25 de Julho era uma<br />
má data. A juventude escolar − faixa etária que<br />
mais interessava atingir − estava toda de férias e o<br />
mesmo se passava com a grande maioria dos<br />
restantes portugueses.<br />
Por outro lado, a Batalha de Ourique, se bem<br />
que continuasse a ser um marco lendário na<br />
definição da assumpção da independência<br />
nacional, em termos histórico-militares não passava<br />
de um combate com muito significado político, mas<br />
de nulo significado militar. Havia que procurar outro<br />
acontecimento que reunisse três características: que<br />
continuasse a ser politicamente relevante mas que<br />
passasse a sê-lo também em termos militares e que<br />
tivesse lugar em data conveniente para as<br />
finalidades que se pretendiam. Se possível, também<br />
seria interessante que tal acontecimento tivesse<br />
pontos de contacto com o que hoje em dia se passa<br />
nas actividades militares que ocorrem no mundo.<br />
A conquista de Lisboa surgiu, imediatamente,<br />
como um acontecimento que reunia todos os<br />
requisitos, até aquele que apenas se exigia em<br />
segunda ordem, só se tal fosse possível. É isso que<br />
irei tentar demonstrar.<br />
Politicamente, a conquista de Lisboa é um facto<br />
relevantíssimo por se traduzir na aquisição de uma<br />
posição fortíssima que por si só garantia um avanço<br />
territorial muito grande e de uma nova fronteira,<br />
8 Despacho n.º 37/79 de 9 de Março, Ordem do <strong>Exército</strong><br />
n.º 3, 1.ª Série, de 1979, p. 81.<br />
Arquivo JE<br />
Pormenor do Monumento Comemorativo da Batalha de<br />
Ourique, em Ourique.<br />
que sendo um obstáculo natural de grande valor −<br />
o Rio Tejo − facilitava a defesa de todo o território.<br />
Acresce que Lisboa era também o mais importante<br />
porto da costa atlântica. Não foi por acaso que,<br />
naturalmente, Lisboa se tomou a capital do país.<br />
Mas uma tal cidade era, obviamente, muito bem<br />
defendida pelos árabes que, ainda por cima,<br />
dispunham de apoios a curta distância a partir de<br />
Leiria e Santarém, a Norte, e de Sintra, Palmela e<br />
Alcácer do Sal a Sul.<br />
Estes factores obrigavam a ponderar muito bem<br />
a sua conquista. Afonso Henriques já em 1142 o<br />
havia tentado em vão, sabendo pois como, com os<br />
meios de que dispunha, tal não seria possível. Mas,
perseverante como era, não desistiu e foi preparando<br />
essa conquista cuidadosamente enquanto<br />
aguardava a oportunidade para a poder levar a cabo.<br />
Preparação essa que incluiu a conquista prévia de<br />
territórios que lhe facilitariam a tarefa como sejam<br />
Leiria em 1142 e Santarém em 1147, garantindo assim<br />
a segurança da retaguarda e fortificando Germanelo,<br />
Alvorge e Ansião.<br />
Lisboa, na época, parece que já não tinha<br />
qualquer esquadra. A sua defesa concentrava-se<br />
sobretudo em fortalezas e torres de costa e nas<br />
fortes muralhas que circundavam a cidade, já então<br />
de muitos habitantes e com uma guarnição estimada<br />
por fontes cristãs em cerca de 15.000 soldados mais<br />
alguns que ali se tinham recolhido vindos de<br />
Santarém, após a conquista desta, e aos quais<br />
temos ainda de juntar combatentes ocasionais.<br />
Contava também com alguma artilharia, como as<br />
balistas que os relatos posteriores à conquista<br />
responsabilizavam pela destruição de várias<br />
máquinas de guerra dos cruzados.<br />
Visão de D. Afonso Henriques sobre a Batalha de Ourique.<br />
Quadro da autoria de Frei Manuel dos Reis, 1665.<br />
Museu Alberto Sampaio/IPM<br />
D. Afonso Henriques conhecia bem os esforços<br />
feitos a partir de 1144 e intensificados em 1146 pelo<br />
Papa Eugénio III e pelo seu amigo e aliado nesta<br />
questão, São Bernardo de Claraval, para a<br />
organização de uma segunda cruzada à Terra Santa<br />
que, após a conquista de Edessa em 1144 estava a<br />
sofrer uma das maiores ofensivas muçulmanas de<br />
sempre. A esta cruzada aderem de imediato Luís VII<br />
de França e Conrado III, imperador do Sacro Império.<br />
É óbvio que D. Afonso Henriques toma também<br />
conhecimento de outros senhores que, não<br />
pretendendo subordinar-se a nenhum daqueles<br />
soberanos, decidem avançar para a cruzada não<br />
seguindo por terra, mas fazendo por mar o périplo<br />
europeu atingindo o Médio Oriente pelo<br />
Mediterrâneo. Considera que pode ser chegada a<br />
sua hora.<br />
Encarrega, assim, o bispo do Porto, D. Pedro<br />
Pitões, de os interceptar e de os convencer de que<br />
a ajuda a D. Afonso Henriques contra os<br />
muçulmanos era obra de grande mérito aos olhos<br />
de Deus, tão importante quanto a que iriam depois<br />
cumprir no Médio Oriente. Pelo seu lado, Afonso<br />
Henriques foi-lhes aguçando o apetite com a<br />
possibilidade de rendosos saques e a promessa de<br />
posse de terras no seu próprio território após a<br />
conquista, se o desejassem.<br />
E assim aconteceu. Os cruzados deslocaramse,<br />
a partir de Darthmouth, sob o comando de<br />
Arnaldo de Aarschot, os pertencentes ao Sacro<br />
Império e, sob o comando de Cristiano de Gistell,<br />
os flamengos e bolonheses. Com partida da<br />
Normandia vão-se-lhes juntar mais quatro grupos:<br />
um de ingleses, provenientes de Suffolk e Norffolk<br />
sob o comando de Hervé de Glanville, outro de<br />
homens de Kent, comandados por Simão de Dover,<br />
um terceiro grupo de Londres, comandados<br />
por um tal André e, finalmente, um grupo<br />
indiscriminado que incluía normandos, galeses e<br />
outros súbditos do rei de Inglaterra sob o comando<br />
de Sahério de Archelles. Totalizavam um número<br />
de navios, variável conforme os autores, entre 170<br />
e 200 que transportavam cerca de 13.000 homens<br />
de guerra a bordo.<br />
Era, sem dúvida, o reforço há muito desejado e<br />
esperado por D. Afonso Henriques para se poder<br />
lançar na conquista da cidade. D. Pedro Pitões e a<br />
sua eloquência fizeram o resto à sua chegada ao<br />
Porto a 16 de Junho de 1147.<br />
Os navios cruzados, reforçados com alguns<br />
do próprio rei de Portugal, cercaram a cidade pelo<br />
rio, a Sul. A hoste real levantou arraial a Norte,<br />
junto ao monte de Sant’Ana. Os ingleses<br />
posicionaram-se a Oeste, no monte Fragozo e os<br />
flamengos e alemães, a Leste, no monte de S.<br />
27
28<br />
Cidade de Lisboa.<br />
Vicente. Nos navios mantinham-se os alemães e<br />
flamengos necessários para defesa ou ataque pelo<br />
Sul, no lado Oriental da cidade, e ingleses, para o<br />
mesmo efeito, mantinhamse nos navios do lado<br />
Ocidental, onde hoje se situa o chamado Terreiro<br />
do Paço.<br />
Tal cerco, com grande número de episódios,<br />
manteve-se entre 20 de Junho e 25 de Outubro,<br />
quatro meses difíceis porque os defensores da<br />
cidade não a queriam entregar de modo algum.<br />
Através de testemunhos presenciais de<br />
cruzados sabe-se, por Arnulfo em carta a Milão<br />
bispo dos Morinos, que a vitória foi mais divina<br />
que humana, sobre duzentos mil e quinhentos<br />
sarracenos, na festa das onze mil virgens que, no<br />
calendário cristão, ocorria a 21 de Outubro 9 .<br />
Sabemos também por carta do presbítero Raul, que<br />
alguns dizem ser o delegado de São Bernardo a<br />
Afonso Henriques, para Osberto de Bawdsey, que<br />
uma vez tomada a cidade após dezassete semanas<br />
de cerco 10 , os de Sintra entregaram-se ao rei, depois<br />
de rendida a guarnição do seu castelo. O de Palmela<br />
foi tomado pelo rei, sem luta, por ter abandonado a<br />
sua guarnição. Rendidas em volta todas as<br />
fortalezas pertencentes à cidade ... , no dia em que<br />
se celebra a festa de Todos-os-Santos (1 de<br />
Novembro) em louvor e honra do nome de Cristo e<br />
do de Sua Santíssima Mãe, foi purificado o templo<br />
pelo arcebispo e quatro bispos e instala-se aí a sede<br />
do bispado, com estes castelos e terras abaixo<br />
