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JE588OUT09 - Exército

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PROPRIEDADE<br />

DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />

Direcção, Redacção e Administração<br />

Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />

1069-020 Lisboa<br />

Telef: 213 567 700<br />

Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091<br />

E-mail: jornal.do.exercito@mail.exercito.pt<br />

E-mail: jornal.exercito@sapo.pt<br />

E-mail − Intranet: Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Home page: www.exercito.pt<br />

DIRECÇÃO<br />

Director<br />

Coronel de Infantaria<br />

José Custódio Madaleno Geraldo<br />

Secretária<br />

Ass Técnica Teresa Felicíssimo<br />

Soldado Condutor RC Pedro Ferreira<br />

REDACÇÃO<br />

Chefe<br />

Tenente-Coronel J. Pinto Bessa<br />

Redactores<br />

Tenente RC Paulo Moreira<br />

Alferes RC Nelson Cavaco<br />

Tenente RC Rico dos Santos<br />

Mauro Matias<br />

Operadoras Informáticas<br />

Ass Técnica Elisa Pio<br />

Ass Técnica Guiomar Brito<br />

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO<br />

Chefe<br />

Major Augusto Correia<br />

Operadores Informáticos<br />

Ass Técnica Tânia Espírito Santo<br />

2.º Cabo Gonçalo Silva<br />

Biblioteca<br />

Ass Técnica Joana Moita<br />

SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS<br />

Operador Informático<br />

Sargento-Ajudante João Belém<br />

Distribuição e Publicidade<br />

Sargento-Ajudante Luís Silva<br />

Ass Operacional Filomena Remédios<br />

SECRETARIA<br />

Sargento-Chefe Costa e Silva<br />

COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />

Lusa - Agência de Notícias<br />

de Portugal, SA<br />

Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />

RCRPP/GabCEME<br />

EXECUÇÃO GRÁFICA<br />

Europress, Lda<br />

Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />

Lisboa<br />

Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />

Europress@mail.telepac.pt<br />

Tiragem − 6 000 exemplares<br />

Sumário<br />

Ano L - N.º 588 - Outubro de 2009<br />

A Guerra 16<br />

D. Afonso Henriques<br />

Patrono do <strong>Exército</strong> 24<br />

KTM/KFOR – Escola de Quadros e<br />

de Vida de Excelência 32<br />

Suplemento<br />

VI – Nuno Álvares Pereira<br />

e a Batalha de Atoleiros<br />

Secções<br />

Monumentos com História Militar – Escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães – 4<br />

Editorial – 5<br />

Figuras e Factos – 8 a 15<br />

Livros – 44<br />

Desporto / Regulamento do “Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>” – 45<br />

Passatempos de outros tempos – 46<br />

Capa: O Ataque dos Cruzados e dos Portugalenses às Muralhas de Lisboa (1147), Litografia de Portugal.<br />

Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />

Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />

Depósito Legal n.º 1465/82<br />

ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60


4<br />

MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />

Escultura de D. Afonso Henriques,<br />

em Guimarães<br />

A<br />

data do seu nascimento é incerta, dividindo-se a<br />

opinião dos historiadores entre os remotos anos de<br />

1109 e 1111. Igualmente, o seu lugar de nascimento encontrase<br />

envolto em alguma controvérsia, embora a tradição<br />

histórica lhe atribua a naturalidade à cidade de Guimarães. E<br />

outros episódios ainda, desde o “milagre de Ourique” até à<br />

transladação do seu corpo, em 1520, que o revelou incorrupto,<br />

envolvem numa aura de mistério a vida do primeiro rei de<br />

Portugal, D. Afonso Henriques.<br />

Durante mais de quarenta anos, D. Afonso Henriques<br />

duplicou o território que o seu pai, o Conde Henrique de<br />

Borgonha, lhe deixou. Por volta de 1123 ou 1125, ou seja,<br />

quando teria entre 12 e 15 anos, arma-se cavaleiro na Catedral<br />

de Zamora e cinco anos depois, na Batalha de S. Mamede,<br />

assume sozinho o governo de Portucale, após ter derrotado<br />

a facção galega, encabeçada pela sua própria mãe, D. Teresa.<br />

Em 1140, apoiado pelos seus homens, autoproclama-se Rei<br />

de Portugal, título que lhe é reconhecido logo em 1143, no<br />

Tratado de Zamora. Em 1147, Afonso I de Portugal chega às<br />

portas de Lisboa, então ocupada pelos mouros. Entre Julho<br />

e Outubro daquele ano, as forças de Afonso Henriques, por<br />

terra, e um contingente de Cruzados que chegaram por mar,<br />

submetem a cidade a um apertado cerco. Só as sólidas<br />

muralhas conseguiram conter o ímpeto cristão durante<br />

aquelas longas semanas. Mas, das pequenas escaramuças<br />

aos confrontos violentos, Lisboa foi cedendo, incapaz de<br />

se libertar do inquebrantável sequestro. A 25 de Outubro de<br />

1147, um sábado, o rei português entra na cidade,<br />

consumando a sua conquista, eternizando a data pelos<br />

séculos vindouros. Neste dia é actualmente comemorado o<br />

Dia do <strong>Exército</strong>.<br />

No ano de 1169, D. Afonso Henriques é ferido em Badajoz<br />

e também incapacitado para o comando. Dez anos mais tarde,<br />

a Bula Papal Manifestis Probatum, do Papa Alexandre III,<br />

reconhece Portugal como país independente e Afonso<br />

Henriques como seu rei.<br />

Guimarães, frequentemente chamada de Berço da<br />

Nacionalidade e provável local de nascimento do primeiro<br />

monarca português, alimenta um antiquíssimo culto à sua<br />

figura e memória.<br />

Ali, em 1874, na Praça D. Afonso Henriques, foi<br />

inaugurada uma escultura em bronze da autoria de Soares<br />

dos Reis, retratando o monarca em pose guerreira, trajando<br />

correspondentemente, de espada em punho, escudo no<br />

braço esquerdo e um elmo protector que lhe endurece o<br />

olhar heróico.<br />

Entretanto deslocada para o Largo do Toural e, mais<br />

tarde, para a Colina Sagrada, prevê-se que a escultura<br />

regresse à sua morada original, cuja proposta de execução<br />

já consta do dossier de candidatura a Capital Europeia da<br />

Cultura – Guimarães 2012.JE<br />

Tenente RC Paulo Moreira


Neste ano de 2009, em que têm lugar as eleições legislativas e autárquicas nacionais,<br />

comemoram-se os novecentos anos do nascimento de D. Afonso Henriques,<br />

primeiro rei de Portugal. A bruma dos tempos envolve em mistério a data e o local do seu<br />

nascimento. É natural que uma figura de importância colossal como é a do primogénito<br />

da Pátria Portuguesa desperte nos Portugueses, de todos os tempos, curiosidade e<br />

paixão. Apetecia-nos esmiuçar a sua vida, desde o berço até à tumba, pois temos a<br />

certeza de que em cada gesto seu há uma lição de patriotismo e de grandeza que serve<br />

de exemplo aos Portugueses de sempre. Com a presença da sua memória, Portugal será<br />

eterno.<br />

O <strong>Exército</strong>, junto com os outros Ramos das Forças Armadas, é um dos pilares da<br />

Nação e por isso escolheu para seu Patrono D. Afonso Henriques, pois com o seu<br />

espírito está garantida a perenidade da Nação Portuguesa. A vontade de um povo, que<br />

quis ser livre e independente desde o tempo do seu primeiro rei, revê-se numas Forças<br />

Armadas respeitadas e dignas de ombrear com as suas pares na NATO e na União<br />

Europeia, para que sejam sempre capazes de defender os mais altos interesses de quem<br />

representam − os Portugueses e Portugal.<br />

O <strong>Exército</strong> celebra o seu dia na data em que a capital portuguesa, de hoje, foi tomada<br />

aos mouros, em Outubro de 1147. Já naquele tempo as alianças eram comuns, como<br />

podemos confirmar adiante nos extractos da Crónica de D. Afonso Henriques por<br />

Duarte Galvão, dedicada a D. Manuel I. Quando D. Afonso Henriques cercava Sintra e<br />

depois a tomou “appareceo no mar uma frota de cento e oitenta velas, de gentes, que<br />

naquelle tempo moveram de Alemanha, e de Inglaterra, e de França, para guerrear os<br />

infiéis por serviço de Deos, e vindo assi todos de mar em fóra demandar terra á rocha de<br />

Sintra. [...] Christãos partidos de suas terras para virem guerrear por serviço de Deos os<br />

Mouros imigos de sua santa Fé.”<br />

Concordaram então cercar a cidade de Lisboa, portugueses por terra e estrangeiros<br />

por mar. “El-Rei acentou seu arrayal da parte do Oriente, onde agora está o Moesteiro de<br />

S. Vicente de Fóra, e os Inglezes, e outras gentes tomaram parte do Ponente, onde ora<br />

são os Mártyres. Durou o cerco perto de cinco mezes, por a Cidade ser mui forte, de<br />

sitio, e cerca, e estarem dentro muitos Mouros, que a mui bem defendiam; [...]. Cada um<br />

arrayal dos Christãos, edeficou sua Egreja em que enterrassem os que alli morriam, e El-<br />

Rei D. Affonso fez a sua, onde depois foi edificado o Moesteiro de S. Vicente á honra do<br />

Martyre S. Vicente, e os estrangeiros edificaram outra que ora é chamada Santa Maria<br />

dos Martyres.”<br />

Camões, melhor do que ninguém, descreve-nos em versos imortais a Tomada da<br />

nossa Lisboa:<br />

E tu, nobre Lisboa, que no Mundo<br />

Facilmente das outras és princesa<br />

Que edificada foste do facundo<br />

Por cujo engano foi Dardónia acesa;<br />

Tu, a quem obedece o Mar profundo,<br />

Obedeceste à força Portuguesa,<br />

Ajudada também da forte armada<br />

Que das Boreais partes foi mandada.<br />

[...]<br />

Cinco vezes a Lua se escondera<br />

E outras tantas mostrara cheio o rosto,<br />

1 Os Lusíadas, Canto III, ests. 57, 59 e 61.<br />

Quando a cidade, entrada, se rendera<br />

Ao duro cerco que lhe estava posto.<br />

Foi a batalha tão sanguina e fera<br />

Quanto obrigava o firme pressuposto<br />

De vencedores ásperos e ousados,<br />

E de vencidos já desesperados.<br />

[...]<br />

Que cidade tão forte porventura<br />

Haverá que resista, se Lisboa<br />

Não pôde resistir à força dura<br />

Da gente cuja fama tanto voa?[...] 1<br />

5


8<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Comemorações do Dia da Engenharia<br />

O<br />

Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />

Luís Pinto Ramalho, presidiu no dia 10 de Julho, às<br />

comemorações do dia da Arma de Engenharia na Escola Prática<br />

de Engenharia.<br />

Das várias actividades previstas e que assinalaram o dia<br />

festivo, salientam-se a cerimónia militar, a demonstração de<br />

capacidades no âmbito das forças da Força Operacional do<br />

<strong>Exército</strong> e a apresentação do novo Centro de Simulação de<br />

Explosivos e Contra-Medidas e Defesa Nuclear Biológica<br />

Química e Radiológica, que se destina a apoiar a formação dos<br />

especialistas Explosive Ordnance Disposal (EOD), Nuclear<br />

Biológica e Química (NBQ) e cursos avançados de demolições<br />

de emergência, a manutenção da proficiência dos especialistas<br />

Comemorações do Cerco de Almeida<br />

O<br />

concelho de Almeida comemorou o 199.º aniversário<br />

do Cerco de Almeida no dia 30 de Agosto de 2009,<br />

contando com a participação do <strong>Exército</strong> Português em<br />

na gestão de incidentes e na operação de equipamentos, bem<br />

como entidades militares e civis na análise de vulnerabilidade<br />

de instalações críticas, Sistema de Alerta e Informações NBQ e<br />

no âmbito das demolições de emergência.<br />

A cerimónia militar contou com a presença de<br />

representantes de todas as unidades de Engenharia Militar e<br />

ainda com o Bloco de Estandartes das várias subunidades de<br />

Engenharia que estiveram presentes nos diversos Teatros de<br />

Operações, desde o ex-Ultramar ao Líbano.<br />

Na demonstração de capacidades foram apresentadas as<br />

múltiplas valências da Engenharia Militar, destacando-se:<br />

A transposição de um vão, utilizando a Viatura Blindada de<br />

Lançamento de Ponta, com posterior abertura de brecha manual<br />

e explosiva, executada por duas Secções de Sapadores de<br />

Engenharia de Combate da Companhia de Engenharia da Brigada<br />

Mecanizada; o reconhecimento de indícios de contaminação<br />

bioquimica e a descontaminação do pessoal e equipamento por<br />

militares da Companhia de Defesa NBQ, que fazem parte do<br />

recentemente criado Elemento de Defesa BQ (para fazer face a<br />

ameaças terroristas em território nacional); a montagem de um<br />

Pontão de Alumínio M4T6, de elementos das pontes de apoios<br />

fixos Treadway, Bailey e Mabey e a operação de meios da ponte<br />

de apoios flutuantes “Ribbon”, por militares da Companhia de<br />

Pontes; a inactivação de um Engenho Explosivo Improvisado,<br />

pelo Grupo de Equipas EOD; a simulação de uma destruição pelo<br />

Pelotão de Engenharia/Brigada de Reação Rápida.<br />

As comemorações permitiram assim transmitir uma<br />

perspectiva global das actuais capacidades da Engenharia<br />

Militar e do seu carácter inovador.<br />

alguns eventos, presididos pelo Major-General Adelino de<br />

Matos Coelho, Director da História e Cultura Militar<br />

(DHCM).<br />

A evocação histórica do cerco da vila, verificado durante<br />

as Invasões Francesas, contemplou no seu programa<br />

a Recriação Histórica do mesmo, que começou no dia 28 de<br />

Agosto e culminou a 30 de Agosto, com a recriação da<br />

queda da fortaleza, o assalto final e a conquista da fortaleza<br />

por parte das tropas francesas sob o comando de Massena.<br />

O fogo lançado pelas baterias de artilharia francesas<br />

marcaram o dia 26 de Agosto de 1810, provocando a fatídica<br />

explosão do castelo, após o paiol ter sido atingido e causado<br />

a destruição do Castelo.<br />

O <strong>Exército</strong> Português marcou presença pelas 09h00 na<br />

Cerimónia oficial de hastear bandeiras na Câmara Municipal,<br />

seguindo para o castelo onde depositou uma coroa de<br />

flores na Cerimónia de Homenagem aos Mortos do Cerco<br />

de Almeida. Para o efeito foi empenhado 1 pelotão e 1<br />

fanfarra, que concluíram, pelas 12h30, a sua participação<br />

na Missa de Homenagem às vítimas que decorreu na Igreja<br />

Paroquial.


O<br />

Auditório da Escola Prática de Artilharia (EPA)<br />

acolheu a apresentação do livro “EPA: das origens<br />

ao alvorecer do III Milénio” da autoria de Artur A1eixo Pais,<br />

no dia 5 de Agosto.<br />

A apresentação do livro e o resumo biográfico do autor<br />

esteve a cargo do Comandante da EPA, Coronel Maurício<br />

Simão Tendeiro Ra1eiras, que usou da palavra após as<br />

intervenções do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />

José Luís Pinto Rama1ho – que presidiu à cerimónia – e<br />

do Presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas, Dr.<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Curso de Liderança para Jovens Empresários<br />

Numa iniciativa conjunta da Academia Militar (AM)<br />

e da Associação Nacional de Jovens Empresários<br />

(ANJE), realizou-se, no período de 27 a 31 de Julho de 2009,<br />

nas instalações e áreas da AM, do Centro Militar de Educação<br />

Física e Desportos (CMEFD), da Escola Prática de Infantaria<br />

(EPI) e da Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), a 2.ª edição<br />

do Curso de Liderança da ANJE, dirigido aos seus<br />

associados.<br />

Participaram no Curso 15 jovens empresários, de<br />

diferentes sectores empresariais.<br />

O Curso de Liderança envolve conteúdos programáticos<br />

no âmbito do Comportamento Organizacional, provas de<br />

projecto e planeamento, provas de situação, prova de<br />

confirmação (liderança), adaptação ao meio ambiente,<br />

orientação topográfica, treino físico e desportos.<br />

O Curso tem como objectivo desenvolver competências<br />

comportamentais, nomeadamente de relacionamento<br />

interpessoal, visando a liderança eficaz de equipas, recorrendo<br />

a métodos pedagógicos sempre participativos, promovendo Presidiu à cerimónia de encerramento o Chefe do Estadoo<br />

culto dos valores e o exemplo da Instituição Militar. Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />

Apresentação do livro “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio”<br />

José Figueira. A cerimónia contou ainda com a<br />

presença de outras Altas Entidades, das quais se<br />

destacam o Comandante da lnstrução e Doutrina,<br />

Tenente-General António José Maia de<br />

Mascarenhas e o General José A1berto Loureiro<br />

dos Santos.<br />

O livro remonta ao ano de 1728 para contar a<br />

história do Palácio mandado construir por D.<br />

João V, que, a partir do ano de 1861, se tomou a<br />

EPA. Originalmente o Palácio servia de local de<br />

pernoita da comitiva real para as deslocações à<br />

fronteira do Caia, sendo conhecido como o<br />

“Palácio das Passagens”. Estas deslocações<br />

tinham como finalidade o casamento entre<br />

príncipes e princesas das coroas portuguesa e<br />

espanhola. Já no reinado de D. Pedro V, o Palácio<br />

tornar-se-ia a actual EPA e o autor apresenta<br />

uma série de eventos relacionados com a Escola<br />

e a sua inserção na sociedade que a acolheu. A<br />

obra conta ainda com uma nota final que contém uma<br />

súmu1a de factos que fundamentam a sua edição e a visão<br />

do Comandante da EPA sobre a mesma, assim como um<br />

soneto dedicado à EPA, intitu1ado “Pelo Bem e Pela Paz<br />

de Portugal”, da autoria de Jodro, pseudónimo de João<br />

Grazina, figura conhecida de Vendas Novas. Artur A1eixo<br />

Pais finalizou a cerimónia com uma a1ocução onde<br />

agradeceu o apoio prestado pela EPA no acesso à<br />

informação, seguindo-se um Porto de Honra e a tradicional<br />

sessão de autógrafos.<br />

9


10<br />

Condecoração de Adidos<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Dia da Unidade no Regimento de Transmissões<br />

O<br />

Regimento de Transmissões recebeu a 17 de<br />

Setembro a visita do Comandante Operacional do<br />

<strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro, para presidir às<br />

cerimónias de comemoração do Dia da Unidade.<br />

Instituído desde 17 de Setembro de 1873, data em que entrou<br />

em funcionamento o Serviço Telegráfico Militar (1.ª rede<br />

telegráfica militar), o Regimento de Transmissões adoptou a<br />

data por ser o herdeiro natural do referido serviço. Sediado<br />

em Lisboa, nas actuais instalações, desde 1977, a Unidade<br />

recebeu pelas 10h30 a chegada do Tenente-General Artur<br />

Neves Pina Monteiro, recebendo as honras militares à Porta<br />

de Armas, na presença do Major-General José Artur Paula<br />

Quesada Pastor, Director Honorário da Arma de Transmissões<br />

e Director de Comunicações e Sistemas de Informação e<br />

pelo Comandante da Unidade, Coronel Nelson Martins Viegas<br />

O<br />

Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />

Luís Pinto Ramalho, condecorou em 15 de Julho,<br />

no Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, com a Medalha D. Afonso<br />

Henriques 1.ª Classe, o Coronel Waldeísio Ferreira<br />

Campos, da Força Aérea Brasileira, Adido do <strong>Exército</strong> e<br />

Aeronáutico, e com a Medalha de Mérito Militar 2.ª Classe,<br />

o Tenente-Coronel Javier Gallegos Lorenzana, do <strong>Exército</strong><br />

Espanhol, Adjunto do Adido de Defesa e Adido do<br />

<strong>Exército</strong>.<br />

Estiveram presentes na Cerimónia várias entidades<br />

Militares, representantes das respectivas Embaixadas e<br />

familiares dos Adidos.<br />

Pires.<br />

Após a revista às tropas formadas na Parada, a cerimónia<br />

iniciou-se com a entrega do Estandarte Nacional, seguido<br />

de um discurso e de uma oração do Capelão Chefe do <strong>Exército</strong><br />

Cláudio Correia Ferreira em homenagem aos mortos.<br />

Seguidamente escutaram-se as palavras do Comandante<br />

da Unidade e do Director Honorário da Arma, que salientaram<br />

o papel da Arma na actualidade e os seus compromissos e<br />

objectivos. De realçar a postura pró-activa que a Arma<br />

procura implementar através da aposta nas novas<br />

tecnologias, “estando em fase de conclusão a aquisição e<br />

instalação de novos sistemas e equipamentos de<br />

comunicação e dados”, segundo o Coronel Viegas Pires. O<br />

Tenente-General Pina Monteiro felicitou a Arma de<br />

Transmissões pelo excelente desempenho da Companhia<br />

no Afeganistão e o valor do trabalho do Regimento na era<br />

da “guerra da informação”.<br />

Os presentes assistiram ainda à entrega de medalhas na<br />

parada, nomeadamente, medalhas de Serviços Distintos,<br />

Mérito Militar 2.ª e 4.ª classe, D. Afonso Henriques 2.ª,3.ª e<br />

4.ª classe, Comportamento Exemplar de grau cobre e prata e<br />

Comemorativa de Comissão de Serviços Especiais: Timor,<br />

Bósnia e Kosovo.<br />

Além das condecorações de cariz militar, a Unidade<br />

homenageou um militar pelo seu desempenho académico,<br />

com a entrega de um diploma de RVCC, fruto do programa<br />

Novas Oportunidades.<br />

Após o desfile das forças, seguiu-se uma apresentação<br />

no Auditório do Regimento sobre a aplicação de um software<br />

informático que permite a confidencialidade e<br />

encriptação de mensagens via e-mail, revelando a<br />

preocupação do Regimento na salvaguarda de informação<br />

na era da guerra informática.


