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Coletânea Candanga - ao Clube do Som!

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<strong>Candanga</strong><br />

edição especial para coleciona<strong>do</strong>res<br />

Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares<br />

1


Prefácio


Copyright 2013 Aclap<br />

Editor<br />

Manoel Jevan<br />

Digitação e Revisão<br />

Coletivo de autores<br />

Xilogravuras<br />

Marcílio Tabosa<br />

Editoração<br />

Osmi Vieira<br />

www.oclube<strong>do</strong>som.com.br<br />

Pedi<strong>do</strong>s de Publicação Avulsa:<br />

Art Letras Gráfica e Editora Ltda. - 3376-1463<br />

Catalogação Bibliográfica:<br />

Da<strong>do</strong>s Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)<br />

C694col <strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong>: Academia Ceilandense de Letras<br />

& Artes Populares/Manoel Jevan, organiza<strong>do</strong>r - Brasília :<br />

Arte Letras, 2008.<br />

200p.<br />

“<strong>Coletânea</strong> para Criação da Academia de Ceilândia-DF”<br />

1. Literatura, Brasil. 2. Literatura, Distrito Federal<br />

3. Poesia brasileira. I. Jevan, Manoel, organiza<strong>do</strong>r<br />

II. Título. II.<br />

CDU 82-1<br />

Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária<br />

Maria das Graças de Lima - CRB-1 / 608<br />

ISBN nº 978-85-61326-02-9<br />

Fotos extraídas <strong>do</strong>s títulos supracita<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s <strong>ao</strong>s autores coletanea<strong>do</strong>s.


Prefácio<br />

ACADEMIA CEILANDENSE DE LETRAS, Um Sonho!<br />

Percília Júlia Tole<strong>do</strong><br />

Desde os meus oito anos, remontan<strong>do</strong> às altas montanhas lá da<br />

minha infância no interior das Minas Gerais, que eu já escrevia minhas<br />

estorinhas de criança (a primeira, inclusive, foi sobre uma formiguinha<br />

que um dia eu vi tropegan<strong>do</strong> de cansaço pelo grande peso da folha que<br />

seu corpinho não conseguia carregar, mas que não desistia nunca de<br />

tentar); e assim eu também esperava um dia ser uma escritora muito<br />

conhecida e admirada por to<strong>do</strong>s. Pois bem, o tempo passou e só agora,<br />

na chamada “terceira idade”, foi que vim a publicar o primeiro da meia<br />

dúzia de livros que hoje tenho edita<strong>do</strong>s. Até que os livros vieram, muitas<br />

pessoas passaram a me admirar por isso, mas o dito (re)conhecimento<br />

ainda é muito pouco. Tanto é assim que a gente pode verificar aqui<br />

na nossa academia como em qualquer outro lugar que são os próprios<br />

autores que pagaram para ver publicadas as suas obras, porque ninguém<br />

consegue chegar nos tais financiamentos públicos.<br />

Talvez até mesmo por essa dificuldade de “viver das letras”<br />

foi que comecei a procurar outros escritores (inicialmente só aqui da<br />

paróquia <strong>do</strong> ‘P’ Norte), até que apareceu na minha vida <strong>do</strong>is professores<br />

que marcaram a minha história: o Ronal<strong>do</strong> Mousinho da Academia<br />

Taguatinguense de Letras e o Manoel Jevan da Casa da Memória Viva.<br />

Juntan<strong>do</strong> esses <strong>do</strong>is com o nosso jornalista João Batista e mais<br />

a minha nada pequena “família de artistas” pude finalmente sonhar<br />

de olhos abertos e anunciar para to<strong>do</strong>s o meu antigo projeto de uma<br />

“Academia de Letras para a Ceilândia”; e aí foi que eu vim perceber<br />

que, aquilo que no início era só meu, começou a tornar-se um desejo de<br />

muitos; e hoje eu vejo que o que era apenas um sonho no longínquo ano<br />

de 2005, tornou-se uma realização coletiva desses 35 autores talentosos<br />

e corajosos.<br />

Por fim, investida na presidência dessa querida instituição, eu só<br />

posso mesmo é pedir a Deus que abençoe cada um de nós com o seu<br />

livro publica<strong>do</strong> e toda a nossa academia com esse feliz sonho realiza<strong>do</strong>:<br />

nossa missão está cumprida!<br />

SHOW PÓSTUMO DE LANÇAMENTO DA<br />

COLETÂNEA ACLAP CANDANGA<br />

O POETA<br />

NÃO<br />

MORREU!<br />

2 DE NOVEMBRO (Fina<strong>do</strong>s)<br />

BAR PÉ NA COVA<br />

(<strong>ao</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Cemitério - Taguatinga / Ceilândia)<br />

Venha presenciar a canonização de<br />

SÃO FRANCISCO MOROJÓ,<br />

o primeiro santo candango.<br />

APOIO CULTURAL:<br />

Forró<br />

PARAIBOLA<br />

ANIMANDO<br />

O VELÓRIO<br />

ACLAP, aqui o normal<br />

é ser diferente.


SUMÁRIO<br />

Prefácio<br />

Academia Ceilandense de Letras: um sonho! .......................................08<br />

Apresentação<br />

Fundação da Academia de Ceilândia: sessão solene ..............................14<br />

I - Patrono Popular & Libertário .........................................................17<br />

Francisco Morojó: Poeta Pezão .............................................................18<br />

II. - Acadêmicos Funda<strong>do</strong>res & Imortais ............................................21<br />

Percília Júlia Tole<strong>do</strong> ...............................................................................22<br />

Donzílio Luiz de Oliveira .....................................................................26<br />

III - Membros Efetivos & Locais .........................................................31<br />

Adauto de Souza ...................................................................................32<br />

Adelaide de Paula ..................................................................................34<br />

André Rocha ..........................................................................................36<br />

Antonio Soares ......................................................................................38<br />

Assis Coelho ..........................................................................................40<br />

Chico Ivo ...............................................................................................42<br />

Clinaura Macê<strong>do</strong> ...................................................................................44<br />

Conceição Tavares .................................................................................46<br />

Dukaldas ................................................................................................48<br />

Ezequiel Dias Cruz ............................................................................... 50<br />

Gil d’La Rosa .........................................................................................52<br />

Israel Ângelo ..........................................................................................54<br />

João Batista ............................................................................................56<br />

Joaquim Bezerra da Nóbrega ...............................................................58<br />

José Antonio ..........................................................................................60<br />

Léo Maravilha ........................................................................................62<br />

Manoel Jevan .........................................................................................64<br />

Mano Lima .............................................................................................66<br />

Marcílio Tabosa .....................................................................................68<br />

Marcos Viana .........................................................................................70<br />

Mariana Lima .........................................................................................72<br />

Messsias de Oliveira ..............................................................................74<br />

Nair Rosa ...............................................................................................76<br />

Neftaly Vieira .........................................................................................78<br />

Nina Tolle<strong>do</strong> ..........................................................................................80<br />

Osval<strong>do</strong> Espínola ..................................................................................82<br />

Rapper Japão ..........................................................................................84<br />

Ronal<strong>do</strong> Mousinho ................................................................................86<br />

Rosana Maria .........................................................................................88<br />

Sebastião Lima .......................................................................................90<br />

Sidiney Breguê<strong>do</strong> ...................................................................................92<br />

Vaíston ....................................................................................................94<br />

Valdinei Cordeiro ...................................................................................96<br />

Vanildes de Deus ....................................................................................98<br />

Valter Farias..........................................................................................100<br />

Vicente de Melo ...................................................................................102<br />

IV - Membros Correspondentes & Convida<strong>do</strong>s ...............................107<br />

Adalberto Adalbertos ..........................................................................108<br />

Adélia Coimbras ..................................................................................110<br />

Adilson Cordeiro Didi ........................................................................112<br />

Amário Cassimiro ...............................................................................114<br />

Ana Paula .............................................................................................116<br />

Angélica Torres ....................................................................................118<br />

Antonio Carlos Sampaio Macha<strong>do</strong> ....................................................120<br />

Antonio Garcia Muralha .....................................................................122<br />

Antonio Miranda .................................................................................124<br />

Arlete Sylvia .........................................................................................126<br />

Astrogil<strong>do</strong> Miag ..................................................................................128<br />

Carlos Augusto Cacá ..........................................................................130<br />

Chico Morbeck ...................................................................................132<br />

Clo<strong>do</strong> Ferreira .....................................................................................134<br />

Dinorá Couto ......................................................................................136<br />

Élton Skartazini ...................................................................................138<br />

Emanuel Lima ......................................................................................140<br />

Ênio Rudi Sturzbecher ........................................................................142<br />

Gonçalo Ferreira ..................................................................................144


Gustavo Doura<strong>do</strong> ................................................................................146<br />

Ildefonso Sambaíba .............................................................................148<br />

Jerônimo de Caldas .............................................................................150<br />

João Bosco Bezerra Bonfim ...............................................................152<br />

José Orlan<strong>do</strong> Pereira da Silva ..............................................................154<br />

Lília Diniz ............................................................................................156<br />

Márcio Cotrim ....................................................................................158<br />

Margarida Drumond ...........................................................................160<br />

Meireluce Fernandes ...........................................................................162<br />

Menezes y Morais ...............................................................................164<br />

Nicolas Behr ........................................................................................166<br />

Pedro Gomes .......................................................................................168<br />

Popó Magalhães ...................................................................................170<br />

Sandra Fayad ........................................................................................172<br />

Tetê Catalão .........................................................................................174<br />

Valnira Vaz ...........................................................................................176<br />

Xiko Mendes ........................................................................................178<br />

Zé Luiz .................................................................................................180<br />

V - Os Pioneiros das Letras <strong>Candanga</strong>s ............................................183<br />

Stella Ro<strong>do</strong>poulos: patronesse das letras candangas ............................184<br />

Newton Rossi: teatro sesc ceilândia ....................................................186<br />

Clemente Luz: o cronista <strong>do</strong>s candangos ............................................188<br />

Carlos Drummond de Andrade: crônica das favelas brasileiras ........190<br />

Niemeyer na Ceilândia: a ceilândia em cordel ...................................192<br />

Gilberto Gil na Guariroba: a palmeira nativa <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong> ..................194<br />

A UnB na Ceilândia: campus sociológico candango ...........................196<br />

Posfácio<br />

ACLAP: uma sigla! ..............................................................................198<br />

13


Apresentação<br />

DISCURSO DE FUNDAÇÃO DA ACLAP<br />

SESSÃO SOLENE DE 27 DE MARÇO DE 2006<br />

Ronal<strong>do</strong> Alves Mousinho<br />

Senhoras e senhores componentes desta histórica sessão<br />

solene, preza<strong>do</strong> público que prestigia este ato de expressivo conteú<strong>do</strong><br />

cultural:<br />

É com efusivo entusiasmo que saú<strong>do</strong> <strong>ao</strong> professor e historia<strong>do</strong>r<br />

da cidade de Ceilândia – Manoel Jevan – e a seus colabora<strong>do</strong>res mais<br />

próximos – os escritores Donzílio Luiz de Oliveira e Percília Júlia<br />

Tole<strong>do</strong> – presentes neste ato de fundação da Academia Ceilandense de<br />

Letras & Artes Populares, a “ACLAP”.<br />

Vivemos um momento de grave crise nas relações humanas,<br />

especialmente porque a política - que já foi a “suprema razão da existência<br />

humana” (Aristóteles) - transformou-se em atividade perniciosa, que<br />

nos arranca nossa porção divina, conduzida que é pela indignidade.<br />

A fundação desta confraria propiciará o sadio exercício<br />

intelectual para o nosso crescimento cultural e para o fortalecimento<br />

de nossas relações sociais, forjan<strong>do</strong> o bom caráter e o senso crítico. E,<br />

se por um la<strong>do</strong> tentam-nos o engo<strong>do</strong> e a pequenez humana, por outro<br />

chamam-nos à razão e nos seduzem a dignidade e a busca incessante da<br />

verdade, valores das quais é irmã a arte.<br />

O escritor e o artista em geral têm a responsabilidade de,<br />

agin<strong>do</strong> com lucidez e humanismo, perseguirem a justiça, a verdade e<br />

a felicidade, instrumentaliza<strong>do</strong>s no conhecimento e no saber, que são<br />

fontes prósperas de libertação. E a “palavra”, senhores neo-acadêmicos,<br />

assim como as demais vertentes artísticas, são as ferramentas que nos<br />

libertam de toda e qualquer forma de prisão, sen<strong>do</strong> esta mesma palavra<br />

- segun<strong>do</strong> Latino Coelho - “a mais bela e expressiva de todas as artes,<br />

pois é a que fala <strong>ao</strong> mesmo tempo à fantasia e à razão, <strong>ao</strong> sentimento<br />

e às paixões...” Só a palavra, mais comove<strong>do</strong>ra e persuasiva <strong>do</strong> que o<br />

plectro <strong>do</strong>s orfeus, encadeia à lira estas feras humanas e a um só tempo<br />

desumanas, que se chamam homens.<br />

Vivemos, caros neo-acadêmicos, este momento de instigante<br />

expectativa: somos a espécie mais evoluída <strong>do</strong> planeta, com to<strong>do</strong><br />

potencial de perfeição, mas temos agi<strong>do</strong> com ín<strong>do</strong>le irracional,<br />

abjeta; e este é o grande desafio que nos é posto: assumirmo-nos<br />

conscientemente benevolentes, fraternos e justos; ou sermos partícipes<br />

e insensíveis expecta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cortejo egoísta para onde marcha nossa<br />

atual sociedade consumista.<br />

14 15


Ao papa bento candango YURI PIERRE<br />

NA PARADA CENTRAL<br />

(depois de perder o último ônibus)<br />

Ceilândia, você não me engana<br />

te cruzo dia & noite sem muamba<br />

choro a <strong>do</strong>r <strong>do</strong>s moribun<strong>do</strong>s<br />

morren<strong>do</strong> na fila de teu hospital<br />

rememoran<strong>do</strong> teus trambiqueiros<br />

traficantes mequetrefes de fun<strong>do</strong>-de-quintal.<br />

Ceí, paradigma <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

toda quadra tem um artista (anônimo)<br />

pense nos teus candangos<br />

que nunca foram no plano... planejar<br />

Teu (herói) não é Gregorinho<br />

e sim teu povo morren<strong>do</strong><br />

nos canteiros da construção CER-VIL.<br />

Ceí, nunca te enrolei na Feira <strong>do</strong> Rolo<br />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala que vai te limpar<br />

tu sois um cristal de marfim lapida<strong>do</strong><br />

de poetas, canta<strong>do</strong>res & forrozeiros<br />

a capital nordestina <strong>do</strong> Brazil<br />

Tuas fábricas fantasmas<br />

não fabricam mais boçais.<br />

(O VOO DO PÁSSARO DE CHUMBO)<br />

Capítulo I<br />

Patrono Popular<br />

e<br />

Libertário<br />

16 17


Memorial Poeta Pezão<br />

FRANCISCO ROBERTO DE LIMA<br />

MOROJÓ - ou o popular “POETA<br />

PEZÃO, Seu Cria<strong>do</strong>” - nasceu dia 24 de<br />

outubro de 1959 em Patos das Espinharas/<br />

PB e morreu dia 07 de dezembro de 2003<br />

in<strong>do</strong> para os Olhos D´Água de Alexânia no<br />

entorno de Brasília. Foi o primeiro poeta da<br />

Ceilândia e um <strong>do</strong>s pioneiros da “geração<br />

mimeógrafo” da literatura candanga <strong>do</strong>s anos 70. Anarquista convicto,<br />

se gabava em dizer que nunca teve e nem teria “patrão”, chegan<strong>do</strong><br />

a trabalhar de costureiro com a sua mãe para “viver só da poesia”.<br />

Como alfaiate, produzia suas próprias indumentárias, assim como das<br />

personagens teatrais que montava e ensinava. Foi também funda<strong>do</strong>r<br />

e compositor e <strong>do</strong> “tailandense” Forró Paraibola - grupo responsável<br />

pelo seu célebre “sarau fúnebre”. Polêmico e irreverente, o poeta partiu<br />

desse mun<strong>do</strong> deixan<strong>do</strong> amigos e inimigos, mas acima de tu<strong>do</strong>, a poesia.<br />