designadas: além Tejo: o castelo de Alcácer, o de<br />
Palmela, e a região de Almada; aquém do Tejo: o<br />
castelo de Sintra, o de Santarém e o de Leiria. Os<br />
seus termos vão do castelo de Alcácer ao de Leiria,<br />
e do mar ocidental até à cidade de Évora 11 .<br />
Cumprindo um objectivo que era já de seu avô,<br />
o imperador D. Afonso VI, transformado em missão<br />
Iluminura de Simão Berring, British Library<br />
que este atribuira ao genro, o conde D. Henrique,<br />
o sonho de Afonso Henriques estava consumado<br />
e, como corolário da sua perseverança, cuidadoso<br />
planeamento, capacidade política e diplomática e<br />
indiscutível capacidade de chefia, obtinha uma<br />
grande vitória militar que era fundamentalmente<br />
sua, pois a ele se devia toda a coordenação da<br />
operação, impedindo as habituais rivalidades entre<br />
os diferentes chefes e impondo-lhes a sua<br />
vontade. O cerco e conquista de Lisboa, no dizer<br />
do Prof.º Pedro Barbosa, “foi acontecimento que<br />
marcou profundamente a Cristandade ocidental,<br />
não só no século XII, mas igualmente por alguns<br />
séculos ainda. Do naufrágio que foi a Segunda<br />
Cruzada, esta acção militar foi a tábua que<br />
conseguiu flutuar” 12 . Estava encontrado o evento<br />
que sendo politicamente relevante o fosse também<br />
em termos militares. Faltava saber se as datas<br />
dos acontecimentos corresponderiam a uma época<br />
do ano que satisfizesse também os interesses do<br />
marketing.<br />
Ora, o assalto final inicia-se em duas frentes a<br />
16 de Outubro, a 21 os sitiantes aproximaram da<br />
muralha uma grande torre de 27 metros de altura,<br />
construída por um cruzado, engenheiro de Pisa, e<br />
podem, finalmente, lançar a ponte que lhes permite<br />
colocar gente no interior. A 23 ou 24 de Outubro a<br />
situação era insustentável, havendo muitos que<br />
na cidade morriam de fome. Lisboa capitulou e os<br />
cristãos entraram nela assenhoreando-se do<br />
castelo. E a 25 Lisboa ficou definitivamente em<br />
poder do rei de Portugal.<br />
Alexandre Herculano refere o acordo celebrado<br />
na quinta-feira, 23 de Outubro, para a entrega da<br />
cidade indicando que no mesmo dia ou, talvez, no<br />
imediato, uma das portas abriu-se para facilitar o<br />
acesso aos homens de armas que iam tomar conta
da Kassba. Aos alemães e flamengos deu-se a<br />
precedência da entrada, se é que a não tomaram.<br />
Entraram depois os cento e quarenta anglo-<br />
Gravura de D. Afonso Henriques, autoria de Salvador Ferreira,<br />
2009<br />
normandos, e após eles o rei precedido pelo<br />
arcebispo de Braga, de cruz alçada e rodeado de<br />
outros bispos. Seguiam o rei os chefes portugueses<br />
e estrangeiros e um numeroso séquito. Esta<br />
espécie de préstito dirigiu-se à kassba e na torre<br />
mais elevada do castelo, ao som de cânticos<br />
religiosos, hasteou-se uma cruz, que se via de toda<br />
a parte e que indicava ter Lisboa, enfim, submetido<br />
o colo ao domínio cristão, depois do que o rei, a pé,<br />
correu todos os muros da kassba, provavelmente<br />
para verificar o estado das fortificações 13 .<br />
Temos, pois, a data de 24 de Outubro como a<br />
mais provável para a entrada do rei em Lisboa e a<br />
colocação da sua bandeira no alto do castelo, data<br />
coincidente com um Outono normalmente ameno,<br />
passível de umas cerimónias sob bom tempo e com<br />
a presença da juventude em plena actividade<br />
escolar.<br />
Para finalizar a análise que nos propusemos,<br />
queremos ainda chamar a vossa atenção para os<br />
seguintes aspectos, muito de acordo com as<br />
operações que hoje em dia se processam pelo<br />
mundo fora.<br />
A conquista de Lisboa foi efectuada por uma<br />
força conjunta 14 e combinada 15 sob o superior<br />
comando de D. Afonso Henriques, isto é, uma<br />
9 Carta do Cruzado Arnulfo, Conquista de Lisboa aos<br />
Mouros (1147) − Narração pelos Cruzados..., 2 a Edição,<br />
Lisboa, 1936, onde o número de 200.500 sarracenos inclui,<br />
obviamente, toda a população e não apenas os combatentes.<br />
10 Que o próprio Raul refere ter-se iniciado na vigília do<br />
Apóstolo S. Pedro, a 28 de Junho portanto.<br />
1I Carta do cruzado Osberno, op.cit.. Hoje considera-se<br />
que Osberno não era realmente o remetente mas sim o<br />
destinatário, sendo remetente o clérigo Raul de Glanville,<br />
parente do comandante de um dos grupos de ingleses.<br />
12 BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa −<br />
1147 − A Cidade Reconquistada aos Mouros, Lisboa, 2004,<br />
p. 82.<br />
13 Em nota de pé de página esclarece Alexandre<br />
Herculano, História de Portugal, Bertrand, 1980, Vol. I,<br />
Tomo lI, p. 522, o seguinte: “o dia da entrada dos cristãos<br />
em Lisboa não se pode determinar precisamente pela<br />
narrativa do cruzado inglês, mas o que desta resulta<br />
forçosamente é que foi a 23 ou a 24, quinta ou sexta-feira,<br />
começando a saída dos sarracenos no sábado como nessa<br />
narrativa é expresso. O Indiculum põe em 25 a entrada do<br />
rei o que é inexacto. Dodequino e Arnulfo fixam a<br />
consumação da vitória a 21, considerando a cidade tomada<br />
no dia da suspensão de armas e da entrega dos reféns. A<br />
Crónica dos Godos põe a entrada numa sexta-feira, isto é a<br />
24, o que expressamente diz o exemplar parafraseado de<br />
Resende. Talvez isto seja o mais crível, supondo que se<br />
gastasse a quinta-feira em tomar a decisão sobre o juramento<br />
de fidelidade ao rei, na execução deste acto e em resolver a<br />
forma da entrada e entrega dos despojos”.<br />
14 Regulamento de Campanha − Operações, Vol. I, p. 4/7<br />
15 “ Idem, Ibidem.<br />
29
As conquistas de Lema em 1142 e de Santarém em 1147, garantiriam a segurança da retaguarda, facilitando a grandiosa<br />
tarefa da conquista de Lisboa.<br />
força onde se reuniam diferentes ramos das Forças<br />
Armadas - <strong>Exército</strong> e Marinha - e diferentes Forças<br />
Armadas - Portugal, Alemanha, Flandres,<br />
Inglaterra e Normandia.<br />
É face a todas estas verificações que, em 2004,<br />
pelo seu Despacho n.º 48, o Chefe do Estado-Maior<br />
do <strong>Exército</strong>, General Luís Vasco Valença Pinto,<br />
decidiu determinar que o Dia do <strong>Exército</strong> se<br />
passasse a comemorar a 24 de Outubro.JE<br />
Fontes e Bibliografia<br />
BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa -<br />
1147 - A Cidade Reconquistada aos Mouros, Tribuna da<br />
História, Lisboa, 2004.<br />
BARRENTO, António, D. Afonso Henriques a Guerra<br />
e os Objectivos Nacionais, EME, Lisboa, 1983.<br />
Despacho n.º 48/CEME/2004 de 1 de Março.<br />
FERNANDES, A. de Almeida, “Conquista de Lisboa”,<br />
Dicionário de História de Lisboa, direcção de Francisco<br />
Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, 1994.<br />
30<br />
Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso<br />
Henriques, SACRE, Viseu, 2007.<br />
HERCULANO, Alexandre, História de Portugal<br />
Desde o Começo da Monarquia Até o Fim do Reinado<br />
de Afonso m, Livraria Bertrand, Amadora, 1980.<br />
MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, Círculo<br />
de Leitores, Lisboa, 2006.<br />
Nota Breve Sobre o Patrono e o Dia do <strong>Exército</strong>,<br />
EME/ DSHM, 15-V-1979.<br />
OLIVEIRA, José Augusto de, (Tradução),<br />
Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) - Narração<br />
pelos Cruzados Osderno e Arnulfo Testemunhas<br />
Presenciais do Cerco, 2 a Edição, Lisboa, 1936.<br />
Ordem do <strong>Exército</strong>, n.º 3, 1ª Série, 1979.<br />
Regulamento de Campanha - Operações, Vol. I,<br />
EME, RODRIGUES, Maria Teresa Campos,<br />
“Ourique, Batalha de”, Dicionário da História de Portugal,<br />
direcção de Joel Serrão, Vol. IV, Iniciativas<br />
Editoriais, 1975.<br />
SOARES, Vicente Henrique Varela; e ADELINO,<br />
Eduardo Augusto das Neves, Dicionário de<br />
Terminologia Militar, Lisboa, 1963.