O<br />

Comando de Instrução e Doutrina (CID) em<br />

colaboração com o Centro de Saúde de Évora,<br />

realizou em 10 de Setembro, uma palestra sobre o Tema “Gripe<br />

A (H1N1) – A 1.ª Pandemia do Séc. XXI”, organizada em Évora<br />

pela Unidade de Apoio do CID.<br />

Esta acção enquadra-se no âmbito das recomendações<br />

emanadas pelo Comando do <strong>Exército</strong> como mais uma forma<br />

de controlar o contágio da Gripe A. Assistiram à palestra um<br />

elevado número de Oficiais, Sargentos, Praças e Civis que<br />

trabalham no CID.<br />

Da agenda constaram os seguintes temas: “O vírus”, “A<br />

Gripe Sazonal”, “A Gripe A” e “A Gripe no <strong>Exército</strong>”. A palestra<br />

terminou com algumas reflexões do palestrante e com um<br />

período reservado a questões, onde os militares puderam<br />

colocar as suas dúvidas. Esta acção, sobre um tema bastante<br />

actual, deu a conhecer e alertou para procedimentos a tomar,<br />

quer individualmente quer a nível da Cadeia de Comando.<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Gripe A motiva palestra pelo Comando de Instrução e Doutrina<br />

Lançamento do segundo livro<br />

da Colecção Segurança e Defesa<br />

O<br />

segundo livro da Colecção<br />

Segurança & Defesa - “A<br />

Circunstância do Estado Exíguo”, da<br />

autoria do Professor Doutor Adriano<br />

Moreira – foi apresentado no<br />

passado dia 16 de Setembro, no<br />

Instituto de Defesa Nacional em<br />

Lisboa, numa sessão que contou com a presença do<br />

Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano<br />

Teixeira. A apresentação ficou a cargo da Dra. Alice Feiteira,<br />

directora da Colecção Segurança & Defesa, e do Prof. Doutor<br />

João Carlos Espada.<br />

Na sessão estiveram presentes, entre outros, o Secretário<br />

de Estado da Defesa Nacional, Dr. João Mira Gomes, o Chefe<br />

de Estado-Maior da Armada, Almirante Melo Gomes, o Chefe<br />

do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General Pinto Ramalho, o General<br />

Loureiro dos Santos, o Dr. Figueiredo Lopes, a Dra.<br />

Maria Barroso.<br />

11


12<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Sintra assiste à Cerimónia comemorativa da Brigada de Reacção Rápida<br />

Cerca de 1300 militares participaram<br />

em Sintra, a 13 de Setembro de 2009,<br />

nas Comemorações do Dia da Brigada de Reacção<br />

Rápida (BrigRR), onde demonstraram ao<br />

público as suas capacidades militares.<br />

Assentando a sua missão na defesa do<br />

território nacional, em acções de salvaguarda<br />

dos interesses nacionais e na satisfação dos<br />

compromissos internacionais assumidos pelo<br />

Estado Português, esta unidade operacional<br />

do <strong>Exército</strong> Português remonta às unidades<br />

Pára-quedistas que existiram no passado e que<br />

foram reorganizadas após a Guerra Colonial.<br />

Actualmente, a BrigRR, criada em 1 de Janeiro<br />

de 2006, é comandada pelo Major-General<br />

Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha<br />

e é constituída por: 1.º Batalhão de Infantaria<br />

Pára-quedista (1.º BIPara), do Regimento de Infantaria N.º15;<br />

2.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (2.º BIPara), do<br />

Regimento de Infantaria N.º10; Força de Operações Especiais<br />

do Centro de Tropas de Operações Especiais; Batalhão de<br />

Comandos, do Centro de Tropas Comandos; Esquadrão de<br />

Reconhecimento (ERec), do Regimento de Cavalaria N.º3;<br />

Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), da Escola de Tropas<br />

Pára-quedistas; Companhia de Transmissões (CTm) e o Grupo<br />

de Helicópteros do <strong>Exército</strong>, da Unidade de Aviação Ligeira do<br />

<strong>Exército</strong>; Bateria de Defesa Aérea, do Regimento de Artilharia<br />

Anti-Aérea N.º1, Companhia de Engenharia da Escola Prática<br />

de Engenharia e um Grupo de Campanha do RA4, sedeado na<br />

BrigRR.<br />

A vila de Sintra assistiu, então, a uma demonstração das<br />

capacidades operacionais da BrigRR, que, de forma activa,<br />

promoveu a imagem e os<br />

valores do <strong>Exército</strong> junto da<br />

população civil. Acção que<br />

também teve como finalidade<br />

iniciar um ciclo de<br />

demonstrações ao público<br />

em geral em cidades/vilas<br />

onde se encontram sediadas<br />

Unidades da Brigada.<br />

As comemorações iniciaram-se<br />

pelas 09h30 na<br />

Igreja de São Martinho,<br />

onde teve lugar a cerimónia<br />

eclesiástica, à qual assistiu<br />

um grande número de elementos<br />

do <strong>Exército</strong>, assim<br />

como da população civil.<br />

Seguidamente,<br />

assistiu-se à Parada Militar,<br />

pelas 11h00, no Parque<br />

da Liberdade/Volta do<br />

Duche, onde as forças<br />

formaram perante uma<br />

plateia de altas entidades militares e civis, de entre as quais<br />

se salientava a presença do General Chefe Estado Maior<br />

do <strong>Exército</strong>, José Luís Pinto Ramalho e do Presidente da<br />

Câmara Municipal de Sintra, Dr. Fernando Seara. No seu<br />

discurso, o Comandante da BrigRR dirigiu-se primeiramente<br />

ao General CEME, ao Presidente da Câmara de Sintra, ao<br />

Tenente-General Artur Neves Pina Monteiro e ao General<br />

João de Almeida, agradecendo as suas presenças, a<br />

confiança em si depositada para presidir ao dia da BrigRR<br />

e, em particular, à Câmara Municipal de Sintra pela cedência<br />

dos espaços nobres para a realização da cerimónia. O seu<br />

discurso prosseguiu, efectuando uma resenha histórica<br />

sobre a BrigRR, percorrendo todo o seu historial, assim<br />

como a missão e objectivos da Brigada e acções de destaque<br />

nas quais tem participado.<br />

A mensagem do General CEME enalteceu o papel da<br />

BrigRR, salientando que esta “constitui-se como uma<br />

Unidade de referência no seio da nossas Forças Armadas,<br />

não só pelas suas características intrínsecas, grande<br />

motivação e elevada preparação do seu pessoal, mas<br />

particularmente pelo espírito próprio e pela sua alta<br />

prontidão e eficácia demonstradas no cumprimento de<br />

inúmeras missões, muitas das quais na satisfação dos<br />

compromissos internacionais que Portugal assumiu junto<br />

dos seus aliados”.<br />

Após o período reservado aos discursos, assistiu-se à<br />

entrega do Estandarte Nacional ao Coronel Correia da<br />

BrigRR, assim como a condecoração de vários Oficiais,<br />

Sargentos e Praças pertencentes à Brigada. A Parada Militar<br />

terminou com o desfile de uma representação de todas as<br />

subunidades que compoem a brigada, bem como de alguns<br />

meios que a equipam.<br />

O Largo do Palácio Nacional de Sintra, onde estava<br />

patente ao público uma exposição estática com<br />

equipamentos da Brigada, foi o local escolhido para terminar<br />

as comemorações, com uma demonstração de saltos em<br />

queda livre pela Equipa de Pára-quedistas do <strong>Exército</strong> “os<br />

Falcões Negros”.


FIGURAS e FACTOS<br />

Exercícios Finais Da Academia Militar 2009<br />

Inserido no planeamento de actividades para o ano<br />

lectivo 2008/2009, realizaram-se em Santa Margarida,<br />

entre 1 e 10 de Julho de 2009, os Exercícios Finais da Academia<br />

Militar.<br />

De 1 a 5 de Julho, com o Corpo de Alunos constituído em<br />

Destacamento da Academia Militar em Exercícios no Quartel<br />

da Pucariça, decorreu um bloco de Formação Militar e o<br />

Exercício “TIGRE”, compreendendo entre outros, a execução<br />

de marchas, pistas de combate e patrulhamentos nos limites<br />

do campo militar e áreas circundantes, que visaram a<br />

aplicação dos conhecimentos técnicos apreendidos ao longo<br />

do ano no âmbito da Formação Geral Militar.<br />

De 6 a 10 Julho teve lugar o Exercício “LEÃO 2009”, com a<br />

finalidade de propiciar aos cadetes do <strong>Exército</strong> e da Guarda<br />

Nacional Republicana, a exercitação das técnicas, tácticas e<br />

procedimentos essenciais, próprios de cada Arma e Serviço,<br />

adquiridos no decurso do ano escolar e cuja prática não foi<br />

possível em aquartelamento, nomeadamente os saberes que<br />

se inserem no âmbito do Departamento de Ciências e Exercício Táctico Integrado (LIVEX), de escalão companhia,<br />

Tecnologias Militares. Para o efeito, foi proporcionado aos no desempenho de diversas funções ao nível das<br />

alunos, numa fase inicial, o contacto in loco com as unidades subunidades elementares de manobra e dos módulos de apoio,<br />

de manobra, de apoio de combate e de serviços da Brigada tendo praticado os procedimentos de Comando e a conduta<br />

Mecanizada, a oportunidade de se inteirarem da respectiva das operações militares de baixo escalão, em ambiente de<br />

organização e missões, de se identificarem com o elemento guerra convencional. A culminar o exercício “LEÃO 2009”, o<br />

humano bem como com os diversos equipamentos, Distinguished Visitors Day (DVD), em 9 de Julho, teve<br />

plataformas e sistemas de armas que guarnecem aquela GU, oportunidade de apresentar aos convidados presentes<br />

cujo Comando prontamente dispôs a pedido da Academia demonstrações bem elucidativas, tanto de uma força de escalão<br />

Militar, com vista a contribuir para a sedimentação de subgrupamento na condução de um ataque deliberado<br />

conhecimentos e a valorização formativa do Cadete. executado pelos alunos do <strong>Exército</strong>, como de variadas acções<br />

Posteriormente, os alunos tiveram ensejo de participar num militares e técnicas policiais a cargo dos alunos da GNR.<br />

Actividade operacional do Regimento de Guarnição n.º 1<br />

Os dois exercícios do encargo operacional do Regimento<br />

de Guarnição n.º 1 (RG1) – METROSÍDERO 091 e 092<br />

– decorreram este ano, respectivamente, nas ilhas das Flores e<br />

Graciosa, com objectivos semelhantes: treinar a projecção e<br />

retracção de forças para as ilhas da área de responsabilidade<br />

do RG1 (os Grupos Central e Ocidental); familiarizar os militares<br />

com possíveis áreas de actuação; identificar pontos e áreas<br />

sensíveis e locais para estacionamento de tropas, em caso de<br />

necessidade (militar ou humanitária); mostrar a presença do<br />

<strong>Exército</strong> em ilhas onde não existe guarnição militar.<br />

O primeiro exercício decorreu em Julho, em simultâneo com<br />

o FOCA 091 (conjunto com a Marinha). Foi precedido de uma<br />

fase de treino de natação militar e de embarque e desembarque<br />

na corveta por bote e rede de abordagem. Os militares foram<br />

projectados na corveta João Roby e as viaturas em ferry<br />

comercial. Há 9 anos que não se realizava um exercício nas<br />

Flores.<br />

O segundo exercício decorreu em Setembro. Toda a força<br />

foi projectada por meios marítimos comerciais. Durante este<br />

exercício realizou-se também, já na Graciosa, o CANÁRIO 093,<br />

que consistiu em treino de heli-transporte num Puma da BA4. O<br />

último exercício na Graciosa fora realizado há 6 anos.<br />

13


14<br />

TABELA DE PREÇOS PARA 2009<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Tenente-General João António Pinheiro (1921-2009)<br />

Da sua nativa Bragança até Oeiras<br />

onde viveu 48 anos, o General João<br />

Pinheiro percorreu um caminho árduo e<br />

trabalhoso, em que deixou a marca da sua<br />

visão, do seu poder de decisão e da sua<br />

força de vontade.<br />

De 1955 a 59, exerceu intensa actividade<br />

pedagógica como professor da Escola do<br />

<strong>Exército</strong>, dos Cursos de Promoção a Oficial<br />

Superior e dos Cursos de Estado-Maior.<br />

As suas qualidades não passaram<br />

despercebidas: em 1962, ainda major, foi<br />

chamado para o cargo de Subsecretário do<br />

<strong>Exército</strong>, o primeiro colaborador do Ministro<br />

nas vertentes administrativa e logística.<br />

Estávamos então em operações em Angola com as unidades a<br />

milhares de quilómetros de Lisboa. O rigor na gestão das<br />

avultadas verbas necessárias para a expansão do <strong>Exército</strong> e<br />

condução das operações permitiu também a preparação de estruturas<br />

de apoio, possibilitando que os abastecimentos, correio e<br />

apoio sanitário chegassem onde quer que houvesse soldados.<br />

Simultaneamente, João Pinheiro tentou construir um Hospital<br />

para os 3 Ramos das Forças Armadas, tão necessário para<br />

tratar os doentes e feridos evacuados do Ultramar. Impedido de<br />

o fazer pelo Ministro da Defesa, planeou a construção dum<br />

Pavilhão da Família Militar no Hospital da Estrela, em<br />

substituição do antigo. Depois chamado “Casa de Saúde”, foi<br />

fundamental para o tratamento dos militares e suas famílias.<br />

Muitos de nós ainda usamos a Casa de Saúde mas poucos<br />

sabem quem a mandou fazer.<br />

Entre 1971 e 1973, escolhido pelo General Costa Gomes,<br />

então Comandante-Chefe em Angola, o Brigadeiro Pinheiro<br />

comandou o Sector de Cabinda simultaneamente com as funções<br />

de Governador de Distrito. As coisas estavam mal por lá, devido<br />

a erros políticos e promessas não cumpridas. Seis meses depois<br />

de tomar posse, tinha acalmado a população e as Tropas<br />

Especiais (forças nativas ex-FNLA) e posto em marcha um plano<br />

de valorização social e económica – o Plano Calabube. Foram<br />

construídos mais de 300 edifícios essencialmente postos<br />

sanitários, enfermarias e escolas. Foram abertas novas estradas,<br />

criados campos de desporto e electrificadas povoações. Enfim,<br />

a paz voltou ao território.<br />

Tem interesse notar que, 25 anos depois da independência<br />

de Angola, um regedor de Cabinda referindo-se ao Plano<br />

Calabube afirmou ser “o mais promissor e<br />

inventivo programa da administração colonial<br />

portuguesa em Cabinda”.<br />

Regressado à Metrópole, o Brigadeiro<br />

Pinheiro serviu em vários lugares até que,<br />

após o golpe militar de 25 de Abril de 1974,<br />

foi nomeado Adjunto do Chefe do Estado-<br />

Maior General das Forças Armadas. A<br />

situação era tal que chegou a exercer a<br />

direcção de 7 organismos diferentes<br />

integrados ou ligados ao Estado-Maior. Ao<br />

fim de 16 meses, esgotado fisicamente e<br />

desgostoso com a situação das Forças Armadas,<br />

pediu a passagem à reserva.<br />

Felizmente para todos, só o deixaram<br />

descansar um ano. Em 1976, o General Eanes, Chefe do Estado-<br />

Maior General das Forças Armadas, chamou-o para Presidente<br />

dos Serviços Sociais das Forças Armadas com a missão de<br />

fazer deles uma instituição eficiente. Teve então ocasião de<br />

realizar a “obra da sua vida”, como uma vez referiu. Sempre<br />

interessado nos problemas dos mais velhos e no apoio aos<br />

deficientes e aos mais fracos, o General Pinheiro deitou as mãos<br />

à obra e, mais uma vez, demonstrou a sua enorme capacidade<br />

de realizar.<br />

Após cerca de 70 reuniões em comandos e unidades militares<br />

para ouvir as pessoas e de várias visitas a estabelecimentos de<br />

saúde em Paris, concebeu a construção de complexos sociais<br />

polivalentes para apoio à 3ª idade. Conseguiu um plano<br />

financeiro para obter as verbas necessárias sem penalizar os<br />

orçamentos militares. O primeiro começou a ser construído em<br />

Oeiras em 1981. Em meados da década de 90 estavam prontos 6<br />

dos 7 edifícios planeados.<br />

O que foi feito ultrapassou as expectativas iniciais. O General<br />

Eanes salientou-o numa carta de 1990: “A realidade da sua<br />

obra excede em muito a imagem que dela construíra”.<br />

Um pequeno episódio, sucedido há anos revela a dimensão<br />

da obra. Um General canadiano em serviço na OTAN veio a<br />

Portugal e levei-o a ver o Complexo de Oeiras. Espantado, disseme:<br />

“Não compreendo como sendo Portugal um país<br />

considerado pobre tem uma obra destas de apoio aos veteranos,<br />

e sendo o Canadá um país rico, não tem”. Respondi-lhe:<br />

“Arranjem um General Pinheiro lá no Canadá”.<br />

Renato F. Marques Pinto<br />

Major-General<br />

PREÇO DE CAPA • 2,00<br />

ASSINATURA ANUAL (11 números)<br />

VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00<br />

VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00<br />

NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente<br />

NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00<br />

Os preços incluem IVA à taxa de 5%<br />

N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56.