Adeus <strong>ao</strong> Maiakoviski Candango<br />

O Poeta Caboclo foi-se<br />

Para além da liberdade<br />

Levou o martelo e a foice<br />

Montan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>rso da verdade<br />

Apressa<strong>do</strong>, ele esqueceu<br />

De levar consigo a poesia<br />

Deixou-nos o que escreveu<br />

Ouro em versos e melodia<br />

Poeta Caboclo (Gil d’La Rosa)<br />

O POETA E O ALFAIATE<br />

NECROLÓGIO NO CEMITÉRIO<br />

DE SÃO FRANCISCO MOROJÓ<br />

José Carlos Vieira<br />

Conheci Francisco Morojó, o Pezão no final <strong>do</strong>s anos de 1970;<br />

freqüentávamos o agita<strong>do</strong> bar <strong>do</strong> Kareka. Os <strong>do</strong>is, sem dinheiro no<br />

bolso, uni<strong>do</strong>s por uma mesa de bar. A corrida pela vida nos levou a<br />

rumos diferentes. Já no início da década de 80, encontrei-o em Olhos<br />

D’Água, onde os malucos beleza de Brasília se reuniam para trocar<br />

roupas e sapatos usa<strong>do</strong>s por artesanatos locais. Pezão fazia parte <strong>do</strong><br />

Paraibola, “o Sex Pistols <strong>do</strong> forró candango”. Lançava seus primeiros<br />

livros de poesia mimeografa<strong>do</strong>s. Um repentista urbano, destemi<strong>do</strong><br />

como to<strong>do</strong> cangaceiro. Nos encontramos pela última vez em 2000 no<br />

lançamento <strong>do</strong> meu livro. “Você é o príncipe da poesia - repetia para<br />

to<strong>do</strong>s os poetas - no que emendava: E eu sou o rei”.<br />

Num final de semana de dezembro de 2003, Pezão pegou carona<br />

com amigos para ir à Feira de Trocas <strong>do</strong>s Olhos D’Água. No meio<br />

<strong>do</strong> caminho, duas garotas também pediam carona. Gentleman, saiu <strong>do</strong><br />

carro e deu lugar para as “princesas”. Retornou à estrada com o dedão<br />

em pé. Os amigos e as meninas chegaram à cidade, mas o poeta não<br />

chegou. O carro em que viajava capotou: só ele morreu. No enterro,<br />

várias tribos reunidas, o forró comen<strong>do</strong> solto e as garrafas vazias de<br />

vinho e de cachaça espalhadas no chão. As pessoas das outras capelas<br />

não entendiam, todas embasbacadas, <strong>ao</strong>s assistir o ritual daqueles anjos<br />

da noite. De repente, na hora <strong>do</strong> enterro, um pula dentro da cova; em<br />

desespero, pede para ser leva<strong>do</strong> no lugar <strong>do</strong> amigo. Foi uma das mais<br />

belas e verdadeiras homenagens a um poeta.<br />

Parafrasean<strong>do</strong> Itamar Assunção quan<strong>do</strong> na morte de Paulo<br />

Leminski - o músico enviou um fax <strong>ao</strong> poeta já morto - uso essa crônica<br />

para homenageá-lo: “Pezão, aqui é o Zé Carlos, não fui <strong>ao</strong> enterro seu<br />

porque você não irá <strong>ao</strong> meu”.<br />

18 19


Ao filho da iapi ÉDSON CASTRO<br />

PRETENSÃO<br />

Não quero ser<br />

o vigário de sua matriz<br />

nem tão pouco<br />

o operário de sua filial.<br />

Quero ser apenas<br />

uma banquinha de camelô<br />

num ponto bem situa<strong>do</strong> de sua alma,<br />

onde eu possa vender<br />

to<strong>do</strong>s os sonhos...<br />

(PARAÍSO DOS FRAGELADOS)<br />

Capítulo II<br />

Acadêmicos Funda<strong>do</strong>res<br />

e<br />

Imortais<br />

20 21


Percília Júlia Tole<strong>do</strong><br />

PERCÍLIA JÚLIA TOLEDO nasceu<br />

dia 31 de agosto de 1939 em Tabajara,<br />

município de Inhapim/MG. Pioneira <strong>do</strong> ‘P’<br />

Norte, escritora romancista e evangeliza<strong>do</strong>ra<br />

da Legião de Maria, é autora <strong>do</strong>s livros:<br />

“Envolto em Sua Paz” (1988), “Jamais<br />

Esquecerei” (1995), “Difícil Para Viver”<br />

(1998), “O Céu Espera Por Mim” (2003), “O Cavaleiro da Meia Noite”<br />

(2004) e “Gagá, O Gavião Solitário” (2006). É também conhecida<br />

como “Dª PERCÍLIA, a Cora Coralina <strong>Candanga</strong>” por ter estrea<strong>do</strong><br />

tardiamente na literatura e também pela extrema simplicidade que<br />

caracteriza e enriquece suas reminiscências.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: JAMAIS ESQUECEREI<br />

Edição: CONSÓRCIO ASEFE<br />

Ano: 1995<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Céu Espera Por Mim<br />

O céu está coberto de nuvens<br />

Até o horizonte sem fim<br />

A natureza é tão bela<br />

Eu vivo imaginan<strong>do</strong>:<br />

O céu espera por mim<br />

As flores nascem e crescem,<br />

Como crescem as <strong>do</strong> jasmim<br />

Passa o tempo de repente<br />

E não deixo de imaginar<br />

Que o céu espera por mim<br />

O perfume exala<br />

Pelos campos e jardins<br />

Passa dia, passa noite<br />

Continuo imaginan<strong>do</strong><br />

Que o céu espera por mim<br />

Nesse dia ensolara<strong>do</strong><br />

Tenho uma inspiração sem fim<br />

Começo a escrever poemas<br />

Dizen<strong>do</strong> comigo mesma<br />

Que o céu espera por mim<br />

Andan<strong>do</strong> pelas montanhas<br />

Colhen<strong>do</strong> flor no jardim<br />

Eu páro pra descansar<br />

E agradeço <strong>ao</strong> Cria<strong>do</strong>r<br />

Esse céu que espera por mim<br />

22 23


Olho a lua e as estrelas<br />

Ouço o cantar <strong>do</strong> passarinho<br />

Olhan<strong>do</strong> e ven<strong>do</strong> as belezas<br />

Uma voz disse em meu peito<br />

Que o céu espera por mim<br />

Vejo a água jorrar na rocha<br />

E medito sempre assim<br />

Contemplan<strong>do</strong> o ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ventos<br />

O tempo lento a passar<br />

E o céu espera por mim<br />

Nas estradas onde an<strong>do</strong><br />

Vejo a flora e o alecrim<br />

Nas palmeiras cantam os pássaros<br />

De amor vou vislumbran<strong>do</strong><br />

Porque o céu espera por mim<br />

Passan<strong>do</strong> pelas ruas<br />

Andan<strong>do</strong> devagarzinho<br />

Vejo o movimento <strong>do</strong> povo<br />

E imagino fortemente<br />

Que o céu espera por mim<br />

Passean<strong>do</strong> nas campinas<br />

Vou rezan<strong>do</strong> bem baixinho<br />

Vem o sereno da noite<br />

Eu medito em minha mente<br />

Que o céu espera por mim<br />

De manhã, <strong>ao</strong> despertar<br />

Sei que não estou sozinha<br />

As borboletas voan<strong>do</strong><br />

E eu só imaginan<strong>do</strong><br />

O céu que espera por mim<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Nas horas que me repouso<br />

Eu lembro de um caminho<br />

Durmo e começo a sonhar<br />

Abro a janela e contemplo<br />

O céu que espera por mim<br />

Aquele espaço azula<strong>do</strong><br />

Onde cantam os anjinhos<br />

Fico agradecen<strong>do</strong> a Deus<br />

Mesmo sem eu merecer<br />

Este céu que espera por mim<br />

Espera por to<strong>do</strong>s nós<br />

Teremos o mesmo fim<br />

As nuvens escuras passam<br />

Não perco as esperanças<br />

No céu que espera por mim.<br />

Meu Deus<br />

Ocupe minha mente de vossas palavras tão preciosas<br />

e meus lábios anunciem sem cessar vossos louvores,<br />

Porque vós sois o meu Rei.<br />

Minha casa seja vossa morada<br />

e meus filhos vossos servos,<br />

Pois tu<strong>do</strong> quanto possuo vos pertence.<br />

Meu ser se encha da fé mais profunda,<br />

meus caminhos sejam ilumina<strong>do</strong>s<br />

à luz <strong>do</strong>s vossos olhos,<br />

E nessa luz, seja eu purificada.<br />

Meu Deus, só vos peço<br />

que minha geração alcance a tua salvação eterna,<br />

E meu coração esteja sempre transbordan<strong>do</strong><br />

de amor e verdade,<br />

Então meu ser por inteiro estará<br />

envolto em sua paz!<br />

24 25


Donzílio Luiz de Oliveira<br />

DONZÍLIO LUIZ DE OLIVEIRA<br />

nasceu dia 05 de agosto de 1933 no<br />

sítio Gameleira, município de Itapetiim/<br />

PE. Pioneiro da Ceilândia, poeta cordelista e<br />

professor “autodidata” da Língua Portuguesa,<br />

é autor <strong>do</strong>s livros: “Ranchos & Garranchos”<br />

(1996), “Vôo Livre” (2002), “Onze Poemas<br />

Matutos” (2004), “Sendas Invisíveis” (2005), “Pinto <strong>do</strong> Monteiro &<br />

Nonato Costa” (2006), “Tópicos Gramaticais da Língua Portuguesa”<br />

(2007) e “Duas Mil Charadas” (2008). É também conheci<strong>do</strong> como<br />

“DOM DONZÍLIO. o Camões <strong>do</strong> Cordel Candango” por ser<br />

considera<strong>do</strong> “o maior sonetista da História <strong>Candanga</strong>”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: TÓPICOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA<br />

Editora: CONHECIMENTO<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

CandangoCei<br />

Ceilândia, Ceilândia, nasceste e cresceste,<br />

Depressa chegaste à maioridade,<br />

Sem muitos saberem definir por que<br />

A palavra CEI deu nome à cidade;<br />

Aquela “campanha de erradicação<br />

para as invasões” tem a sigla CEI.<br />

podemos dizer, sem me<strong>do</strong> de errar,<br />

que o nome Ceilândia nasceu dessa lei.<br />

Viemos da Vila <strong>do</strong> IAPI,<br />

Das vilas Tenório, Colombo, Esperança,<br />

Morro <strong>do</strong> Urubu e <strong>do</strong> Querosene,<br />

Foi mais um despejo que uma mudança;<br />

Abriram as ruas, demarcaram as quadras,<br />

dividiram em lotes, puseram endereços<br />

e jogaram a gente no meio <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>,<br />

como quem afirma: pobre não tem preço.<br />

Ceilândia, tu foste criada de um erro,<br />

Que uniu preconceito e discriminação;<br />

Nós fomos expulsos <strong>do</strong> meio <strong>do</strong>s ricos<br />

Para dá lugar a prédio e mansão.<br />

Para os nordestinos, migrantes, “araras”,<br />

és o maior ponto de concentração,<br />

exibin<strong>do</strong> estórias, forró, cantoria,<br />

cultura de um povo de uma região.<br />

26 27


Ceilândia, Ceilândia, tu, por muitos anos,<br />

Foste conhecida como “<strong>do</strong>rmitório”,<br />

Depois <strong>do</strong> progresso, estás sen<strong>do</strong> agora<br />

A maior cidade deste território,<br />

Invejan<strong>do</strong> aqueles que nos expulsaram,<br />

Agora, Ceilândia, és grande também.<br />

Para os tubarões mostran<strong>do</strong> que somos<br />

Humildes, mas dignos de morarmos bem.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

As Paixões<br />

(Soneto sem a vogal “U”)<br />

No rol de todas as paixões vividas<br />

Só essa foi sincera e verdadeira<br />

Pois combinava regras e medidas<br />

Para se ser feliz a vida inteira<br />

Mas logo, por razões desconhecidas<br />

Se foi modifican<strong>do</strong>, de maneira<br />

A se classificar como perdidas<br />

Todas as chances de transpor barreiras;<br />

E não haven<strong>do</strong> possibilidade<br />

De novas fases de prosperidade<br />

O jeito é nos rendermos <strong>ao</strong>s fracassos;<br />

Mas mesmo admitin<strong>do</strong>-se as derrotas<br />

Ainda há chances e não tão remotas<br />

Para transposição <strong>do</strong>s embaraços.<br />

28 29


Ao poeta cerratense NIKI<br />

VIVO NA MARGEM<br />

(para alguns babacas que me chamam de<br />

poeta marginal)<br />

Eu só espero<br />

é o dia em que esse país<br />

seja realmente democrático<br />

e a juventude passe a ler e escrever<br />

<strong>ao</strong> invés de se alienar<br />

com as drogas marinhas da TV<br />

E o trabalha<strong>do</strong>r tenha na mesa<br />

<strong>ao</strong> invés de conta de água<br />

de luz, de esgoto e de lixo<br />

(COMIDA)<br />

sem ser obriga<strong>do</strong> a viver na sarjeta<br />

Aí, vou convidar<br />

sua netinha e sobrinha<br />

sua mulherzinha e mãezinha<br />

e por que não, sua vovozinha<br />

para fazer um tremen<strong>do</strong> zulubabel<br />

nas margens <strong>do</strong> paranoá.<br />

(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)<br />

Capítulo III<br />

Membros Efetivos<br />

e<br />

Autores Locais<br />

30 31


Adauto de Souza<br />

ADAUTO FRANCISCO DE SOUZA<br />

nasceu dia 27 de maio de 1956 em<br />

Ituaçu/BA. Mora<strong>do</strong>r pioneiro da Ceilândia,<br />

onde sempre residiu desde que chegou<br />

em Brasília. É funcionário <strong>do</strong> SERPRO,<br />

compositor e músico funda<strong>do</strong>r da banda<br />

“Conexão <strong>do</strong> Reggae”. Militante histórico<br />

<strong>do</strong> movimento cultural local, foi o idealiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Centro Cultural<br />

e Poliesportivo da Ceilândia – cujas iniciais remontam à ideológica<br />

sigla da antiga União Soviética - em prol <strong>do</strong> qual publicou a primeira<br />

coletânea da cidade: “Ceilândia Grita Poesia” em 1987. Como escritor,<br />

estréia agora com a “Oficina da Minha Vida”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CEILÂNDIA GRITA POESIA<br />

Edição: CCPC<br />

Ano: 1987<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Porque grito poesia<br />

pela razão de não mais silenciar<br />

pelo motivo de já não mais agüentar<br />

um grito preso na garganta<br />

na mente, sufocan<strong>do</strong> o pensamento<br />

um grito, um grito só, será o bastante<br />

para limpar minha alma<br />

para despoluir o coração<br />

para desintoxicar o sangue<br />

mistura<strong>do</strong> <strong>ao</strong> veneno<br />

um grito chama<strong>do</strong> poesia<br />

para atender a tantos outros<br />

gritos de socorro, para acalmar<br />

o grito da fome<br />

o grito <strong>do</strong> me<strong>do</strong><br />

o grito de solidão<br />

o grito de covardia<br />

o grito de <strong>do</strong>r<br />

o grito de vida<br />

o grito de morte<br />

grito de poesia é um resumo compacto<br />

de tantos gritos que devemos segurar<br />

de outros gritos para não chorar...<br />

(Pedro Araújo)<br />

32 33


Adelaide de Paula<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

A infância na masmorra<br />

da indiferença<br />

(fragmentos)<br />

Até o século XVII, a infância como conhecemos hoje, inexistia.<br />

Crianças e adultos compartilhavam das mesmas experiências; vida e<br />

morte eram vivências comuns a to<strong>do</strong>s. A própria família era uma<br />

A<br />

instituição pluricelular e complexa, onde os laços afetivos eram tênues<br />

DELAIDE DE PAULA SANTOS<br />

e frios. As mães “pariam uma extensa prole” e diante da escassez de<br />

nasceu dia 13 de novembro em Brasília/<br />

recursos e assistência médica, viam seus filhos perecerem até a morte. O<br />

DF. Mestra em Teoria Crítica Feminista pela<br />

sentimento de maternidade, tão exacerba<strong>do</strong> “nos tempos modernos”,<br />

UnB, é professora universitária. Em 2006<br />

era um da<strong>do</strong> inexpressivo naquele perío<strong>do</strong>.<br />

organizou o antológico sarau literário cuja<br />

Com a ascensão da burguesia, um outro conceito de família<br />

meta era a criação e fundação da academia de<br />

começou a se delinear. A preocupação com a destinação da herança, fez<br />

letras da Ceilândia, mas que depois preferiu<br />

com que a criança burguesa ganhasse um novo status social. Tornava-se<br />

somar seus esforços à já propalada ACLAP, da qual hoje é uma ilustre<br />

urgente a formação e a educação da mente infantil para conviver em um<br />

membro funda<strong>do</strong>ra, diretora de “crítica literária”.<br />

outro contexto sócio-cultural.<br />

Não obstante à revolução que alcançou a pequena burguesia,<br />

a massa forma<strong>do</strong>ra da mão-de-obra feudal, <strong>do</strong>s vassalos, permaneceu<br />

na mesma condição aviltante; destituí<strong>do</strong>s de direitos e oportunidades.<br />