32<br />
Texto e fotos de Tenente-Coronel Cavalaria<br />
Jocelino do N Bragança Rodrigues*<br />
O<br />
Agr MIKE foi constituído com base no<br />
GAM/BrigInt e, para preencher a totalidade<br />
da sua Estrutura Operacional de Pessoal,<br />
recebeu uma Companhia de Atiradores do RI 13, a<br />
dois pelotões, um Pelotão de Atiradores do RG1/<br />
ZMA, Módulos de Engenharia do RE 3, de Apoio<br />
do CTOE, de Transmissões da EPT e militares<br />
provenientes de diversas UEO do <strong>Exército</strong> que<br />
integraram o Estado-Maior (EM) e a Companhia<br />
ALFA, constituindo-se numa equipa verdadeiramente<br />
combinada. A 1 de Março de 2008, iniciou-se<br />
no RC6, uma jornada cujo epílogo se concluiu,<br />
também no RC6, com a retracção da Força e entrega<br />
do Estandarte Nacional à guarda da BrigInt, a 15 de<br />
Abril de 2009.<br />
Corolário de um intensivo treino ministrado ao<br />
longo do aprontamento, o exercício final da Força<br />
decorreu de 24 a 31 de Julho de 2008, em Cabeceiras<br />
de Basto, a fim de testar a sua proficiência e avaliar<br />
a sua capacidade no desempenho de operações em<br />
todo o espectro do conflito militar moderno, atenta<br />
a missão que lhe estava cometida no Kosovo. Com<br />
o inexcedível e entusiástico apoio do Município e<br />
população cabeceirenses, foi possível recriar, no<br />
cenário das Terras de Basto, a cidade de Pristina e<br />
o ambiente característico do Kosovo. A Escola EB<br />
2,3 de Cabeceiras de Basto, com trinta anos de<br />
existência, durante este período foi transformada<br />
num quartel militar, simulando para efeitos de<br />
exercício o aquartelamento de Slim Lines no<br />
Kosovo, onde foi alojada a Força e a partir de onde<br />
foi controlada a execução do Exercício. Os 290<br />
homens e mulheres do Agr MIKE responderam a<br />
variadas situações, similares às que iriam encontrar<br />
no Teatro de Operações (TO). A culminar o exercício,<br />
a Força efectuou, em 31de Julho de 2008, no recinto<br />
adjacente à emblemática Igreja de S. Miguel de<br />
Refojos, perante o Comandante Operacional,<br />
Tenente-General Pina Monteiro, e diversa assistência,<br />
uma parada militar e uma demonstração das<br />
suas capacidades que constituíram o gáudio e foram<br />
largamente apreciadas pelos presentes.<br />
A divisa da Heráldica do Agrupamento: “UT<br />
UNUM SINT”, “para que sejam um só”, espelha<br />
bem o comentário final da Equipa de Avaliação que<br />
conduziu a CREVAL: “O Agr MIKE, encontra-se<br />
excelentemente organizado, bem comandado, motivado<br />
e com um forte espírito de corpo… capaz de<br />
cumprir integralmente a sua missão operacional”.<br />
A 26 de Setembro com a chegada do último grupo<br />
de militares ao território do Kosovo, o MIKE deparouse<br />
com a realidade nua e crua do TO, para a qual nos
tínhamos preparado sem descanso. Dos feitos desses<br />
seis meses e alguns dias vamos agora dar conta.<br />
Na impossibilidade de relatar tudo o que fizemos,<br />
vamos sumarizar as operações, exercícios e<br />
outras actividades desenvolvidas, evidenciar as<br />
áreas de excelência experimentadas e acima de tudo<br />
recolher as experiências de Oficiais, Sargentos e<br />
Praças, que num período tão curto de tempo viveram<br />
as suas vidas tão intensamente e viram a sua<br />
memória colectiva substancialmente enriquecida.<br />
A NATO Kosovo Force<br />
A Kosovo Force (KFOR), Força Multinacional<br />
liderada pela NATO é responsável por estabelecer<br />
e manter um ambiente estável e seguro no Kosovo<br />
e entrou neste TO em 12 de Junho de 1999, para<br />
cumprir um mandato da Organização das Nações<br />
Unidas (ONU), com base na Resolução 1244 do<br />
seu Conselho de Segurança.<br />
A região do Kosovo, com uma superfície de<br />
10.887 Km2, equivalente em Portugal a Trás-os-<br />
Montes e Alto Douro, situa-se no coração da<br />
Península Balcânica, no cruzamento de importantes<br />
vias de comunicação entre o Oriente e o Ocidente.<br />
No período de 2006 a 2009, diversos acontecimentos<br />
decorreram no Kosovo, tendo os mesmos<br />
tido de forma directa ou indirecta implicações nas<br />
missões atribuídas às FND’s Portuguesas. Destacase<br />
a declaração unilateral da independência do<br />
Kosovo, a transferência sucessiva das tarefas da<br />
United Nations Mission in Kosovo (UNMIK) para<br />
Organização das forças da KFOR.<br />
a European Union Rule of Law Mission in Kosovo<br />
(EULEX), a desactivação do Corpo de Protecção<br />
do Kosovo (KPC) e a implementação da Força de<br />
Segurança do Kosovo (KSF), entre outros.<br />
A Força Portuguesa destacada no Kosovo é<br />
designada por Kosovo Force Tactical Reserve<br />
Manoeuvre Battalion (KTM). Nas suas missões, a<br />
KTM, ao nível táctico, projecta-se, enquanto<br />
Reserva Táctica do Comandante da KFOR, em dois<br />
níveis: nível I (KTMG – Grupo), sendo composta<br />
por um posto de comando de escalão Batalhão,<br />
uma companhia de manobra e o apoio de serviços<br />
proporcional, e o nível II (KTMF - Força), composta<br />
por um posto de comando de escalão Batalhão e<br />
duas companhias de manobra e a parte proporcional<br />
do Apoio de Serviços, ambos com um prazo de intervenção<br />
reduzido.<br />
As Forças Portuguesas estão aquarteladas no<br />
Campo Militar Jubilee Barracks, que era inglês,<br />
mas que com a retracção desta Força foi adquirido<br />
pelas autoridades portuguesas passando a ostentar<br />
a Bandeira Nacional desde 1 de Junho de 2009.<br />
“A missão do Agr MIKE no TO do Kosovo<br />
obriga a que seja cumprido um grande e diversificado<br />
número de tarefas, que concorrem indubitavelmente<br />
para um enriquecimento na formação de<br />
qualquer militar. No que diz respeito à parte operacional,<br />
a missão de reserva táctica do COMKFOR<br />
exige treino e empenhamento operacional permanentes<br />
e muito exigentes, que nos obrigam a estar<br />
“prontos” 24 horas por dia. Realço nesta área, o<br />
quão gratificante que é poder percorrer todos os<br />
passos do processo de decisão militar, no planeamento<br />
de uma qualquer operação, e saber que na<br />
altura do emprego dos meios (terrestres e/ou<br />
aéreos), eles estão lá, disponíveis e operacionais.<br />
No que diz respeito à parte “não operacional”, mas<br />
concorrente desta, realço a possibilidade que existe<br />
em trabalhar com contingentes de vários países e<br />
ter que conhecer uma grande diversidade de meios<br />
e procedimentos, situação enriquecedora e que<br />
favorece o florescimento daquela qualidade que<br />
todos os portugueses possuem, que é a facilidade<br />
de relacionamento e de trabalho, seja com quem<br />
for. Servir no Kosovo é uma excelente oportunidade<br />
de enriquecimento técnico, operacional e humano.”<br />
Major de Cavalaria Peralta Pimenta/2º Cmdt e<br />
CEM Agr MIKE<br />
“Estar em missão no Kosovo foi, desde muito<br />
cedo, um desafio à capacidade dos Militares Portugueses<br />
em saberem viver em comunidade, partilhando<br />
alegrias, tristezas, sucessos, fracassos com um<br />
único objectivo, o de superar os obstáculos com<br />
33
34<br />
Fotografia aérea de Jubilee Barracks.<br />
que nos íamos deparando, contribuindo sobretudo<br />
para a estabilidade e desenvolvimento do Kosovo.<br />
Mas, foi por terras desta região, rica em património<br />
social e cultural que a colossal família MIKE conviveu<br />
ao longo de seis meses com outras culturas,<br />
outros saberes e particularmente coabitou diariamente<br />
com militares, oriundos de outras nacionalidades.<br />
(…) Como Adjunto do Comando da Força Portuguesa,<br />
dei a conhecer a missão da KTM, estrutura, a<br />
História e a cultura do povo português; a importância<br />
dos Sargentos na estrutura das Forças Armadas e<br />
ainda os aspectos relacionados com a carreira:<br />
acesso, formação e progressão.<br />
Chegado o tempo de partir, regressamos com a<br />
certeza e a consciência do dever cumprido, enaltecendo<br />
o nome de Portugal e os feitos dos Militares<br />
Portugueses, por terras do Kosovo. Regressamos<br />
ao núcleo familiar, que apesar da separação física,<br />
demonstrou ser um esteio permanente e fundamental<br />
para o êxito desta missão em prol da paz.”<br />
Sargento-Chefe de Cavalaria António Coutinho/<br />
Adj Cmd Agr MIKE<br />
“O desempenho da função de Oficial de Operações<br />
da KTM constitui-se numa oportunidade única<br />
para adquirir experiência no planeamento e execução<br />
de exercícios, treinos e operações, na dependência<br />
directa do COMKFOR. Foram planeadas, coordenadas<br />
e executadas Framework, Proximity, Focused,<br />
Boundary and Border Surveillance e Rehearsals Operations,<br />
treinos e exercícios de Notice To Move,<br />
Crowd and Riot Control, Air Lifts (diurnos e nocturnos).<br />
Destacam-se destas as Operations Rehearsals<br />
uma vez que foram colocados em prática o processo<br />
de decisão militar abreviado (hasty planning), a<br />
capacidade de projectar a KTM por via terrestre e<br />
aérea, ocupar uma Área de Atribuição de Missão e<br />
rapidamente entrar em operações. Para a execução<br />
dos mesmos, foram facultados diversos meios ao<br />
dispor do COMKFOR, dos quais se destacam a<br />
Reserva Aérea Táctica da KFOR, o AirScan e a Tactical<br />
PsyOps Team. A KTM é uma unidade de escalão<br />
Batalhão, no entanto depende directamente do<br />
COMKFOR concedendo ao Oficial de Operações a<br />
oportunidade de lidar e colaborar directamente, numa<br />
base diária, com os J3/G3 da KFOR e das MNTF’s,<br />
possibilitando assim uma percepção global da<br />
actuação de todas as forças no TO. Estando a Reserva<br />
vocacionada para operar Kosovo Wide tivemos a<br />
oportunidade de trabalhar com todas as MNTFs e<br />
observar diferentes abordagens e organizações. O<br />
desempenho desta função foi uma experiência<br />
gratificante, enriquecedora e inesquecível quer a<br />
nível profissional quer a nível pessoal.”<br />
Major de Infantaria João Neves/S3/S5 Ag MIKE<br />
“(…) De acordo com a intenção do COMKFOR<br />
e do comandante da KTM, fui incumbido de efectuar<br />
o plano de treino e emprego operacional da KTM.”<br />
(…) Com a sua implementação (…) “passei a ser<br />
conhecido no seio da KFOR como o Trainning Officer<br />
da KTM. O plano contemplava uma série de<br />