FIGURAS e FACTOS<br />

Assinatura de Protocolo entre <strong>Exército</strong> Português e a Faculdade<br />

de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa<br />

Tendo em vista proporcionar aos militares do<br />

<strong>Exército</strong> que prestam serviço na dependência da<br />

Direcção de História e Cultura Militar (DHCM), ou que<br />

estejam interessados em ali vir a desempenhar funções, a<br />

possibilidade de obterem formação específica nas áreas de<br />

arquivística, biblioteconomia e museologia, foi assinado, em<br />

30 Julho, um protocolo de colaboração entre o <strong>Exército</strong><br />

Português e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da<br />

Universidade Nova de Lisboa. O protocolo possibilita a<br />

frequência de cursos de mestrado, nas áreas de<br />

conhecimento acima mencionadas.<br />

A assinatura do protocolo teve lugar na DHCM, pelo<br />

seu Director, Major-General Adelino Matos Coelho, cujos<br />

poderes de representação foram conferidos por despacho<br />

do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, e pelo Director da<br />

FCSH/UNL, Professor Doutor João Sàágua.<br />

15


16<br />

Coronel António José Pereira da Costa*<br />

“Guerra subversiva é uma luta conduzida no interior de um território, por uma parte dos seus<br />

habitantes, ajudados e reforçados ou não do exterior, contra as autoridades de direito ou de facto<br />

estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território ou, pelo menos, de<br />

paralisar a sua acção”.<br />

(in O <strong>Exército</strong> na Guerra Subversiva 1 )<br />

A<br />

propósito do programa passado na RTP,<br />

com o título deste artigo ocorreu-me a<br />

realização de uma análise de certas características<br />

das Campanhas de África 1961-74.<br />

Não considero uma questão crucial o nome que<br />

se deu à “guerra”. Colonial, para os que não a<br />

apoiavam e contestavam, do Ultramar, para os que a<br />

aceitavam e pareciam fazê-la com certo empenho, de<br />

África, para os que, hoje, pretendem criar um meiotermo<br />

sem hostilizar ninguém, cada um poderá dar-lhe<br />

o nome que quiser, sendo certo que o fenómeno de<br />

que falamos é o mesmo. A designação que acima uso<br />

está relacionada com aquilo que entendo que ela foi<br />

de facto: um prolongamento da instabilidade que<br />

sempre terá caracterizado o ultramar português<br />

(províncias ou colónias) e, porventura as<br />

possessões de todos os outros países europeus. A<br />

expressão “Campanhas de África 1961-74” pretende<br />

apenas distingui-las das campanhas que tiveram<br />

lugar no fim do Séc. XIX e início do Séc. XX.<br />

Relembro que, sabendo do que se fala, o nome não<br />

acrescenta nem diminui nada às características de<br />

qualquer fenómeno histórico. Não consta que,<br />

alguma vez, os dirigentes políticos ou militares que<br />

se decidiram pela realização de uma qualquer guerra,<br />

tenham perdido o sono a pensar no nome que lhe


dariam ou no nome com que ela iria passar à<br />

História.<br />

Resolvida a questão do nome da guerra,<br />

passaria a dar o meu contributo para analisar o que<br />

ela foi na sua essência. Para tal, socorrer-me-ia da<br />

definição de “Guerra Subversiva”, que o <strong>Exército</strong><br />

Português adoptou na altura e que ainda hoje se<br />

mantém plenamente aplicável.<br />

Começo por considerar muito relevante que, de<br />

acordo com a definição regulamentar, a Guerra<br />

Subversiva é uma luta, quando, como o nome indica,<br />

seria normal que fosse apontada como um tipo de<br />

guerra, como vários há, e que o manual, poucas<br />

páginas à frente, se apressa a enumerar e a caracterizar<br />

sumariamente. O recurso ao dicionário permitirá<br />

verificar a diferença subtil, mas clara, entre um termo e<br />

outro. Na nossa História, até se registam as “Lutas<br />

Liberais”, uma feroz guerra civil em cuja designação a<br />

palavra “luta” aparece no plural. É muito provável<br />

que, quem estabeleceu a definição, quisesse sublinhar,<br />

logo à partida, uma das características da guerra<br />

subversiva, situando-a fora da área da guerra<br />

entendida como choque entre países ou alianças,<br />

através dos respectivos exércitos, colocando-a antes<br />

na área da luta política e social, logo por inteiro, no<br />

campo da sociologia. Como aspecto lateral, lembremos<br />

que os países que obtiveram a sua independência<br />

através de uma guerra subversiva falam muitas vezes<br />

de uma “Luta de Libertação”.<br />

Depois, detenhamo-nos na afirmação redundante<br />

de que é uma luta conduzida no interior de um território.<br />

Era de calcular que assim fosse. Efectivamente, todas<br />

as lutas ou guerras terão forçosamente lugar no interior<br />

de um dado território, mais ou menos extenso. Não<br />

será mesmo possível que possam ter lugar “no exterior<br />

de um território” sem certamente caírem dentro de um<br />

outro, contíguo ou mais ou menos próximo...<br />

Uma guerra pode conter várias batalhas, que<br />

podem ter lugar no ar, na terra e no mar, mas a<br />

condução de uma luta no “exterior de um território”<br />

determinará sempre que seja levada a cabo no interior<br />

de um outro território.<br />

A definição começa a tornar-se mais clara e<br />

especificamente determinante quando declara quem<br />

são os contendores: uma parte dos (...) seus<br />

habitantes (do território) e as autoridades de direito<br />

ou de facto estabelecidas (no território).<br />

O facto de habitantes que desencadeiam a luta<br />

poderem ser ajudados e reforçados, ou não, do<br />

exterior pode influenciar a conduta e determinar um<br />

êxito mais fácil, mas não será, por si só, condição de<br />

sucesso. É óbvio que, em princípio, o apoio exterior<br />

será um catalisador do êxito, especialmente na actual<br />

conjuntura, mas é possível encontrar na História,<br />

casos em que aquela ajuda e apoio foram pouco<br />

consistentes e a vontade da população acabou por<br />

se impor à das autoridades. Realcemos que o<br />

definidor não diz que é uma luta entre duas facções<br />

da população, nem entre dois exércitos.<br />

Atentemos agora no objectivo da luta.<br />

Segundo a definição, as forças insurrectas têm<br />

como a finalidade (...) retirar o controlo desse<br />

território às autoridades de direito ou de facto<br />

constituídas ou, pelo menos, (...) paralisar a sua<br />

acção. Daqui podemos concluir que, por um lado<br />

a simples paralisia da acção das autoridades concede<br />

a vitória à subversão e, por outro, a derrota<br />

daquelas materializa-se inapelavelmente na perda<br />

de controlo do território, a favor da parte da<br />

população que conduziu a luta.<br />

Ao termo “subversivo”, pouco utilizado até<br />

então, passou, a partir da altura em que a guerra<br />

teve início, a ser emprestado um significado pejorativo,<br />

mesmo ofensivo, que não corresponde ao seu<br />

17


18<br />

verdadeiro sentido. Efectivamente, este termo “não<br />

envolve, em si qualquer juízo ético ou moral 2 ” e pode<br />

ser aplicado noutros contextos que não a guerra,<br />

como sejam a filosofia ou a arte, quando se pretende<br />

falar de um alteração drástica com o que se vinha<br />

praticando ou uma contestação crítica (não<br />

obrigatoriamente pela negativa) às regras<br />

observadas do antecedente.<br />

Sabemos também que a guerra subversiva traduz<br />

e representa sempre uma crise de legitimidade política<br />

no território em apreço 3 . Estamos, de facto, numa<br />

situação em que um grupo activo no interior da<br />

sociedade conseguiu − certamente apresentando<br />

razões lógicas e válidas − influenciar uma larga massa<br />

da população e levá-la a contestar as autoridades,<br />

em defesa dos seus interesses (antagónicos e<br />

inconciliáveis com os das autoridades), pelo menos,<br />

numa primeira fase. Esgotada a possibilidade de uma<br />

conciliação, é sabido que a luta prossegue, numa<br />

escalada de violência, cujo fim é, normalmente,<br />

favorável à subversão.<br />

Analisada a definição de guerra subversiva, ainda<br />

hoje em vigor e com aplicação em alguns teatros de<br />

operações actuais, prossigamos na análise dos<br />

acontecimentos na Guiné, Angola e Moçambique,<br />

entre 1961 e 1974, tendo sempre como referência aquela<br />

definição.<br />

Comecemos por recordar que uma guerra só surge<br />

quando há condições para tal e que, sucintamente,<br />

podemos dizer que essas condições decorrem de<br />

causas de ordem económica, social, religiosa ou<br />

político-ideológica e que só é possível fazer com que<br />

uma dada população aceite participar em acções<br />

bélicas, organizadas e constantes, se lhe for<br />

previamente criada a necessária disposição anímica<br />

(e até necessidade) para tal. Por outras palavras: há<br />

que criar uma certa agressividade, pelo menos num<br />

dos beligerantes que o leve a reconhecer o inimigo e<br />

a estar convicto de que a razão lhe assiste. É de excluir,<br />

à partida, a possibilidade de se desencadearem acções<br />

violentas só pelo facto de um dado país ou facção<br />

dispor de forças armadas de certa capacidade bélica.<br />

Não é possível fazer surgir uma guerra do nada,<br />

quase por geração espontânea, como, muitas vezes<br />

nos querem fazer crer, com causas pouco claras, mas<br />

muito apregoadas, como sejam: a infiltração de<br />

elementos agitadores, as ameaças sobre a população<br />

que, assim, será obrigada a combater, o carisma dos<br />

chefes, variável, vago e momentâneo, etc..<br />

Salientemos que os “agitadores” só têm conseguido<br />

actuar se explorarem o descontentamento (bem<br />

palpável) da população e que o carisma é algo<br />

indefinido, inexplicável, mas que todos parecem<br />

saber o que seja e como se manifesta...<br />

Desenho de A. de Bar<br />

As guerras podem decretar-se,<br />

mas não se improvisam<br />

É nossa opinião de que, no caso do ultramar<br />

português, o caldo de cultura para uma guerra<br />

subversiva vinha sendo criado há séculos.<br />

Efectivamente, a colonização europeia foi sempre<br />

feita mais na mira da exploração dos recursos locais,<br />

que tanto podiam ser matérias-primas ou pedras<br />

preciosas, madeiras ou produtos da terra, como<br />

“recursos humanos”, (leia-se escravos) do que com<br />

intuitos de expansão civilizacional. Era a mentalidade<br />

do tempo e Portugal não teria de fazer excepção. A<br />

História é eloquente na demonstração desta verdade<br />

e, mesmo a Igreja, a quem tocaria a conquista de<br />

novas almas para a cristandade, salvo excepções,<br />

como a do Padre António Vieira, nunca se opôs<br />

fortemente à situação de exploração que se vivia nas<br />

colónias, nem teria condições para tal 4 .<br />

Por outro lado, um país, como o nosso, pequeno<br />

e com pouca capacidade para se impor, não poderia<br />

ocupar grandes áreas do continente africano.<br />

Restava-lhe fixar-se em locais onde as condições de<br />

vida e de defesa fossem mais favoráveis, procurando<br />

relacionar-se de forma mais ou menos hábil com os<br />

habitantes das redondezas para obter vantagens<br />

comerciais. Foi o que sucedeu (por exemplo) em<br />

Angola, com a fundação de Luanda (em 1576),<br />

mesmo assim a ocorrer 92 anos após a chegada de<br />

Diogo Cão à foz do rio Zaire. De uma forma simplista,<br />

mas que traduz o que se passou, podemos dizer que<br />

Vila de S. Paulo de Luanda.


João Teixeira Pinto, Carlos Fortunato, historiaguine.com<br />

Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto foi conduzida com bastantes dificuldades e com baixas muito consideráveis<br />