Os filhos da vassalagem perambulavam sem ocupação ou coisa que<br />

os valesse. Tal situação, se perdurasse, colocaria em risco o destino da<br />

descendência burguesa. Afinal, sem mão-de-obra especializada, quem<br />

serviria <strong>ao</strong>s próximos aristocratas? Era necessário criar uma instituição<br />

que não só retirasse as crianças das ruas, mas que as disciplinasse em<br />

torno <strong>do</strong> ideário burguês, que destinava <strong>ao</strong>s que serviam a obediência e<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

a submissão. Assim surgiu a escola.<br />

Muito tempo transcorreu desde então, todavia não se alterou o<br />

quadro social de crianças e a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> afora. A violência,<br />

em seu senti<strong>do</strong> mais amplo, se impõe onde o descaso impera. Apesar de<br />

Sarau: ACADEMIA DE LETRAS DA CEILÂNDIA<br />

penetrar em todas as classes sociais, é na periferia das grandes cidades<br />

Jornada: FACULDADE DE LETRAS/FACEB<br />

Ano: 2006<br />

onde ela se revela e se declara com maior intensidade. Assim como<br />

ocorria no século XVII, as crianças continuam alijadas <strong>do</strong>s direitos<br />

inerentes a elas, como o direito à vida.<br />

É inaceitável que em plena pós-modernidade se perpetue<br />

valores medievais. E que o Esta<strong>do</strong> permaneça omisso diante da situação<br />

degradante em que se encontram crianças e a<strong>do</strong>lescentes, condena<strong>do</strong>s a<br />

viver na masmorra da indiferença social.<br />

34 35


André Rocha<br />

ANDRÉ LUIZ GONÇALVES DA<br />

ROCHA nasceu dia 12 de agosto de<br />

1975 em Brasília/DF. É mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong><br />

Setor “O” da Ceilândia. Fez to<strong>do</strong> o ensino<br />

fundamental e médio em escolas públicas,<br />

forman<strong>do</strong>-se em Magistério pela Escola<br />

Normal da Ceilândia. Já participou de várias<br />

coletâneas, destacan<strong>do</strong>-se “Mil Poetas Brasileiros” <strong>do</strong> Instituto da<br />

Poesia Internacional de Porto Alegre/RS em 1994, “Solte os Bichos”<br />

da Escola Normal da Ceilândia/DF em 1995 e a “Ceilândia in Versos”<br />

em 1996. Seu patrono “literário” na ACLAP é Renato Russo, devi<strong>do</strong><br />

sua forte ligação com a cultura local.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: QUASE TODOS SENTIMENTOS EM VERSOS<br />

Editora: ALGR<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

BrasILHA<br />

Brasília, até hoje melhor não se viu<br />

Suaves formas, frio concreto.<br />

Afinal quem te construiu<br />

Só leva o título de arquiteto?<br />

Brasília de pedra e de flor<br />

Qual seria melhor inspiração?<br />

Brasília também de fel e <strong>do</strong>r<br />

Quem teria a explicação?<br />

Brasília <strong>do</strong> herói e <strong>do</strong> cidadão<br />

Cada dia mais tenta viver.<br />

Brasília <strong>do</strong> burocrata e <strong>do</strong> ladrão<br />

Quem tentará se defender?<br />

Brasília que tanto se mostra bela<br />

Do passa<strong>do</strong> <strong>ao</strong> futuro em um segun<strong>do</strong>.<br />

Apesar <strong>do</strong> que entristece e traz seqüela<br />

Ainda te quero a outro lugar no mun<strong>do</strong>.<br />

Brasília, mistura da mistura brasileira<br />

Cada cidadão que é acolhi<strong>do</strong>.<br />

E mesmo na passagem mais ligeira<br />

A tu<strong>do</strong> de bom acaba rendi<strong>do</strong>.<br />

Aos anônimos e <strong>ao</strong>s conheci<strong>do</strong>s<br />

Minha homenagem!<br />

Aos mártires e alguns esqueci<strong>do</strong>s,<br />

Minha homenagem!<br />

Aos vence<strong>do</strong>res e <strong>ao</strong>s venci<strong>do</strong>s,<br />

Minha homenagem!<br />

Aos políticos oportunistas e bandi<strong>do</strong>s,<br />

Minha mensagem!<br />

36 37


Antonio Soares<br />

ANTONIO SOARES TEIXEIRA<br />

nasceu dia 27 de novembro de 1956<br />

em Teresina/PI. Apesar de não residir<br />

propriamente no Setor Privê, acompanhou<br />

o nasce<strong>do</strong>uro dessa comunidade pelos laços<br />

ambientais com a Chácara das Águas - “o<br />

cartão postal verde da Ceilândia”. Foi nesse<br />

paraíso ecológico local que escreveu “A Lenda da Princesa Bromélia<br />

& o Surgimento <strong>do</strong> Rio Descoberto”. Publicou em 2003 o livro<br />

“Passageiro <strong>do</strong> Inferno” , cujo roteiro para cinema conta com mais de<br />

mil personagens. É cineasta, jornalista e ambientalista. Presidente da<br />

Fundação Sangue Verde, é também membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: REVISTA SANGUE VERDE<br />

Editora: FUNDAÇÃO SANGUE VERDE<br />

Ano: 2001<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Paraíso<br />

(fragmentos)<br />

O vento é forte e balança as árvores<br />

A chuva cai e o orvalho é frio<br />

Vea<strong>do</strong> corre quan<strong>do</strong> o cachorro late<br />

A inhuma canta louvan<strong>do</strong> os riachos<br />

E eu aqui plantan<strong>do</strong> a esperança de um dia voltar<br />

Para matar a saudade <strong>do</strong> verde deste lugar<br />

E <strong>do</strong> canto <strong>do</strong> sabiá,<br />

Do estalar da faveira<br />

Chaman<strong>do</strong> toda a bicharada.<br />

38 39


Assis Coelho<br />

fRANCISCO DE ASSIS COELHO é<br />

natural de Viçosa no Ceará. Forma<strong>do</strong> em<br />

Letras pelo UniCEUB, é professor de inglês<br />

na Secretaria de Educação <strong>do</strong> Distrito Federal<br />

(CILCeilândia). Publicou em 2000 o livro<br />

“Labirintos”, sobre o qual obteve o seguinte<br />

comentário <strong>do</strong> grande Poeta Muralha: “Em<br />

se tratan<strong>do</strong> de contos, hei de reconhecer que o autor recria o cotidiano<br />

como se estivesse descreven<strong>do</strong> a imaginação”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: LABIRINTOS<br />

Editora: MINAS<br />

Ano: 2000<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Caminhada<br />

Os <strong>do</strong>is caminhavam tomban<strong>do</strong>. Pareciam leva<strong>do</strong>s pelo vento.<br />

Um mais abasta<strong>do</strong> possuía um chinelo. O outro, descalço. Seguiam<br />

indiferentes a to<strong>do</strong>s. O menos bêba<strong>do</strong> sobraçava um saco de papel.<br />

Era fácil imaginar o conteú<strong>do</strong>. O descalço parava tentan<strong>do</strong> suspender a<br />

bermuda que relutava em cair. Por estar menos bêba<strong>do</strong>, ainda guardava<br />

um pouco de preocupação com a decência.<br />

Parece que levavam consigo uma certeza de “que tinham de ir<br />

em frente”. Para onde? Para quê? Continuavam in<strong>do</strong> em frente, embora<br />

tu<strong>do</strong> lutasse pelo contrário.<br />

Paravam de vez em quan<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> sôfregos goles que caíam<br />

em suas barbas crescidas e amareladas pela nicotina.<br />

Na tentativa de manter um certo equilíbrio, o baixinho, descalço,<br />

empunhava a barriga para frente, arquean<strong>do</strong> seu corpo, dan<strong>do</strong>-lhe um<br />

ar patético; mas necessário para seguir em frente. Mesmo com grande<br />

dificuldade de equilíbrio, parecia andar levemente. O outro seguia em<br />

frente, tentan<strong>do</strong> demonstrar um certo ar de superioridade por estar um<br />

pouco menos embriaga<strong>do</strong>.<br />

Com pouco tempo, o baixinho encostou-se num poste,<br />

articulan<strong>do</strong> palavras incompreensíveis e gestos que indicavam pedi<strong>do</strong>s<br />

de espera <strong>ao</strong> companheiro que seguia em frente.<br />

O outro seguia, determina<strong>do</strong> a chegar a algum lugar que ele<br />

mesmo não sabia dizer qual era. Relutava, também, em parar e perder o<br />

equilíbrio. Cair naquele momento seria inaceitável, pois não atingiria o<br />

objetivo traça<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> lúci<strong>do</strong>s.<br />

Com essa vontade inexorável de avançar, o baixinho passou sem<br />

perceber o sinal vermelho, atravessan<strong>do</strong>-o sem olhar para os la<strong>do</strong>s e sem<br />

ouvir os xingamentos que se seguiram. Seguiu indiferente. Subitamente<br />

olhou para trás, lembran<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> companheiro. Viu muita gente parada<br />

<strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r de um corpo caí<strong>do</strong>. Não conseguia distinguir quem estava<br />

no chão. No meio de tanta gente, não via mais seu companheiro. Será<br />

que tinha caí<strong>do</strong>, como era de costume, e fica<strong>do</strong> pelo chão? Era melhor<br />

seguir em frente. Depois, se encontrariam.<br />

40 41


Chico Ivo<br />

CHICO IVO PEIXOTO nasceu dia 03<br />

de julho de 1949 no sítio Pedra Furada,<br />

município de Jaguaretama/CE. Tornou-se<br />

canta<strong>do</strong>r profissional em 1967, participan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s principais Festivais de Repente <strong>do</strong><br />

nordeste e de to<strong>do</strong> o Brasil. Além da parceria<br />

com Dom Donzílio, orgulha-se de já ter se<br />

apresenta<strong>do</strong> até com Ivanil<strong>do</strong> Vilanova – uma lenda vida da cantoria.<br />

Como bom canta<strong>do</strong>r que é, vive mais viajan<strong>do</strong> <strong>do</strong> que em casa, sen<strong>do</strong><br />

por isso mesmo designa<strong>do</strong> “o embaixa<strong>do</strong>r da ACLAP” – seu membro<br />

funda<strong>do</strong>r e “seu propaga<strong>do</strong>r, por to<strong>do</strong>s os cantos que for”. Escolheu<br />

como sua patronesse a conterrânea cearense Raquel de Queiróz.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

CD: MISCELÂNIA CULTURAL<br />

Gravação: PRÓPRIA<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

To<strong>do</strong> Fumante Carrega<br />

A Morte Acesa na Mão<br />

O vício fere e ilude<br />

Traz a pior conseqüência<br />

Abrevia a existência<br />

Empurra pro ataúde<br />

Um desgaste pra saúde<br />

Um blecaute no pulmão<br />

Nas veias <strong>do</strong> coração<br />

A nicotina se agrega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega<br />

A morte acesa na mão.<br />

No conhecimento pleno<br />

Esse mal marcou um passo<br />

A droga ganhou espaço<br />

O vício ganhou terreno<br />

A fumaça é um veneno<br />

O cheiro é poluição<br />

À própria destruição<br />

O vicia<strong>do</strong> se entrega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega<br />

A morte acesa na mão.<br />

To<strong>do</strong> fumante costuma<br />

Ser no vício mais atento<br />

Descarta o próprio alimento<br />

Não liga coisa nenhuma<br />

Acende o cigarro e fuma<br />

Nem lembra da refeição<br />

Tem reflexo na visão<br />

Mas a consciência é cega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega<br />

A morte acesa na mão.<br />

Tu<strong>do</strong> o tabagismo aumenta:<br />

Usuário se perverte<br />

O ministério adverte<br />

A medicina orienta<br />

A Cruz Vermelha comenta<br />

O SUS dá explicação<br />

O colégio entra em ação<br />

A igreja também prega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega<br />

A morte acesa na mão.<br />

Torra<strong>do</strong>r de economias<br />

Semea<strong>do</strong>r de desgraças<br />

É encontra<strong>do</strong> nas praças<br />

Centros e periferias<br />

Lanchonetes, padarias<br />

Banca, cinema e saguão<br />

Hotel, merca<strong>do</strong>, salão<br />

Cassino, bar e bodega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega<br />

A morte acesa na mão.<br />

Quem faz exame de escarro<br />

Vê o mal onde se arrancha<br />

Tem no pulmão uma mancha<br />

E na garganta um pigarro<br />

Quan<strong>do</strong> lhe falta cigarro<br />

Entra em alucinação<br />

Desacor<strong>do</strong>, depressão<br />

Se não fumar, não sossega<br />

To<strong>do</strong> fumante carrega.<br />

A morte acesa na mão.<br />

42 43


Clinaura Macê<strong>do</strong><br />

CLINAURA MACÊDO nasceu em 17<br />

de abril em Valença/PI. Graduada em<br />

violino pela UnB, é violinista funda<strong>do</strong>ra da<br />

Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Teatro Nacional<br />

Cláudio Santoro desde 1979. Atua também<br />

como orienta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s violinistas da<br />

Orquestra Sinfônica de Teresina. Publicou<br />

em 2006 o livro “Histórias de uma Orquestra em Cordel” e integrou<br />

a coletânea “Geografia Poética <strong>do</strong> Distrito Federal” lançada em 2007.<br />

Além da ACLAP, também faz parte <strong>do</strong> Comitê Independente de Apoio<br />

às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB. Em outubro de 2007 foi agraciada com a<br />

Comenda da Ordem Estadual <strong>do</strong> Mérito Renascença <strong>do</strong> Piauí.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: HISTÓRIAS DE UMA ORQUESTRA EM CORDEL<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Cantiga de Amô<br />

(fragmentos)<br />

Home espie, seu minino<br />

O canto <strong>do</strong> violino<br />

Cala inté um sabiá<br />

Faz mais de trezentos ano<br />

Um dia um italiano<br />

Disse: “apois num me ingano<br />

É tu que sabe cantá!”<br />

No meu ombro, seu minino<br />

Cumigo, o meu violino<br />

Me agüentô sem reclamá<br />

Cumpanheiro to<strong>do</strong> dia<br />

Nas dô e nas alegria<br />

Nos choro e nas cantoria<br />

Te chamei, tu tava lá.<br />

No mei dessa confusão<br />

De luta e disilusão<br />

É sagra<strong>do</strong> o teu lugá<br />

Sabiá da sinfonia<br />

Quan<strong>do</strong> eu te vi num sabia<br />

A increnca em que eu me metia<br />

E me danei a istudá.<br />

De tu<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> que eu fiz<br />

Numa coisa eu fui feliz<br />

Que foi nunca te deixá<br />

A mais feliz das paixão<br />

A melhó das decisão<br />

Foi toda a dedicação<br />

Que te dei, meu sabiá!<br />

44 45


Conceição Tavares<br />

CONCEIÇÃO DE MARIA TAVAVES<br />

DOS SANTOS nasceu dia 08 de<br />

dezembro - “dia da família” - em Rio<br />

Grande/MA. Mora<strong>do</strong>ra pioneira <strong>do</strong> Setor ‘P’<br />

Norte, está em Ceilândia desde 1979. Como<br />

integrante da paróquia São Marcos e São<br />

Lucas, é catequista e atua em movimentos<br />

com crianças e ainda faz parte - como voluntária - da Associação Fé,<br />

Amor e Cidadania/FACi. Publicou em 2007 o livro “Sonho de uma<br />

Paixão”. É também membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: SONHO DE UMA PAIXÃO<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Pensamentos<br />

46 47<br />

Sentei<br />

Pensei<br />

Te vi<br />

Te senti<br />

Te desejei<br />

Te beijei<br />

Te amei<br />

A porta abriu<br />

Saíste<br />

Partiste<br />

Tua sombra, não vi<br />

Tuas pegadas, deixaste<br />

Sozinha, fiquei<br />

No quarto, teu perfume<br />

No lençol, o teu cheiro<br />

No meu coração, a saudade.