objectivos, que iam desde o treino e exercícios de<br />
crowd and riot control (CRC) até ao apoio em caso<br />
de catástrofe ou calamidade pública, aos níveis de<br />
pelotão, companhia e batalhão. Um dos objectivos<br />
mais marcantes e desafiantes, pela multinacionalidade<br />
de forças e meios aéreos envolvidos, foi o<br />
planeamento, coordenação e execução de exercícios<br />
de CRC com projecção aérea diurna e nocturna de<br />
forças e consequentes operações de junção dos<br />
meios terrestres. Na condução de um dos exercícios<br />
de projecção nocturna, tive a oportunidade de voar<br />
no helicóptero de Comando e Controlo (C 2 ) (GA-<br />
O
perações efectuadas pelo Agr MIKE.<br />
ZELLE) e assistir ao Exercise Air Controller,<br />
visualizando a partir do ar o desembarque da Força<br />
através da câmara térmica que equipava o<br />
helicóptero. Planear, coordenar e executar<br />
exercícios, construir capacidades de projecção<br />
aérea para a KTM com recurso a vários tipos de<br />
helicópteros, provenientes de nacionalidades<br />
diferentes, não foi tarefa fácil; contudo, o resultado<br />
final foi recompensador para todos os elementos<br />
da Força envolvidos. Ser Trainning Officer da KTM<br />
permitiu-me colher ensinamentos e viver múltiplas<br />
experiências que eu reporto de extraordinárias para<br />
um jovem capitão, aos níveis profissional e pessoal,<br />
e impossíveis de viver, com tanta intensidade num<br />
período de tempo tão curto, em território nacional.”<br />
Capitão de Cavalaria Pedro Cabral/Adj S3/S5/<br />
AGr MIKE<br />
“A componente operacional do Agrupamento<br />
MIKE no Kosovo assumiu a face mais visível da<br />
Força e foi alvo dos mais diversos e rasgados<br />
elogios e aclamações. Não querendo “ofuscar” nem<br />
retirar o devido valor a esta componente, e como<br />
responsável pela componente logística da Força,<br />
devo enaltecer e valorizar quem esteve na “sombra”<br />
a criar condições para que outros elevassem o nome<br />
de Portugal aos mais elevados patamares.<br />
A pirâmide de Maslow estabelece uma hierarquia<br />
na satisfação das necessidades em patamares. Cada<br />
patamar corresponde a um conjunto de necessidades<br />
que, quando não satisfeitas, comprometem a<br />
afirmação do homem como ser humano. Extrapolando<br />
para a vertente militar e estabelecendo a analogia<br />
com as necessidades da Força, materializadas no<br />
acumular das carências básicas de cada militar,<br />
consegue-se, através de uma análise cuidada da<br />
pirâmide, isolar algumas necessidades básicas em<br />
que a componente logística teve um papel<br />
preponderante e decisivo para a sua satisfação. As<br />
funções logísticas (Reabastecimentos, Manutenção,<br />
Transportes, Apoio sanitário e Serviços),<br />
garantiram, cada uma ao seu nível, o apoio<br />
necessário à sobrevivência da força e à criação de<br />
condições para o cabal cumprimento da missão.<br />
Uma referência especial para à “cumplicidade”<br />
criada com os contingentes Inglês, Francês, Americano<br />
e Alemão que em muito contribuíram para a<br />
resolução atempada das deficiências que foram acontecendo<br />
com as instalações ocupadas pela Força.<br />
Todo o esforço colocado no fornecimento atempado<br />
dos artigos das diversas classes, na manutenção<br />
das viaturas, na prontidão dos militares em termos<br />
sanitários e serviços disponibilizados, assim como<br />
na criação das melhores condições possíveis de<br />
habitabilidade dos alojamentos foi recompensado<br />
através do sentimento do dever cumprido e do<br />
desafio ganho.”<br />
Major de Artilharia Jorge Agostinho/S4/<br />
AgrMIKE<br />
Do desempenho da função de Oficial de Ligação<br />
(LNO) ao HQ da KFOR só me brotam vivências<br />
positivas e agradáveis de descrever. Na fase de<br />
preparação que antecede uma missão no teatro do<br />
Kosovo, e julgo que noutro qualquer, fora alguns<br />
apontamentos e o “STANAG 2101 TOP (EDITION<br />
11) – ESTABLISHING LIAISON”, que descrevem<br />
os critérios e responsabilidades do Oficial de<br />
Ligação, nada mais existe que se possa constituir<br />
em “muleta”, pelo que um grande desafio se me<br />
deparava pela frente.<br />
Após a chegada ao TO, o meu antecessor ansiava<br />
por me passar a pasta e com alguma surpresa<br />
não só a de LNO, mas também a de Public Affairs<br />
Officer (PAO), que correspondia à divulgação do<br />
Agr MIKE/KTM no seio da KFOR, no Kosovo e<br />
em Portugal; tarefa que antevia como mais um<br />
aliciante desafio.<br />
Após a sobreposição, que de facto é essencial<br />
e da qual só posso enaltecer a maneira excepcionalmente<br />
profissional como foi conduzida, lá estava<br />
eu como único militar do Agr MIKE/KTM destacado<br />
da Força, para servir como elo de ligação das forças<br />
lusas ao HQ da KFOR.<br />
Começando pelo local de trabalho, localizado<br />
no Joint Operations Center, junto com os outros<br />
LNO das cinco Multinational Task Forces (MNTF)<br />
e Military Specialized Unit (MSU), rapidamente me<br />
apercebi que era o primeiro homem a “dar a cara”<br />
junto do comando do HQ da KFOR, pelo que o que<br />
eu transmitia não poderia suscitar qualquer tipo de<br />
dúvida junto deste, na qual se incluía a comunicação<br />
por vezes de informação crítica do Comandante,<br />
ultrapassando a burocracia do Estado Maior. O<br />
LNO actualiza diariamente, perante o COMKFOR<br />
(General Comandante da KFOR) e respectivo Estado<br />
Maior, todas as operações do AgrMIKE/KTM,<br />
efectuando brifíngues no final da tarde (Staff Update)<br />
e de manhã quando solicitado, constituindose<br />
em simultâneo no elo de ligação da Força às<br />
diferentes MNTF e MSU. É o primeiro elemento da<br />
Força a ser solicitado quando há a necessidade de<br />
informação ou de intervenção da Força que<br />
representa, pelo que está 24/7 horas de serviço e<br />
sempre contactável (first man to wake up e sem rest<br />
day como o resto da Força).<br />
Nas funções de PAO constituía a única e mais<br />
rápida ligação ao gabinete de relações públicas da<br />
KFOR para divulgar e transmitir a imagem do Agr<br />
MIKE/KTM extra HQ da KFOR, bem como as<br />
35
36<br />
actividades da força junto da Chronicle (publicação<br />
mensal da KFOR) e na página oficial da KFOR na<br />
Internet.<br />
Outra das tarefas digna de registo, pelo facto<br />
de ser conhecedor da grande maioria dos militares<br />
internacionais que prestavam serviço no HQ da<br />
KFOR, foi a de auxiliar o Comandante do Agr<br />
MIKE/KTM nos eventos levados a cabo pela Força<br />
que exigiam recurso a protocolo.<br />
Em suma, afirmo com convicção que vivi uma<br />
experiência única que recomendo vivamente, já que<br />
é de facto gratificante descrever e divulgar as cores<br />
portuguesas em ambiente multinacional e constatar<br />
in loco que o nosso desempenho é superiormente<br />
reconhecido.”<br />
Major de Artilharia Nuno Folgado/LNO HQ<br />
KFOR/Agr MIKE<br />
“Fruto da experiência adquirida na função de<br />
KTM LNO nas MNTF’s tenho a reportar que o LNO<br />
é o verdadeiro “faz tudo” no HQ das MNTF pois<br />
que, como elo de ligação, tem que resolver e clarificar<br />
os problemas das diversas Secções de Estado<br />
Maior da Força.<br />
Como substituto natural do KTM LNO ao QG<br />
da KFOR, devemos acompanhar o mesmo durante<br />
o máximo tempo possível, antes de o Agrupamento<br />
atingir a “Full Operational Capability”, para que<br />
possamos aprender a função, estando após este<br />
período aptos a substituí-lo durante as férias, ou<br />
em operações, se o JOC funcionar durante 24 horas.<br />
Este período serve também para desenvolver<br />
relações de trabalho - conhecer locais e pessoas -<br />
ficando com uma noção sobre o que é verdadeiramente<br />
a KFOR, revelando-se estes conhecimentos<br />
de suma importância para o desempenho da função<br />
nas MNTF’s, uma vez que, não tendo os LNO’s<br />
qualquer preparação para o seu cargo, este “estágio”<br />
no TO é uma mais-valia.<br />
A postura do LNO nas MNTF’s tem que ser de<br />
total proactividade, colaboração e disponibilidade,<br />
pois ele é a imagem da KTM. Deveremos conhecer<br />
rapidamente os locais e pessoas a contactar,<br />
confirmando diariamente o cumprimento dos<br />
horários de toda a documentação a elaborar pelas<br />
nossas Secções de Estado Maior nos respectivos<br />
HQ, obter informação sobre a ligação aos sistemas<br />
informáticos, telefone e rádio das MNTF’s com o<br />
nosso TOC 1 e com a KTMG projectada, facultando<br />
todos os elementos necessários à interoperabilidade<br />
entre sistemas. Temos que estar em permanente<br />
contacto com o TOC e a KTMG, satisfazendo todas<br />
as necessidades de ligação com os diversos órgãos<br />
das MNTF’s.<br />
Para finalizar, nesta função a “regra de ouro” é a<br />
Patrulha em Mitrovica.<br />
Exercício de CRC. (À direita)<br />
capacidade de adaptação à forma de trabalho de<br />
cada MNTF, porque todas elas têm distintos “Battle<br />
Rythm” e sistemas de processamento de informações,<br />
o qual, se não for cumprido à risca poderá<br />
dificultar a ligação eficaz com a MNTF, uma vez<br />
que a KTM executa operações Kosovo wide”.<br />
Major de Artilharia Rui Rodrigues/MNTF LNO/<br />
Agr MIKE<br />
“A operacionalidade de 106 viaturas, 36 atrelados,<br />
520 armas e 345 equipamentos respeitantes a<br />
material óptico, optrónico, eléctrico e outro existente<br />
no TO, só foi conseguida com muitas horas de<br />
trabalho, persistência, saber e dedicação. O espírito<br />
de corpo criado pelos elementos do Módulo de<br />
Manutenção foi a chave que nos levou ao sucesso.<br />
A manutenção preventiva é essencial para a<br />
operacionalidade das viaturas/equipamentos/armamento,<br />
principalmente em climas adversos como o<br />
que encontrámos no Kosovo. Assim, chegados ao<br />
TO efectuamos o overall a todas as viaturas,<br />
resolvemos os problemas recorrentes das baterias<br />
e dos pneus, executámos 134 ordens de trabalho e<br />
129 requisições, 1012 num total de cerca de 1220<br />
artigos requisitados.<br />
Face aos poucos voos de sustentação, o apoio<br />
dos Contingentes Nacionais Francês e Americano<br />
e a recorrência ao mercado local, com todas as<br />
dificuldades inerentes à linguagem, foram uma maisvalia<br />
para o reabastecimento da classe IX. A<br />