a Europa só acordou verdadeiramente para a África,<br />

por alturas da Conferência de Berlim (1884), quando<br />

retalhou aquele continente, através de convenções<br />

e com critérios aos quais só poderemos chamar<br />

discutíveis. E não se pode dizer que fosse cedo...<br />

Só para se aquilatar da situação que se viveria<br />

nas colónias portuguesas em África, procuremos<br />

determinar por que seria que a Corte portuguesa, em<br />

1807, não fugiu para Cabo Verde, Guiné, S. Tomé ou<br />

até Angola (cuja colonização efectiva só começou<br />

após a independência do Brasil) já que seriam<br />

territórios completamente fora do alcance de<br />

Napoleão. É notório que estas possessões<br />

ultramarinas, embora mais próximas de Lisboa, não<br />

eram destinos possíveis para uma Corte em fuga,<br />

acompanhada por alguns milhares de nobres,<br />

funcionários e “apoiantes”. A ocupação dos territórios<br />

africanos estaria numa fase de tal modo embrionária<br />

que a escassez de recursos locais e a<br />

insegurança levaram a que a possibilidade de a Corte<br />

ali se instalar nem sequer tivesse sido equacionada.<br />

Fazendo o tempo avançar um pouco, recordemos<br />

que, só na Guiné, entre 1891 e 1912, tiveram lugar 11<br />

sublevações populares, quase todas a distâncias<br />

relativamente curtas de Bissau, muitas das quais<br />

reprimidas com grande violência e nem sempre com<br />

os melhores resultados para as “forças da ordem”.<br />

Houve mesmo casos que se saldaram por derrotas<br />

muito pesadas, como foi o sucedido em 1891, na Ilha<br />

de Bissau (Região dos Papéis), e ocorrido em 1897,<br />

no Oio. Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto,<br />

entre 1912 e 1915, a mais conhecida de todas, e a que<br />

parece ter sido mais eficaz, foi conduzida com<br />

bastantes dificuldades e com baixas muito<br />

consideráveis. Ter-se-á então verificado uma certa<br />

acalmia nas relações entre as populações locais e as<br />

autoridades coloniais, mas data de 1931 5 uma revolta<br />

dos Papéis e Mancanhas em Bissau, que terá sido a<br />

última sublevação antes de Pidjiguiti (Agosto de<br />

1959), esta tendo por pano de fundo um conflito<br />

laboral. Relativamente às outras nem sequer sabemos<br />

que causas tiveram.<br />

Nas restantes possessões o ambiente seria<br />

certamente próximo do da Guiné. As populações<br />

locais nunca aceitaram bem o domínio das<br />

autoridades portuguesas e as relações entre os<br />

colonos chegados da Metrópole ou os seus<br />

descendentes e as populações autóctones nunca<br />

foram pacíficas. Na melhor das hipóteses, revestiam<br />

relações de trabalho que, por vezes, se aproximavam<br />

das relações de produção da Idade Média.<br />

Procurando explorar o descontentamento das<br />

populações das colónias portuguesas, é também<br />

conhecida a acção das autoridades coloniais dos<br />

países limítrofes, no âmbito da aplicação das<br />

fronteiras da Conferência de Berlim que, quando a<br />

influência sub-reptícia não resultava, recorriam a<br />

acções de força a nível local ou à pressão<br />

diplomática, como sucedeu com o Ultimatum<br />

Britânico, no fundo um outro tipo de acção de força.<br />

Está, portanto, claramente demonstrado que as<br />

colónias/províncias ultramarinas de Portugal viveram<br />

sempre um ambiente de instabilidade larvar que se<br />

manifestou noutras ocasiões e locais como em Batejá,<br />

(S. Tomé, Fevereiro de 1953). Esta última sublevação,<br />

também de raiz laboral e sem grandes possibilidades<br />

de êxito é o paradigma daquilo que vimos<br />

demonstrando: que a ocupação de África pelos<br />

Portugueses (e não só) não foi um fenómeno pacífico<br />

e bem aceite pelas populações locais, as quais,<br />

19


20<br />

mesmo em períodos de “paz social”, reprimiam sempre<br />

uma dose residual de descontentamento e<br />

antagonismo relativamente à administração colonial<br />

e a quem a praticava ou impunha.<br />

Foi assim até ao final da II Guerra Mundial.<br />

A partir daí, já é conhecido com precisão e não<br />

deixa margem para dúvidas o trajecto político da<br />

África até ao final dos anos 50 e início dos anos 60<br />

do Séc. XX. Por razões já inventariadas, as<br />

populações das colónias espalhadas pela Ásia,<br />

África e Oceânia iniciaram um processo de<br />

contestação às respectivas administrações coloniais<br />

e as independências sucederam-se a um ritmo que<br />

rapidamente influenciou o sentido das votações do<br />

Assembleia Geral da ONU. Em África, num processo<br />

mais ou menos rápido e pacífico (a Argélia foi<br />

excepção, mas só durante algum tempo) a<br />

independência alastrou, de tal sorte que, apenas o<br />

Marrocos Espanhol e as colónias portuguesas não<br />

se tornaram independentes com uma administração<br />

exercida pelas populações locais. Curiosamente, os<br />

países que iam surgindo guardavam as fronteiras da<br />

Conferência de Berlim, talvez por não terem a sua<br />

identidade bem definida e não estarem em condições<br />

de o fazer, sem que isso provocasse um ambiente de<br />

guerra generalizado, sempre que os limites entre as<br />

áreas habitadas pelos diferentes grupos étnicos não<br />

coincidissem com as fronteiras impostas pela<br />

Conferência. Só a África do Sul, governada por uma<br />

administração com base na população branca<br />

minoritária e a Rodésia procuravam seguir um caminho<br />

oposto, com pouco êxito, como sabemos.<br />

Neste ambiente internacional − quer consideremos<br />

apenas a África quer o mundo, na sua<br />

globalidade – a posição política da administração<br />

portuguesa era absolutamente insustentável. Se<br />

dúvidas houvesse, esta situação de insustentabilidade<br />

ficaria claramente demonstrada com a invasão<br />

de Goa, Damão e Diu (Dezembro de 1961), pela União<br />

Indiana, levada a cabo sem que comunidade<br />

internacional tivesse tomado qualquer atitude<br />

consequente antes da sua materialização. Claro que<br />

depois dela já não haveria qualquer campo político<br />

para que as forças invasoras retirassem e o território<br />

voltasse à posse de Portugal. Teria sido bom que as<br />

autoridades portuguesas tivessem tirado as devidas<br />

conclusões no que toca ao peso e influência do País<br />

na comunidade internacional.<br />

No que respeita às três colónias inseridas na<br />

massa continental africana, havia ainda a considerar<br />

a existência do elemento catalisador (apoio externo)<br />

que era facilmente actuante e eficaz e, frequentemente,<br />

determinante nos êxitos da subversão.<br />

Temos, portanto, três territórios africanos onde<br />

a paz social nunca foi um facto adquirido e a luta de<br />

blogueforanadaevaotres.blogspot.com<br />

Observemos ainda, que a descontinuidade territorial que o<br />

país apresentava pesava fortemente na situação políticosocial<br />

de cada parcela<br />

classes tinha todas as razões para proliferar, a serem<br />

atingidos pelas novas ideias separatistas e<br />

independentistas, em expansão, por todo o mundo.<br />

Se às condições enunciadas juntarmos o racismo,<br />

sempre pronto a emergir nas sociedades africanas,<br />

temos a mistura explosiva para o eclodir da<br />

insurreição. Lembremo-nos de que, se é um facto<br />

que a existência de condições nem sempre arrasta a<br />

ocorrência de uma sublevação, é verdade que as<br />

sublevações necessitam sempre de condições para<br />

eclodirem e progredirem.<br />

Havia assim condições óptimas para que a<br />

subversão germinasse.<br />

Observemos ainda, que a descontinuidade<br />

territorial que o país apresentava (entendendo-se<br />

Portugal como um todo constituído por vários


territórios dispersos pelo mundo, sob uma mesma<br />

administração) pesava fortemente na situação<br />

político-social de cada parcela. É esta<br />

descontinuidade territorial do país que permite a<br />

mobilização maciça e pouco contestada de um sempre<br />

crescente número de unidades militares, na<br />

Metrópole (onde o potencial humano era maior e as<br />

condições sociopolíticas o permitiam) lançadas,<br />

depois, nas colónias em apoio da política do governo.<br />

A descontinuidade territorial determinou também<br />

que, após o desencadear da luta, a diferente situação<br />

− militar e sociopolítica − nas parcelas atingidas pela<br />

subversão tenha assumido também rapidamente<br />

diferentes características em cada uma e mesmo em<br />

certas regiões de cada colónia/província.<br />

A insurreição rebentou de forma muito violenta<br />

− selvática mesmo − e a resposta da administração<br />

central foi tão rápida e violenta quanto possível,<br />

naquele tempo. Se, inicialmente, os meios militares<br />

da subversão eram incipientes, a curto prazo, a<br />

utilização de todo o armamento ligeiro e pesado de<br />

Infantaria, por parte da guerrilha, permitiu uma melhor<br />

relação das forças em presença. De um lado grupos<br />

de cidadãos (camponeses-guerrilheiros), procurando<br />

bloquear a acção das autoridades constituídas, do<br />

outro as Forças Armadas Portuguesas, a procurar<br />

reverter a situação a favor daquelas. Mesmo<br />

salvaguardando as especificidades dos três teatros<br />

de operações é claro que, ao longo dos 13 anos que<br />

a guerra durou, a guerrilha foi sempre melhorando o<br />

seu potencial de combate, enquanto as Forças<br />

Armadas mantiveram o seu, mais ou menos imutável.<br />

Houve até casos de superioridade a favor da<br />

guerrilha − momentâneos ou mais duradouros, locais<br />

ou mesmo regionais − que se materializaram em<br />

situações muito delicadas, com perdas consideráveis<br />

para as Forças Armadas.<br />

Passado o primeiro embate, é um facto que, talvez<br />

por razões económicas, nunca houve um esforço que<br />

levasse a que fosse possível recuperar a situação<br />

favorável do potencial relativo de combate das forças<br />

em presença, antes pelo contrário, como foi o caso da<br />

Guiné, onde a ameaça antiaérea obrigou a reduzir<br />

substancialmente o apoio aéreo que muitas vezes<br />

resolvia a situação táctica que se vivia no terreno e o<br />

"empréstimo" de artilharia de campanha por parte da<br />

República da Guiné ao PAIGC, permitiu criar uma<br />

situação de superioridade pontual na fronteira Sul.<br />

Por outro lado, nunca houve uma grande<br />

passagem − brusca ou gradual − das populações do<br />

controlo da guerrilha para o das autoridades. E, numa<br />

“guerra” como esta, o que está em jogo é a população,<br />

(simultaneamente objectivo da luta e meio onde ela se<br />

desenrola) que é necessário cativar ou manter sob<br />

controlo autoconsentido e apoiante da administração.<br />

É também certo que a reacção da administração<br />

colonial foi tardia e que se processou já com a 2.ª<br />

fase da subversão muito avançada, à luz da doutrina<br />

que o <strong>Exército</strong> Português utilizava, o que<br />

comprometeu a possibilidade de uma vitória militar.<br />

Sabemos hoje que o governo português sempre<br />

subestimou as capacidades da parte contrária, num<br />

autoconvencimento por si mesmo forjado, que o<br />

impedia de reconhecer que havia razões,<br />

principalmente de carácter social e político, para o<br />

eclodir de movimentos sociais e de que a repressão<br />

destes já não resolveria todos problemas (como<br />

sucedera(?) no passado), antes pelo contrário.<br />

Ao fim de treze anos de luta ou guerra − como se<br />

lhe queira chamar − a situação piorava e, no caso da<br />

Guiné, apresentava sinais preocupantes de desenlace<br />

muito dramático. A subversão foi capaz de isolar e<br />

pressionar duas posições de nível companhia,<br />

forçando ao abandono de uma e sendo contrabatida,<br />

com bastante dificuldade na outra, para além de ter<br />

conseguido suster uma ofensiva das Forças<br />

Portuguesas, realizada numa escala considerável, no<br />

Sul da província.<br />

Não ignoremos que, se um colapso viesse a<br />

suceder na Guiné, seguir-se-ia, sem dúvida, um efeito<br />

de dominó que arrastaria, num período mais ou menos<br />

curto, a derrota militar em Angola e Moçambique,<br />

com consequências que hoje nem podemos imaginar,<br />

mas que, certamente seriam gravíssimas. Seria<br />

possível uma retirada de mais de 30.000 homens,<br />

acompanhados do respectivo material, sob pressão<br />

do inimigo e com uma linha de comunicações de<br />

5.000 km (cinco dias por via marítima e quatro horas<br />

por via aérea), mesmo recorrendo a um apoio<br />

intermédio em CaboVerde? Quais seriam as suas<br />

possíveis consequências? E depois de uma derrota<br />

na Guiné, como seria o cenário na Metrópole, em<br />

Angola e em Moçambique?<br />

Há outros fenómenos a referir que têm que ver<br />

com a reacção da população da metrópole a uma<br />

guerra tão prolongada a sem resultados decisivos à<br />

vista. De começo, as unidades iam fortemente<br />

moralizadas e cada militar mobilizado aceitava a sua<br />

tarefa como imperativo patriótico. Porém, o aumento<br />

do número de unidades mobilizadas (que cresceu<br />

sempre até surgirem indícios de exaustão do potencial<br />

humano) dava a indicação de que o conflito não<br />

tinha resolução próxima e foi desgastando ânimo da<br />

população. Os militares regressados e<br />

desmobilizados foram exercendo um efeito negativo<br />

na mentalização dos que se lhes seguiram, como se<br />

dispersassem um vírus de desconfiança.<br />

Por outro lado, os dirigentes políticos, marcados<br />

por desprestígio latente, não conseguiam fazer<br />

passar a mensagem da necessidade de manter a guerra<br />

21


22<br />

A manobra de conquista do apoio da população não produziu efeitos decisivos que seriam necessários para anular as<br />

intenções da subversão<br />

e a vida diária na Metrópole, com o seu<br />

funcionamento normal, mais inserido na Europa, onde<br />

o número de emigrantes não cessava de aumentar,<br />

levava a que os que regressavam não fossem<br />

recebidos como alguém que vem de fazer algo de<br />

válido e necessário, mas sim com uma indiferença<br />

que às vezes atingia o desprezo. A guerra tornou-se<br />

uma rotina, uma aborrecida rotina, um esforço que<br />

era obrigatório − que não necessário − fazer, embora<br />

já não se soubesse bem porquê. A delapidar de<br />

recursos financeiros numa altura em que a Europa se<br />

estava a lançar numa etapa de desenvolvimento,<br />

causava apreensão, mas o esforço económico e<br />

financeiro a que a guerra obrigava, não conduzia a<br />

uma superioridade clara das Forças Armadas sobre<br />

a guerrilha, embora as despesas com a guerra tenham<br />

atingido percentagens elevadas dos recursos<br />

financeiros do País.<br />

O tempo trabalhou a favor da subversão, quando<br />

deveria ter sido utilizado a favor da contra-subversão.<br />

Muito provavelmente não terá sido o tempo ou<br />

o uso que dele se fez que ditou o resultado neste<br />

aspecto, mas antes o falhanço completo em manter a<br />

mobilização inicial das retaguardas, demasiado<br />

distanciadas do teatro dos acontecimentos, quer se<br />

meça a distância real e física, quer se considere o seu<br />

sentir e a disposição anímico-ideológica para apoiar<br />

a guerra. Este falhanço verificou-se também nas<br />

Províncias Ultramarinas. Tanto nas que, pela sua maior<br />

extensão, permitiam um grande alheamento e até<br />

desconfiança das populações dos grandes centros<br />

cosmopolitas, relativamente ao que sucedia nas zonas<br />

onde a guerrilha estava activa; como das<br />

populações daquelas áreas que, dia após dia e ano<br />

após ano, eram confrontadas com a subversão e<br />

obrigadas a viver com ela e não viam uma alteração<br />

clara da situação no sentido que as autoridades diziam<br />

pretender obtê-lo. Estes aspectos do problema<br />

reforçam a ideia da incapacidade do governo para<br />

mobilizar vontades para a sua causa. Esta<br />

incapacidade tendia a acentuar-se com tempo e só um<br />

milagre na política internacional poderia retirar as<br />

diversas formas de apoio exterior à guerrilha. Uma<br />

análise fria da realidade teria permitido tirar as devidas<br />

conclusões sobre as reais consequências do<br />

prolongamento de uma situação política que se<br />

tornava, cada vez, mais um marasmo.<br />

Em resumo, podemos afirmar que a subversão −<br />

essencialmente uma forma de luta política e social −<br />

surgiu na África portuguesa quando tinha todas as<br />

condições políticas e sociais (que se vinham<br />

acumulando, há muito), para vingar e dispunha<br />

também de boas condições para se expandir, quer a<br />

nível local, quer a nível internacional. Deveria ter sido<br />

contrariada com oportunidade, o que exigiria prever<br />

(antecipadamente, com humildade e realismo), antes<br />

de prover (tarde e com grande sacrifício das pessoas<br />

e esforço económico-financeiro). Além disso, a<br />

violência utilizada contra a subversão revelou-se<br />

ineficaz para a contrariar, foi longa e a manobra de<br />

Foto: arquivo JE


conquista do apoio da população (a realizar em<br />

simultâneo) não produziu efeitos decisivos que seriam<br />

necessários para anular as intenções da subversão. A<br />

manobra de conquista e adesão das diferentes<br />

retaguardas nos diferentes territórios falhou e, por<br />

fim, o esforço económico-financeiro para manter a<br />

contra-subversão acabou por se tornar incomportável.<br />

Do impossível estratégico − que sempre existiu,<br />

em última análise − caiu-se no impossível táctico.<br />

No primeiro dia de Verão de 2008.JE<br />

*O Coronel António José Pereira da Costa nasceu<br />

em 22 de Junho de 1947. Tem o Curso de Artilharia da<br />

Academia Militar, tendo ascendido ao actual posto em<br />

1 de Dezembro de 1997.<br />

Cumpriu duas comissões na Guiné: a primeira entre<br />

Janeiro de 1968 e Janeiro 1969; a segunda entre Maio<br />

de 1971 e Agosto de 1973. Foi delegado de Portugal no<br />

Grupo de Trabalho “FINABEL MIKE” nos anos de<br />

1996 e 1997 e no Army Sub-Group/NATO Training<br />

Group durante o ano de 1996. É autor do livro “A<br />

Cidadela de Cascais – Pedras Homens e Armas”. É o<br />

Director da Biblioteca do <strong>Exército</strong>.<br />

1 O <strong>Exército</strong> na Guerra Subversiva, Tomo I −<br />

Generalidades, Ministério do <strong>Exército</strong>, Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, 28 de Fevereiro de 1963, O. E. N.º 2, 1.ª Série,<br />

pág. 63.<br />

2 Ver Couto, Abel Cabral, Elementos de Estratégia<br />

Apontamentos para um Curso, Vol. 2, 6.ª Parte, pág. 212<br />

e seguintes, Instituto de Altos Estudos Militares, Lisboa,<br />

1989.<br />

3 Ver Couto, Abel Cabral, Obra já citada.<br />

4 Só a título de exemplo, no que à região da Guiné diz<br />

respeito, veja-se o Tratado Breve dos Rios da Guiné do<br />

Cabo Verde desde o rio Sanagá até aos Baixos de Sant'Ana<br />

& etc, pelo Capitão André Alves d'Almada, 1594, publicado<br />

em 1841, por Diogo Köpke capitão da 3ª Secção do <strong>Exército</strong><br />

e lente da Academia Polytéchnica do Porto, Typographia<br />

Comercial Portuense, Largo de S. João Novo n.º 12, Porto.<br />

5 Eventualmente ligada à Revolta da Madeira que teve<br />

lugar no mesmo ano.<br />

23


24<br />

Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto


Quadro de Joaquim Rodrigues Braga, Museu Nacional Soares dos Reis/IPM<br />

Como todos sabemos, D. Afonso Henriques<br />

nasceu, segundo muitos, em Guimarães,<br />

conforme alguns, em Coimbra1 e, de acordo com<br />

outros, em Viseu em meados de Agosto de 11092 .<br />

A 17 de Maio de 1125, aos 15 anos de idade,<br />

armou-se a si próprio cavaleiro na Catedral de<br />

Zamora, prática exclusiva de reis, tornando-se, a<br />

partir de então, num verdadeiro combatente pela<br />

liberdade do condado que herdara de seus maiores.<br />

Tendo morrido em Coimbra a 6 de Dezembro de<br />

1185, teve um combate de 60 anos, ao longo dos<br />

quais ficaram claramente demonstradas as suas<br />

altíssimas qualidades políticas e diplomáticas, por<br />

um lado, mas também, por outro, as suas capacidades<br />

como estratega, táctico e chefe militar.<br />

Qualidades estas sobre as quais muitos se têm<br />

já pronunciado, bastando lembrar-se, como<br />

comentários menos abonatórios: que era “naturalmente<br />

belicoso” e um “mestre, acabado na arte de<br />

enganar e na arte de combater..., sendo a separação<br />

de Portugal um facto consumado graças ao seu<br />

valente, medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter,”<br />

como referem respectivamente Alexandre Herculano<br />

e Oliveira Martins3 .<br />

Mas há, divergindo destas, opiniões bem<br />

favoráveis, de que lembramos: tratar-se de “varão<br />

valoroso no manejo das armas; eloquente e<br />

prudentíssimo em todos os seus feitos e dotado de<br />

claro engenho”, como é referido na Crónica dos<br />

Godos, e com “o animoso fervor e ardente esforço<br />

de Júlio César e a segurança mui confiada de Publio<br />

Cepião Africano, em tanto grau que tudo o que<br />

estava por fazer, cometia como se tivesse feito”,<br />

como nos diz Duarte Galvão4 .<br />

Por sua vez, Torquato de Sousa Soares diz-nos<br />

que “apesar de hábil negociador, que sabia muito<br />

bem fazer o seu jogo e defendê-lo, sempre se<br />

manteve fiel à palavra dada e a compromissos<br />

formalmente tomados” vendo-o como “figura<br />

hercúlea de guerreiro, de político − talvez melhor −<br />

de rei, ainda hoje avulta tanto que não encontramos,<br />

para a medir, termo de comparação” 5 .<br />

E Luís da Câmara Pina considera que possuía<br />

“exigências especiais nas operações militares e<br />

grande clarividência como chefe militar” referindo<br />

que “só um grande chefe militar como ele<br />

conseguiria criar no Portugal do século XII uma<br />

situação de coesão reduzível a três conceitos, a<br />

saber: unidade de sentimento, unidade intelectual<br />

e unidade de doutrina” 6 .<br />

Finalmente, António Barrento7 destaca e<br />

considera incontroversa a sua figura como a de um<br />

chefe militar, no qual se confundiam o senso e a<br />

coragem, se notavam a perseverança e a determinação<br />

que sempre o acompanharam, a sua vontade<br />

Foto: Tenente Paulo Moreira<br />

Perspectiva de uma representação escultórica do 1º Rei de<br />

Portugal, pela mão do escultor Daniel Luzia Silva, 1960,<br />

Unidade de Apoio da Área Militar Amadora-Sintra.<br />

nunca satisfeita, registando o elevado sentido de<br />

oportunidade das suas acções, mostrando o espírito<br />

esclarecido de um jogador que calcula os riscos,<br />

os aceita e se empenha decisivamente na vitória.<br />

Termina, esclarecendo ainda, que poderia ser apenas<br />

um comandante militar que utilizasse o poder de<br />

que estava investido para se fazer obedecer, mas<br />

foi mais longe conseguindo que os portugueses<br />

do seu tempo aderissem aos seus projectos e os<br />

considerassem como seus, tomando-se assim um<br />

incontestado chefe militar.<br />

Nestas circunstâncias surge, com toda a<br />

naturalidade, o despacho do Chefe do Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong>, General Pedro Cardoso,<br />