Dukaldas<br />

DUKALDAS (MARIA DO CARMO<br />

PEREIRA DE CALDAS) nasceu dia 28<br />

de março em Araióses/MA. Como professora<br />

na área rural de Brazlândia desenvolveu o<br />

projeto pedagógico que deu origem <strong>ao</strong> seu<br />

primeiro conto infanto-juvenil: “O Boneco<br />

de Milho”. Outra estória que nasceu da sua<br />

práxis didática – agora atuan<strong>do</strong> com crianças no Centro de Ensino<br />

Especial <strong>do</strong> ‘P’ Sul - foi “Terezinha como tantas outras de Jesus”. É<br />

membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP e sua patronesse é Ana Maria Macha<strong>do</strong>.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

DUKALDAS<br />

CONTOS<br />

BRASÍLIA 2007<br />

Título: CONTOS<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Boneco de Milho<br />

(fragmentos)<br />

Em um milharal localiza<strong>do</strong> em uma fazenda, lá no interior de<br />

Minas Gerais, nasceu uma bela espiga bem diferente das demais. Era a<br />

mais rechonchuda de todas.<br />

O <strong>do</strong>no da fazenda não se cansava de admirar, tamanha era a<br />

beleza daquele fruto da terra.<br />

Um dia antes da colheita, uma lagarta muito malvada e gulosa<br />

veio <strong>ao</strong> milharal, a fim de devorar a tal espiga de quem já ouvira falar.<br />

Ao vê-la, lançou-se a ela e a devorou o quanto pôde.<br />

No dia da colheita, o estrago foi nota<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s. Da bela<br />

espiga só restaram alguns grãos, palha e sabugo. Deixaram-na então,<br />

sozinha e aban<strong>do</strong>nada ali no milharal.<br />

Uma menina pobre, filha de um emprega<strong>do</strong> da fazenda, ven<strong>do</strong><br />

aquela espiga jogada, pegou-a em seus braços e levou para casa.<br />

Chegan<strong>do</strong> lá, transformou-a em um lin<strong>do</strong> boneco, seu único<br />

brinque<strong>do</strong>, e passaram a brincar juntos constantemente.<br />

Passan<strong>do</strong> alguns anos, a menina cresceu, se casou e foi<br />

embora deixan<strong>do</strong> mais uma vez o boneco - outrora só uma espiga -<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>.<br />

A sorte <strong>do</strong> boneco é que desde que fora transforma<strong>do</strong> em<br />

brinque<strong>do</strong> especial, ganhou uma fada madrinha que estava sempre por<br />

perto; para que ele, mais uma vez não ficasse sozinho, resolveu ajudálo.<br />

Com sua varinha mágica fez plim, plim, plim na cabeça <strong>do</strong> boneco,<br />

dan<strong>do</strong>-lhe vida e também uma missão: a partir daquele dia seria protetor<br />

<strong>do</strong>s milharais. Para isso, contava com uma arma poderosa, uma bolsa<br />

conten<strong>do</strong> um pó amarelo que, em contato com a pele, causava coceira.<br />

Os inimigos <strong>do</strong>s milharais que se cuidem!!!<br />

(*)Conto extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> projeto pedagógico homônimo.<br />

48 49


Ezequiel CeilanDias Cruz<br />

EZEQUIEL DIAS CRUZ nasceu em<br />

Lizarda/TO e mora na Ceilândia desde<br />

1978. Professor da SEDF desde 1992, já<br />

lecionou em mais de 32 escolas da cidade,<br />

lançou mais de uma dúzia de livretos e<br />

instalou mais de 600 espelhos escolas <strong>do</strong><br />

DF. Filho de mãe nordestina - Dona Luíza<br />

– gosta de dizer que tem alma nordestina<br />

pela forte influência recebida da professora primária que desde os nove<br />

anos lhe ensinou a ler Camilo Castelo Branco e outros clássicos da<br />

literatura brasileira, além das “páginas mágicas da bíblia”. Ti<strong>do</strong> como<br />

uma personalidade polêmica, já se acorrentou no centro da cidade,<br />

foi processa<strong>do</strong> por políticos cita<strong>do</strong>s em seus livretos e saiu candidato<br />

a deputa<strong>do</strong> distrital nas eleições de 2010. Em seu livro “Se Deus é<br />

Brasileiro, Jesus é Nordestino”, além das críticas políticas, discute e<br />

propõe a escolha de uma nova nomenclatura para a região administrativa<br />

da Ceilândia.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: SE DEUS É BRASILEIRO, JESUS É NORDESTINO<br />

Edição: INDEPENDENTE<br />

Ano: 2002<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

S/Título<br />

Votar sem refletir é cuspir para o alto<br />

é empurrar com a barriga a roncar<br />

É deixar como está, para ver como será<br />

o futuro <strong>do</strong> país.<br />

É deixar para amanhã o hoje <strong>do</strong> Brasil<br />

é mandar para a ponte que caiu<br />

nossas crianças, nossos jovens, nossos velhos<br />

É acreditar que está assim porque Deus quis.<br />

Votar sem pesquisar o passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito<br />

é condenar nosso presente e o futuro<br />

É deixar que o safa<strong>do</strong> seja eleito<br />

mesmo depois de ser cassa<strong>do</strong> o infeliz.<br />

Votar sem atentar, sem refletir e sem pensar<br />

é entregar <strong>ao</strong> estrangeiro as riquezas nacionais<br />

É dizer que to<strong>do</strong>s são iguais<br />

E a Ceilândia assim não pode ser feliz.<br />

Votar sem ter vontade de mudar<br />

é o peca<strong>do</strong> de quem vota mal<br />

Pois aquele que não pensa pra votar<br />

é o culpa<strong>do</strong> por Fernan<strong>do</strong>s e Roriz.<br />

50 51


Gil D’La Rosa<br />

GIL D’LA ROSA (pseudônimo de<br />

GILMAR CORREA DOS SANTOS)<br />

é engenheiro florestal e de sistema. Já foi<br />

astrólogo, hippie, produtor cultural, instrutor<br />

e praticante de yoga, entre outras tentativas<br />

de expressão nesses seus - segun<strong>do</strong> o próprio<br />

- bem vivi<strong>do</strong>s quarenta e tantos anos. Pois,<br />

ele acredita piamente no que disse Albert Einstein: “Conhecimento é<br />

experiência, qualquer outra coisa é apenas informação”. Publicou em<br />

2007 o livro “Mulher, Invenção <strong>do</strong> Diabo”, numa referência à temática<br />

feminina na literatura de cordel e também à “Divina Comédia” de<br />

Dante Alighieri.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: MULHER INVENÇÃO DO DIABO<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Canto LII<br />

Eis que a mulher se apossou <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

E o Diabo alcançou o seu intuito<br />

Ao ver o sucesso <strong>do</strong> seu invento<br />

Que exercen<strong>do</strong> um poder profun<strong>do</strong><br />

Relegou esses machos <strong>ao</strong> submun<strong>do</strong><br />

De obedecer-lhe às ordens no instante<br />

Dedica<strong>do</strong>s, sem hesitar. Não obstante,<br />

O regozijo se estampa na cara<br />

Do demônio, que com alegria rara<br />

Festeja o seu <strong>do</strong>mínio constante.<br />

52 53


Israel ângelo<br />

ISRAEL ÂNGELO PEREIRA nasceu<br />

dia 07 de maio de 1978 em Crateús/CE.<br />

Chegou em Brasília com apenas dez meses<br />

de idade. Em 2003 participou <strong>do</strong> concurso<br />

que elegeu o hino oficial da Ceilândia,<br />

quan<strong>do</strong> chegou à final. É poeta e já atuou<br />

como <strong>do</strong>cente voluntário de literatura no<br />

pré-vestibular da associação FACi. É também agente voluntário da<br />

Mala <strong>do</strong> Livro desde 2003 (um projeto da Secretária de Cultura), sen<strong>do</strong><br />

responsável pelas estações culturais no metrô de Ceilândia. Funda<strong>do</strong>r<br />

da ong “O Ninho <strong>do</strong> Con<strong>do</strong>r” e profun<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> “poeta<br />

<strong>do</strong>s escravos”, é conheci<strong>do</strong> como “ISRAEL âNGELO, El Con<strong>do</strong>r<br />

Candango”. É o membro funda<strong>do</strong>r “caçula” da ACLAP.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: VOO POÉTICO DO CONDOR<br />

Editora e Gráfica: ARTLETRAS<br />

Ano: 2011<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Navio Brasileiro<br />

Nesse abissal onde o céu vai <strong>ao</strong> mar<br />

Um dia é perene nesse total martírio<br />

O sol! A lua! Provam meu falar<br />

Dan<strong>do</strong> asas a ser um passarinho.<br />

Tenho asa... pequena, mas sou um Con<strong>do</strong>r<br />

Dessa outrora dantesca não vou olvidar<br />

Faço da lembrança meu estro com amor<br />

Nessa terra, o poeta não pode parar.<br />

Rei! Dessa terra volta o cat´vo a lutar<br />

Hoje o antro é o nosso martírio<br />

Quero ser súdito, mas o bem lograr<br />

E ser o mar que recebe água <strong>do</strong> rio...<br />

Sen<strong>do</strong> aspirante conheço essa história<br />

Tão dantesca que no estro fui deplorar<br />

Ao abissal a vida descia e outros sorriam<br />

Fazen<strong>do</strong> o Con<strong>do</strong>r esse porvir mudar.<br />

Manc´bo bar<strong>do</strong> por muitos repudia<strong>do</strong><br />

Defenden<strong>do</strong> a antítese <strong>ao</strong> seu viver<br />

Na praça foi plausív´l, isso é lin<strong>do</strong>!<br />

Uma outrora que não consigo ver.<br />

Hoje a liberdade é o prime´ro vôo<br />

Um Con<strong>do</strong>r viven<strong>do</strong> como um passarinho<br />

Liberdade que a vida não sonhou<br />

Um navio terrestre em cada ninho.<br />

54 55


João Batista<br />

JOÃO BATISTA MACHADO VIEIRA<br />

nasceu dia 23 de setembro de 1952 em<br />

União/PI. Mora<strong>do</strong>r pioneiro da “Expansão<br />

<strong>do</strong> Setor O”, está em Ceilândia desde 1985.<br />

Já trabalhou como faxineiro no Banco <strong>do</strong><br />

Brasil e hoje é servi<strong>do</strong>r público da Secretaria<br />

de Educação. É forma<strong>do</strong> em jornalismo<br />

comunitário pelo histórico projeto “NÓS da Ceilândia”, desenvolvi<strong>do</strong><br />

no Decanato de Extensão da UnB em 1989. Publicou em 1995 o livropainel<br />

“União <strong>do</strong>s Colunistas Brasileiros”. Pelo seu trabalho jornalístico<br />

nos periódicos locais e pela sua função na academia como diretor de<br />

imprensa - ten<strong>do</strong> remeti<strong>do</strong> mais de “mil cartas” - é conheci<strong>do</strong> como<br />

“JOÃO BATISTA, o Cronista Candango”. É membro funda<strong>do</strong>r da<br />

ACLAP, onde tem como patrono o sau<strong>do</strong>so poeta Leão <strong>Som</strong>bra <strong>do</strong><br />

Norte Fontes - funda<strong>do</strong>r da Academia Taguatinguense de Letras e seu<br />

conterrâneo piauiense.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: VI CONCURSO LITERÁRIO<br />

Editora: ASEFE<br />

Ano: 1997<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Crônica da Minha Vida<br />

(fragmentos)<br />

Cada dia que eu lia<br />

As colunas sociais de Brasília<br />

O meu delírio aumentava<br />

E eu viajava no sonho<br />

De ver meu nome intitulan<strong>do</strong><br />

Minha coluna e a minha foto 3 x 4<br />

Padronizan<strong>do</strong> a coluna João<br />

Batista (em maiúscula, no original)<br />

Rodeada de estrelinhas<br />

Igualmente um cartaz de cinema.<br />

(*) Texto extraí<strong>do</strong> de Conceição de Freitas em Crônica da Cidade.<br />

56 57


Joaquim Bezerra da Nóbrega<br />

JOAQUIM BEZERRA DA NÓBREGA<br />

nasceu dia 20 de abril de 1953 em Santa<br />

Luzia <strong>do</strong> Sabugi/PB. Filho de João Bezerra<br />

da Nóbrega e Julieta Bezerra da Nóbrega,<br />

veio para Brasília em 1969. Inicialmente,<br />

morou na “invasão” da Vila Tenório - no<br />

Núcleo Bandeirante; sen<strong>do</strong> depois removi<strong>do</strong><br />

para a cidade de Ceilândia, onde vive no mesmo “barraco” construí<strong>do</strong><br />

nos primórdios de 1971. Publicou em 1976 o livro “Terracap contra<br />

a Ceilândia” - considera<strong>do</strong> o primeiro livro da história local. É autor<br />

também <strong>do</strong> livro de cordel “A Vida <strong>do</strong> Nordestino”, há muito tempo<br />

produzi<strong>do</strong> e somente agora lança<strong>do</strong>. Admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> poeta matuto<br />

Patativa <strong>do</strong> Assaré, é membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, de onde recebeu a<br />

cadeira acadêmica nº 27 em referência à data de fundação da Ceilândia:<br />

27 de março de 1971.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: TERRACAP CONTRA A CEILÂNDIA<br />

Editora: CHICU´S SCREEN (mimeógrafo)<br />

Ano: 1976<br />

Joaquim é na Ceilândia<br />

O incansável porque há<br />

Anos que aqui cheguei<br />

Quero dizer prá você<br />

Um povo forte e valente<br />

Isto tu<strong>do</strong> minha gente<br />

Muito mais nós vamos ter<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

TERRACAP contra a Ceilândia<br />

(fragmentos)<br />

Leitores eu vou contar<br />

Prestem bastante atenção<br />

O que está acontecen<strong>do</strong><br />

Com parte da população<br />

É o povo de Ceilândia<br />

Que sofre grande aflição<br />

To<strong>do</strong> este pessoal<br />

Morava no Bandeirante<br />

Em seus humildes barracos<br />

Porém não tinha o bastante<br />

Hoje sim que piorou<br />

Pois estão bem mais distante<br />

Quan<strong>do</strong> o caminhão chegava<br />

Jogava tu<strong>do</strong> no chão<br />

A mata era de fazer me<strong>do</strong><br />

Porém não temiam não<br />

De dia debaixo de chuva<br />

De noite era na escuridão<br />

Só se ouvia a noite inteira<br />

A pancada <strong>do</strong> martelo<br />

Trabalhan<strong>do</strong> dia e noite<br />

Naquele mesmo duelo<br />

Só mesmo para aprontar<br />

O amparo para o burguelo<br />

O coita<strong>do</strong> <strong>do</strong> pobre luta<br />

E sempre um pouco anima<strong>do</strong><br />

Faz logo o seu barraquinho<br />

Pensan<strong>do</strong> ter sossega<strong>do</strong><br />

Vem o ricaço e lhe toma<br />

O pobre fica joga<strong>do</strong><br />

Os Incansáveis mora<strong>do</strong>res<br />

Estão lutan<strong>do</strong> prá valer<br />

Com a união de to<strong>do</strong>s<br />

A gente pode vencer<br />

Com a ajuda <strong>do</strong> povo<br />

Tu<strong>do</strong> se pode fazer<br />

O povo da TERRACAP<br />

Não querem se entregar<br />

E não sabem que um dia<br />

Eles sim vão precisar<br />

De um lote bem pequeno<br />

Pra poderem se enterrar<br />

É triste ver pelas ruas<br />

A lama a escorrer<br />

As crianças nela brincan<strong>do</strong><br />

Logo vão a<strong>do</strong>ecer<br />

Se não têm nenhum conforto<br />

Só resta mesmo é morrer<br />

Eu tenho meu barraquinho<br />

Cheio de mato <strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r<br />

Não me deram uma tábua<br />

Foi eu com meu suor<br />

Querem agora me tomar<br />

Sem ter um pingo de dó<br />

Eu também moro em Ceilândia<br />

E digo de coração<br />

To<strong>do</strong>s sonhavam com tu<strong>do</strong><br />

Menos essa exploração<br />

Façam algo por a gente<br />

Que to<strong>do</strong>s somos irmãos.<br />

58 59


José Antonio<br />

JOSÉ ANTONIO DO NASCIMENTO<br />

veio <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> dia 23 de maio de 1960<br />

em Alegre/ES. É professor de Atividades<br />

da Secretaria de Educação. Forma<strong>do</strong> em<br />

artes plásticas pela Universidade de Brasília.<br />

Escreve e esconde to<strong>do</strong>s os textos até que<br />

estes possam emergir por influência de<br />

amigos ou de um sonho próprio. Tem forte ligação com as figuras<br />

de linguagem da poesia. Músico autodidata, compõe e toca desde a<br />

juventude. Já participou de vários festivais de música e poesia. Acredita<br />

que a arte é expressão, e não competição. Oriun<strong>do</strong> de família simples,<br />

evitou sempre a badalação em torno de seus trabalhos, fican<strong>do</strong> por isso,<br />

à margem <strong>do</strong>s movimentos culturais da cidade. Publicou em 2005 o<br />

livro “Giro Sons Com Versos”<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: MUNDO CAROCINHO<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Computa<strong>do</strong>r<br />