diversidade e complexidade das tarefas executadas<br />
e relações de trabalho multinacionais desenvolvidas<br />
constituíram-se em experiências profissionais e<br />
pessoais inolvidáveis para todos nós.”<br />
Capitão de Engemharia Sónia Santos/Of Man/<br />
Agr MIKE
“A participação numa FND é sempre uma<br />
experiência enriquecedora. Os nossos conhecimentos<br />
e capacidade de adaptação são postos à prova.<br />
É ainda uma oportunidade de adquirir novos<br />
saberes, conhecer novas perspectivas e, acima de<br />
tudo, assumir a responsabilidade individual e<br />
colectiva de ostentar as cores nacionais e divulgar<br />
as tradições lusitanas.<br />
Dependendo da função, a experiência final é<br />
sempre gratificante bem como o somatório dos<br />
conhecimentos finais. No meu caso, coube-me a<br />
função de Sargento de Informações. Adicionalmente,<br />
desempenhei tarefas no âmbito da Directiva<br />
de Informação do Agrupamento. Coube-me ainda<br />
o planeamento e implementação da segurança física,<br />
do pessoal, CIS e da documentação no âmbito das<br />
normas NATO/KFOR. Da excelência do trabalho<br />
de equipa desenvolvido, realço o árduo trabalho<br />
desenvolvido e os extraordinários resultados<br />
obtidos nas inspecções de segurança conduzidas<br />
pelo Theatre Security Office da KFOR.<br />
Em suma, há um vasto conjunto de conhecimentos<br />
técnico-profissionais e pessoais, individuais e<br />
colectivos, adquiridos nas FND’s que podem e<br />
devem ser utilizados em termos doutrinários nas<br />
nossas Forças Armadas (FA). O <strong>Exército</strong> em particular<br />
e as FA em geral têm um potencial humano<br />
com imensas valências e capacidade de actuação.”<br />
1.º Sargento de Cavalaria Agostinho Fernandes/<br />
SAR S2/EM/Agr MIKE<br />
“Comandar é a essência do ser de um Oficial,<br />
constituindo a aspiração máxima que profissionalmente<br />
um Capitão pode ambicionar e que assume<br />
maiores contornos quando essa experiência tem lugar<br />
em situações de campanha, ou mais comummente<br />
nos nossos dias, numa FND. É nesse contexto que<br />
surgem as próximas palavras, numa tentativa de<br />
expressar o orgulho e gratidão pela confiança que me<br />
foi depositada em assumir o Comando da Companhia<br />
de Apoio do Agr MIKE, a ALFA Coy, o que constituiu<br />
uma experiência de vida e não apenas uma experiência<br />
profissional! Esse orgulho e a inquestionável<br />
honra que sinto têm igualmente a sua razão de ser no<br />
mérito militar, na prestimosa disponibilidade, na<br />
competência e capacidades diversas dos militares<br />
com que servi, que tornaram a missão de os<br />
comandar das mais distintas e dignificantes que<br />
profissionalmente poderia ambicionar.<br />
Apesar dos sobejamente conhecidos condicionalismos<br />
de ordem diversa que afectaram e influenciaram<br />
a nossa missão, não posso deixar de lembrar com a<br />
mais respeitosa reverência e emoção todas as situações<br />
que ultrapassámos em conjunto, que deixaram<br />
indubitavelmente a sua marca no fortalecimento<br />
dos laços de camaradagem e que em última análise<br />
solidificaram o espírito de corpo da Companhia.<br />
No seu enunciado mais simples posso afirmar<br />
que o centro de gravidade da Companhia era composto<br />
pelos Homens e Mulheres tão diferentes, nos<br />
quais se revia o espírito próprio que caracteriza cada<br />
uma das Armas e Serviços do nosso <strong>Exército</strong>, que<br />
perfizeram equipas bem sucedidas, coesas, colectivamente<br />
orientadas e coordenadas para a prossecução<br />
do mesmo fim comum: o pronto e cabal<br />
cumprimento da missão que nos estava atribuída.<br />
Capitão de Artilharia José Miguel Sequeira<br />
Maldonado/Cmdt ACoy/Agr /MIKE<br />
“Participar numa Operação de Apoio à Paz é<br />
mais que motivador e enriquecedor. É poder<br />
demonstrar a todos os que em nós acreditam e<br />
confiam que nos dias de hoje continuam a existir<br />
Soldados em Portugal!<br />
Estes Soldados somos todos nós, os militares<br />
portugueses, que na privação do nosso bem estar,<br />
queremos e conseguimos, com a nossa força de<br />
vontade, prestar auxilio às populações mais necessitadas<br />
e carenciadas nas alturas mais exigentes. A<br />
minha experiência como Comandante de uma<br />
Companhia Operacional no TO do Kosovo, para<br />
além de muito dignificante no exercício do comando<br />
de Homens, foi também extraordinária pessoalmente,<br />
pois fortifiquei os laços de amizade e camaradagem<br />
em toda a família MIKE. A missão muito<br />
enriquecedora militarmente, satisfez-me e aportoume<br />
uma enorme felicidade, pois pude ajudar na<br />
construção da nova sociedade do Kosovo,<br />
principalmente nas necessidades básicas, assim<br />
como no bem estar emocional de um povo que dá<br />
os primeiros passos para se constituir numa Nação.<br />
É pois, em alturas como estas que, na introspecção,<br />
damos valor àquilo que no quotidiano acabamos<br />
por nem cogitar e que tão importante é para o nosso<br />
equilíbrio como pessoas e militares: a família, a<br />
saúde, a educação e a PAZ!”<br />
Capitão de Cavalaria Adriano Branco/Cmdt<br />
CCoy/Agr MIKE<br />
“Embarcar neste tipo de missões, onde<br />
ostentamos a bandeira da paz a par da Bandeira<br />
Nacional, incrementa a maturidade do senso, a<br />
imparcialidade dos actos, a certeza do objectivo.<br />
Pelas situações e pessoas reais com que lidamos<br />
diariamente, a indução cognitiva é uma premissa à<br />
qual não estamos alheios, assim como a firmeza de<br />
demonstrarmos a nossa presença. Alcançar este<br />
estado de proficiência é precedido por um treino<br />
constante e de largo espectro, mas acima de tudo é<br />
o fruto de uma vivência terrena com todas as<br />
37
38<br />
dificuldades e situações quotidianas que se nos<br />
apresentam.<br />
Não é difícil manifestar que é neste clima de<br />
experiência diária em zonas de conflito que nós,<br />
militares da paz, adquirimos o know-how que<br />
extravasa para o resto da nossa vida militar, onde<br />
apontaremos o vivido aos níveis profissional e<br />
pessoal como o melhor exemplo.”<br />
Tenente de Infantaria Daniel Gomes/Cmdt 3ºPel/<br />
BCoy/AgrMIKE<br />
Entre Janeiro de 2000 e Março de 2009 cumpri<br />
três missões de Apoio à Paz no TO do Kosovo.<br />
Comparando a situação actual com a que encontrei<br />
há nove anos atrás, posso dizer que o Kosovo está<br />
melhor em quase todos os aspectos. A maior<br />
diferença, sem dúvida, foi o Kosovo ter proclamado<br />
a sua independência unilateral. No entanto, a<br />
popularidade da KFOR continua em alta, sinal<br />
evidente de que está a cumprir bem a sua missão.<br />
As forças portuguesas continuam a ser saudadas<br />
e acarinhadas pela população. Esse carinho resulta<br />
do grande empenhamento, naturalidade, neutralidade<br />
e do querer e saber fazer do Soldado Português.<br />
Todas as tarefas que executei, nas mais<br />
diversas funções, enriqueceram e valorizaram a<br />
minha carreira Militar e sem dúvida que alargaram<br />
a minha maneira de ver a vida como homem. Dizse<br />
que não há amor como o primeiro, no entanto<br />
recordo com orgulho todas as missões efectuadas,<br />
embora tenha mais presente a última, em virtude<br />
de a ter terminado há bem pouco tempo e por ter<br />
sido mais rica operacionalmente. Percorremos o<br />
Kosovo de Norte a Sul, de Este a Oeste, operámos<br />
lado a lado com a maioria das forças presentes no<br />
TO em exercícios e operações e assumimos a<br />
generosidade do povo português nas diversas<br />
acções CIMIC levadas a cabo.<br />
Sinto-me honrado e altamente orgulhoso pelo<br />
trabalho efectuado nestas paragens e de ter a sorte<br />
de pertencer à nossa Pátria e à nossa Gente.”<br />
1.º Sargento de Cavalaria Joâo Sousa/Sar 3º<br />
Pelotão/CCoy/KTM/KFOR<br />
“(…) A preparação da Força, antes da projecção,<br />
foi de extrema importância, não só em termos<br />
técnicos e operacionais, mas também na vivência<br />
dentro da secção. O conhecimento do Homem, das<br />
capacidades individuais, as suas dúvidas e<br />
dificuldades, os seus anseios, o que lhes vai no<br />
íntimo… Todas estas questões têm de ser clarificadas<br />
em território nacional. Na secção, cada militar<br />
deve ver no homem que está ao seu lado muito<br />
mais que um camarada de armas, deve ver acima de<br />
tudo, um amigo, um companheiro, alguém pronto a<br />
Visita do Ministro da Defesa Nacional.<br />
salvar-lhe a vida ou escutar um desabafo num dia<br />
menos bom. A saudade acaba por aparecer e em<br />
cada alma, a preocupação por quem ficou em Portugal<br />
é inegável. Sabemos que, um problema que à<br />
partida parece insignificante se pode agigantar<br />
quando é acompanhado à distância.<br />
Já no TO, a secção tem de se manter sempre<br />
pronta a responder às ordens do escalão superior;<br />
para tal, o treino físico e operacional devem ser<br />
uma constante. Em cada homem foi notória a vontade<br />
de bem servir, de ajudar a manter um clima de paz<br />
e harmonia num território habituado ao conflito, de<br />
honrar a bandeira que levamos no nosso uniforme e<br />
no coração. Para nós militares, que não demandamos<br />
distinções nem tesouros, não existe maior<br />
riqueza do que o sorriso de uma criança, que como<br />
sempre, continuam a ser as principais vítimas nestas<br />
circunstâncias. Para cada homem e mulher que<br />
integrou o agrupamento MIKE, a missão no TO do<br />
Kosovo, mais do que uma experiência militar foi também<br />
uma experiência de vida e um acto de reflexão.”<br />
1.º Sargento de Cavalaria Vitor Costa/Cmdt Sec/<br />
2ºPel/CCoy/Agr Mike<br />
“No dia 24 de Setembro de 2008 embarquei para<br />
um canto do continente Europeu desconhecido<br />
para mim e para grande parte dos meus camaradas.<br />
Ali tive contacto com uma outra cultura, um outro<br />
povo marcado pela guerra e pela pobreza, mas<br />
sempre com um sorriso hospitaleiro e com um olhar<br />
de esperança bem patente nos olhos das crianças.<br />
Os seis meses foram enriquecedores tanto a nível<br />
pessoal como profissional, foi uma experiência única<br />
mas que exigiu grandes sacrifícios de todos nós.<br />
Mas já dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena<br />
quando a alma não é pequena”, e a alma do MIKE<br />
Acções CIMIC.