1 Cf. Torquato de Sousa Soares.<br />

2 Cf. A. de Almeida Fernandes, Viseu, Agosto de 1109,<br />

Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 2007, que MATTOSO,<br />

D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, 2006, pp. 1718,<br />

considera demonstrar a sua tese com verosimilhança<br />

suficiente para ter que se admitir como possível ou mesmo<br />

a mais provável das três teses.<br />

3 Cf. transcrição de BARRENTO, António, D. Afonso<br />

Henriques a Guerra e os Objectivos Nacionais, EME, 1983,<br />

pp.72-73.<br />

4 Idem, Ibidem, p. 72.<br />

5 Idem, Ibidem, pp. 73-75.<br />

6 Idem, Ibidem, p. 75.<br />

7 BARRENTO, António, op.cit., pp. 76-77.<br />

25


26<br />

designando D. Afonso Henriques para patrono do<br />

<strong>Exército</strong> Português 8 . Para além de rei fundador era,<br />

simultaneamente, o nosso primeiro grande estratega<br />

e chefe militar incontestado.<br />

Tomava-se agora necessário encontrar uma<br />

data que fosse significativa para nela se comemorar<br />

o Dia do <strong>Exército</strong>.<br />

De imediato surgiu a data que parecia ajustarse<br />

perfeitamente ao patrono e às finalidades de tal<br />

celebração − 25 de Julho − data da batalha de<br />

Ourique, há muito considerada quase como sendo<br />

a data da fundação do Reino de Portugal, graças à<br />

acção militar de D. Afonso Henriques. Pelo<br />

despacho anteriormente referido, o General Pedro<br />

Cardoso, determina como Dia do <strong>Exército</strong> o dia da<br />

Batalha de Ourique, 25 de Julho.<br />

Com o passar do tempo, o serviço militar deixou<br />

de ser universal e obrigatório e passou a serviço<br />

voluntário. As finalidades do Dia do <strong>Exército</strong>,<br />

consequentemente, passaram também a ter em<br />

conta a divulgação do conhecimento do <strong>Exército</strong><br />

a uma juventude que só seria voluntária se lhe<br />

fosse despertado o interesse por tal actividade.<br />

Em termos de marketing o dia 25 de Julho era uma<br />

má data. A juventude escolar − faixa etária que<br />

mais interessava atingir − estava toda de férias e o<br />

mesmo se passava com a grande maioria dos<br />

restantes portugueses.<br />

Por outro lado, a Batalha de Ourique, se bem<br />

que continuasse a ser um marco lendário na<br />

definição da assumpção da independência<br />

nacional, em termos histórico-militares não passava<br />

de um combate com muito significado político, mas<br />

de nulo significado militar. Havia que procurar outro<br />

acontecimento que reunisse três características: que<br />

continuasse a ser politicamente relevante mas que<br />

passasse a sê-lo também em termos militares e que<br />

tivesse lugar em data conveniente para as<br />

finalidades que se pretendiam. Se possível, também<br />

seria interessante que tal acontecimento tivesse<br />

pontos de contacto com o que hoje em dia se passa<br />

nas actividades militares que ocorrem no mundo.<br />

A conquista de Lisboa surgiu, imediatamente,<br />

como um acontecimento que reunia todos os<br />

requisitos, até aquele que apenas se exigia em<br />

segunda ordem, só se tal fosse possível. É isso que<br />

irei tentar demonstrar.<br />

Politicamente, a conquista de Lisboa é um facto<br />

relevantíssimo por se traduzir na aquisição de uma<br />

posição fortíssima que por si só garantia um avanço<br />

territorial muito grande e de uma nova fronteira,<br />

8 Despacho n.º 37/79 de 9 de Março, Ordem do <strong>Exército</strong><br />

n.º 3, 1.ª Série, de 1979, p. 81.<br />

Arquivo JE<br />

Pormenor do Monumento Comemorativo da Batalha de<br />

Ourique, em Ourique.<br />

que sendo um obstáculo natural de grande valor −<br />

o Rio Tejo − facilitava a defesa de todo o território.<br />

Acresce que Lisboa era também o mais importante<br />

porto da costa atlântica. Não foi por acaso que,<br />

naturalmente, Lisboa se tomou a capital do país.<br />

Mas uma tal cidade era, obviamente, muito bem<br />

defendida pelos árabes que, ainda por cima,<br />

dispunham de apoios a curta distância a partir de<br />

Leiria e Santarém, a Norte, e de Sintra, Palmela e<br />

Alcácer do Sal a Sul.<br />

Estes factores obrigavam a ponderar muito bem<br />

a sua conquista. Afonso Henriques já em 1142 o<br />

havia tentado em vão, sabendo pois como, com os<br />

meios de que dispunha, tal não seria possível. Mas,


perseverante como era, não desistiu e foi preparando<br />

essa conquista cuidadosamente enquanto<br />

aguardava a oportunidade para a poder levar a cabo.<br />

Preparação essa que incluiu a conquista prévia de<br />

territórios que lhe facilitariam a tarefa como sejam<br />

Leiria em 1142 e Santarém em 1147, garantindo assim<br />

a segurança da retaguarda e fortificando Germanelo,<br />

Alvorge e Ansião.<br />

Lisboa, na época, parece que já não tinha<br />

qualquer esquadra. A sua defesa concentrava-se<br />

sobretudo em fortalezas e torres de costa e nas<br />

fortes muralhas que circundavam a cidade, já então<br />

de muitos habitantes e com uma guarnição estimada<br />

por fontes cristãs em cerca de 15.000 soldados mais<br />

alguns que ali se tinham recolhido vindos de<br />

Santarém, após a conquista desta, e aos quais<br />

temos ainda de juntar combatentes ocasionais.<br />

Contava também com alguma artilharia, como as<br />

balistas que os relatos posteriores à conquista<br />

responsabilizavam pela destruição de várias<br />

máquinas de guerra dos cruzados.<br />

Visão de D. Afonso Henriques sobre a Batalha de Ourique.<br />

Quadro da autoria de Frei Manuel dos Reis, 1665.<br />

Museu Alberto Sampaio/IPM<br />

D. Afonso Henriques conhecia bem os esforços<br />

feitos a partir de 1144 e intensificados em 1146 pelo<br />

Papa Eugénio III e pelo seu amigo e aliado nesta<br />

questão, São Bernardo de Claraval, para a<br />

organização de uma segunda cruzada à Terra Santa<br />

que, após a conquista de Edessa em 1144 estava a<br />

sofrer uma das maiores ofensivas muçulmanas de<br />

sempre. A esta cruzada aderem de imediato Luís VII<br />

de França e Conrado III, imperador do Sacro Império.<br />

É óbvio que D. Afonso Henriques toma também<br />

conhecimento de outros senhores que, não<br />

pretendendo subordinar-se a nenhum daqueles<br />

soberanos, decidem avançar para a cruzada não<br />

seguindo por terra, mas fazendo por mar o périplo<br />

europeu atingindo o Médio Oriente pelo<br />

Mediterrâneo. Considera que pode ser chegada a<br />

sua hora.<br />

Encarrega, assim, o bispo do Porto, D. Pedro<br />

Pitões, de os interceptar e de os convencer de que<br />

a ajuda a D. Afonso Henriques contra os<br />

muçulmanos era obra de grande mérito aos olhos<br />

de Deus, tão importante quanto a que iriam depois<br />

cumprir no Médio Oriente. Pelo seu lado, Afonso<br />

Henriques foi-lhes aguçando o apetite com a<br />

possibilidade de rendosos saques e a promessa de<br />

posse de terras no seu próprio território após a<br />

conquista, se o desejassem.<br />

E assim aconteceu. Os cruzados deslocaramse,<br />

a partir de Darthmouth, sob o comando de<br />

Arnaldo de Aarschot, os pertencentes ao Sacro<br />

Império e, sob o comando de Cristiano de Gistell,<br />

os flamengos e bolonheses. Com partida da<br />

Normandia vão-se-lhes juntar mais quatro grupos:<br />

um de ingleses, provenientes de Suffolk e Norffolk<br />

sob o comando de Hervé de Glanville, outro de<br />

homens de Kent, comandados por Simão de Dover,<br />

um terceiro grupo de Londres, comandados<br />

por um tal André e, finalmente, um grupo<br />

indiscriminado que incluía normandos, galeses e<br />

outros súbditos do rei de Inglaterra sob o comando<br />

de Sahério de Archelles. Totalizavam um número<br />

de navios, variável conforme os autores, entre 170<br />

e 200 que transportavam cerca de 13.000 homens<br />

de guerra a bordo.<br />

Era, sem dúvida, o reforço há muito desejado e<br />

esperado por D. Afonso Henriques para se poder<br />

lançar na conquista da cidade. D. Pedro Pitões e a<br />

sua eloquência fizeram o resto à sua chegada ao<br />

Porto a 16 de Junho de 1147.<br />

Os navios cruzados, reforçados com alguns<br />

do próprio rei de Portugal, cercaram a cidade pelo<br />

rio, a Sul. A hoste real levantou arraial a Norte,<br />

junto ao monte de Sant’Ana. Os ingleses<br />

posicionaram-se a Oeste, no monte Fragozo e os<br />

flamengos e alemães, a Leste, no monte de S.<br />

27


28<br />

Cidade de Lisboa.<br />

Vicente. Nos navios mantinham-se os alemães e<br />

flamengos necessários para defesa ou ataque pelo<br />

Sul, no lado Oriental da cidade, e ingleses, para o<br />

mesmo efeito, mantinhamse nos navios do lado<br />

Ocidental, onde hoje se situa o chamado Terreiro<br />

do Paço.<br />

Tal cerco, com grande número de episódios,<br />

manteve-se entre 20 de Junho e 25 de Outubro,<br />

quatro meses difíceis porque os defensores da<br />

cidade não a queriam entregar de modo algum.<br />

Através de testemunhos presenciais de<br />

cruzados sabe-se, por Arnulfo em carta a Milão<br />

bispo dos Morinos, que a vitória foi mais divina<br />

que humana, sobre duzentos mil e quinhentos<br />

sarracenos, na festa das onze mil virgens que, no<br />

calendário cristão, ocorria a 21 de Outubro 9 .<br />

Sabemos também por carta do presbítero Raul, que<br />

alguns dizem ser o delegado de São Bernardo a<br />

Afonso Henriques, para Osberto de Bawdsey, que<br />

uma vez tomada a cidade após dezassete semanas<br />

de cerco 10 , os de Sintra entregaram-se ao rei, depois<br />

de rendida a guarnição do seu castelo. O de Palmela<br />

foi tomado pelo rei, sem luta, por ter abandonado a<br />

sua guarnição. Rendidas em volta todas as<br />

fortalezas pertencentes à cidade ... , no dia em que<br />

se celebra a festa de Todos-os-Santos (1 de<br />

Novembro) em louvor e honra do nome de Cristo e<br />

do de Sua Santíssima Mãe, foi purificado o templo<br />

pelo arcebispo e quatro bispos e instala-se aí a sede<br />

do bispado, com estes castelos e terras abaixo<br />

designadas: além Tejo: o castelo de Alcácer, o de<br />

Palmela, e a região de Almada; aquém do Tejo: o<br />

castelo de Sintra, o de Santarém e o de Leiria. Os<br />

seus termos vão do castelo de Alcácer ao de Leiria,<br />

e do mar ocidental até à cidade de Évora 11 .<br />

Cumprindo um objectivo que era já de seu avô,<br />

o imperador D. Afonso VI, transformado em missão<br />

Iluminura de Simão Berring, British Library<br />

que este atribuira ao genro, o conde D. Henrique,<br />

o sonho de Afonso Henriques estava consumado<br />

e, como corolário da sua perseverança, cuidadoso<br />

planeamento, capacidade política e diplomática e<br />

indiscutível capacidade de chefia, obtinha uma<br />

grande vitória militar que era fundamentalmente<br />

sua, pois a ele se devia toda a coordenação da<br />

operação, impedindo as habituais rivalidades entre<br />

os diferentes chefes e impondo-lhes a sua<br />

vontade. O cerco e conquista de Lisboa, no dizer<br />

do Prof.º Pedro Barbosa, “foi acontecimento que<br />

marcou profundamente a Cristandade ocidental,<br />

não só no século XII, mas igualmente por alguns<br />

séculos ainda. Do naufrágio que foi a Segunda<br />

Cruzada, esta acção militar foi a tábua que<br />

conseguiu flutuar” 12 . Estava encontrado o evento<br />

que sendo politicamente relevante o fosse também<br />

em termos militares. Faltava saber se as datas<br />

dos acontecimentos corresponderiam a uma época<br />

do ano que satisfizesse também os interesses do<br />

marketing.<br />

Ora, o assalto final inicia-se em duas frentes a<br />

16 de Outubro, a 21 os sitiantes aproximaram da<br />

muralha uma grande torre de 27 metros de altura,<br />

construída por um cruzado, engenheiro de Pisa, e<br />

podem, finalmente, lançar a ponte que lhes permite<br />

colocar gente no interior. A 23 ou 24 de Outubro a<br />

situação era insustentável, havendo muitos que<br />

na cidade morriam de fome. Lisboa capitulou e os<br />

cristãos entraram nela assenhoreando-se do<br />

castelo. E a 25 Lisboa ficou definitivamente em<br />

poder do rei de Portugal.<br />

Alexandre Herculano refere o acordo celebrado<br />

na quinta-feira, 23 de Outubro, para a entrega da<br />

cidade indicando que no mesmo dia ou, talvez, no<br />

imediato, uma das portas abriu-se para facilitar o<br />

acesso aos homens de armas que iam tomar conta


da Kassba. Aos alemães e flamengos deu-se a<br />

precedência da entrada, se é que a não tomaram.<br />

Entraram depois os cento e quarenta anglo-<br />

Gravura de D. Afonso Henriques, autoria de Salvador Ferreira,<br />

2009<br />

normandos, e após eles o rei precedido pelo<br />

arcebispo de Braga, de cruz alçada e rodeado de<br />

outros bispos. Seguiam o rei os chefes portugueses<br />

e estrangeiros e um numeroso séquito. Esta<br />

espécie de préstito dirigiu-se à kassba e na torre<br />

mais elevada do castelo, ao som de cânticos<br />

religiosos, hasteou-se uma cruz, que se via de toda<br />

a parte e que indicava ter Lisboa, enfim, submetido<br />

o colo ao domínio cristão, depois do que o rei, a pé,<br />

correu todos os muros da kassba, provavelmente<br />

para verificar o estado das fortificações 13 .<br />

Temos, pois, a data de 24 de Outubro como a<br />

mais provável para a entrada do rei em Lisboa e a<br />

colocação da sua bandeira no alto do castelo, data<br />

coincidente com um Outono normalmente ameno,<br />

passível de umas cerimónias sob bom tempo e com<br />

a presença da juventude em plena actividade<br />

escolar.<br />

Para finalizar a análise que nos propusemos,<br />

queremos ainda chamar a vossa atenção para os<br />

seguintes aspectos, muito de acordo com as<br />

operações que hoje em dia se processam pelo<br />

mundo fora.<br />

A conquista de Lisboa foi efectuada por uma<br />

força conjunta 14 e combinada 15 sob o superior<br />

comando de D. Afonso Henriques, isto é, uma<br />

9 Carta do Cruzado Arnulfo, Conquista de Lisboa aos<br />

Mouros (1147) − Narração pelos Cruzados..., 2 a Edição,<br />

Lisboa, 1936, onde o número de 200.500 sarracenos inclui,<br />

obviamente, toda a população e não apenas os combatentes.<br />

10 Que o próprio Raul refere ter-se iniciado na vigília do<br />

Apóstolo S. Pedro, a 28 de Junho portanto.<br />

1I Carta do cruzado Osberno, op.cit.. Hoje considera-se<br />

que Osberno não era realmente o remetente mas sim o<br />

destinatário, sendo remetente o clérigo Raul de Glanville,<br />

parente do comandante de um dos grupos de ingleses.<br />

12 BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa −<br />

1147 − A Cidade Reconquistada aos Mouros, Lisboa, 2004,<br />

p. 82.<br />

13 Em nota de pé de página esclarece Alexandre<br />

Herculano, História de Portugal, Bertrand, 1980, Vol. I,<br />

Tomo lI, p. 522, o seguinte: “o dia da entrada dos cristãos<br />

em Lisboa não se pode determinar precisamente pela<br />

narrativa do cruzado inglês, mas o que desta resulta<br />

forçosamente é que foi a 23 ou a 24, quinta ou sexta-feira,<br />

começando a saída dos sarracenos no sábado como nessa<br />

narrativa é expresso. O Indiculum põe em 25 a entrada do<br />

rei o que é inexacto. Dodequino e Arnulfo fixam a<br />

consumação da vitória a 21, considerando a cidade tomada<br />

no dia da suspensão de armas e da entrega dos reféns. A<br />

Crónica dos Godos põe a entrada numa sexta-feira, isto é a<br />

24, o que expressamente diz o exemplar parafraseado de<br />

Resende. Talvez isto seja o mais crível, supondo que se<br />

gastasse a quinta-feira em tomar a decisão sobre o juramento<br />

de fidelidade ao rei, na execução deste acto e em resolver a<br />

forma da entrada e entrega dos despojos”.<br />

14 Regulamento de Campanha − Operações, Vol. I, p. 4/7<br />

15 “ Idem, Ibidem.<br />

29


As conquistas de Lema em 1142 e de Santarém em 1147, garantiriam a segurança da retaguarda, facilitando a grandiosa<br />

tarefa da conquista de Lisboa.<br />

força onde se reuniam diferentes ramos das Forças<br />

Armadas - <strong>Exército</strong> e Marinha - e diferentes Forças<br />

Armadas - Portugal, Alemanha, Flandres,<br />

Inglaterra e Normandia.<br />

É face a todas estas verificações que, em 2004,<br />

pelo seu Despacho n.º 48, o Chefe do Estado-Maior<br />

do <strong>Exército</strong>, General Luís Vasco Valença Pinto,<br />

decidiu determinar que o Dia do <strong>Exército</strong> se<br />

passasse a comemorar a 24 de Outubro.JE<br />

Fontes e Bibliografia<br />

BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa -<br />

1147 - A Cidade Reconquistada aos Mouros, Tribuna da<br />

História, Lisboa, 2004.<br />

BARRENTO, António, D. Afonso Henriques a Guerra<br />

e os Objectivos Nacionais, EME, Lisboa, 1983.<br />

Despacho n.º 48/CEME/2004 de 1 de Março.<br />

FERNANDES, A. de Almeida, “Conquista de Lisboa”,<br />

Dicionário de História de Lisboa, direcção de Francisco<br />

Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, 1994.<br />

30<br />

Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso<br />

Henriques, SACRE, Viseu, 2007.<br />

HERCULANO, Alexandre, História de Portugal<br />

Desde o Começo da Monarquia Até o Fim do Reinado<br />

de Afonso m, Livraria Bertrand, Amadora, 1980.<br />

MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, Círculo<br />

de Leitores, Lisboa, 2006.<br />

Nota Breve Sobre o Patrono e o Dia do <strong>Exército</strong>,<br />

EME/ DSHM, 15-V-1979.<br />

OLIVEIRA, José Augusto de, (Tradução),<br />

Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) - Narração<br />

pelos Cruzados Osderno e Arnulfo Testemunhas<br />

Presenciais do Cerco, 2 a Edição, Lisboa, 1936.<br />

Ordem do <strong>Exército</strong>, n.º 3, 1ª Série, 1979.<br />

Regulamento de Campanha - Operações, Vol. I,<br />

EME, RODRIGUES, Maria Teresa Campos,<br />

“Ourique, Batalha de”, Dicionário da História de Portugal,<br />

direcção de Joel Serrão, Vol. IV, Iniciativas<br />

Editoriais, 1975.<br />

SOARES, Vicente Henrique Varela; e ADELINO,<br />

Eduardo Augusto das Neves, Dicionário de<br />

Terminologia Militar, Lisboa, 1963.