COM PUTA DOR<br />

VOCÊ VAI AO MERCADO<br />

FALA COM OS AMIGOS<br />

DEIXA RECADO NA SECRETÁRIA<br />

DIZ NÃO TER TEMPO<br />

COM PUTA DOR<br />

VOCÊ VIAJA O MUNDO INTEIRO<br />

BABA NA IMAGEM DIGITAL<br />

E ENCHE A BOCA D´ÁGUA<br />

PELA COMIDA SEM CHEIRO<br />

COM PUTA DOR<br />

VOCÊ ARRUMA PAQUERA NO JAPÃO<br />

PÕE CHIFRE FRANCÊS NO MARIDO ALEMÃO<br />

VAI A QUALQUER LUGAR NA VELOCIDADE<br />

DA INFORMAÇÃO<br />

FAZ TURISMO DE CABEÇA<br />

ENQUANTO O CORPO CRIA RAÍZES NA CADEIRA<br />

COM PUTA DOR<br />

VOCÊ VIVE O PESADELO DA TECNOLOGIA<br />

VÍTIMA DA SOLIDÃO.<br />

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Léo Maravilha<br />

LÉO MARAVILHA<br />

(pseudônimo de SUE-<br />

LENITO DOS SANTOS)<br />

nasceu dia 11 de dezembro<br />

de 1961 no Morro <strong>do</strong> Urubu<br />

– uma das muitas “invasões”<br />

que abrigavam os candangos<br />

construtores de Brasília.<br />

Pelo fato pitoresco <strong>do</strong> local onde nasceu e também pelo seu destaque<br />

como um <strong>do</strong>s principais compositores de samba-enre<strong>do</strong> <strong>do</strong> DF, hoje é<br />

conheci<strong>do</strong> como “ o Sambista <strong>do</strong> Morro Candango”. Além de funda<strong>do</strong>r<br />

da escola de samba da Ceilândia - a Águia Imperial - é também funda<strong>do</strong>r<br />

e o primeiro presidente da ARCAB (Associação Recreativa e Cultural<br />

Acadêmicos de Brazlândia). Como autêntico “filho da Ceilândia” (seu<br />

avô João Evaristo foi um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> histórico movimento <strong>do</strong>s<br />

Incansáveis), recebeu da ACLAP a cadeira acadêmica nº 35 em referência<br />

<strong>ao</strong> dia em que a cidade completou seu 35º aniversário (27 de março de<br />

2006).<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

ESCOLA DE SAMBA<br />

10 DE MARÇO DE 2005<br />

LÉO MARAVILHA<br />

PRESIDENTE<br />

Escola: ACADÊMICOS DE BRAZLÂNDIA<br />

Desfile: CEILAMBÓDROMO<br />

Ano: 2005<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Foto: Madrinha Ilma<br />

Infância Carente<br />

Eu vim para contar a história da criança<br />

Pobre carente sem lar<br />

Aban<strong>do</strong>nada, tem o mun<strong>do</strong> como herança<br />

Infelizmente o desprezo é seu mal<br />

Vejam o que é desafeto, um problema social<br />

Reza prum santo sem nome<br />

Quan<strong>do</strong> pode ela come, a saúde anda mal<br />

No seu canto escuro<br />

Dorme pensan<strong>do</strong> com as coisas lá <strong>do</strong> céu<br />

Sofre calada, cadê seu Papai Noel?<br />

Sou um artista sem fã<br />

Ainda assim quero viver, sem sofrer<br />

Nesse Brasil abençoa<strong>do</strong><br />

Sou o homem de amanhã<br />

Desse jeito, essa infância carente sem brincadeira<br />

Sem afeto e proteção<br />

Infiltra no submun<strong>do</strong>, no buraco mais profun<strong>do</strong><br />

E de lá, não sai mais não<br />

A economia é de guerra, inerte sem reação<br />

Hoje se fala muito, mas não surge a solução<br />

Vejam como é lin<strong>do</strong> na avenida o carnaval<br />

Vamos fantochean<strong>do</strong> definin<strong>do</strong><br />

A essa gente o bem e o mal.<br />

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Manoel Jevan<br />

MANOEL JEVAN<br />

GOMES DE<br />

OLINDA nasceu dia 26<br />

de outubro de 1963 em São<br />

Gonçalo <strong>do</strong>s Inhamuns,<br />

município de Catarina/CE.<br />

Veio para a Ceilândia em<br />

1979 e mora no ‘P’ Sul desde 1981. É professor de história e pesquisa<strong>do</strong>r<br />

da memória candanga na Ceilândia. Em 1997 lançou o primeiro livro-deparede<br />

da História <strong>do</strong> Brasil: “CEI, a CandangoLÂNDIA é Aqui”, <strong>do</strong><br />

qual se originou o projeto <strong>do</strong> Museu da Memória Viva <strong>do</strong>s Candangos<br />

Incansáveis da Ceilândia. Pelo seu trabalho à frente da SPPCei<br />

(Sociedade <strong>do</strong>s Pesquisa<strong>do</strong>res e Pioneiros da Ceilândia), tornou-se<br />

conheci<strong>do</strong> como “PROFº JEVAN, o Ceilandólogo”. Publicou em 2007<br />

o livro “A Ceilândia Hoje”. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, na qual<br />

a<strong>do</strong>tou orgulhosamente como seu patrono o imortal Poeta Muralha.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: A CEILÂNDIA HOJE<br />

Editora: ART LETRAS<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Perguntas de um Candango que Lê<br />

“E quantos nordestinos com as mãos calejadas<br />

foram expulsos após a inauguração de Brasília?”*<br />

Quem construiu os postais de Brasília?<br />

Nos livros, só constam os nomes <strong>do</strong>s governantes...<br />

Foram eles que ergueram os blocos de concreto?<br />

E a brazuca capital transferida mais de uma vez?<br />

Quem a reconstruiu de novo?<br />

Quais as Casas de Dinda com torneiras <strong>do</strong>uradas<br />

Que abrigaram seus jardineiros?<br />

Na noite em que se construiu a Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />

Para onde foram os candangos da sua construção?<br />

A faraônica Brasília está cheia de eixos e monumentos:<br />

Quem os construiu?<br />

Sobre quem “postaram” seus arquitetos?<br />

As colunas <strong>do</strong> Alvorada - tão decantadas - só continham o palácio?<br />

Mesmo na legendária Matança da Pacheco<br />

Os empreiteiros chamavam por a GEB<br />

Naquela noite em que os confetes os encobriam...<br />

O “peixe-vivo” JK construiu a Bras“ilha”:<br />

Construiu sozinho?<br />

Bernar<strong>do</strong> Sayão desbravou ro<strong>do</strong>vias:<br />

Não tinha <strong>ao</strong> menos um tratorista consigo?<br />

Israel Pinheiro chorou a primeira cova <strong>do</strong><br />

Campo da Esperança: só ele chorou?<br />

Lúcio Costa venceu o concurso <strong>do</strong> Plano Piloto:<br />

Quem mais aqui venceu um concurso?<br />

Cada verso, uma glória...<br />

Quem prepara os seus planos?<br />

De “50 em 5 anos” surge um grande herói...<br />

Quem paga as suas campanhas?<br />

Tantas perguntas... Quantas histórias...<br />

* NEIDE LISBOA, adaptação <strong>do</strong> poema de Bertold Brecht<br />

64 65


Mano Lima<br />

MANO (MANOEL CORDEIRO)<br />

LIMA nasceu dia 21 de junho de 1967<br />

em Coreaú/CE. Está em Brasília desde 1971,<br />

ano em que a ditadura militar promoveu o<br />

primeiro assentamento da capital, com a<br />

“remoção” <strong>do</strong>s candangos para a Ceilândia.<br />

Autor da segunda coletânea da história de<br />

Ceilândia, publicou também em 2001 o livro “Ginga no Cerra<strong>do</strong>”.<br />

Diploma<strong>do</strong> em Estu<strong>do</strong>s Sociais e Jornalismo, foi editor <strong>do</strong> jornal<br />

comunitário “Fala Satélite” e atualmente é assessor de imprensa e<br />

editor da revista “Capoeira em Evidência” da Fundação Ladainha <strong>do</strong><br />

conheci<strong>do</strong> Mestre Gilvan.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CEILÂNDIA IN VERSOS<br />

Editora: LUSTOSA<br />

Ano: 1996<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Retrato <strong>do</strong>s Atos<br />

Ceilândia tem de tu<strong>do</strong>:<br />

o vende<strong>do</strong>r ambulante, disputan<strong>do</strong> o espaço na feira<br />

e, no <strong>do</strong>mingo, alegria<br />

vozes de um alto falante, militantes de um parti<strong>do</strong> atuante<br />

e uma roda de capoeira<br />

é a boemia <strong>do</strong> dia<br />

- Olha o gás, <strong>do</strong>na Luzia!<br />

Mas na poeira das ruas<br />

a criança envolve-se com brinque<strong>do</strong>s improvisa<strong>do</strong>s<br />

vê-se, de longe, o anúncio <strong>do</strong> repara<strong>do</strong>r viajante:<br />

- Conserta-se fogão a gás, geladeira e enceradeira!<br />

Na vastidão, três, quatro crianças nuas<br />

que a miséria não manda prenúncia<br />

no biscateiro o semblante <strong>do</strong> cansaço:<br />

- E conserto pra vida, não tem?<br />

Ora, deixe de besteira<br />

Mulher, hoje não tem feira!<br />

E os legumes, os ciúmes noturnos nas biroscas, nos bares<br />

e a prostituta que me assusta com seu alto preço<br />

o menino travesso:<br />

- Vai graxa, seu moço?<br />

Ceilândia, fonte de to<strong>do</strong>s<br />

o canta<strong>do</strong>r repentista, em versos que ponteia<br />

conta a história de um povo<br />

que veio vin<strong>do</strong>, devagarinho<br />

desvendan<strong>do</strong> o cerra<strong>do</strong>, montan<strong>do</strong> barracos<br />

construin<strong>do</strong> prédios para uma minoria:<br />

- Onde você mora, Ceilândia?<br />

Ceilândia, <strong>do</strong> bêba<strong>do</strong> sentimental<br />

<strong>do</strong>s bastar<strong>do</strong>s vassalos que servem a elite<br />

sem nenhum mérito ou prêmio<br />

- Homem, meu troco<br />

A passagem aumentou!<br />

Não agüento mais violência contra o bolso, contra a vida<br />

e a ferida não curada que o INPS não pagou.<br />

66 67


Marcílio Tabosa<br />

MARCÍLIO TABOSA DE CASTRO<br />

nasceu dia 25 de novembro de<br />

1965 (mas só oficialmente registra<strong>do</strong> em<br />

02/02/1966) em Itapipoca (sen<strong>do</strong> porém sua<br />

família procedente de Monsenhor Tabosa/<br />

CE). Está em Ceilândia desde 1975, lugar<br />

onde cresceu e descreveu suas principais<br />

figuras populares. Artista plástico e ilustra<strong>do</strong>r gráfico, é destacadamente<br />

conheci<strong>do</strong> por suas xilogravuras, as quais podem ser encontradas nos<br />

principais pontos culturais da cidade. Em 2007 tornou-se o primeiro<br />

artista ceilandense a montar uma exposição na Aliança Francesa. Tem<br />

“produzi<strong>do</strong>” o livro “Xilogravuras” e até por isso é conheci<strong>do</strong> como<br />

“M.Tabosa, o J.Borges Candango”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: XILOGRAVURAS<br />

Editor: OSMI VIEIRA<br />

Ano: 2004<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Lata d’Água na Cabeça<br />

(*) Obra-prima da xilogravura, que une os pioneiros da Ceilândia<br />

com os candangos de Brasília pelo elo enigmático das águas.<br />

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Marcos Viana<br />

MARCOS ANTONIO DOS SANTOS<br />

VIANA nasceu dia 17 de fevereiro<br />

de 1964 em Teresina/PI. Forma<strong>do</strong> em<br />

pedagogia, atua na rede pública de ensino<br />

como orienta<strong>do</strong>r educacional. É um exímio<br />

artista plástico - que produz sua própria<br />

matéria-prima e autor da exposição temáticoambiental<br />

“O Cerra<strong>do</strong> Ameaça<strong>do</strong>” - mas que pela sua honesta modéstia<br />

prefere ser chama<strong>do</strong> de “artesão”. Atualmente dedica-se a pesquisas<br />

com grupos indígenas como uma forma de negação à geléia geral da<br />

globalização. Por este seu caráter suy generis, é também chama<strong>do</strong><br />

de “Marquim, o São Francisco Candango”. Publicou em 1994 -<br />

artesanalmente! - o livro “Vivências”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

MARCOS VIANA<br />

VIVÊNCIAS<br />

BRASÍLIA-DF<br />

Título: VIVÊNCIAS<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 1994<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Capital da Esperança<br />

Vocês estão nas ruas<br />

Na margem da pista<br />

À margem da vida<br />

Vocês estão nas ruas<br />

Puxan<strong>do</strong> um trago<br />

Vigian<strong>do</strong> carros<br />

Vocês estão nas ruas<br />

Chupan<strong>do</strong> drops<br />

Chutan<strong>do</strong> latas<br />

Vocês estão nas ruas<br />

Engraxan<strong>do</strong> sapatos<br />

Por um pastel e cal<strong>do</strong><br />

Vocês estão nas ruas<br />

Na boca <strong>do</strong>s caixas<br />

Subin<strong>do</strong> e rolan<strong>do</strong> escadas<br />

Vocês estão nas ruas<br />

Nos chaman<strong>do</strong> de tio<br />

Sem teto, sem família<br />

Vocês estão nas ruas<br />

À margem da pista<br />

Na margem da vida.<br />

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Mariana Lima<br />

MARIANA CARVALHO DE<br />

OLIVEIRA LIMA nasceu dia 03 de<br />

novembro em Matias Olímpio/PI. Sempre<br />

demonstrou inclinação para as letras. Faz da<br />

escrita algo imprescindível para quem tem a<br />

literatura impressa na alma. É graduada em<br />

Letras e Literatura pela Faculdade Cenecista<br />

de Brasília/FACEB e autora <strong>do</strong> livro “Brincan<strong>do</strong> com Poesias” - escrito<br />

em co-autoria com a também professora Suzana Ferraz e ilustra<strong>do</strong><br />

pelo inestimável amigo Neftaly Vieira. Participa <strong>do</strong> livro “Diário de<br />

Escritor” da Litteris Editora, versão 2008. Está lançan<strong>do</strong> seu novo<br />

livro “Cirandas” pela Conhecimento Editora. É membro funda<strong>do</strong>ra da<br />

ACLAP, onde elegeu como sua patronesse a escritora Júlia Lopes de<br />

Almeida.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: BRINCANDO COM POESIAS<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 2000<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Segre<strong>do</strong><br />

Não devo te querer, bem sei<br />

Porque não posso te amar;<br />

Ainda que o amor em meu peito<br />

Esteja a dilacerar<br />

Insistin<strong>do</strong> com o coração<br />

A idéia de te procurar.<br />

O desejo de teus beijos, eu sinto<br />

É uma verdade, não minto<br />

Mas sei que é um amor impossível<br />

É um querer sem razão;<br />

Apenas um sentimento ingênuo<br />

Do meu pobre coração.<br />

Noites sem fim em minha cama<br />

Penso em ti minha dama,<br />

É difícil a<strong>do</strong>rmecer!<br />

Não consigo entender<br />

Esse amor que me invade a alma<br />

Tiran<strong>do</strong>-me o sono e a calma.<br />

Ainda assim, preciso ponderar,<br />

Estamos tão longe um <strong>do</strong> outro<br />

Como o sul está <strong>do</strong> norte,<br />

Tu, és dama da corte<br />

E eu, um plebeu sem sorte.<br />

Guardarei só para mim<br />

O desejo de te amar,<br />

Não saberás de mim,<br />

Nem das minhas ansiedades<br />

Ficarei no anonimato<br />

Com minha infelicidade.<br />

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Messias de Oliveira<br />

MESSIAS DE OLIVEIRA nasceu dia 26<br />

de outubro de 1957 em Nova Russas/<br />

CE. Repentista, desde os 21 anos, está em<br />

Brasília desde 1975. Além <strong>do</strong> “Cordel da<br />

Mala” exibe em seu currículo incontáveis<br />

festivais de cantoria, “oficinas” ministradas<br />

na Feira <strong>do</strong> Livro e até uma apresentação<br />

“erudita e popular” com a violinista funda<strong>do</strong>ra da Orquestra Sinfônica<br />

de Brasília Clinaura Macê<strong>do</strong>. Cita como grande parceiro de pelejas o<br />

professor Valdenor de Almeida, com quem cantou o cordel “Resolver<br />

o Problema Educativo é Dever <strong>do</strong> Governo Federal” pelo projeto<br />