transcendeu todos os objectivos a que<br />
eu me tinha proposto executar nesta<br />
missão. Aprendi mais como militar<br />
nestes últimos seis meses<br />
do que em seis anos<br />
na minha Unidade<br />
de proveniência,<br />
tive experiências<br />
que jamais sonharia<br />
ter (...). Tive<br />
oportunidade de<br />
trabalhar com militares<br />
de vários contingentes,<br />
de trocar<br />
vivências e opiniões.<br />
Adaptamo-nos sem problemas<br />
aos novos métodos de trabalho,<br />
alteramos algumas rotinas de modo a<br />
melhor cumprir as missões que nos eram<br />
impostas. Tudo isto foi concretizado com muito<br />
treino e com muito espírito de equipa, dai os meus<br />
agradecimentos a todos os membros da minha<br />
esquadra e da minha secção com os quais trabalhei<br />
directamente em todas as missões que nos foram<br />
incumbidas e que realizamos com o brio e<br />
profissionalismo que caracterizou aliás todo o<br />
trabalho do MIKE.”<br />
1.º Cabo Manuel Felgueiras/Cmdt Esq/BCoy/<br />
Agr MIKE<br />
“Após todo o esforço de aprendizagem, formação<br />
e treino realizados no aprontamento, pude pôr<br />
em prática os conhecimentos, que apesar de bons,<br />
não foram nem nunca vão ser demais, face à diversidade<br />
de situações novas com que fui confrontado<br />
no TO. A experiência adquirida foi óptima pois<br />
fiquei mais rico em conhecimentos militares, tendo<br />
em conta o acesso a diversos materiais e equipamentos<br />
que não nos foram disponibilizados quer na<br />
vivência da minha unidade, quer na fase de aprontamento.<br />
Cheguei do Kosovo mais rico como Homem<br />
por ajudar uma população carenciada, onde a palavra<br />
ser humano ganhou para mim um novo significado.”<br />
Soldado Pedro Marques/BCoy/Agr MIKE<br />
Dos 181 dias passados no TO, o Agr MIKE/<br />
BrigInt/KTM esteve empenhado operacionalmente<br />
durante 126 dias, conduzindo 12 Operações no<br />
terreno ao nível Força e ao nível Grupo. Concomitantemente<br />
com o emprego operacional a Força<br />
desenvolveu um intenso programa de treino, avaliação<br />
operacional e prontidão para combate materializados<br />
da seguinte forma: 31 Reconhecimentos dos<br />
quais onze aéreos, 6 exercícios de Prontidão para<br />
Combate e Avaliação Operacional, 9 Exercícios<br />
Combinados de CRC níveis KTMG e<br />
KTMF, seis operações aerotransportadas<br />
[1 a nível Pelotão, 4 ao nível<br />
KTMG (1 nocturna) e 1 ao nível<br />
KTMF] seguidas de<br />
Operações de Junção<br />
e Exercícios Combinados<br />
de CRC<br />
com Forças da<br />
EULEX, MSU e<br />
dos AgrupamentosMultinacionais<br />
Norte, Oeste,<br />
Centro e Este. Concomitantemente<br />
com as operações<br />
tácticas foram executadas<br />
24 acções CIMIC de apoio à população kosovar,<br />
apelidadas de “Grande Abraço” (Mighty Big Hug),<br />
em todo o Kosovo, contribuindo para o bem-estar<br />
das mesmas, bem como para o incremento da imagem,<br />
visibilidade e aceitação do Agr MIKE e da KFOR.<br />
Foram estabelecidos um total de 152 Postos de<br />
Observação, 137 Pontos de Verificação, executados<br />
1814 patrulhamentos e foram percorridos cerca de<br />
300000 quilómetros.<br />
Paralelamente com a actividade operacional, o<br />
MIKE organizou actividades desportivas, a<br />
Conferência do COMKFOR, as reuniões mensais<br />
dos Sargentos-Mor dos Contingentes presentes e<br />
dos Capelães da KFOR, vários eventos e cerimónias,<br />
recebeu a visita de diversas Altas Entidades,<br />
nomeadamente o MDN e CEMGFA, o Comandante<br />
Operacional do <strong>Exército</strong>, o Comandante da BrigInt,<br />
Eurodeputada, Dr.ª Ana Maria Gomes, COMKFOR,<br />
COSKFOR, DCOS OPS KFOR, DCOS SPT KFOR,<br />
COMMNTF-C, COMMNTF-E, UNMIK Chief<br />
Liaision Officer, Delegação da IGE, Inspecção de<br />
Segurança do Theatre Security Officer, entre outras<br />
entidades nacionais e estrangeiras.<br />
Áreas de Excelência<br />
experimentadas<br />
A liderança pelo exemplo foi uma preocupação<br />
constante aos mais diversos níveis do Comando da<br />
Força. Todos os documentos emanados do Comando<br />
e EM da Força contemplavam orientações para o<br />
Comando, Estado Maior e Comandantes das<br />
Unidades subordinadas, Intenção do Comandante,<br />
definição do esforço em cada fase da operação/actividade<br />
e medidas de segurança na última alínea das<br />
instruções de coordenação. A liderança foi testada e<br />
temperada pela realização das mais diversas<br />
actividades e operações, onde se incluem sete<br />
39
40<br />
marchas; corrida mensal, estafeta e Challenger da<br />
KTM; jogos tradicionais; o “cantar das Janeiras” e<br />
as participações na DANCON March e nas corridas<br />
organizadas pelo contingente irlandês, onde os<br />
resultados alcançados são a prova viva da liderança<br />
e da tempera dos Cavaleiros Lusos. Os Comandantes,<br />
aos vários níveis, exerceram a chefia a partir da frente,<br />
nomeadamente em Mitrovica Norte, no período de<br />
Dezembro 2008 a Janeiro de 2009.<br />
A formação e treino em CRC foram complementados,<br />
após uma semana no TO, aos mais variados<br />
níveis, incluindo o combinado e conduzidos sobre<br />
a forma de treino cruzado com a MSU. Neste âmbito<br />
foi ainda desenvolvida no seio da KTM a capacidade<br />
PSYOPS numa viatura táctica ligeira não blindada,<br />
que durante as acções de CRC emitia mensagens<br />
preparadas pelas PSYOPS da KFOR. Também<br />
no CRC a capacidade de liderança da KTM foi posta<br />
à prova pois que, passadas duas semanas em TO,<br />
assumiu a liderança, o planeamento, a coordenação<br />
e a condução dos exercícios combinados de CRC e<br />
de projecção aérea com as MNTF’s, MSU e EULEX,<br />
numa mostra clara da confiança inabalável<br />
depositada pelo COMKFOR na sua KTM.<br />
Os Oficiais, Sargentos e Praças jamais<br />
esquecerão a experiência vivida na execução de seis<br />
operações aerotransportadas aos níveis pelotão,<br />
KTMG e KTMF. O planeamento, a coordenação, a<br />
execução e o C 2 foram conduzidos pelos militares<br />
do MIKE e, principalmente para os Quadros,<br />
oportunidades semelhantes serão praticamente<br />
impossíveis de voltar a concretizar, no número,<br />
tipologia e quantidade de meios envolvidos (vagas<br />
de 12 helicópteros Blackhawk e SA 330 PUMA,<br />
pertencentes a 4 MNTF’s e países diferentes).<br />
As Operações de Proximidade e as Intel Gathering<br />
Ops são operações em que a Força pretende<br />
conduzir uma acção direccionada para um efeito<br />
específico a atingir, baseada na pesquisa de um quesito<br />
específico de informação, utilizando um conjunto<br />
de meios específicos, letais e não letais, com a<br />
finalidade de manter a iniciativa operacional. Ao<br />
operar em todo o Kosovo e junto de actores governamentais<br />
e não governamentais, os soldados da<br />
KTM foram interlocutores privilegiados da KFOR<br />
para este tipo de operações.<br />
Foram desenvolvidas 24 acções CIMIC por todo<br />
o Kosovo com doação de medicamentos, alimentação,<br />
brinquedos, fornecimento e instalação de<br />
materiais numa sala de aulas da pré-primária em<br />
Janjevo, instalação de sinais e lombas redutoras de<br />
velocidade em diversas escolas e localidades, salas<br />
de informática (computadores Magalhães e<br />
impressoras ligados a Internet em rede wireless)<br />
em Prizren e Pristina, a construção de uma vedação<br />
de protecção, apelidada de “Grande Muralha da<br />
China”, numa extensão de cerca de 1500 m, num<br />
caminho escolar sobre uma ravina alcantilada, onde<br />
no ano transacto tinha morrido uma criança e ainda<br />
numerosos trabalhos de engenharia em proveito<br />
das comunidades locais e de uma família de<br />
ascendência portuguesa, na região de Podujevo.<br />
A monitorização da ABL constituiu, em cada<br />
etapa, um desafio multinacional e combinado, uma<br />
oportunidade de pôr em prática a nossa capacidade<br />
para nos relacionarmos com as duas facções em<br />
conflito, numa demonstração superior de neutralidade<br />
e imparcialidade.<br />
“No retorno ao ponto inicial as duas patrulhas<br />
fundiram-se e deram lugar a uma patrulha combinada<br />
em progressão táctica, passando quer pelo lado<br />
Sérvio quer pelo lado Kosovar da ABL, debaixo da<br />
Acções CIMIC em Gusterica.