32<br />

Texto e fotos de Tenente-Coronel Cavalaria<br />

Jocelino do N Bragança Rodrigues*<br />

O<br />

Agr MIKE foi constituído com base no<br />

GAM/BrigInt e, para preencher a totalidade<br />

da sua Estrutura Operacional de Pessoal,<br />

recebeu uma Companhia de Atiradores do RI 13, a<br />

dois pelotões, um Pelotão de Atiradores do RG1/<br />

ZMA, Módulos de Engenharia do RE 3, de Apoio<br />

do CTOE, de Transmissões da EPT e militares<br />

provenientes de diversas UEO do <strong>Exército</strong> que<br />

integraram o Estado-Maior (EM) e a Companhia<br />

ALFA, constituindo-se numa equipa verdadeiramente<br />

combinada. A 1 de Março de 2008, iniciou-se<br />

no RC6, uma jornada cujo epílogo se concluiu,<br />

também no RC6, com a retracção da Força e entrega<br />

do Estandarte Nacional à guarda da BrigInt, a 15 de<br />

Abril de 2009.<br />

Corolário de um intensivo treino ministrado ao<br />

longo do aprontamento, o exercício final da Força<br />

decorreu de 24 a 31 de Julho de 2008, em Cabeceiras<br />

de Basto, a fim de testar a sua proficiência e avaliar<br />

a sua capacidade no desempenho de operações em<br />

todo o espectro do conflito militar moderno, atenta<br />

a missão que lhe estava cometida no Kosovo. Com<br />

o inexcedível e entusiástico apoio do Município e<br />

população cabeceirenses, foi possível recriar, no<br />

cenário das Terras de Basto, a cidade de Pristina e<br />

o ambiente característico do Kosovo. A Escola EB<br />

2,3 de Cabeceiras de Basto, com trinta anos de<br />

existência, durante este período foi transformada<br />

num quartel militar, simulando para efeitos de<br />

exercício o aquartelamento de Slim Lines no<br />

Kosovo, onde foi alojada a Força e a partir de onde<br />

foi controlada a execução do Exercício. Os 290<br />

homens e mulheres do Agr MIKE responderam a<br />

variadas situações, similares às que iriam encontrar<br />

no Teatro de Operações (TO). A culminar o exercício,<br />

a Força efectuou, em 31de Julho de 2008, no recinto<br />

adjacente à emblemática Igreja de S. Miguel de<br />

Refojos, perante o Comandante Operacional,<br />

Tenente-General Pina Monteiro, e diversa assistência,<br />

uma parada militar e uma demonstração das<br />

suas capacidades que constituíram o gáudio e foram<br />

largamente apreciadas pelos presentes.<br />

A divisa da Heráldica do Agrupamento: “UT<br />

UNUM SINT”, “para que sejam um só”, espelha<br />

bem o comentário final da Equipa de Avaliação que<br />

conduziu a CREVAL: “O Agr MIKE, encontra-se<br />

excelentemente organizado, bem comandado, motivado<br />

e com um forte espírito de corpo… capaz de<br />

cumprir integralmente a sua missão operacional”.<br />

A 26 de Setembro com a chegada do último grupo<br />

de militares ao território do Kosovo, o MIKE deparouse<br />

com a realidade nua e crua do TO, para a qual nos


tínhamos preparado sem descanso. Dos feitos desses<br />

seis meses e alguns dias vamos agora dar conta.<br />

Na impossibilidade de relatar tudo o que fizemos,<br />

vamos sumarizar as operações, exercícios e<br />

outras actividades desenvolvidas, evidenciar as<br />

áreas de excelência experimentadas e acima de tudo<br />

recolher as experiências de Oficiais, Sargentos e<br />

Praças, que num período tão curto de tempo viveram<br />

as suas vidas tão intensamente e viram a sua<br />

memória colectiva substancialmente enriquecida.<br />

A NATO Kosovo Force<br />

A Kosovo Force (KFOR), Força Multinacional<br />

liderada pela NATO é responsável por estabelecer<br />

e manter um ambiente estável e seguro no Kosovo<br />

e entrou neste TO em 12 de Junho de 1999, para<br />

cumprir um mandato da Organização das Nações<br />

Unidas (ONU), com base na Resolução 1244 do<br />

seu Conselho de Segurança.<br />

A região do Kosovo, com uma superfície de<br />

10.887 Km2, equivalente em Portugal a Trás-os-<br />

Montes e Alto Douro, situa-se no coração da<br />

Península Balcânica, no cruzamento de importantes<br />

vias de comunicação entre o Oriente e o Ocidente.<br />

No período de 2006 a 2009, diversos acontecimentos<br />

decorreram no Kosovo, tendo os mesmos<br />

tido de forma directa ou indirecta implicações nas<br />

missões atribuídas às FND’s Portuguesas. Destacase<br />

a declaração unilateral da independência do<br />

Kosovo, a transferência sucessiva das tarefas da<br />

United Nations Mission in Kosovo (UNMIK) para<br />

Organização das forças da KFOR.<br />

a European Union Rule of Law Mission in Kosovo<br />

(EULEX), a desactivação do Corpo de Protecção<br />

do Kosovo (KPC) e a implementação da Força de<br />

Segurança do Kosovo (KSF), entre outros.<br />

A Força Portuguesa destacada no Kosovo é<br />

designada por Kosovo Force Tactical Reserve<br />

Manoeuvre Battalion (KTM). Nas suas missões, a<br />

KTM, ao nível táctico, projecta-se, enquanto<br />

Reserva Táctica do Comandante da KFOR, em dois<br />

níveis: nível I (KTMG – Grupo), sendo composta<br />

por um posto de comando de escalão Batalhão,<br />

uma companhia de manobra e o apoio de serviços<br />

proporcional, e o nível II (KTMF - Força), composta<br />

por um posto de comando de escalão Batalhão e<br />

duas companhias de manobra e a parte proporcional<br />

do Apoio de Serviços, ambos com um prazo de intervenção<br />

reduzido.<br />

As Forças Portuguesas estão aquarteladas no<br />

Campo Militar Jubilee Barracks, que era inglês,<br />

mas que com a retracção desta Força foi adquirido<br />

pelas autoridades portuguesas passando a ostentar<br />

a Bandeira Nacional desde 1 de Junho de 2009.<br />

“A missão do Agr MIKE no TO do Kosovo<br />

obriga a que seja cumprido um grande e diversificado<br />

número de tarefas, que concorrem indubitavelmente<br />

para um enriquecimento na formação de<br />

qualquer militar. No que diz respeito à parte operacional,<br />

a missão de reserva táctica do COMKFOR<br />

exige treino e empenhamento operacional permanentes<br />

e muito exigentes, que nos obrigam a estar<br />

“prontos” 24 horas por dia. Realço nesta área, o<br />

quão gratificante que é poder percorrer todos os<br />

passos do processo de decisão militar, no planeamento<br />

de uma qualquer operação, e saber que na<br />

altura do emprego dos meios (terrestres e/ou<br />

aéreos), eles estão lá, disponíveis e operacionais.<br />

No que diz respeito à parte “não operacional”, mas<br />

concorrente desta, realço a possibilidade que existe<br />

em trabalhar com contingentes de vários países e<br />

ter que conhecer uma grande diversidade de meios<br />

e procedimentos, situação enriquecedora e que<br />

favorece o florescimento daquela qualidade que<br />

todos os portugueses possuem, que é a facilidade<br />

de relacionamento e de trabalho, seja com quem<br />

for. Servir no Kosovo é uma excelente oportunidade<br />

de enriquecimento técnico, operacional e humano.”<br />

Major de Cavalaria Peralta Pimenta/2º Cmdt e<br />

CEM Agr MIKE<br />

“Estar em missão no Kosovo foi, desde muito<br />

cedo, um desafio à capacidade dos Militares Portugueses<br />

em saberem viver em comunidade, partilhando<br />

alegrias, tristezas, sucessos, fracassos com um<br />

único objectivo, o de superar os obstáculos com<br />

33


34<br />

Fotografia aérea de Jubilee Barracks.<br />

que nos íamos deparando, contribuindo sobretudo<br />

para a estabilidade e desenvolvimento do Kosovo.<br />

Mas, foi por terras desta região, rica em património<br />

social e cultural que a colossal família MIKE conviveu<br />

ao longo de seis meses com outras culturas,<br />

outros saberes e particularmente coabitou diariamente<br />

com militares, oriundos de outras nacionalidades.<br />

(…) Como Adjunto do Comando da Força Portuguesa,<br />

dei a conhecer a missão da KTM, estrutura, a<br />

História e a cultura do povo português; a importância<br />

dos Sargentos na estrutura das Forças Armadas e<br />

ainda os aspectos relacionados com a carreira:<br />

acesso, formação e progressão.<br />

Chegado o tempo de partir, regressamos com a<br />

certeza e a consciência do dever cumprido, enaltecendo<br />

o nome de Portugal e os feitos dos Militares<br />

Portugueses, por terras do Kosovo. Regressamos<br />

ao núcleo familiar, que apesar da separação física,<br />

demonstrou ser um esteio permanente e fundamental<br />

para o êxito desta missão em prol da paz.”<br />

Sargento-Chefe de Cavalaria António Coutinho/<br />

Adj Cmd Agr MIKE<br />

“O desempenho da função de Oficial de Operações<br />

da KTM constitui-se numa oportunidade única<br />

para adquirir experiência no planeamento e execução<br />

de exercícios, treinos e operações, na dependência<br />

directa do COMKFOR. Foram planeadas, coordenadas<br />

e executadas Framework, Proximity, Focused,<br />

Boundary and Border Surveillance e Rehearsals Operations,<br />

treinos e exercícios de Notice To Move,<br />

Crowd and Riot Control, Air Lifts (diurnos e nocturnos).<br />

Destacam-se destas as Operations Rehearsals<br />

uma vez que foram colocados em prática o processo<br />

de decisão militar abreviado (hasty planning), a<br />

capacidade de projectar a KTM por via terrestre e<br />

aérea, ocupar uma Área de Atribuição de Missão e<br />

rapidamente entrar em operações. Para a execução<br />

dos mesmos, foram facultados diversos meios ao<br />

dispor do COMKFOR, dos quais se destacam a<br />

Reserva Aérea Táctica da KFOR, o AirScan e a Tactical<br />

PsyOps Team. A KTM é uma unidade de escalão<br />

Batalhão, no entanto depende directamente do<br />

COMKFOR concedendo ao Oficial de Operações a<br />

oportunidade de lidar e colaborar directamente, numa<br />

base diária, com os J3/G3 da KFOR e das MNTF’s,<br />

possibilitando assim uma percepção global da<br />

actuação de todas as forças no TO. Estando a Reserva<br />

vocacionada para operar Kosovo Wide tivemos a<br />

oportunidade de trabalhar com todas as MNTFs e<br />

observar diferentes abordagens e organizações. O<br />

desempenho desta função foi uma experiência<br />

gratificante, enriquecedora e inesquecível quer a<br />

nível profissional quer a nível pessoal.”<br />

Major de Infantaria João Neves/S3/S5 Ag MIKE<br />

“(…) De acordo com a intenção do COMKFOR<br />

e do comandante da KTM, fui incumbido de efectuar<br />

o plano de treino e emprego operacional da KTM.”<br />

(…) Com a sua implementação (…) “passei a ser<br />

conhecido no seio da KFOR como o Trainning Officer<br />

da KTM. O plano contemplava uma série de<br />

objectivos, que iam desde o treino e exercícios de<br />

crowd and riot control (CRC) até ao apoio em caso<br />

de catástrofe ou calamidade pública, aos níveis de<br />

pelotão, companhia e batalhão. Um dos objectivos<br />

mais marcantes e desafiantes, pela multinacionalidade<br />

de forças e meios aéreos envolvidos, foi o<br />

planeamento, coordenação e execução de exercícios<br />

de CRC com projecção aérea diurna e nocturna de<br />

forças e consequentes operações de junção dos<br />

meios terrestres. Na condução de um dos exercícios<br />

de projecção nocturna, tive a oportunidade de voar<br />

no helicóptero de Comando e Controlo (C 2 ) (GA-<br />

O


perações efectuadas pelo Agr MIKE.<br />

ZELLE) e assistir ao Exercise Air Controller,<br />

visualizando a partir do ar o desembarque da Força<br />

através da câmara térmica que equipava o<br />

helicóptero. Planear, coordenar e executar<br />

exercícios, construir capacidades de projecção<br />

aérea para a KTM com recurso a vários tipos de<br />

helicópteros, provenientes de nacionalidades<br />

diferentes, não foi tarefa fácil; contudo, o resultado<br />

final foi recompensador para todos os elementos<br />

da Força envolvidos. Ser Trainning Officer da KTM<br />

permitiu-me colher ensinamentos e viver múltiplas<br />

experiências que eu reporto de extraordinárias para<br />

um jovem capitão, aos níveis profissional e pessoal,<br />

e impossíveis de viver, com tanta intensidade num<br />

período de tempo tão curto, em território nacional.”<br />

Capitão de Cavalaria Pedro Cabral/Adj S3/S5/<br />

AGr MIKE<br />

“A componente operacional do Agrupamento<br />

MIKE no Kosovo assumiu a face mais visível da<br />

Força e foi alvo dos mais diversos e rasgados<br />

elogios e aclamações. Não querendo “ofuscar” nem<br />

retirar o devido valor a esta componente, e como<br />

responsável pela componente logística da Força,<br />

devo enaltecer e valorizar quem esteve na “sombra”<br />

a criar condições para que outros elevassem o nome<br />

de Portugal aos mais elevados patamares.<br />

A pirâmide de Maslow estabelece uma hierarquia<br />

na satisfação das necessidades em patamares. Cada<br />

patamar corresponde a um conjunto de necessidades<br />

que, quando não satisfeitas, comprometem a<br />

afirmação do homem como ser humano. Extrapolando<br />

para a vertente militar e estabelecendo a analogia<br />

com as necessidades da Força, materializadas no<br />

acumular das carências básicas de cada militar,<br />

consegue-se, através de uma análise cuidada da<br />

pirâmide, isolar algumas necessidades básicas em<br />

que a componente logística teve um papel<br />

preponderante e decisivo para a sua satisfação. As<br />

funções logísticas (Reabastecimentos, Manutenção,<br />

Transportes, Apoio sanitário e Serviços),<br />

garantiram, cada uma ao seu nível, o apoio<br />

necessário à sobrevivência da força e à criação de<br />

condições para o cabal cumprimento da missão.<br />

Uma referência especial para à “cumplicidade”<br />

criada com os contingentes Inglês, Francês, Americano<br />

e Alemão que em muito contribuíram para a<br />

resolução atempada das deficiências que foram acontecendo<br />

com as instalações ocupadas pela Força.<br />

Todo o esforço colocado no fornecimento atempado<br />

dos artigos das diversas classes, na manutenção<br />

das viaturas, na prontidão dos militares em termos<br />

sanitários e serviços disponibilizados, assim como<br />

na criação das melhores condições possíveis de<br />

habitabilidade dos alojamentos foi recompensado<br />

através do sentimento do dever cumprido e do<br />

desafio ganho.”<br />

Major de Artilharia Jorge Agostinho/S4/<br />

AgrMIKE<br />

Do desempenho da função de Oficial de Ligação<br />

(LNO) ao HQ da KFOR só me brotam vivências<br />

positivas e agradáveis de descrever. Na fase de<br />

preparação que antecede uma missão no teatro do<br />

Kosovo, e julgo que noutro qualquer, fora alguns<br />

apontamentos e o “STANAG 2101 TOP (EDITION<br />

11) – ESTABLISHING LIAISON”, que descrevem<br />

os critérios e responsabilidades do Oficial de<br />

Ligação, nada mais existe que se possa constituir<br />

em “muleta”, pelo que um grande desafio se me<br />

deparava pela frente.<br />

Após a chegada ao TO, o meu antecessor ansiava<br />

por me passar a pasta e com alguma surpresa<br />

não só a de LNO, mas também a de Public Affairs<br />

Officer (PAO), que correspondia à divulgação do<br />

Agr MIKE/KTM no seio da KFOR, no Kosovo e<br />

em Portugal; tarefa que antevia como mais um<br />

aliciante desafio.<br />

Após a sobreposição, que de facto é essencial<br />

e da qual só posso enaltecer a maneira excepcionalmente<br />

profissional como foi conduzida, lá estava<br />

eu como único militar do Agr MIKE/KTM destacado<br />

da Força, para servir como elo de ligação das forças<br />

lusas ao HQ da KFOR.<br />

Começando pelo local de trabalho, localizado<br />

no Joint Operations Center, junto com os outros<br />

LNO das cinco Multinational Task Forces (MNTF)<br />

e Military Specialized Unit (MSU), rapidamente me<br />

apercebi que era o primeiro homem a “dar a cara”<br />

junto do comando do HQ da KFOR, pelo que o que<br />

eu transmitia não poderia suscitar qualquer tipo de<br />

dúvida junto deste, na qual se incluía a comunicação<br />

por vezes de informação crítica do Comandante,<br />

ultrapassando a burocracia do Estado Maior. O<br />

LNO actualiza diariamente, perante o COMKFOR<br />

(General Comandante da KFOR) e respectivo Estado<br />

Maior, todas as operações do AgrMIKE/KTM,<br />

efectuando brifíngues no final da tarde (Staff Update)<br />

e de manhã quando solicitado, constituindose<br />

em simultâneo no elo de ligação da Força às<br />

diferentes MNTF e MSU. É o primeiro elemento da<br />

Força a ser solicitado quando há a necessidade de<br />

informação ou de intervenção da Força que<br />

representa, pelo que está 24/7 horas de serviço e<br />

sempre contactável (first man to wake up e sem rest<br />

day como o resto da Força).<br />

Nas funções de PAO constituía a única e mais<br />

rápida ligação ao gabinete de relações públicas da<br />

KFOR para divulgar e transmitir a imagem do Agr<br />

MIKE/KTM extra HQ da KFOR, bem como as<br />

35


36<br />

actividades da força junto da Chronicle (publicação<br />

mensal da KFOR) e na página oficial da KFOR na<br />

Internet.<br />

Outra das tarefas digna de registo, pelo facto<br />

de ser conhecedor da grande maioria dos militares<br />

internacionais que prestavam serviço no HQ da<br />

KFOR, foi a de auxiliar o Comandante do Agr<br />

MIKE/KTM nos eventos levados a cabo pela Força<br />

que exigiam recurso a protocolo.<br />

Em suma, afirmo com convicção que vivi uma<br />

experiência única que recomendo vivamente, já que<br />

é de facto gratificante descrever e divulgar as cores<br />

portuguesas em ambiente multinacional e constatar<br />

in loco que o nosso desempenho é superiormente<br />

reconhecido.”<br />

Major de Artilharia Nuno Folgado/LNO HQ<br />

KFOR/Agr MIKE<br />

“Fruto da experiência adquirida na função de<br />

KTM LNO nas MNTF’s tenho a reportar que o LNO<br />

é o verdadeiro “faz tudo” no HQ das MNTF pois<br />

que, como elo de ligação, tem que resolver e clarificar<br />

os problemas das diversas Secções de Estado<br />

Maior da Força.<br />

Como substituto natural do KTM LNO ao QG<br />

da KFOR, devemos acompanhar o mesmo durante<br />

o máximo tempo possível, antes de o Agrupamento<br />

atingir a “Full Operational Capability”, para que<br />

possamos aprender a função, estando após este<br />

período aptos a substituí-lo durante as férias, ou<br />

em operações, se o JOC funcionar durante 24 horas.<br />

Este período serve também para desenvolver<br />

relações de trabalho - conhecer locais e pessoas -<br />

ficando com uma noção sobre o que é verdadeiramente<br />

a KFOR, revelando-se estes conhecimentos<br />

de suma importância para o desempenho da função<br />

nas MNTF’s, uma vez que, não tendo os LNO’s<br />

qualquer preparação para o seu cargo, este “estágio”<br />

no TO é uma mais-valia.<br />

A postura do LNO nas MNTF’s tem que ser de<br />

total proactividade, colaboração e disponibilidade,<br />

pois ele é a imagem da KTM. Deveremos conhecer<br />

rapidamente os locais e pessoas a contactar,<br />

confirmando diariamente o cumprimento dos<br />

horários de toda a documentação a elaborar pelas<br />

nossas Secções de Estado Maior nos respectivos<br />

HQ, obter informação sobre a ligação aos sistemas<br />

informáticos, telefone e rádio das MNTF’s com o<br />

nosso TOC 1 e com a KTMG projectada, facultando<br />

todos os elementos necessários à interoperabilidade<br />

entre sistemas. Temos que estar em permanente<br />

contacto com o TOC e a KTMG, satisfazendo todas<br />

as necessidades de ligação com os diversos órgãos<br />

das MNTF’s.<br />

Para finalizar, nesta função a “regra de ouro” é a<br />

Patrulha em Mitrovica.<br />

Exercício de CRC. (À direita)<br />

capacidade de adaptação à forma de trabalho de<br />

cada MNTF, porque todas elas têm distintos “Battle<br />

Rythm” e sistemas de processamento de informações,<br />

o qual, se não for cumprido à risca poderá<br />

dificultar a ligação eficaz com a MNTF, uma vez<br />

que a KTM executa operações Kosovo wide”.<br />

Major de Artilharia Rui Rodrigues/MNTF LNO/<br />

Agr MIKE<br />

“A operacionalidade de 106 viaturas, 36 atrelados,<br />