Cantoria-Escola da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r de Ceilândia.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CORDEL CANTORIA ESCOLA<br />

Editora: CASA DO CANTADOR/CUT<br />

Ano: 1996<br />

M essias de Oliveira<br />

E ssa figura discreta<br />

S ensível, quan<strong>do</strong> é ouvinte<br />

S eguro, quan<strong>do</strong> interpreta<br />

I nvencível na defesa<br />

A vida, sua riqueza<br />

S ua missão: ser poeta<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

A Mala <strong>do</strong> Livro é hoje<br />

Uma extensão da cultura<br />

Que tem na Secretaria<br />

Sua total cobertura<br />

Incentivan<strong>do</strong> as pessoas<br />

A praticarem a leitura<br />

A nossa Literatura<br />

Passou a ser divulgada<br />

Depois que a Mala <strong>do</strong> Livro<br />

Chegou perto da morada<br />

Dos que, antes <strong>do</strong> projeto,<br />

Não sabiam quase nada<br />

A Mala é organizada<br />

De mo<strong>do</strong> a contribuir<br />

Com aqueles que não podem<br />

Os livros adquirir<br />

E quem participa uma vez<br />

Nunca mais quer sair<br />

Seu objetivo é ir<br />

Aos lugares mais distantes<br />

Levar o conhecimento<br />

Aos nossos estudantes<br />

Transforman<strong>do</strong>-os de objetos<br />

Em sujeitos atuantes<br />

O Cordel da Mala<br />

(fragmentos)<br />

Nasceu <strong>do</strong> grande talento<br />

De uma francesa feliz<br />

Que enchia cestas de livros<br />

E distribuí-los quis<br />

Pelas ruas de Clamart<br />

Um subúrbio de Paris<br />

Ressurge na região<br />

Samambaia, uma cidade<br />

Neusa Doura<strong>do</strong> moveu-se<br />

Com essa realidade<br />

E iniciou o trabalho<br />

Naquela localidade<br />

Neusa com toda vontade<br />

No seu trabalho completo<br />

Chamou Maria José<br />

Nome que merece afeto<br />

Educa<strong>do</strong>ra dinâmica<br />

Que vibrou com o projeto<br />

Neste projeto excelente<br />

Os nossos jovens estão<br />

Viajan<strong>do</strong> na leitura<br />

Crian<strong>do</strong> imaginação<br />

Adquirin<strong>do</strong> saber<br />

E crescen<strong>do</strong> em educação.<br />

Mala <strong>do</strong> Livro, a biblioteca para todas as comunidades no DF<br />

A Mala <strong>do</strong> Livro é um programa volta<strong>do</strong> à criança, <strong>ao</strong> a<strong>do</strong>lescente e <strong>ao</strong> adulto, visan<strong>do</strong> facilitar o acesso à<br />

informação e à leitura. É coordena<strong>do</strong> pela Diretoria de Bibliotecas da Secretaria de Cultura <strong>do</strong> GDF e surgiu no<br />

formato de biblioteca <strong>do</strong>miciliar em 1990, como atividade de extensão da Biblioteca Pública de Brasília.<br />

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Nair Rosa<br />

NAIR ROSA DE JESUS<br />

nasceu dia 17 de junho<br />

de 1937 em Catalão e se<br />

criou em Caldas Novas/GO.<br />

Aposentada, trabalha como<br />

costureira para não parar de<br />

viver. A<strong>do</strong>ra viajar e dançar no<br />

“forró da melhor idade”. Participa anualmente da romaria para Trindade<br />

de Goiás com a amiga Anita. Foi revelada para a literatura pela <strong>do</strong>utora<br />

Elza Maria (autora <strong>do</strong> projeto Reminiscências Integran<strong>do</strong> Gerações<br />

lança<strong>do</strong> em 1997 na Escola Classe 15 da Guariroba). Ela participou<br />

<strong>do</strong> projeto como uma conta<strong>do</strong>ra de estória, mas seu sonho sempre<br />

foi “aprender a ler para escrever o próprio livro”. E a “academia”<br />

representa para ela a esperança da realização desse sonho. Como obra<br />

literária produzida para ingressar na ACLAP, escreveu a “Carta” que<br />

aqui publicamos.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: REMINISCÊNCIAS INTEGRANDO GERAÇÕES<br />

Editora: VOZES<br />

Ano: 1997<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

CARTA PARA MINHA MÃE: Mamãe, hoje <strong>ao</strong> ver uma rosa lembrei de você/Com o perfume que ela<br />

exalava eu lembrei <strong>do</strong> seu cheiro/Não pude deixar ela lá e trouxe para casa pois ela me fez sentir estar perto<br />

de você/Nesse momento pensei nos conselhos que me dava de tu<strong>do</strong> que me ensinava e que nunca esqueci<br />

o que me falava/Porque você, mamãe, é e sempre será para mim a pessoa mais importante da minha vida/<br />

Agradeço a Deus por ser sua filha/E sei que aí perto de Deus você ora por mim e por isso termino essa<br />

carta lhe pedin<strong>do</strong>/A sua bênção, mamãe.<br />

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Neftaly Vieira<br />

NEFTALY VIEIRA GONÇALVES<br />

nasceu dia 04 de janeiro de 1963 em<br />

Teófilo Otone/MG. Sua família – que traz<br />

na genealogia o nome Zimmer-Cöllen <strong>do</strong>s<br />

imigrantes alemães – veio das vilas operárias<br />

de Brasília removi<strong>do</strong> para a Ceilândia. É<br />

ilustra<strong>do</strong>r profissional da área jornalística,<br />

com diversos trabalhos publica<strong>do</strong>s em revistas, livros didáticos e<br />

infantis. Já fez charges para os periódicos Jornal de Brasília e Correio<br />

Braziliense. Está finalizan<strong>do</strong> a ilustração <strong>do</strong> livro “Cirandas” da amiga<br />

e companheira de ACLAP Mariana Lima. É forman<strong>do</strong> em Letras pela<br />

Universidade Católica de Brasília. Por ter cria<strong>do</strong> a histórica capa <strong>do</strong><br />

livro “Ceilândia Ontem, Hoje... E Amanhã?” é também conheci<strong>do</strong><br />

como “NEF, o Ilustra<strong>do</strong>r Incansável”. Como membro efetivo da<br />

ACLAP, ocupa a cadeira acadêmica nº 19.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CEILÂNDIA ONTEM, HOJE ...E AMANHÃ?<br />

Ilustrações: NEF NENO e IURI VIEIRA (in memorian)<br />

Ano: 1979/1981<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Imagem Incansável<br />

(*) Capa <strong>do</strong> primeiro livro coletivo da memória candanga.<br />

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Nina Tolle<strong>do</strong><br />

NINA TOLLEDO (p s e u d ô n i m o<br />

d e MARIA ALCINA DA SILVA)<br />

nasceu dia 1º de junho na cidade de Tabajara,<br />

município de Inhapim/MG. É filha de<br />

Percília Júlia Tole<strong>do</strong> e Geral<strong>do</strong> Américo<br />

Raimun<strong>do</strong>. Desde a década de 80 escreve<br />

poemas e contos. Estu<strong>do</strong>u Letras e cursa<br />

atualmente a faculdade de Pedagogia. Têm no prelo mais duas obras<br />

e já publicou “Codinome: Você” (2004) e “Casos e Descasos” (2005),<br />

além da participação na coletânea comemorativa <strong>do</strong> cinqüentenário <strong>do</strong><br />

Distrito Federal “Geografia Poética” (2007). É membro funda<strong>do</strong>ra da<br />

Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares e, pela delicadeza<br />

de seus versos e a forte influência recebida de sua patronesse, é também<br />

conhecida como “a Cecília Meireles <strong>Candanga</strong>”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CASOS & DESCASOS<br />

Editora: BRASÍLIA CULTURAL/FAC<br />

Ano: 2005<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Cotidiano<br />

Quem me vê passar apressada<br />

Nem imagina minha estrada<br />

O que sinto, penso e vivo<br />

Enfim, minha jornada...<br />

Nem sabe que tenho vazios,<br />

Sinto frio na madrugada<br />

Que às vezes me sinto feia<br />

Triste e desanimada<br />

Que sonho em ter um amor<br />

Novo horizonte, nova vida<br />

Um ombro bem confortável<br />

Ter paz, ser compreendida...<br />

Quem me vê passar apressada<br />

De mim não sabe nada<br />

Que minha cor não é essa<br />

Em minha tez estampada<br />

Que o sol <strong>do</strong> dia-a-dia<br />

Deixou-me bem mais corada.<br />

Quem me vê passar to<strong>do</strong> dia<br />

Nem imagina quem sou...<br />

Não sou essa andarilha<br />

De apenas uma estrada<br />

Meu coração corre o mun<strong>do</strong><br />

Bate forte, vive em revoadas<br />

Buscan<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>...<br />

E nada encontra... Nada!<br />

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Osval<strong>do</strong> Espínola<br />

OSVALDO PEREIRA ESPÍNOLA<br />

nasceu dia 25 de fevereiro de 1953<br />

em Itaberá/BA. Chegou em Brasília com<br />

treze anos de idade, residin<strong>do</strong> no Núcleo<br />

Bandeirante, depois in<strong>do</strong> para a falada Vila <strong>do</strong><br />

IAPI e de lá sen<strong>do</strong> removi<strong>do</strong> para a não menos<br />

histórica Ceilândia. Trabalha de pedreiro e<br />

nas horas vagas descansa compon<strong>do</strong> versos e melodias. Declama versos<br />

de repente – no improviso – e se orgulha de ter si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s finalistas<br />

<strong>do</strong> concurso que escolheu em 2003 o “hino oficial” da cidade. É grande<br />

admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> maluco beleza Raul Seixas - seu conterrâneo baiano em<br />

quem se inspirou para criar suas famosas “vestimentas temáticas”.<br />

Membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, é também conheci<strong>do</strong> como “BBB, o<br />

Bom Baiano Brasileiro”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: VESTIDO DE POESIA<br />

Edição: PRÓPRIA/ACLAP<br />

Ano: 2009<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Conselho de um Pai<br />

Meu filho, se chegar alguém<br />

E perguntan<strong>do</strong>: tu<strong>do</strong> bem?<br />

Te falan<strong>do</strong> bem baixinho<br />

Sempre de cabeça baixa<br />

Com a mão dentro da caixa<br />

E te entregan<strong>do</strong> um pacotinho<br />

Diga não para este moço<br />

Diga que é em vão o seu esforço<br />

Que ele é um destrui<strong>do</strong>r<br />

E pelo jeito que estou ven<strong>do</strong><br />

Meu filho, ele está queren<strong>do</strong><br />

É destruir o nosso amor<br />

Quan<strong>do</strong> ele vier de mansinho<br />

E chegar bem devagarinho<br />

Até sorrin<strong>do</strong> pra você<br />

Na manhã de um lin<strong>do</strong> dia<br />

Já depois que você vicia<br />

Ele vem pra receber<br />

Aí bate o desespero<br />

Você treme o corpo inteiro<br />

E não tem mais o que fazer<br />

Pois é tão grande o desespero<br />

E se você não tem dinheiro<br />

Meu filho, ele mata você.<br />

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Rapper Japão<br />

RAPPER JAPÃO (MARCOS<br />

VINÍCIUS DE JESUS) é candango<br />

de nascimento e mora<strong>do</strong>r pioneiro da<br />

“Expansão” <strong>do</strong> Setor O de Ceilândia, berço<br />

rap de Brasília. Rapper há 19 anos, produtor<br />

musical e ativista social, já gravou cd’s com o<br />

grupo <strong>do</strong> Gog e com o Viela 17. Participou<br />

de videoclipes e entrou para a história <strong>do</strong> cinema local com o filme<br />

“Rap, o Canto da Ceilândia” – que tem na produção João Break, seu<br />

parceiro ceilandense e também seu patrono na ACLAP. Em 2000<br />

montou o grupo Viela 17 em parceria com Dino Black e Mano Mix.<br />

Percebe o rap como “música” não apenas de protesto, mas sim como<br />

uma rebeldia sonora existente entre a periferia e o asfalto, seguin<strong>do</strong> a<br />

trilha iniciada por Gabriel O Pensa<strong>do</strong>r, Marcelo D2, Thaíde e MV Bill.<br />

Atualmente, é coordena<strong>do</strong>r artístico da Central Única das Favelas no<br />

Distrito Federal/CUFA-DF.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Filme: RAP, O CANTO DA CEILÂNDIA<br />

Prêmio: 38º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO<br />

Ano: 2005<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Lá no Morro<br />

(fragmentos)<br />

Não tô nem aí, nem reclamo, a vida tá firmeza<br />

Aí muleke passa um pano, qualque é, desenrola mané<br />

Ter um carro muito louco é um sonho<br />

Pagar de boy nunca foi a nossa cara<br />

Na quebrada, humildade sempre vinga<br />

Ah, cara, sem essa de licença, sem caô seu <strong>do</strong>utor<br />

Pouco dinheiro mas eu fico feliz<br />

E me amarro nos muleke, chega e diz<br />

Ficar no beco, ouvir rap é pra mala<br />

Se não é isso, sai canalha<br />

Liga o rádio, Claudinho se destaca<br />

Qualé o baile hoje aí pivete, se encaixa<br />

Bota uns pano, um relógio da hora<br />

Tá na chuva, então se molha<br />

Fica lá no canto, escuta o som que é Viela, simbora<br />

É nós no morro, só batida, só glória<br />

Vou lá no morro<br />

Comunidade unida é um pote de ouro<br />

Vou lá no morro<br />

De Ceilândia a Planaltina, é frevo de novo<br />

“92 cor de sangue”, “pá”, uns banco de couro<br />

Com os olhos vermelhos igual a nota da escola<br />

E quem entende sim, eu quero ser assim<br />

Calça de lim, não é pra mim<br />

Bem pior <strong>do</strong> que aparenta<br />

Eu sei o que meu boné representa<br />

Tu<strong>do</strong> nosso, tu<strong>do</strong> bem<br />

No morro o samba trinca<br />

E o céu brilha também<br />

Tu<strong>do</strong> nosso, tu<strong>do</strong> bem<br />

No morro o samba trinca<br />

E nisso eu vou além.<br />

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Ronal<strong>do</strong> Mousinho<br />

ONALDO ALVES MOUSINHO<br />

R nasceu dia 16 de outubro de 1951<br />

em Guadalupe/PI. Está em Brasília desde<br />

1978. Licencia<strong>do</strong> em Letras, é professor e<br />

advoga<strong>do</strong>. Publicou em 1994 o livro “Asas<br />

para o Apogeu”. Verdadeiro intelectual,<br />

produtor cultural e editor de inúmeras<br />

coletâneas, é conheci<strong>do</strong> - e reconheci<strong>do</strong>! - tanto em Brasília como nas<br />

terras <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> Piauí. Além de membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP - cujo<br />

patrono é o pioneiro da literatura candanga Clemente Luz - é sócio<br />

efetivo <strong>do</strong> Comitê Independente de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB<br />

e o atual presidente da Academia Taguatinguense de Letras. Por ser o<br />

maior pesquisa<strong>do</strong>r e estudioso da literatura local, é conheci<strong>do</strong> como<br />

“MESTRE MOUSINHO, o Macha<strong>do</strong> de Assis Candango”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: PROJETO ALUNO ESCRITOR<br />

Editora: ASEFE<br />

Ano: 1995<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Nave-Mãe <strong>Candanga</strong><br />

(fragmentos)<br />

Quero pilotar a nave-mãe, sobrevoar Brasília<br />

Admirar a Torre de TV, cumprimentar os feirantes.<br />

Voar rasante sobre a Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />

Saudar Jesus Cristo <strong>ao</strong> passar pela Catedral.<br />

Sacudir a poeira da máquina administrativa e injetar-lhe ânimo.<br />

Chamar à razão o Palácio <strong>do</strong> Planalto e <strong>do</strong> Buriti<br />

E dizer-lhes que os fins não justificam os meios.<br />

Contemplar as águas <strong>do</strong> Paranoá e os barcos passeantes e gritar:<br />

“alto lá, vocês não podem continuar acima da lei”,<br />

<strong>ao</strong>s invasores daquelas margens.<br />

Plainar sobre o Teatro Nacional e lavar a alma com os acordes<br />

da Orquestra Sinfônica.<br />

Rumar para Taguatinga e Ceilândia em busca de tradição e amenidades.<br />

Esticar até a Feira da QNL, comer peixe e rapadura <strong>do</strong> Maranhão,<br />