Patrulha combinada com FA sérvias.<br />
chuva copiosa e no meio da lama dos carreiros, num<br />
clima de entreajuda, debaixo de um céu escuro que<br />
não distinguia credos ou nações. Após cinco horas<br />
de marcha, com lições aprendidas para ambos os<br />
lados, estávamos de regresso ao ponto inicial,<br />
seguiu-se a avaliação conjunta, deu-se a despedida<br />
suave, com a rigidez e tensão iniciais desvanecidas.<br />
Mais uma vez levamos a nossa ‘Carta a Garcia’,<br />
deixando para trás a experiência de uma patrulha sui<br />
generis com elementos das Forças Armadas Sérvias,<br />
pondo em prática o combinado, a multinacionalidade<br />
e a multifuncionalidade que caracterizam as acções<br />
dos soldados do MIKE kosovo wide”. 2<br />
No contexto das patrulhas de longa duração<br />
apeadas e montadas, os militares do MIKE efectuaram<br />
patrulhas combinadas com Forças Francesas na<br />
MNTF-N, normalmente de três dias em que o contacto<br />
como as populações mais isoladas era privilegiado.<br />
I have had the privilege of walking patrols<br />
with Task Force Mike units in different locations<br />
throughout Kosovo, and each time I have been<br />
impressed with their sharp focus and their physical<br />
stamina. It has been an honour for this US<br />
Marine to have worked alongside the true professionals<br />
of Task Force Mike (…). 3<br />
A naturalidade e afabilidade patenteadas pelos<br />
soldados portugueses, nos Postos de Verificação<br />
e Observação, foram por diversas vezes evidenciadas<br />
pelos elementos das MNTF’s onde operávamos.<br />
Nalguns casos não compreendiam a nossa<br />
capacidade para interagir com as diferentes etnias,<br />
principalmente a partir do momento em que se procedeu<br />
ao reconhecimento do Kosovo por parte do<br />
Estado Português.<br />
A multinacionalidade vista como um mal menor<br />
para determinados contingentes é, para nós<br />
Acção CIMIC durante a operação Mighty Good Effort.<br />
portugueses, um factor capital na diversidade de<br />
pontos de vista para a resolução do mesmo problema;<br />
a solução multinacional é sempre menos radical<br />
do que a de um qualquer país isolado. As<br />
relações de trabalho foram potenciadas no seio da<br />
família MIKE através da organização de eventos<br />
desportivos e jantares convívio com o Comando e<br />
EM das MNTF com quem operávamos e com os<br />
contingentes mais significativos presentes no TO.<br />
A execução de operações combinadas com<br />
Forças da KFOR, da MSU, da EULEX e das Forças<br />
Armadas Sérvias, Operações de Proximidade,<br />
Monitorização dos Enclaves e da ABL e a determinação<br />
das necessidades das populações locais,<br />
contribuíram para a manutenção da actualização da<br />
situação da KFOR, em tempo real, e para a formação,<br />
globalidade, motivação e enriquecimento dos soldados<br />
do Agr MIKE como militares e como homens.<br />
O nosso modus operandi foi efectivamente<br />
avassalador, o profissionalismo, dedicação, neutralidade,<br />
imparcialidade, a forma natural como interagimos<br />
com os nossos pares e com as facções em conflito<br />
e por último o empenho que colocámos em todas<br />
as actividades realizadas foram o estigma definidor<br />
da nossa postura e forma de estar no seio da grande<br />
família da KFOR. Esta capacidade do Soldado<br />
41
42<br />
Português foi enaltecida por diversas vezes e<br />
agraciada com 26 medalhas de mérito e 3 símbolos<br />
de atiradores especiais de pistola e espingarda automática<br />
dos EUA, 18 de mérito desportivo do Contingente<br />
Irlandês, 3 símbolos e medalhas de mérito<br />
desportivo e tiro da Alemanha e 1 medalha da UNMIK,<br />
todos impostos durante a permanência no TO.<br />
A Força foi objecto de várias visitas e inspecções<br />
de segurança efectuadas pelo Theatre Security<br />
Officer. A segurança das instalações e das informações<br />
foram melhoradas a um nível que permitiu à<br />
Força granjear os mais rasgados elogios por parte<br />
dos inspectores e guindar-se a uma posição altaneira<br />
quando comparada com os seus pares da KFOR.<br />
A vigilância e obtenção de informação em tempo<br />
real, por meios aéreos e terrestres (Air & Ground<br />
Scaning), embora pareçam impressionantes,<br />
envolvem, no TO do Kosovo, uma pequena frota de<br />
Cessnas. Estas aeronaves modificadas estão<br />
equipadas com sensores (electro-ópticos e infravermelhos)<br />
e sistemas de comunicações seguros,<br />
possibilitando-lhes sobrevoar os céus do Kosovo e<br />
providenciar, em tempo real, visibilidade sobre o que<br />
está a acontecer numa determinada área ou como<br />
está a decorrer uma determinada operação, bem como<br />
monitorizar áreas e alvos humanos de noite e de dia.<br />
Estes meios facilitaram o C 2 ao Agr MIKE nos<br />
diversos exercícios e operações conduzidas no Kosovo,<br />
permitindo monitorizar em tempo real, a partir do JOC<br />
da KFOR, não só a actividade das forças opositoras,<br />
com especial relevo para o CRC, bem como a nossa<br />
capacidade de projecção da Força por meios aéreos e<br />
terrestres e a instalação da Área de Apoio de Serviços<br />
Cessna da KFOR para operações de air scaning. (Topo)<br />
Projecção aérea de CRC – nocturna. (Acima)<br />
do Agrupamento. A estação móvel de Air & Ground<br />
Scanning, co-localizada com o PC da Força, permitia<br />
monitorizar as acções levadas a cabo pelos elementos<br />
do Agrupamento em todas as áreas das Blue e Red<br />
Box, bem como o evoluir da situação das forças<br />
opositoras e decidir com oportunidade. O S6 do Agr<br />
MIKE desenvolveu esta capacidade a nível terrestre<br />
(Ground Scanning) que permitiu obter resultados<br />
semelhantes com recurso à imagem horizontal.<br />
Os Sistemas de Comando e Informações (CIS)<br />
foram um must do Comando do Agr MIKE. O Oficial<br />
de Transmissões do Agr MIKE foi chamado a<br />
representar a KFOR em conferências sobre as<br />
capacidades, emprego e experiência operacional da<br />
utilização do Kosovo Force Tracking System<br />
(KFTS). A utilização deste sistema, do VCN, dos
meios de CIS nacionais, onde se inclui a recepção,<br />
montagem e utilização do GRC – 525, meios que<br />
permitiam VTC segura, Scanning terrestre e aéreo<br />
muito contribuíram para a SA e C 2 da Força.<br />
Cada homem do MIKE foi uma “lança” na<br />
promoção da imagem, visibilidade e aceitação da<br />
Força através da captura de imagens fotográficas e<br />
vídeo e divulgação da actividade desenvolvida. Estas<br />
imagens foram utilizadas pelo Comandante e Estado-<br />
Maior da Força nos diversos brífingues diários, nas<br />
reuniões e conferências com o COMKFOR, COS-<br />
KFOR e Estado-Maior da KFOR.<br />
Os vários artigos, fotos e composições fotográficas<br />
elaborados pelos elementos do MIKE e publicados<br />
na revista oficial da KFOR, Crhonicle, no<br />
sítio da KFOR e da NATO, bem como a publicação<br />
do Boletim mensal do Agr MIKE, com artigos em<br />
português e em inglês muito contribuíram também<br />
para este propósito. Neste âmbito ainda foram<br />
desenvolvidos em parceria com as PSYOPS/KFOR<br />
e financiados pela KFOR, um autocolante da KTM<br />
para distribuição durante as operações CIMIC e<br />
um vídeo de divulgação da KTM que passou nas<br />
diferentes televisões kosovares.<br />
A cultura e as tradições portuguesas foram evidenciada<br />
em actividades de promoção nomeadamente,<br />
exposições organizadas no QG da KFOR no âmbito<br />
das comemorações do dia do <strong>Exército</strong>, organização<br />
de jogos tradicionais, cantar das “Janeiras” junto<br />
dos QG’s das principais Forças no terreno, o serviço<br />
religioso semanal, festas móveis e religiosas entre<br />
outras actividades.<br />
Em termos de formação, os militares do Agr MIKE<br />
foram qualificados e certificados individual e<br />
colectivamente aos mais diversos níveis e escalões<br />
em Combat Camera Team, Multimédia (Adobe<br />
Photoshop, Pinacle Studio e Microsoft Sharepoint),<br />
GRC-525, PsyOps, AIR MEDEVAC nas aeronaves<br />
SA 330 PUMA e Blackhawk, técnicas de condução<br />
defensiva e na neve, KFTS, pistola e espingarda<br />
automática pelo <strong>Exército</strong> dos EUA e da Alemanha e<br />
em CRC aos escalões Pelotão, Companhia, KTMG,<br />
KTMF e Agrupamento.<br />
A KTM foi uma escola de vida para os soldados<br />
do Agr MIKE, que contactaram e viveram numa base<br />
diária diversas realidades consignadas pelas<br />
operações combinadas, pelo apoio às diferentes<br />
etnias em presença no Kosovo, pela precariedade<br />
do seu sistema social e quantidade das acções CIMIC<br />
levadas a cabo pela Força em todo o Kosovo.<br />
Os soldados do MIKE em geral e os elementos<br />
femininos em particular, exponenciaram a capacidade<br />
do povo português para se relacionar com os<br />
diferentes credos e raças. Em todas as situações<br />
vividas, o militar português saiu da viatura e de for-<br />
ma natural, neutral e imparcial, se relacionou, interagiu<br />
e ganhou o respeito e a consideração dos autóctones<br />
e dos diferentes actores e Forças presentes no TO.<br />
O soldado português é generoso e grande,<br />
porque é inteiro, porque é plural como o Universo<br />
e põe tudo quanto é no mínimo que faz tornando<br />
universal a Nação Portuguesa. O soldado português<br />
é global, simples, empreendedor, é um cidadão<br />
do mundo, um inato e eficiente produtor de paz.<br />
Foi assim ao longo da nossa História nos<br />
diversos continentes por onde passámos, também<br />
foi assim no Kosovo e continuará no futuro<br />
noutros locais onde formos chamados a defender<br />
os superiores interesses da Política Externa<br />
Nacional.<br />
Em 26 de Março de 2009 os “Cavaleiros Lusos”<br />
regressaram a casa com o sentimento do dever cumprido,<br />