520 armas e 345 equipamentos respeitantes a<br />

material óptico, optrónico, eléctrico e outro existente<br />

no TO, só foi conseguida com muitas horas de<br />

trabalho, persistência, saber e dedicação. O espírito<br />

de corpo criado pelos elementos do Módulo de<br />

Manutenção foi a chave que nos levou ao sucesso.<br />

A manutenção preventiva é essencial para a<br />

operacionalidade das viaturas/equipamentos/armamento,<br />

principalmente em climas adversos como o<br />

que encontrámos no Kosovo. Assim, chegados ao<br />

TO efectuamos o overall a todas as viaturas,<br />

resolvemos os problemas recorrentes das baterias<br />

e dos pneus, executámos 134 ordens de trabalho e<br />

129 requisições, 1012 num total de cerca de 1220<br />

artigos requisitados.<br />

Face aos poucos voos de sustentação, o apoio<br />

dos Contingentes Nacionais Francês e Americano<br />

e a recorrência ao mercado local, com todas as<br />

dificuldades inerentes à linguagem, foram uma maisvalia<br />

para o reabastecimento da classe IX. A<br />

diversidade e complexidade das tarefas executadas<br />

e relações de trabalho multinacionais desenvolvidas<br />

constituíram-se em experiências profissionais e<br />

pessoais inolvidáveis para todos nós.”<br />

Capitão de Engemharia Sónia Santos/Of Man/<br />

Agr MIKE


“A participação numa FND é sempre uma<br />

experiência enriquecedora. Os nossos conhecimentos<br />

e capacidade de adaptação são postos à prova.<br />

É ainda uma oportunidade de adquirir novos<br />

saberes, conhecer novas perspectivas e, acima de<br />

tudo, assumir a responsabilidade individual e<br />

colectiva de ostentar as cores nacionais e divulgar<br />

as tradições lusitanas.<br />

Dependendo da função, a experiência final é<br />

sempre gratificante bem como o somatório dos<br />

conhecimentos finais. No meu caso, coube-me a<br />

função de Sargento de Informações. Adicionalmente,<br />

desempenhei tarefas no âmbito da Directiva<br />

de Informação do Agrupamento. Coube-me ainda<br />

o planeamento e implementação da segurança física,<br />

do pessoal, CIS e da documentação no âmbito das<br />

normas NATO/KFOR. Da excelência do trabalho<br />

de equipa desenvolvido, realço o árduo trabalho<br />

desenvolvido e os extraordinários resultados<br />

obtidos nas inspecções de segurança conduzidas<br />

pelo Theatre Security Office da KFOR.<br />

Em suma, há um vasto conjunto de conhecimentos<br />

técnico-profissionais e pessoais, individuais e<br />

colectivos, adquiridos nas FND’s que podem e<br />

devem ser utilizados em termos doutrinários nas<br />

nossas Forças Armadas (FA). O <strong>Exército</strong> em particular<br />

e as FA em geral têm um potencial humano<br />

com imensas valências e capacidade de actuação.”<br />

1.º Sargento de Cavalaria Agostinho Fernandes/<br />

SAR S2/EM/Agr MIKE<br />

“Comandar é a essência do ser de um Oficial,<br />

constituindo a aspiração máxima que profissionalmente<br />

um Capitão pode ambicionar e que assume<br />

maiores contornos quando essa experiência tem lugar<br />

em situações de campanha, ou mais comummente<br />

nos nossos dias, numa FND. É nesse contexto que<br />

surgem as próximas palavras, numa tentativa de<br />

expressar o orgulho e gratidão pela confiança que me<br />

foi depositada em assumir o Comando da Companhia<br />

de Apoio do Agr MIKE, a ALFA Coy, o que constituiu<br />

uma experiência de vida e não apenas uma experiência<br />

profissional! Esse orgulho e a inquestionável<br />

honra que sinto têm igualmente a sua razão de ser no<br />

mérito militar, na prestimosa disponibilidade, na<br />

competência e capacidades diversas dos militares<br />

com que servi, que tornaram a missão de os<br />

comandar das mais distintas e dignificantes que<br />

profissionalmente poderia ambicionar.<br />

Apesar dos sobejamente conhecidos condicionalismos<br />

de ordem diversa que afectaram e influenciaram<br />

a nossa missão, não posso deixar de lembrar com a<br />

mais respeitosa reverência e emoção todas as situações<br />

que ultrapassámos em conjunto, que deixaram<br />

indubitavelmente a sua marca no fortalecimento<br />

dos laços de camaradagem e que em última análise<br />

solidificaram o espírito de corpo da Companhia.<br />

No seu enunciado mais simples posso afirmar<br />

que o centro de gravidade da Companhia era composto<br />

pelos Homens e Mulheres tão diferentes, nos<br />

quais se revia o espírito próprio que caracteriza cada<br />

uma das Armas e Serviços do nosso <strong>Exército</strong>, que<br />

perfizeram equipas bem sucedidas, coesas, colectivamente<br />

orientadas e coordenadas para a prossecução<br />

do mesmo fim comum: o pronto e cabal<br />

cumprimento da missão que nos estava atribuída.<br />

Capitão de Artilharia José Miguel Sequeira<br />

Maldonado/Cmdt ACoy/Agr /MIKE<br />

“Participar numa Operação de Apoio à Paz é<br />

mais que motivador e enriquecedor. É poder<br />

demonstrar a todos os que em nós acreditam e<br />

confiam que nos dias de hoje continuam a existir<br />

Soldados em Portugal!<br />

Estes Soldados somos todos nós, os militares<br />

portugueses, que na privação do nosso bem estar,<br />

queremos e conseguimos, com a nossa força de<br />

vontade, prestar auxilio às populações mais necessitadas<br />

e carenciadas nas alturas mais exigentes. A<br />

minha experiência como Comandante de uma<br />

Companhia Operacional no TO do Kosovo, para<br />

além de muito dignificante no exercício do comando<br />

de Homens, foi também extraordinária pessoalmente,<br />

pois fortifiquei os laços de amizade e camaradagem<br />

em toda a família MIKE. A missão muito<br />

enriquecedora militarmente, satisfez-me e aportoume<br />

uma enorme felicidade, pois pude ajudar na<br />

construção da nova sociedade do Kosovo,<br />

principalmente nas necessidades básicas, assim<br />

como no bem estar emocional de um povo que dá<br />

os primeiros passos para se constituir numa Nação.<br />

É pois, em alturas como estas que, na introspecção,<br />

damos valor àquilo que no quotidiano acabamos<br />

por nem cogitar e que tão importante é para o nosso<br />

equilíbrio como pessoas e militares: a família, a<br />

saúde, a educação e a PAZ!”<br />

Capitão de Cavalaria Adriano Branco/Cmdt<br />

CCoy/Agr MIKE<br />

“Embarcar neste tipo de missões, onde<br />

ostentamos a bandeira da paz a par da Bandeira<br />

Nacional, incrementa a maturidade do senso, a<br />

imparcialidade dos actos, a certeza do objectivo.<br />

Pelas situações e pessoas reais com que lidamos<br />

diariamente, a indução cognitiva é uma premissa à<br />

qual não estamos alheios, assim como a firmeza de<br />

demonstrarmos a nossa presença. Alcançar este<br />

estado de proficiência é precedido por um treino<br />

constante e de largo espectro, mas acima de tudo é<br />

o fruto de uma vivência terrena com todas as<br />

37


38<br />

dificuldades e situações quotidianas que se nos<br />

apresentam.<br />

Não é difícil manifestar que é neste clima de<br />

experiência diária em zonas de conflito que nós,<br />

militares da paz, adquirimos o know-how que<br />

extravasa para o resto da nossa vida militar, onde<br />

apontaremos o vivido aos níveis profissional e<br />

pessoal como o melhor exemplo.”<br />

Tenente de Infantaria Daniel Gomes/Cmdt 3ºPel/<br />

BCoy/AgrMIKE<br />

Entre Janeiro de 2000 e Março de 2009 cumpri<br />

três missões de Apoio à Paz no TO do Kosovo.<br />

Comparando a situação actual com a que encontrei<br />

há nove anos atrás, posso dizer que o Kosovo está<br />

melhor em quase todos os aspectos. A maior<br />

diferença, sem dúvida, foi o Kosovo ter proclamado<br />

a sua independência unilateral. No entanto, a<br />

popularidade da KFOR continua em alta, sinal<br />

evidente de que está a cumprir bem a sua missão.<br />

As forças portuguesas continuam a ser saudadas<br />

e acarinhadas pela população. Esse carinho resulta<br />

do grande empenhamento, naturalidade, neutralidade<br />

e do querer e saber fazer do Soldado Português.<br />

Todas as tarefas que executei, nas mais<br />

diversas funções, enriqueceram e valorizaram a<br />

minha carreira Militar e sem dúvida que alargaram<br />

a minha maneira de ver a vida como homem. Dizse<br />

que não há amor como o primeiro, no entanto<br />

recordo com orgulho todas as missões efectuadas,<br />

embora tenha mais presente a última, em virtude<br />

de a ter terminado há bem pouco tempo e por ter<br />

sido mais rica operacionalmente. Percorremos o<br />

Kosovo de Norte a Sul, de Este a Oeste, operámos<br />

lado a lado com a maioria das forças presentes no<br />

TO em exercícios e operações e assumimos a<br />

generosidade do povo português nas diversas<br />

acções CIMIC levadas a cabo.<br />

Sinto-me honrado e altamente orgulhoso pelo<br />

trabalho efectuado nestas paragens e de ter a sorte<br />

de pertencer à nossa Pátria e à nossa Gente.”<br />

1.º Sargento de Cavalaria Joâo Sousa/Sar 3º<br />

Pelotão/CCoy/KTM/KFOR<br />

“(…) A preparação da Força, antes da projecção,<br />

foi de extrema importância, não só em termos<br />

técnicos e operacionais, mas também na vivência<br />

dentro da secção. O conhecimento do Homem, das<br />

capacidades individuais, as suas dúvidas e<br />

dificuldades, os seus anseios, o que lhes vai no<br />

íntimo… Todas estas questões têm de ser clarificadas<br />

em território nacional. Na secção, cada militar<br />

deve ver no homem que está ao seu lado muito<br />

mais que um camarada de armas, deve ver acima de<br />

tudo, um amigo, um companheiro, alguém pronto a<br />

Visita do Ministro da Defesa Nacional.<br />

salvar-lhe a vida ou escutar um desabafo num dia<br />

menos bom. A saudade acaba por aparecer e em<br />

cada alma, a preocupação por quem ficou em Portugal<br />

é inegável. Sabemos que, um problema que à<br />

partida parece insignificante se pode agigantar<br />

quando é acompanhado à distância.<br />

Já no TO, a secção tem de se manter sempre<br />

pronta a responder às ordens do escalão superior;<br />

para tal, o treino físico e operacional devem ser<br />

uma constante. Em cada homem foi notória a vontade<br />

de bem servir, de ajudar a manter um clima de paz<br />

e harmonia num território habituado ao conflito, de<br />

honrar a bandeira que levamos no nosso uniforme e<br />

no coração. Para nós militares, que não demandamos<br />

distinções nem tesouros, não existe maior<br />

riqueza do que o sorriso de uma criança, que como<br />

sempre, continuam a ser as principais vítimas nestas<br />

circunstâncias. Para cada homem e mulher que<br />

integrou o agrupamento MIKE, a missão no TO do<br />

Kosovo, mais do que uma experiência militar foi também<br />

uma experiência de vida e um acto de reflexão.”<br />

1.º Sargento de Cavalaria Vitor Costa/Cmdt Sec/<br />

2ºPel/CCoy/Agr Mike<br />

“No dia 24 de Setembro de 2008 embarquei para<br />

um canto do continente Europeu desconhecido<br />

para mim e para grande parte dos meus camaradas.<br />

Ali tive contacto com uma outra cultura, um outro<br />

povo marcado pela guerra e pela pobreza, mas<br />

sempre com um sorriso hospitaleiro e com um olhar<br />

de esperança bem patente nos olhos das crianças.<br />

Os seis meses foram enriquecedores tanto a nível<br />

pessoal como profissional, foi uma experiência única<br />

mas que exigiu grandes sacrifícios de todos nós.<br />

Mas já dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena<br />

quando a alma não é pequena”, e a alma do MIKE<br />

Acções CIMIC.


transcendeu todos os objectivos a que<br />

eu me tinha proposto executar nesta<br />

missão. Aprendi mais como militar<br />

nestes últimos seis meses<br />

do que em seis anos<br />

na minha Unidade<br />

de proveniência,<br />

tive experiências<br />

que jamais sonharia<br />

ter (...). Tive<br />

oportunidade de<br />

trabalhar com militares<br />

de vários contingentes,<br />

de trocar<br />

vivências e opiniões.<br />

Adaptamo-nos sem problemas<br />

aos novos métodos de trabalho,<br />

alteramos algumas rotinas de modo a<br />

melhor cumprir as missões que nos eram<br />

impostas. Tudo isto foi concretizado com muito<br />

treino e com muito espírito de equipa, dai os meus<br />

agradecimentos a todos os membros da minha<br />

esquadra e da minha secção com os quais trabalhei<br />

directamente em todas as missões que nos foram<br />

incumbidas e que realizamos com o brio e<br />

profissionalismo que caracterizou aliás todo o<br />

trabalho do MIKE.”<br />

1.º Cabo Manuel Felgueiras/Cmdt Esq/BCoy/<br />

Agr MIKE<br />

“Após todo o esforço de aprendizagem, formação<br />

e treino realizados no aprontamento, pude pôr<br />

em prática os conhecimentos, que apesar de bons,<br />

não foram nem nunca vão ser demais, face à diversidade<br />

de situações novas com que fui confrontado<br />

no TO. A experiência adquirida foi óptima pois<br />

fiquei mais rico em conhecimentos militares, tendo<br />

em conta o acesso a diversos materiais e equipamentos<br />

que não nos foram disponibilizados quer na<br />

vivência da minha unidade, quer na fase de aprontamento.<br />

Cheguei do Kosovo mais rico como Homem<br />

por ajudar uma população carenciada, onde a palavra<br />

ser humano ganhou para mim um novo significado.”<br />

Soldado Pedro Marques/BCoy/Agr MIKE<br />

Dos 181 dias passados no TO, o Agr MIKE/<br />

BrigInt/KTM esteve empenhado operacionalmente<br />

durante 126 dias, conduzindo 12 Operações no<br />

terreno ao nível Força e ao nível Grupo. Concomitantemente<br />

com o emprego operacional a Força<br />

desenvolveu um intenso programa de treino, avaliação<br />

operacional e prontidão para combate materializados<br />

da seguinte forma: 31 Reconhecimentos dos<br />

quais onze aéreos, 6 exercícios de Prontidão para<br />

Combate e Avaliação Operacional, 9 Exercícios<br />

Combinados de CRC níveis KTMG e<br />

KTMF, seis operações aerotransportadas<br />

[1 a nível Pelotão, 4 ao nível<br />

KTMG (1 nocturna) e 1 ao nível<br />

KTMF] seguidas de<br />

Operações de Junção<br />

e Exercícios Combinados<br />

de CRC<br />

com Forças da<br />

EULEX, MSU e<br />

dos AgrupamentosMultinacionais<br />

Norte, Oeste,<br />

Centro e Este. Concomitantemente<br />

com as operações<br />

tácticas foram executadas<br />

24 acções CIMIC de apoio à população kosovar,<br />

apelidadas de “Grande Abraço” (Mighty Big Hug),<br />

em todo o Kosovo, contribuindo para o bem-estar<br />

das mesmas, bem como para o incremento da imagem,<br />

visibilidade e aceitação do Agr MIKE e da KFOR.<br />

Foram estabelecidos um total de 152 Postos de<br />

Observação, 137 Pontos de Verificação, executados<br />

1814 patrulhamentos e foram percorridos cerca de<br />

300000 quilómetros.<br />

Paralelamente com a actividade operacional, o<br />

MIKE organizou actividades desportivas, a<br />

Conferência do COMKFOR, as reuniões mensais<br />

dos Sargentos-Mor dos Contingentes presentes e<br />

dos Capelães da KFOR, vários eventos e cerimónias,<br />

recebeu a visita de diversas Altas Entidades,<br />

nomeadamente o MDN e CEMGFA, o Comandante<br />

Operacional do <strong>Exército</strong>, o Comandante da BrigInt,<br />

Eurodeputada, Dr.ª Ana Maria Gomes, COMKFOR,<br />

COSKFOR, DCOS OPS KFOR, DCOS SPT KFOR,<br />

COMMNTF-C, COMMNTF-E, UNMIK Chief<br />

Liaision Officer, Delegação da IGE, Inspecção de<br />

Segurança do Theatre Security Officer, entre outras<br />

entidades nacionais e estrangeiras.<br />

Áreas de Excelência<br />

experimentadas<br />

A liderança pelo exemplo foi uma preocupação<br />

constante aos mais diversos níveis do Comando da<br />

Força. Todos os documentos emanados do Comando<br />

e EM da Força contemplavam orientações para o<br />

Comando, Estado Maior e Comandantes das<br />

Unidades subordinadas, Intenção do Comandante,<br />

definição do esforço em cada fase da operação/actividade<br />

e medidas de segurança na última alínea das<br />

instruções de coordenação. A liderança foi testada e<br />

temperada pela realização das mais diversas<br />

actividades e operações, onde se incluem sete<br />

39


40<br />

marchas; corrida mensal, estafeta e Challenger da<br />

KTM; jogos tradicionais; o “cantar das Janeiras” e<br />

as participações na DANCON March e nas corridas<br />

organizadas pelo contingente irlandês, onde os<br />

resultados alcançados são a prova viva da liderança<br />

e da tempera dos Cavaleiros Lusos. Os Comandantes,<br />

aos vários níveis, exerceram a chefia a partir da frente,<br />

nomeadamente em Mitrovica Norte, no período de<br />

Dezembro 2008 a Janeiro de 2009.<br />

A formação e treino em CRC foram complementados,<br />

após uma semana no TO, aos mais variados<br />

níveis, incluindo o combinado e conduzidos sobre<br />

a forma de treino cruzado com a MSU. Neste âmbito<br />

foi ainda desenvolvida no seio da KTM a capacidade<br />

PSYOPS numa viatura táctica ligeira não blindada,<br />

que durante as acções de CRC emitia mensagens<br />

preparadas pelas PSYOPS da KFOR. Também<br />

no CRC a capacidade de liderança da KTM foi posta<br />

à prova pois que, passadas duas semanas em TO,<br />

assumiu a liderança, o planeamento, a coordenação<br />

e a condução dos exercícios combinados de CRC e<br />

de projecção aérea com as MNTF’s, MSU e EULEX,<br />

numa mostra clara da confiança inabalável<br />

depositada pelo COMKFOR na sua KTM.<br />

Os Oficiais, Sargentos e Praças jamais<br />

esquecerão a experiência vivida na execução de seis<br />

operações aerotransportadas aos níveis pelotão,<br />

KTMG e KTMF. O planeamento, a coordenação, a<br />

execução e o C 2 foram conduzidos pelos militares<br />

do MIKE e, principalmente para os Quadros,<br />

oportunidades semelhantes serão praticamente<br />

impossíveis de voltar a concretizar, no número,<br />

tipologia e quantidade de meios envolvidos (vagas<br />

de 12 helicópteros Blackhawk e SA 330 PUMA,<br />

pertencentes a 4 MNTF’s e países diferentes).<br />

As Operações de Proximidade e as Intel Gathering<br />

Ops são operações em que a Força pretende<br />

conduzir uma acção direccionada para um efeito<br />

específico a atingir, baseada na pesquisa de um quesito<br />

específico de informação, utilizando um conjunto<br />

de meios específicos, letais e não letais, com a<br />

finalidade de manter a iniciativa operacional. Ao<br />

operar em todo o Kosovo e junto de actores governamentais<br />

e não governamentais, os soldados da<br />

KTM foram interlocutores privilegiados da KFOR<br />

para este tipo de operações.<br />

Foram desenvolvidas 24 acções CIMIC por todo<br />

o Kosovo com doação de medicamentos, alimentação,<br />

brinquedos, fornecimento e instalação de<br />

materiais numa sala de aulas da pré-primária em<br />

Janjevo, instalação de sinais e lombas redutoras de<br />

velocidade em diversas escolas e localidades, salas<br />

de informática (computadores Magalhães e<br />

impressoras ligados a Internet em rede wireless)<br />

em Prizren e Pristina, a construção de uma vedação<br />

de protecção, apelidada de “Grande Muralha da<br />

China”, numa extensão de cerca de 1500 m, num<br />

caminho escolar sobre uma ravina alcantilada, onde<br />

no ano transacto tinha morrido uma criança e ainda<br />

numerosos trabalhos de engenharia em proveito<br />

das comunidades locais e de uma família de<br />

ascendência portuguesa, na região de Podujevo.<br />

A monitorização da ABL constituiu, em cada<br />

etapa, um desafio multinacional e combinado, uma<br />

oportunidade de pôr em prática a nossa capacidade<br />

para nos relacionarmos com as duas facções em<br />

conflito, numa demonstração superior de neutralidade<br />

e imparcialidade.<br />

“No retorno ao ponto inicial as duas patrulhas<br />

fundiram-se e deram lugar a uma patrulha combinada<br />

em progressão táctica, passando quer pelo lado<br />

Sérvio quer pelo lado Kosovar da ABL, debaixo da<br />

Acções CIMIC em Gusterica.