Saborear carne-de-sol e cajuína <strong>do</strong> Piauí.<br />

Revisitar o Museu Casa da Memória Viva <strong>do</strong> mecenas Jevan<br />

E ali ouvir a Orquestra Sanfônica <strong>Candanga</strong>.<br />

Participar da fundação da ACLAP mas, pessimista,<br />

constatar que a política<br />

“suprema razão da existência humana”,<br />

hoje é flagelo que nos aniquila.<br />

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Rosana Maria<br />

OSANA MARIA CARVALHO DA<br />

R COSTA nasceu dia 30 de outubro em<br />

Brasília. Por gostar muito de criar coisas para<br />

casa, começou a confeccionar “roupinhas de<br />

boneca” ainda na infância, adquirin<strong>do</strong> a arte<br />

da costura e <strong>do</strong> artesanato pelo seu autêntico<br />

tino autodidata. Além das confecções<br />

artesanais para Casa da Memória Viva, tornou-se a única produtora da<br />

“bandeira da Ceilândia” (tanto para a Administração Regional, como<br />

para as escolas locais). Orgulha-se muito de fazer parte <strong>do</strong> histórico<br />

grupo <strong>do</strong>s 35 artistas ceilandenses que fundaram a ACLAP.<br />

CONFECÇÃO:<br />

Título: BANDEIRA DA ACLAP<br />

Criação: MV MODAS<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Eu Sou a Cei<br />

No começo, eu era erradicação<br />

Pelo um anel-sanitário<br />

Fizeram a minha remoção<br />

Sem teto, fui barraco<br />

Sem luz, só apagão<br />

Sem água, era a “ceilama”<br />

Carência era o meu sobrenome<br />

Comissão, campanha, invasão...<br />

Tanto nome que quase me consome<br />

Os anos se passaram<br />

E agora sei<br />

Que hoje eu sou:<br />

Cidade, sim.<br />

Excluída, nunca.<br />

Incansável, sempre!<br />

88 89


Sebastião Lima<br />

EBASTIÃO JOSÉ DE LIMA nasceu dia<br />

S 14 de novembro de 1947 na cidade de<br />

Ceres/GO. Filho de agricultor goiano e mãe<br />

pernambucana, fez os seus estu<strong>do</strong>s primários<br />

em Anápolis e veio para Brasília em 1972.<br />

Servi<strong>do</strong>r público, é mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong><br />

Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. Começou a<br />

cursar a faculdade de Teologia em 1987. Católico, professor de catequese<br />

na paróquia São Marcos e São Lucas, é coordena<strong>do</strong>r de grupos teatrais<br />

e organiza<strong>do</strong>r da Via Sacra. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP e, pela<br />

admiração que sente por se patrono literário, é também chama<strong>do</strong> de “o<br />

Drummond Candango”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: HISTÓRICO DO SETOR “P” NORTE<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Luz <strong>do</strong> Saber<br />

Sou como o pensamento que está sempre atento<br />

Tanto nos antigos como <strong>ao</strong>s novos movimentos<br />

Sempre fico no meu cantinho bem quietinho<br />

Observan<strong>do</strong> o que está acontecen<strong>do</strong><br />

Pensan<strong>do</strong> num mun<strong>do</strong> mais justo e consciente<br />

Onde o homem e a mulher possam andar de mãos dadas<br />

Tentan<strong>do</strong> construir um mun<strong>do</strong> mais sábio e inteligente.<br />

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Sidiney Breguê<strong>do</strong><br />

IDINEY DE SOUZA BREGUÊDO<br />

S nasceu dia 22 de janeiro de 1972 em<br />

Monte Azul/MG. Mora em Ceilândia<br />

desde os primórdios da cidade. É chargista,<br />

caricaturista, artista plástico e... poeta! Dono<br />

de um estilo poético “Beat”, é também<br />

conheci<strong>do</strong> como “o Charles Bukowski<br />

Candango”. Como artista plástico, entrou para a história de Brasília<br />

com o quadro “É Q´Eu Sou Candango”, que descreve – plasticamente –<br />

os três tempos da história candanga (construção, remoção e exclusão).<br />

Nome tarimba<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento cultural local, já realizou diversas<br />

exposições e tem (manuscrito, em cinco cadernos) mais de mil poemas<br />

a serem publica<strong>do</strong>s.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O JACARÉ PENSADOR<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2009<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Quan<strong>do</strong> Eu Morrer<br />

Quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />

Não quero fama, nem estardalhaço.<br />

Não quero caixão de pinho,<br />

Nem gravata de laço.<br />

Menino, hoje sou vivo e belo<br />

E ninguém vê meu sorriso amarelo.<br />

Amanhã quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />

Tirarão <strong>do</strong> meu pé o chinelo<br />

E esculpirão em bronze<br />

Bengala ou cutelo,<br />

Plaqueta para o senhor administra<strong>do</strong>r<br />

Assinar: poeta, menino, poeta!!<br />

Me cobrirão com o pó<br />

Do ouro amarelo<br />

E a glória me darão em verdade,<br />

Dos empresários serei a vaidade,<br />

Seu ouro e sua vida,<br />

O caviar e a bebida.<br />

Quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />

Não quero fama, nem estardalhaço,<br />

Os homens declaman<strong>do</strong> meu nome<br />

Como estúpi<strong>do</strong>s palhaços,<br />

As moças me enrolan<strong>do</strong> em abraços.<br />

Nas escolas, não quero que estudem<br />

A minha vida em bagaço.<br />

Ou mesmo que revolucionei,<br />

Que uma escola literária inventei,<br />

Não me cantem como herói<br />

Para que o povo me compre,<br />

Mas foheiem minha vida<br />

Num instante.<br />

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Vaíston<br />

AÍSTON TOLEDO DA SILVA nasceu<br />

V dia 11 de novembro de 1961 na cidade<br />

de Tabajara, município de Inhapim/MG. Veio<br />

para Brasília ainda quan<strong>do</strong> criança, onde em<br />

1980 tornar-se-ia servi<strong>do</strong>r público. Através da<br />

sua mãe – a escritora evangeliza<strong>do</strong>ra Percília<br />

Júlia Tole<strong>do</strong> - começou sua vida artística<br />

como “narra<strong>do</strong>r” <strong>do</strong> grupo de teatro “Altas Montanhas”, ajudan<strong>do</strong> a<br />

fundar a paróquia São Marcos e São Lucas ainda nos primórdios <strong>do</strong><br />

Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP e tem<br />

um livro “produzi<strong>do</strong>” no campo da ficção científica.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Teatro: ALTAS MONTANHAS<br />

Papel: NARRADOR<br />

Ano: 1979<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Cogumelo<br />

Com sopro suave<br />

De cachimbo sem fogo<br />

Varreu a vassoura <strong>do</strong> vento:<br />

94 95<br />

Tempo<br />

Projetos<br />

Sistemas<br />

Teorias<br />

Vida de temor...<br />

A dimensão se tornou túmulo<br />

Só prédios, fábricas,<br />

Dinheiro, ambições.<br />

Nasceu no Planalto<br />

Uma nova hierarquia:<br />

Reis ratos, ratas rainhas.<br />

Queijo, queijo, queijo...<br />

E pizza na pradaria.


Valdinei Cordeiro<br />

ALDINEI CORDEIRO DOS<br />

V SANTOS nasceu dia 08 de julho de 1980<br />

em São Romão/MG. Mora<strong>do</strong>r da Ceilândia, é<br />

estudante e declara que “tornou-se poeta pelo<br />

projeto escolar”. Seu poema foi originalmente<br />

publica<strong>do</strong> na “Antologia Poética <strong>do</strong>s Alunos<br />

<strong>do</strong> Primeiro Ano <strong>do</strong> Centro de Ensino<br />

Médio 04”, idealizada pela professora - e sua patronesse na ACLAP -<br />

Maria Lucinete de França. O projeto <strong>ao</strong> qual se refere, além de lançar<br />

para a cidade dezenas de “novos” escritores, rendeu ainda a literária<br />

reportagem “Arma<strong>do</strong>s com Versos”, o que elevou a auto-estima tanto<br />

<strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s como da própria Ceilândia. Como membro efetiva, ela<br />

ocupa a cadeira nº 26. E como diz a frase que “o verdadeiro mestre é<br />

aquele que dá a lição pelo exemplo”, hoje vemos alguns destes poetas<br />

recitan<strong>do</strong> versos em rádios comunitárias e outros até participan<strong>do</strong> da<br />

Academia Ceilandense de Letras, como Irismeire Benevides, autora<br />

desse antológico poema.<br />

PATRONESSE EDUCACIONAL:<br />

<strong>Coletânea</strong>: PRIMEIRO VÔO<br />

Autora: PROFª MARIINHA<br />

Ano: 2004 “Meu mestre, meu amigo<br />

Que belo dia encontrei<br />

Foi quem me ensinou<br />

Tu<strong>do</strong> o que hoje eu sei”<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

(Francisco Benevides)<br />

A Preciosidade <strong>do</strong>s Amigos<br />

Os amigos são tão especiais que voltam<br />

São tão simples que cativam<br />

São tão desprendi<strong>do</strong>s que <strong>do</strong>am<br />

São tão dignos que compreendem e per<strong>do</strong>am<br />

Bem, eles são tão necessários<br />

Que sempre se fazem presentes<br />

São tão preciosos que se conservam<br />

São tão irmãos que compartilham<br />

São tão sábios que ouvem<br />

iluminam e calam<br />

Eles são tão raros que se consagram<br />

São tão importantes que não se esquecem<br />

São tão felizes que fazem a festa<br />

Os amigos são tão responsáveis<br />

Que vivem no mar da verdade<br />

São tão livres que acabam viran<strong>do</strong> pássaro<br />

queren<strong>do</strong> voar<br />

São tão amigos que dão a vida<br />

São tão amigos que se eternizam.<br />

96 97


Vanildes de Deus<br />

ANILDES DE DEUS ALVES nasceu dia<br />

V 04 de Setembro em Oeiras/PI. Filha de<br />

Isabel Santana Alves e de João de Deus Alves.<br />

Veio para Brasília em 1977 e mora no ‘P’ Sul<br />

desde sua fundação. Licenciada em Estu<strong>do</strong>s<br />

Sociais e bacharel em Geografia, exerceu o<br />

magistério por mais de 25 anos, dedican<strong>do</strong>se<br />

atualmente <strong>ao</strong> trabalho cultural e religioso<br />

junto à sua comunidade. Graças <strong>ao</strong> seu poema sobre a “padroeira da<br />

Ceilândia”, foi cria<strong>do</strong> o Projeto de Lei nº 2.908 (publica<strong>do</strong> no Diário<br />

Oficial de 08/02/2002) estabelecen<strong>do</strong> o dia <strong>ao</strong>s santos padroeiros de<br />

todas as Regiões Administrativas de Brasília. Participou em 2007 da<br />

coletânea “Geografia Poética”, comemorativa <strong>ao</strong> cinqüentenário <strong>do</strong><br />

Distrito Federal. Além de ser membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP – onde<br />

escolheu por patrono o Pe. Antônio Vieira – é também sócia efetiva <strong>do</strong><br />

Comitê Independente de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: UM OLHAR TRANSPARENTE<br />

Editora: THESAURUS/FAC<br />

Ano: 2010<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Nossa Senhora da Glória,<br />

Padroeira da Ceilândia<br />

Oh! Querida virgem da glória!<br />

Quão sublime é teu olhar!<br />

És esperança, és vitória,<br />

És a força <strong>do</strong> nosso caminhar.<br />

Leva a Jesus nossa luta e história,<br />

Deixa sua luz nos iluminar...<br />

És mãe <strong>do</strong>s ceilandenses,<br />

Dos incansáveis e de toda a população<br />

Também <strong>do</strong>s candangos, <strong>do</strong>s brasilienses,<br />

Dos pobres e da nossa geração.<br />

Acalenta-nos com o teu silêncio<br />

Sê nosso escu<strong>do</strong> e proteção!<br />

És bendita! Ó querida padroeira,<br />

Que a este povo vieste abençoar.<br />

Da Ceilândia, és uma das primeiras<br />

A “palavra” e a “eucaristia” celebrar.<br />

Sen<strong>do</strong> fonte viva e luz verdadeira<br />

Vem, almas de sede e fome saciar.<br />

Tua história é grande fascínio<br />

Vários nomes temos a destacar,<br />

Como o célebre frei Cirino<br />

Cuja memória vale-me exaltar.<br />

Alimentou muitos pobres e meninos<br />

E <strong>do</strong>s desabriga<strong>do</strong>s soube cuidar.<br />

À custa <strong>do</strong> seu ofício<br />

Sua vida a Deus entregou<br />

Deixan<strong>do</strong> marcos, registros...<br />

Das obras <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r.<br />

A ele então o título:<br />

Primeiro “pároco e funda<strong>do</strong>r”.<br />

98 99


Walter gugu Farias<br />

ALTER PEREIRA FARIAS, o Gugu<br />

W <strong>do</strong> ‘P’ Sul, fez história na poesia<br />

da cidade em toda a década de 1980 com<br />

sua linguagem meio beatnick, meio rock<br />

nacional. Auto definia-se como um poeta<br />

marginal, mas para os mais próximos,<br />

revelava-se um homem-menino, um gigante<br />

frágil. O próprio título <strong>do</strong> seu livro Tenho<br />

Que Proteger As Orquídeas (lança<strong>do</strong> em 1987 na lendária lanchonete<br />

Enkontres) desvelava muito da sua personalidade. Militante atuante<br />

<strong>do</strong> movimento cultural, além de poeta, foi compositor <strong>do</strong> grupo<br />

Anjos <strong>do</strong> Rock e ator-funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Espaço 50 (era uma casa de nº 50<br />

na Via Guariroba) com o Paulinho Rapadura e outros porra-loucas;<br />

juntamente o com Adauto Francisco lançou a coletânea Ceilândia Grita<br />

Poesia em 1986 no antigo Quarentão; participou de várias FACULTA’s<br />

e também <strong>do</strong> I Encontro de Poetas Brasilienses em 1983, dentre tantos<br />

outros eventos culturais candangos.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: TENHO QUE PROTEGER AS ORQUÍDEAS<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 1986<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

100 101<br />

Hoje<br />

Desfilarei minha amargura<br />

sobre a ponte costa & silva<br />

ou simplesmente sob a torre de tv<br />

De nada adiantará livros, revistas,<br />

discos, jornais ou qualquer tipo<br />

de comunicação<br />

nem mesmo a inter-planetária.<br />

sofro...<br />

e para esse mal não há remédio<br />

nem mesmo os carinhos de Alice<br />

nem mesmo esse nosso amor<br />

neurótico, paranóico, esquizofônico...<br />

Observo no microscópio eletrônico<br />

o cenário multicor da meganópole<br />

desvairada em busca <strong>do</strong> poder material.<br />

Meu nome é rasgo<br />

sou filho <strong>do</strong> nada<br />

indivíduo sem opção.<br />

Tenho mil planos<br />

que serão os enganos<br />

para os próximos <strong>do</strong>is mil anos.<br />

ignoro até os OVINs, que a sombra<br />

da realidade ofusca.<br />

Meu coração além da ia <strong>do</strong>s kamikazes.<br />

Observo um Dark na dança mágica da Drack.<br />

Suicidei-me ontem/<br />

Velejo na noite/<br />

Sob a luz de neon<br />

Na fusão sonora oriente-ocidente/<br />

Estou além da compreensão <strong>do</strong> eu<br />

numa viagem imbecil<br />

em busca <strong>do</strong> nada.