não só pela forma como foram bem recebidos<br />
e aceites no Kosovo, mas também pela forma<br />
extraordinária como a missão foi desempenhada,<br />
edificando uma imagem de excelência que muito<br />
contribuiu para o bom nome e visibilidade das<br />
Forças Armadas Portuguesas e de Portugal.<br />
Os seis meses de Missão representaram para<br />
os soldados do Agr MIKE mais do que 6 anos de<br />
formação, treino, exercícios e operações em tempo<br />
de paz. Uma experiência vivida intensamente sem<br />
precedentes no <strong>Exército</strong> Português.<br />
No futuro próximo, enquanto os efectivos das<br />
MNTF diminuirão sucessivamente, a KTM manterá<br />
a sua postura e importância acrescida, com os meios<br />
aéreos ao serviço da KFOR na sua dependência<br />
directa e com NTM mais reduzidos. Assim, ganhará<br />
Portugal, as suas Forças Armadas e o seu <strong>Exército</strong>.<br />
Portugal terá, por um lado, maior visibilidade junto<br />
dos seus parceiros da NATO e da Comunidade<br />
Internacional e, por outro, Quadros Militares com<br />
formação e experiência operacional de excelência.<br />
A KTM continuará a ser uma Escola de Quadros e<br />
de Vida de Excelência para os militares Portugueses<br />
que nela tiverem a ensejo de servir.JE<br />
* Comandante do Agrupamento MIKE/BrigInt/<br />
KFOR<br />
1 Tactical Operations Centre<br />
2 Ten Inf Daniel Gomes Comandante do 3ºPel/BCoy<br />
responsável pela execução da patrulha.<br />
3 Eu tive o prazer de executar patrulhas diversas vezes com<br />
militares do Agr MIKE, em diferentes locais no Kosovo, e<br />
em todas as ocasiões fiquei impressionado com a sua<br />
extraordinária concentração, ânimo e força de vontade.<br />
Foi uma honra para este Fuzileiro dos EUA ter trabalhado<br />
lado a lado com os profissionais do Agr MIKE (…). Extracto<br />
de um texto elaborado pelo Chefe de Estado-Maior da KFOR,<br />
Brigadeiro General Berger, do <strong>Exército</strong> dos Estados Unidos<br />
da América. Tradução nossa.<br />
43
44<br />
Livros<br />
Afonso Henriques: um Rei polémico,<br />
de Barroso da Fonte<br />
D<br />
. Afonso Henriques, mítica figura da História<br />
portuguesa, permanece um tema actual da nossa<br />
sociedade. Em “Afonso Henriques: um Rei polémico”, o autor<br />
do livro fundamenta-se na tradição, que segundo o mesmo<br />
“não se tendo encontrado, em 9 séculos, qualquer prova<br />
documental, o que prevalece é a Tradição”, para clarificar a<br />
polémica em torno da data e local de nascimento de Afonso<br />
Henriques. Ergue-se contra a hipótese de ser a cidade de<br />
Viseu a terra-natal de Afonso Henriques e 1109 o seu ano de<br />
nascimento, conforme a teoria de Almeida Fernandes.<br />
Para Barroso da Fonte, a resposta mais credível continua<br />
a ser Guimarães e 1111 o ano de nascimento de Afonso<br />
Henriques e, perante a “poeira” que levanta, lança um desafio<br />
aos mais ousados: que consigam responder, com lógica,<br />
coerência e isenção perante o assunto.<br />
BARROSO DA FONTE, João, Afonso Henriques: um Rei<br />
polémico, Editora Cidade Berço, Guimarães e Âncora Editora,<br />
Lisboa, Junho de 2009.<br />
Vo Nguyen Diap, o Homem<br />
que derrotou os franceses<br />
e os americanos, de Carlos Manuel<br />
Mendes Dias e Alexandre Carriço<br />
O<br />
que pode a força dos exércitos contra o poder do<br />
povo? E se o exército é o próprio povo – um <strong>Exército</strong><br />
Popular? E se à frente desse exército está o espírito de um<br />
General revolucionário?<br />
Com uma pedagógica e sábia regularidade a História vai<br />
dando as suas lições sobre um David que, contra todas as<br />
expectativas, derrota um gigante Golias. Portugal foi disto<br />
várias vezes exemplo, contra Castela e Napoleão!<br />
No presente livro, Vo Nguyen Giap, O Homem que<br />
derrotou os franceses e os americanos, escrito pelo Tenente-<br />
Coronel de Artilharia Carlos Manuel Mendes Dias e pelo<br />
Major de Infantaria Manuel Alexandre Garrinhas Carriço, é<br />
contada a história de um David que derrotou não um, mas<br />
três Golias: o Japão, a França e os Estados Unidos da América.<br />
As teorias, os conceitos, as tácticas e as estratégias de Vo<br />
Nguyen Diap, Comandante Supremo do <strong>Exército</strong> do Povo<br />
do Vietname, “estudioso de Napoleão, Sun Tsu, T. E. Lawrence<br />
e Mao Tse-Tung”, constituem aqui o campo fértil de<br />
uma exaustiva investigação, cujos frutos, para além do<br />
inestimável interesse biográfico, são uma importantíssima<br />
fonte de doutrina e de valores, onde se firmou a profunda<br />
vontade de independência de um povo.<br />
CARRIÇO, Alexandre e DIAS, Carlos Manuel Mendes, Vo<br />
Nguyen Giap, O Homem que derrotou os franceses e os<br />
americanos, Prefácio, Lisboa, 2009.
O Jornal<br />
Regulamento do<br />
“Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>”<br />
do <strong>Exército</strong> (JE) promove anualmente o concurso para o<br />
prémio em epígrafe, que se rege pelas seguintes disposições:<br />
1. Finalidade<br />
O concurso visa estimular a reflexão e a criatividade de militares e civis<br />
para tratarem assuntos com particular interesse para o <strong>Exército</strong>, nos múltiplos<br />
aspectos de que a Instituição Militar se reveste e que, de alguma forma,<br />
enriqueçam o seu património ou contribuam para a sua própria valorização<br />
profissional e pessoal.<br />
2. Trabalhos<br />
Ao concurso serão admitidos os trabalhos inéditos que:<br />
2.1 Abordem temas de natureza científica, cultural, histórica ou artística<br />
de qualquer forma ligados ao <strong>Exército</strong> ou às Forças Armadas;<br />
2.2 Possuam nível literário que, no entender da Direcção do JE, permita<br />
a sua publicação;<br />
2.3 Não excedam 10 páginas de formato A4 dactilografadas a 2 espaços;<br />
2.4 Sejam indicados, pelos seus autores, para concorrerem ao prémio<br />
JE, ou para tal seleccionados pela Direcção do Jornal do <strong>Exército</strong>.<br />
3. Publicação<br />
Os trabalhos, que satisfaçam às condições dos números anteriores,<br />
serão publicados quando tal seja possível, considerando as conveniências<br />
decorrentes do estatuto editorial do JE.<br />
4. Prémio<br />
O “Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>” é pecuniário e compreende três graus:<br />
1.º, 2.º e 3.º classificados, sendo os respectivos valores estipulados,<br />
anualmente, por despacho do General Vice-CEME, sob proposta do JE.<br />
A sua entrega aos contemplados deverá ser efectuada, em princípio, no<br />
dia 11 de Janeiro, dia festivo do Jornal do <strong>Exército</strong>.<br />
5. JÚRI<br />
Para apreciação e classificação dos trabalhos admitidos a concurso, será<br />
nomeado, por despacho do General Vice-CEME, um júri que:<br />
5.1 Será composto por:<br />
1 oficial a designar pelo Estado-Maior do <strong>Exército</strong>;<br />
1 oficial a designar pelo Instituto de Estudos Superiores e Militares;<br />
1 oficial a designar pela Direcção de História e Cultura Militar.<br />
5.2 Será secretariado por um oficial do JE;<br />
5.3 Poderá decidir não atribuir qualquer grau do prémio, se entender que<br />
a qualidade dos trabalhos assim o exige.<br />
Nota de redacção:<br />
Para o ano de 2009, o prémio a que se refere o nº 4 foi fixado em:<br />
1º Classificado ....................................... • 900<br />
2º Classificado ....................................... • 650<br />
3º Classificado ....................................... • 500<br />
DESPORTO<br />
Campeonato Pentatlo <strong>Exército</strong> 2009<br />
O<br />
Campeonato Desportivo Militar de Pentatlo<br />
Militar – Fase 3 – <strong>Exército</strong>, decorreu de 29 de<br />
Junho a 3 de Julho de 2009 no Regimento de Infantaria n.º<br />
3, integrado no programa dos Campeonatos Desportivos<br />
Militares.<br />
A competição contou com a participação de seis<br />
delegações masculinas: Comando de Instrução e Doutrina;<br />
Brigada Mecanizada; Brigada de Intervenção; Brigada de<br />
Reacção Rápida; Comando e Logística e Zona Militar dos<br />
Açores, juntamente com quatro delegações femininas:<br />
Comando de Instrução e Doutrina; Brigada Mecanizada;<br />
Brigada de Reacção Rápida e Brigada de Intervenção.<br />
De acordo com a organização, os resultados atingidos<br />
foram do agrado geral, decorrendo o Pentatlo num espírito<br />
de competição salutar e de total empenho por parte dos<br />
atletas.<br />
A cerimónia de encerramento foi presidida pelo<br />
Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Manuel Mendes<br />
Farinha, 2.º Comandante do Regimento de Infantaria n.º 3,<br />
onde foram entregues os prémios aos vencedores.<br />
A classificação geral ficou assim ordenada:<br />
Classificação Geral Individual Masculinos<br />
1. Lugar CAdj Nunes da BrigMec com 3771,6<br />
2. Lugar 1 Sar Esteves do CID com 4198,2<br />
3. Lugar Sold Silva do CID com 4047,7<br />
Classificação Geral por Equipas Masculinos<br />
1. Equipa CID<br />
2. Equipa BrigMec<br />
3. Equipa BrigInt<br />
Classificação Taça Comando da Instrução e Doutrina<br />
1. Equipa BrigMec<br />
2. Equipa CID<br />
3. Equipa BrigInt<br />
Classificação Geral Individual Femininos<br />
1. 2 Fur Costa da BrigRR<br />
2. Sold Neves do CID<br />
3. Sold Taveira BrigMec<br />
Classificação Geral por Equipas Femininos<br />
1. Equipa BrigRR<br />
2. Equipa BrigMec JE<br />
45
46<br />
PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />
in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 11 de Novembro de 1960<br />
Soluções deste número:<br />
1 - Martelo; 2 - Comprimento da antena; 3 - Rodízio entre a 2.ª e 3.ª rodas; 4 - Perna do soldado com mangueira; 5 - Bigodes do Sargento;<br />
6 - Rosca da torneira; 7 - Colarinho do Cmdt.; 8 - Cavalo a trote.<br />
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