Patrulha combinada com FA sérvias.<br />

chuva copiosa e no meio da lama dos carreiros, num<br />

clima de entreajuda, debaixo de um céu escuro que<br />

não distinguia credos ou nações. Após cinco horas<br />

de marcha, com lições aprendidas para ambos os<br />

lados, estávamos de regresso ao ponto inicial,<br />

seguiu-se a avaliação conjunta, deu-se a despedida<br />

suave, com a rigidez e tensão iniciais desvanecidas.<br />

Mais uma vez levamos a nossa ‘Carta a Garcia’,<br />

deixando para trás a experiência de uma patrulha sui<br />

generis com elementos das Forças Armadas Sérvias,<br />

pondo em prática o combinado, a multinacionalidade<br />

e a multifuncionalidade que caracterizam as acções<br />

dos soldados do MIKE kosovo wide”. 2<br />

No contexto das patrulhas de longa duração<br />

apeadas e montadas, os militares do MIKE efectuaram<br />

patrulhas combinadas com Forças Francesas na<br />

MNTF-N, normalmente de três dias em que o contacto<br />

como as populações mais isoladas era privilegiado.<br />

I have had the privilege of walking patrols<br />

with Task Force Mike units in different locations<br />

throughout Kosovo, and each time I have been<br />

impressed with their sharp focus and their physical<br />

stamina. It has been an honour for this US<br />

Marine to have worked alongside the true professionals<br />

of Task Force Mike (…). 3<br />

A naturalidade e afabilidade patenteadas pelos<br />

soldados portugueses, nos Postos de Verificação<br />

e Observação, foram por diversas vezes evidenciadas<br />

pelos elementos das MNTF’s onde operávamos.<br />

Nalguns casos não compreendiam a nossa<br />

capacidade para interagir com as diferentes etnias,<br />

principalmente a partir do momento em que se procedeu<br />

ao reconhecimento do Kosovo por parte do<br />

Estado Português.<br />

A multinacionalidade vista como um mal menor<br />

para determinados contingentes é, para nós<br />

Acção CIMIC durante a operação Mighty Good Effort.<br />

portugueses, um factor capital na diversidade de<br />

pontos de vista para a resolução do mesmo problema;<br />

a solução multinacional é sempre menos radical<br />

do que a de um qualquer país isolado. As<br />

relações de trabalho foram potenciadas no seio da<br />

família MIKE através da organização de eventos<br />

desportivos e jantares convívio com o Comando e<br />

EM das MNTF com quem operávamos e com os<br />

contingentes mais significativos presentes no TO.<br />

A execução de operações combinadas com<br />

Forças da KFOR, da MSU, da EULEX e das Forças<br />

Armadas Sérvias, Operações de Proximidade,<br />

Monitorização dos Enclaves e da ABL e a determinação<br />

das necessidades das populações locais,<br />

contribuíram para a manutenção da actualização da<br />

situação da KFOR, em tempo real, e para a formação,<br />

globalidade, motivação e enriquecimento dos soldados<br />

do Agr MIKE como militares e como homens.<br />

O nosso modus operandi foi efectivamente<br />

avassalador, o profissionalismo, dedicação, neutralidade,<br />

imparcialidade, a forma natural como interagimos<br />

com os nossos pares e com as facções em conflito<br />

e por último o empenho que colocámos em todas<br />

as actividades realizadas foram o estigma definidor<br />

da nossa postura e forma de estar no seio da grande<br />

família da KFOR. Esta capacidade do Soldado<br />

41


42<br />

Português foi enaltecida por diversas vezes e<br />

agraciada com 26 medalhas de mérito e 3 símbolos<br />

de atiradores especiais de pistola e espingarda automática<br />

dos EUA, 18 de mérito desportivo do Contingente<br />

Irlandês, 3 símbolos e medalhas de mérito<br />

desportivo e tiro da Alemanha e 1 medalha da UNMIK,<br />

todos impostos durante a permanência no TO.<br />

A Força foi objecto de várias visitas e inspecções<br />

de segurança efectuadas pelo Theatre Security<br />

Officer. A segurança das instalações e das informações<br />

foram melhoradas a um nível que permitiu à<br />

Força granjear os mais rasgados elogios por parte<br />

dos inspectores e guindar-se a uma posição altaneira<br />

quando comparada com os seus pares da KFOR.<br />

A vigilância e obtenção de informação em tempo<br />

real, por meios aéreos e terrestres (Air & Ground<br />

Scaning), embora pareçam impressionantes,<br />

envolvem, no TO do Kosovo, uma pequena frota de<br />

Cessnas. Estas aeronaves modificadas estão<br />

equipadas com sensores (electro-ópticos e infravermelhos)<br />

e sistemas de comunicações seguros,<br />

possibilitando-lhes sobrevoar os céus do Kosovo e<br />

providenciar, em tempo real, visibilidade sobre o que<br />

está a acontecer numa determinada área ou como<br />

está a decorrer uma determinada operação, bem como<br />

monitorizar áreas e alvos humanos de noite e de dia.<br />

Estes meios facilitaram o C 2 ao Agr MIKE nos<br />

diversos exercícios e operações conduzidas no Kosovo,<br />

permitindo monitorizar em tempo real, a partir do JOC<br />

da KFOR, não só a actividade das forças opositoras,<br />

com especial relevo para o CRC, bem como a nossa<br />

capacidade de projecção da Força por meios aéreos e<br />

terrestres e a instalação da Área de Apoio de Serviços<br />

Cessna da KFOR para operações de air scaning. (Topo)<br />

Projecção aérea de CRC – nocturna. (Acima)<br />

do Agrupamento. A estação móvel de Air & Ground<br />

Scanning, co-localizada com o PC da Força, permitia<br />

monitorizar as acções levadas a cabo pelos elementos<br />

do Agrupamento em todas as áreas das Blue e Red<br />

Box, bem como o evoluir da situação das forças<br />

opositoras e decidir com oportunidade. O S6 do Agr<br />

MIKE desenvolveu esta capacidade a nível terrestre<br />

(Ground Scanning) que permitiu obter resultados<br />

semelhantes com recurso à imagem horizontal.<br />

Os Sistemas de Comando e Informações (CIS)<br />

foram um must do Comando do Agr MIKE. O Oficial<br />

de Transmissões do Agr MIKE foi chamado a<br />

representar a KFOR em conferências sobre as<br />

capacidades, emprego e experiência operacional da<br />

utilização do Kosovo Force Tracking System<br />

(KFTS). A utilização deste sistema, do VCN, dos


meios de CIS nacionais, onde se inclui a recepção,<br />

montagem e utilização do GRC – 525, meios que<br />

permitiam VTC segura, Scanning terrestre e aéreo<br />

muito contribuíram para a SA e C 2 da Força.<br />

Cada homem do MIKE foi uma “lança” na<br />

promoção da imagem, visibilidade e aceitação da<br />

Força através da captura de imagens fotográficas e<br />

vídeo e divulgação da actividade desenvolvida. Estas<br />

imagens foram utilizadas pelo Comandante e Estado-<br />

Maior da Força nos diversos brífingues diários, nas<br />

reuniões e conferências com o COMKFOR, COS-<br />

KFOR e Estado-Maior da KFOR.<br />

Os vários artigos, fotos e composições fotográficas<br />

elaborados pelos elementos do MIKE e publicados<br />

na revista oficial da KFOR, Crhonicle, no<br />

sítio da KFOR e da NATO, bem como a publicação<br />

do Boletim mensal do Agr MIKE, com artigos em<br />

português e em inglês muito contribuíram também<br />

para este propósito. Neste âmbito ainda foram<br />

desenvolvidos em parceria com as PSYOPS/KFOR<br />

e financiados pela KFOR, um autocolante da KTM<br />

para distribuição durante as operações CIMIC e<br />

um vídeo de divulgação da KTM que passou nas<br />

diferentes televisões kosovares.<br />

A cultura e as tradições portuguesas foram evidenciada<br />

em actividades de promoção nomeadamente,<br />

exposições organizadas no QG da KFOR no âmbito<br />

das comemorações do dia do <strong>Exército</strong>, organização<br />

de jogos tradicionais, cantar das “Janeiras” junto<br />

dos QG’s das principais Forças no terreno, o serviço<br />

religioso semanal, festas móveis e religiosas entre<br />

outras actividades.<br />

Em termos de formação, os militares do Agr MIKE<br />

foram qualificados e certificados individual e<br />

colectivamente aos mais diversos níveis e escalões<br />

em Combat Camera Team, Multimédia (Adobe<br />

Photoshop, Pinacle Studio e Microsoft Sharepoint),<br />

GRC-525, PsyOps, AIR MEDEVAC nas aeronaves<br />

SA 330 PUMA e Blackhawk, técnicas de condução<br />

defensiva e na neve, KFTS, pistola e espingarda<br />

automática pelo <strong>Exército</strong> dos EUA e da Alemanha e<br />

em CRC aos escalões Pelotão, Companhia, KTMG,<br />

KTMF e Agrupamento.<br />

A KTM foi uma escola de vida para os soldados<br />

do Agr MIKE, que contactaram e viveram numa base<br />

diária diversas realidades consignadas pelas<br />

operações combinadas, pelo apoio às diferentes<br />

etnias em presença no Kosovo, pela precariedade<br />

do seu sistema social e quantidade das acções CIMIC<br />

levadas a cabo pela Força em todo o Kosovo.<br />

Os soldados do MIKE em geral e os elementos<br />

femininos em particular, exponenciaram a capacidade<br />

do povo português para se relacionar com os<br />

diferentes credos e raças. Em todas as situações<br />

vividas, o militar português saiu da viatura e de for-<br />

ma natural, neutral e imparcial, se relacionou, interagiu<br />

e ganhou o respeito e a consideração dos autóctones<br />

e dos diferentes actores e Forças presentes no TO.<br />

O soldado português é generoso e grande,<br />

porque é inteiro, porque é plural como o Universo<br />

e põe tudo quanto é no mínimo que faz tornando<br />

universal a Nação Portuguesa. O soldado português<br />

é global, simples, empreendedor, é um cidadão<br />

do mundo, um inato e eficiente produtor de paz.<br />

Foi assim ao longo da nossa História nos<br />

diversos continentes por onde passámos, também<br />

foi assim no Kosovo e continuará no futuro<br />

noutros locais onde formos chamados a defender<br />

os superiores interesses da Política Externa<br />

Nacional.<br />

Em 26 de Março de 2009 os “Cavaleiros Lusos”<br />

regressaram a casa com o sentimento do dever cumprido,<br />

não só pela forma como foram bem recebidos<br />

e aceites no Kosovo, mas também pela forma<br />

extraordinária como a missão foi desempenhada,<br />

edificando uma imagem de excelência que muito<br />

contribuiu para o bom nome e visibilidade das<br />

Forças Armadas Portuguesas e de Portugal.<br />

Os seis meses de Missão representaram para<br />

os soldados do Agr MIKE mais do que 6 anos de<br />

formação, treino, exercícios e operações em tempo<br />

de paz. Uma experiência vivida intensamente sem<br />

precedentes no <strong>Exército</strong> Português.<br />

No futuro próximo, enquanto os efectivos das<br />

MNTF diminuirão sucessivamente, a KTM manterá<br />

a sua postura e importância acrescida, com os meios<br />

aéreos ao serviço da KFOR na sua dependência<br />

directa e com NTM mais reduzidos. Assim, ganhará<br />

Portugal, as suas Forças Armadas e o seu <strong>Exército</strong>.<br />

Portugal terá, por um lado, maior visibilidade junto<br />

dos seus parceiros da NATO e da Comunidade<br />

Internacional e, por outro, Quadros Militares com<br />

formação e experiência operacional de excelência.<br />

A KTM continuará a ser uma Escola de Quadros e<br />

de Vida de Excelência para os militares Portugueses<br />

que nela tiverem a ensejo de servir.JE<br />

* Comandante do Agrupamento MIKE/BrigInt/<br />

KFOR<br />

1 Tactical Operations Centre<br />

2 Ten Inf Daniel Gomes Comandante do 3ºPel/BCoy<br />

responsável pela execução da patrulha.<br />

3 Eu tive o prazer de executar patrulhas diversas vezes com<br />

militares do Agr MIKE, em diferentes locais no Kosovo, e<br />

em todas as ocasiões fiquei impressionado com a sua<br />

extraordinária concentração, ânimo e força de vontade.<br />

Foi uma honra para este Fuzileiro dos EUA ter trabalhado<br />

lado a lado com os profissionais do Agr MIKE (…). Extracto<br />

de um texto elaborado pelo Chefe de Estado-Maior da KFOR,<br />

Brigadeiro General Berger, do <strong>Exército</strong> dos Estados Unidos<br />

da América. Tradução nossa.<br />

43


44<br />

Livros<br />

Afonso Henriques: um Rei polémico,<br />

de Barroso da Fonte<br />

D<br />

. Afonso Henriques, mítica figura da História<br />

portuguesa, permanece um tema actual da nossa<br />

sociedade. Em “Afonso Henriques: um Rei polémico”, o autor<br />

do livro fundamenta-se na tradição, que segundo o mesmo<br />

“não se tendo encontrado, em 9 séculos, qualquer prova<br />

documental, o que prevalece é a Tradição”, para clarificar a<br />

polémica em torno da data e local de nascimento de Afonso<br />

Henriques. Ergue-se contra a hipótese de ser a cidade de<br />

Viseu a terra-natal de Afonso Henriques e 1109 o seu ano de<br />

nascimento, conforme a teoria de Almeida Fernandes.<br />

Para Barroso da Fonte, a resposta mais credível continua<br />

a ser Guimarães e 1111 o ano de nascimento de Afonso<br />

Henriques e, perante a “poeira” que levanta, lança um desafio<br />

aos mais ousados: que consigam responder, com lógica,<br />

coerência e isenção perante o assunto.<br />

BARROSO DA FONTE, João, Afonso Henriques: um Rei<br />

polémico, Editora Cidade Berço, Guimarães e Âncora Editora,<br />

Lisboa, Junho de 2009.<br />

Vo Nguyen Diap, o Homem<br />

que derrotou os franceses<br />

e os americanos, de Carlos Manuel<br />

Mendes Dias e Alexandre Carriço<br />

O<br />

que pode a força dos exércitos contra o poder do<br />

povo? E se o exército é o próprio povo – um <strong>Exército</strong><br />

Popular? E se à frente desse exército está o espírito de um<br />

General revolucionário?<br />

Com uma pedagógica e sábia regularidade a História vai<br />

dando as suas lições sobre um David que, contra todas as<br />

expectativas, derrota um gigante Golias. Portugal foi disto<br />

várias vezes exemplo, contra Castela e Napoleão!<br />

No presente livro, Vo Nguyen Giap, O Homem que<br />

derrotou os franceses e os americanos, escrito pelo Tenente-<br />

Coronel de Artilharia Carlos Manuel Mendes Dias e pelo<br />

Major de Infantaria Manuel Alexandre Garrinhas Carriço, é<br />

contada a história de um David que derrotou não um, mas<br />

três Golias: o Japão, a França e os Estados Unidos da América.<br />

As teorias, os conceitos, as tácticas e as estratégias de Vo<br />

Nguyen Diap, Comandante Supremo do <strong>Exército</strong> do Povo<br />

do Vietname, “estudioso de Napoleão, Sun Tsu, T. E. Lawrence<br />

e Mao Tse-Tung”, constituem aqui o campo fértil de<br />

uma exaustiva investigação, cujos frutos, para além do<br />

inestimável interesse biográfico, são uma importantíssima<br />

fonte de doutrina e de valores, onde se firmou a profunda<br />

vontade de independência de um povo.<br />

CARRIÇO, Alexandre e DIAS, Carlos Manuel Mendes, Vo<br />

Nguyen Giap, O Homem que derrotou os franceses e os<br />

americanos, Prefácio, Lisboa, 2009.


O Jornal<br />

Regulamento do<br />

“Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>”<br />

do <strong>Exército</strong> (JE) promove anualmente o concurso para o<br />

prémio em epígrafe, que se rege pelas seguintes disposições:<br />

1. Finalidade<br />

O concurso visa estimular a reflexão e a criatividade de militares e civis<br />

para tratarem assuntos com particular interesse para o <strong>Exército</strong>, nos múltiplos<br />

aspectos de que a Instituição Militar se reveste e que, de alguma forma,<br />

enriqueçam o seu património ou contribuam para a sua própria valorização<br />

profissional e pessoal.<br />

2. Trabalhos<br />

Ao concurso serão admitidos os trabalhos inéditos que:<br />

2.1 Abordem temas de natureza científica, cultural, histórica ou artística<br />

de qualquer forma ligados ao <strong>Exército</strong> ou às Forças Armadas;<br />

2.2 Possuam nível literário que, no entender da Direcção do JE, permita<br />

a sua publicação;<br />

2.3 Não excedam 10 páginas de formato A4 dactilografadas a 2 espaços;<br />

2.4 Sejam indicados, pelos seus autores, para concorrerem ao prémio<br />

JE, ou para tal seleccionados pela Direcção do Jornal do <strong>Exército</strong>.<br />

3. Publicação<br />

Os trabalhos, que satisfaçam às condições dos números anteriores,<br />

serão publicados quando tal seja possível, considerando as conveniências<br />

decorrentes do estatuto editorial do JE.<br />

4. Prémio<br />

O “Prémio Jornal do <strong>Exército</strong>” é pecuniário e compreende três graus:<br />

1.º, 2.º e 3.º classificados, sendo os respectivos valores estipulados,<br />

anualmente, por despacho do General Vice-CEME, sob proposta do JE.<br />

A sua entrega aos contemplados deverá ser efectuada, em princípio, no<br />

dia 11 de Janeiro, dia festivo do Jornal do <strong>Exército</strong>.<br />

5. JÚRI<br />

Para apreciação e classificação dos trabalhos admitidos a concurso, será<br />

nomeado, por despacho do General Vice-CEME, um júri que:<br />

5.1 Será composto por:<br />

1 oficial a designar pelo Estado-Maior do <strong>Exército</strong>;<br />

1 oficial a designar pelo Instituto de Estudos Superiores e Militares;<br />

1 oficial a designar pela Direcção de História e Cultura Militar.<br />

5.2 Será secretariado por um oficial do JE;<br />

5.3 Poderá decidir não atribuir qualquer grau do prémio, se entender que<br />

a qualidade dos trabalhos assim o exige.<br />

Nota de redacção:<br />

Para o ano de 2009, o prémio a que se refere o nº 4 foi fixado em:<br />

1º Classificado ....................................... • 900<br />

2º Classificado ....................................... • 650<br />

3º Classificado ....................................... • 500<br />

DESPORTO<br />

Campeonato Pentatlo <strong>Exército</strong> 2009<br />

O<br />

Campeonato Desportivo Militar de Pentatlo<br />

Militar – Fase 3 – <strong>Exército</strong>, decorreu de 29 de<br />

Junho a 3 de Julho de 2009 no Regimento de Infantaria n.º<br />

3, integrado no programa dos Campeonatos Desportivos<br />

Militares.<br />

A competição contou com a participação de seis<br />

delegações masculinas: Comando de Instrução e Doutrina;<br />

Brigada Mecanizada; Brigada de Intervenção; Brigada de<br />

Reacção Rápida; Comando e Logística e Zona Militar dos<br />

Açores, juntamente com quatro delegações femininas:<br />

Comando de Instrução e Doutrina; Brigada Mecanizada;<br />

Brigada de Reacção Rápida e Brigada de Intervenção.<br />

De acordo com a organização, os resultados atingidos<br />

foram do agrado geral, decorrendo o Pentatlo num espírito<br />

de competição salutar e de total empenho por parte dos<br />

atletas.<br />

A cerimónia de encerramento foi presidida pelo<br />

Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Manuel Mendes<br />

Farinha, 2.º Comandante do Regimento de Infantaria n.º 3,<br />

onde foram entregues os prémios aos vencedores.<br />

A classificação geral ficou assim ordenada:<br />

Classificação Geral Individual Masculinos<br />

1. Lugar CAdj Nunes da BrigMec com 3771,6<br />

2. Lugar 1 Sar Esteves do CID com 4198,2<br />

3. Lugar Sold Silva do CID com 4047,7<br />

Classificação Geral por Equipas Masculinos<br />

1. Equipa CID<br />

2. Equipa BrigMec<br />

3. Equipa BrigInt<br />

Classificação Taça Comando da Instrução e Doutrina<br />

1. Equipa BrigMec<br />

2. Equipa CID<br />

3. Equipa BrigInt<br />

Classificação Geral Individual Femininos<br />

1. 2 Fur Costa da BrigRR<br />

2. Sold Neves do CID<br />

3. Sold Taveira BrigMec<br />

Classificação Geral por Equipas Femininos<br />

1. Equipa BrigRR<br />

2. Equipa BrigMec JE<br />

45


46<br />

PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />

in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 11 de Novembro de 1960<br />

Soluções deste número:<br />

1 - Martelo; 2 - Comprimento da antena; 3 - Rodízio entre a 2.ª e 3.ª rodas; 4 - Perna do soldado com mangueira; 5 - Bigodes do Sargento;<br />

6 - Rosca da torneira; 7 - Colarinho do Cmdt.; 8 - Cavalo a trote.<br />

Pretendo assinar o Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de<br />

Logística, Rua dos Remédios, n.º 202 – 1140-065 LISBOA<br />

Nome: ____________________________________________________ Profissão: _________________<br />

Morada: ______________________________________________________________________________<br />

Código Postal: __________________ Localidade: ___________________ Telefone: _______________<br />

(Só para Militares) Posto: _________________ Ramo das FA: _______________ NIF: _____________<br />

Assinatura Anual – Continente e Ilhas: € 20.00 - Via Aérea: Países Europeus € 45.00 - Restantes Países € 65.00<br />

Para pedido de números atrasados, ou encadernações, contacte-nos para: Largo S. Sebastião da Pedreira - 1069-020 Lisboa,<br />

Tel: 213 567 700 ou via email: jornal.exercito@sapo.pt<br />

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