Vicente de Melo<br />

ICENTE GERALDO DE MELO<br />

V NETO nasceu dia 23 de janeiro de 1960<br />

em Uberaba/MG. É mora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Setor ‘P’<br />

Sul da Ceilândia, ex-funcionário público <strong>do</strong><br />

Poder Executivo Federal e arte-educa<strong>do</strong>r da<br />

rede pública local. Publicou em 2007 o livro<br />

“Contos Federais”. Em 2005, foi o vence<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Prêmio SESC de Contos Macha<strong>do</strong> de Assis, com “Os Estultos”.<br />

Dono de um talento privilegia<strong>do</strong> para “a criação e contação de histórias<br />

fantásticas”, é ti<strong>do</strong> pelos seus companheiros de ACLAP como “o Maior<br />

Contista da Literatura <strong>Candanga</strong>”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: A SAGA DE UM CANDANGO<br />

Editora: BARAÚNA<br />

Ano: 2013<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Candango<br />

(fragmentos)<br />

O calor era insuportável. O solo seco e racha<strong>do</strong>, de tão candente,<br />

queimava os pés descalços <strong>do</strong> homem que olhava sua plantação<br />

totalmente perdida. É a seca que castiga, sem dó, o rincão nordestino.<br />

Ele, que sempre fora um sertanejo de fibra, desta vez estava desola<strong>do</strong>.<br />

A mulher, o recebeu tentan<strong>do</strong>, com citações bíblicas, reconfortá-lo. O<br />

filho pequeno, alheio à tu<strong>do</strong>, apenas <strong>do</strong>rmia para enganar a fome.<br />

Bastião, senta<strong>do</strong> em um banco tosco de madeira, puxou para si<br />

o velho rádio de pilha. Apesar de analfabeto, não era nenhum apedeuta,<br />

pois acompanhava com grande interesse os problemas de sua pátria.<br />

Subitamente, uma notícia chamou-lhe a atenção. Estavam recrutan<strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>res para a construção da nova capital <strong>do</strong> Brasil.<br />

Com a mulher e o filho, Bastião pegou algumas tralhas - o<br />

inseparável rádio e a velha sanfona - e partiu. Na cidade, o caminhão<br />

conheci<strong>do</strong> como pau-de-arara, já aguardava as famílias de retirantes<br />

para a longa viagem até o Planalto Central.<br />

As chusmas chegavam de todas as procedências à nova terra<br />

prometida. São os pioneiros da nova capital, chama<strong>do</strong>s pejorativamente<br />

de candangos que, na acepção da palavra significa “pessoa ruim”.<br />

Bastião e a família ficaram instala<strong>do</strong>s na Cidade Livre. No outro dia,<br />

bem cedinho, ele e muitos outros começaram a lida nas obras faraônicas<br />

da cidade-céu, em meio à imensa solidão <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong> sem fim.<br />

Pouco tempo depois, tu<strong>do</strong> parecia uma torre de babel. Milhares<br />

de operários, dependura<strong>do</strong>s em andaimes. O ritmo era alucinante, dia e<br />

noite e noite e dia trabalhavam sem parar. Os responsáveis pelas obras,<br />

sempre gritan<strong>do</strong> muito, mais pareciam feitores com chicotes saí<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s tempos de faraó da era <strong>do</strong> escravismo.<br />

Como ajudante de pedreiro, Bastião carrega sacos de cimento<br />

nas costas, enverga ferros e arma concretos. Ele é de fibra, e antes<br />

de tu<strong>do</strong>, um sertanejo. Vivia sempre sorrin<strong>do</strong> para os conterrâneos e<br />

seus chefes. Até para o presidente, que estava sempre rondan<strong>do</strong> pelos<br />

canteiros de obra, ele um dia sorriu, puxou uns acordes <strong>do</strong> clássico<br />

“Asa Branca” e ainda tirou de improviso uns versinhos de cordel:<br />

102 103


Este é o grande presidente<br />

Que o Brasil já viu falar<br />

Empregou toda essa gente<br />

Fazen<strong>do</strong> a nova “capitá”<br />

Dias depois Bastião seria chama<strong>do</strong> no escritório da NOVACAP,<br />

pois havia si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> o “operário-padrão” <strong>do</strong> ano. A cerimônia<br />

aconteceu num <strong>do</strong>mingo à tarde, sobre um palanque monta<strong>do</strong> em<br />

frente <strong>ao</strong> futuro Palácio <strong>do</strong> Alvorada, onde estudantes treina<strong>do</strong>s pelas<br />

“tias” balançavam fitinhas verde e amarelo e cantarolavam o “peixevivo”.<br />

Encosta<strong>do</strong> num canto, suan<strong>do</strong> em bicas, Bastião finalmente é<br />

chama<strong>do</strong> à frente. Recebeu das mãos <strong>do</strong> próprio presidente da república<br />

uma caneta banhada à pirita, ou seja, o popular ouro de tolo. O pobre<br />

operário, que era pobre mas não era besta, agradeceu às autoridades<br />

com seu costumeiro sorriso e, dias depois, vendeu o valoroso “prêmio”<br />

num boteco qualquer.<br />

Porém, a cada dia que se aproximava a data oficial da inauguração,<br />

o ritmo de trabalho aumentava freneticamente. Bastião já não sorria à<br />

toa. Com o cenho franzi<strong>do</strong> e as mãos calejadas, sempre sua<strong>do</strong> e cansa<strong>do</strong>,<br />

trabalhava, trabalhava... e nada melhorava.<br />

A manhã era de sol e carnaval. O arrebol banhava o acampamento<br />

com lumaréus de fogueira. Alguns operários, insatisfeitos com a má<br />

qualidade da comida servida, resolveram fazer uma manifestação. A<br />

notícia caíra como um raio na cabeça das empresas responsáveis pela<br />

construção de Brasília. Iniciou-se, então, uma guerra cruel e desumana.<br />

De um la<strong>do</strong>, operários famélicos e indefesos; e <strong>do</strong> outro, solda<strong>do</strong>s da GEB<br />

assoman<strong>do</strong> e atiran<strong>do</strong>. O resulta<strong>do</strong> final foi uma verdadeira “matança”.<br />

Os corpos seriam sorrateiramente enterra<strong>do</strong>s nos arre<strong>do</strong>res da cidade,<br />

onde hoje estão vários monumentos arquitetônicos “patrimônios da<br />

humanidade” ergui<strong>do</strong>s à “modernidade”.<br />

A rotina voltara <strong>ao</strong> normal depois da chacina oficial. Muitos<br />

ainda choravam e lastimavam o “desaparecimento” <strong>do</strong>s antigos<br />

companheiros. Num jogo estratégico, as empreiteiras resolveram<br />

antecipar o pagamento. Era uma forma maquiavélica de tentar fazer com<br />

que to<strong>do</strong>s esquecessem o mais rápi<strong>do</strong> possível aquelas cenas funestas,<br />

covardes e desiguais. Bastião - que conseguira escapar fugin<strong>do</strong> pelos<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> acampamento - a partir daquele dia passara a ter certeza de<br />

que a “capital da esperança” fora apenas uma grande ilusão.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O tempo passara rápi<strong>do</strong>. Depois de três anos e dez meses<br />

de muita labuta, a nova capital finalmente fora inaugurada. To<strong>do</strong>s<br />

receberam homenagens; já os candangos (e dentre eles, o agora<br />

desiludi<strong>do</strong> Bastião), nem dinheiro para participarem da festa tinham.<br />

Bastião virou alcoólatra, passan<strong>do</strong> a beber de revolta e tristeza.<br />

Sem emprego e sobreviven<strong>do</strong> de “bicos”, foi joga<strong>do</strong> numa invasão<br />

próxima <strong>ao</strong> Núcleo Bandeirante, conhecida como “Morro <strong>do</strong> Urubu”,<br />

em meio à lama, poeira, miséria e violência. Os anos se passaram. A<br />

favela onde morava, após uma “campanha de erradicação das invasões”<br />

promovida pela ditadura militar, foi “removida” e assentada em uma<br />

nova cidade-satélite, bem longe <strong>do</strong> poder.<br />

Certo dia, encontra<strong>do</strong> pelo serviço social, Bastião fora interna<strong>do</strong><br />

em um asilo de velhos. A mulher, após uma crise de convulsões, há<br />

tempos já o tinha deixa<strong>do</strong>. O menino, cria<strong>do</strong> em meio a maloqueiros<br />

e mequetrefes, acabou preso e condena<strong>do</strong> por envolvimento com o<br />

tráfico de drogas. O velho rádio e a sau<strong>do</strong>sa sanfona, troca<strong>do</strong>s pela<br />

maldita cachaça, já não lhe faziam companhia. O solitário candango é<br />

um homem com mais de setenta anos. Sua boca banguela, agora sorria<br />

<strong>ao</strong>s “novos” companheiros. Alguns também eram heróis anônimos<br />

da epopéia de Brasília. Bastião passa as horas relembran<strong>do</strong> os tempos<br />

i<strong>do</strong>s.<br />

O dia estava ensolara<strong>do</strong>, era uma manhã de sexta-feira. O asilo<br />

organizou um “passeio” para os velhinhos até o Plano Piloto. Bastião<br />

levantou-se ce<strong>do</strong>. Iria viver um dia de turista pelo lugar que tanto suor<br />

derramara e também ajudara a construir. O ônibus da viação Pioneira<br />

entrou lentamente no eixo monumental. Reconhecen<strong>do</strong> a figura <strong>do</strong><br />

ex-presidente “acenan<strong>do</strong> para a cidade”, Bastião ensaiou um sorriso<br />

irônico, <strong>ao</strong> relembrar o dia em que recebera a falsa caneta de ouro.<br />

O velho veículo passou pela ro<strong>do</strong>viária e entrou na grande esplanada.<br />

À sua volta, surgiram os sinais de luxo e ostentação, próprios das<br />

grandes construções. Mais uma vez, lembrou-se de tu<strong>do</strong> que a vida o<br />

havia feito sofrer. Imaginou-se, então, de volta <strong>ao</strong> queri<strong>do</strong> nordeste,<br />

no seu pequeno roça<strong>do</strong>. O suor <strong>do</strong> seu rosto misturava-se às lágrimas<br />

escorridas daqueles olhos de pálpebras cansadas.<br />

De volta <strong>ao</strong> asilo, numa expressão de lassidão, Bastião <strong>do</strong>rmiu<br />

rápi<strong>do</strong> e profundamente. No outro dia não acordaria mais. O velho<br />

candango expirou solitário e esqueci<strong>do</strong>.<br />

104 105


Ao homem chama<strong>do</strong> cavalo ÉDSON DA NOVA SHOCK<br />

BORBOLETA<br />

Eu sou um misantrópico<br />

e às vezes hermético<br />

para os nacionalistas de direita<br />

e detesto crianças por não nascerem<br />

com o espírito de luta de CHE GUEVARA<br />

Mas um dia uma borboleta<br />

com a asa quebrada<br />

baixou no meu circo<br />

e eu lhe dei toda a assistência possível<br />

comprei um rolo de durex<br />

e colei na sua asa<br />

deixei-a na cama de mamãe<br />

e fui comprar flor prá ela<br />

Hoje ela voa nas margens <strong>do</strong> paranoá<br />

cheiran<strong>do</strong> as flores de sua preferência<br />

concubinan<strong>do</strong> com quem ela quer<br />

sobrevoan<strong>do</strong> a ponte daquele ex-dita<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> lago sul <strong>ao</strong> lago norte<br />

voa... borboleta... voa... voa...<br />

voa os segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> abismo infinito<br />

mesmo sentin<strong>do</strong> que eu estou morren<strong>do</strong><br />

de saudade<br />

a<strong>do</strong>ro te ver nos ares, no ar.<br />

(hoje em dia só me preocupo<br />

com a felicidade <strong>do</strong>s hermanos<br />

simplesmente porque já fui feliz).<br />

(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)<br />

Capítulo IV<br />

Membros Correspondentes<br />

e<br />

Autores Convida<strong>do</strong>s<br />

106 107


Adalberto Adalbertos<br />

ADALBERTO DUARTE DE<br />

OLIVEIRA ADALBERTOS nasceu<br />

dia 18 de março de 1952 em Poté/MG.<br />

Pioneiro de Taguatinga, está em Brasília desde<br />

1966. Diploma<strong>do</strong> em Ciências Biológicas e<br />

em Ecologia. Na efevercente UnB <strong>do</strong>s anos<br />

70, foi um <strong>do</strong>s protagonistas <strong>do</strong> antológico<br />

“Show <strong>do</strong> Arroto”. Foi também um <strong>do</strong>s membros funda<strong>do</strong>res da<br />

Academia Taguatinguense de Letras/ATL em 1986. Publicou em 2006 o<br />

livro “Inquietudes”. Educa<strong>do</strong>r militante e engaja<strong>do</strong>, tornou-se um <strong>do</strong>s<br />

diretores mais conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Professores/SINPRO-DF.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: PARASITA OBRIGATÓRIO<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

LAND CEI: Saga-Enre<strong>do</strong><br />

da Criação de um Novo Mun<strong>do</strong><br />

(fragmentos)<br />

“Noventa milhões em ação,<br />

Pra frente Brasil <strong>do</strong> meu coração...”<br />

Para censurar, oprimir e torturar,<br />

Botas, butes, botinas, king-kongs e camburão.<br />

No subúrbio, periferia, eu residia:<br />

Tabatinga, “ta‘wa’tiga”, barro branco.<br />

Mas numa super, numa quadra, superquadra,<br />

Das forças, às vezes, me escondia.<br />

E então, tão só, nem mesmo pelo elemento combongó<br />

A cidade ília, ilha eu via.<br />

“Eu te amo, meu Brasil; eu te amo...<br />

Ninguém segura a juventude <strong>do</strong> Brasil...”<br />

Foi quan<strong>do</strong> os milicos, pais e mães da ditadura<br />

Fonte de <strong>do</strong>r, tristeza, morte e muita agrura<br />

Resolveram, por decreto, a “C.E.I.” instituir<br />

Para com ela, o piloto-plano, aero-plano,<br />

Sanear, varrer, limpar<br />

E, imediatamente, a Land Cei fazer brotar.<br />

108 109


Adélia Coimbras<br />

ADÉLIA IGNÁCIO DE MELLO<br />

COIMBRAS nasceu em 1935 na<br />

Vila Formosa de Imperatriz/GO. Filha de<br />

família humilde, veio para a Vila <strong>do</strong> IAPI<br />

em 1966 e de lá a trouxeram pra Ceilândia<br />

em 1971. Mora<strong>do</strong>ra pioneira da Ceilândia<br />

Sul, foi vende<strong>do</strong>ra de roupas ate montar sua<br />

própria loja de confecções, com a qual viria adquirir, tempos depois,<br />

a tão sonhada fazenda em Mimoso de Goiás. Em 2006 teve seu livro<br />

“Biografia de uma Camponesa” edita<strong>do</strong> pelo pastor Cláudio Divino,<br />

professor de Geografia com palestras já proferidas na Conferência<br />

Anabatista Latino-Americana da Colômbia e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: BIOGRAFIA DE UMA CAMPONESA<br />

Editor: CLÁUDIO DIVINO<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Poema Saudade<br />

Eu sou uma videira, que no seu tempo deu nove galhos<br />

To<strong>do</strong>s bem grandes e flori<strong>do</strong>s. Mas em 1994 um galho quebrou<br />

Veio o tempo, e o vento, e um galho ele levou<br />

Saudade vem e saudade vai<br />

Deixou muita saudade, saudade para seus pais.<br />

Deixa saudade para seus irmãos.<br />

Saudade muita que ficou, da família que deixou<br />

Esposa maravilhosa! Que lembrança tão espinhosa!<br />

Ah! Saudade. Tinha sim, alegria e prazer.<br />

Galho que deixou sementes,<br />

Dois filhos para a família render<br />

Saudade de sua família pequena<br />

Saudade de sua esposa morena<br />

Saudade <strong>do</strong>s filhos que deixou<br />

Me dizia que casou-se por amor.<br />

Saudade! Saudade de quan<strong>do</strong> você era criança<br />

Ah! Que <strong>do</strong>ce e triste lembrança.<br />

Está comigo em qualquer lugar,<br />

Pois está vivo dentro de mim<br />

Nos meus sonhos, no meu jardim<br />

Como eu queria você, aqui bem pertinho de mim...<br />

110 111


Adilson Cordeiro Didi<br />

ADILSON RODRIGUES CORDEI-<br />

RO DIDI nasceu dia 25 de outubro<br />

de 1952 em Pirapora – margem esquerda<br />

<strong>do</strong> Rio São Francisco/MG. Está em Brasília<br />

desde 1970. Servi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil,<br />

trabalhou nas aprazíveis cidades de Maceió/<br />

AL e Pirenópolis/GO. Hoje, já aposenta<strong>do</strong>,<br />

exerce prazeravelmente o cargo de diretor da Casa de Cultura <strong>do</strong><br />

Guará. Poeta bastante conheci<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o Distrito Federal, publicou<br />

em 2007 o livro “Algo Tão Doce” a partir de um recital que fez na Feira<br />

<strong>do</strong> Livro de Brasília.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: COLETÂNEA POÉTICA DO GUARÁ<br />

Edição: COMEMORATIVA<br />

Ano: 2009<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Meu Queri<strong>do</strong> Guará<br />

Meu Queri<strong>do</strong> Guará<br />

Terra de sonhar!<br />

O Guará é o meu lar<br />

Minha sala de estar<br />

É onde gosto de ficar<br />

Ver os pássaros cantar<br />

E é sempre muito prazer<br />

As crianças no alvorecer<br />

Sua calma me acalanta<br />

Sua alma me encanta<br />

Posso correr e sentir<br />

A brisa leve daqui<br />

A pureza de um beija-flor<br />

Que faz ouvir músicas de amor<br />

A ternura <strong>do</strong> flamboyant flori<strong>do</strong><br />

No Guará, é o mais colori<strong>do</strong><br />

Vejo a esperança renascer<br />

Neste céu, <strong>ao</strong> entardecer<br />

E na luz de prata <strong>do</strong> luar<br />

Das lindas noites <strong>do</strong> Guará<br />

Aqui tem muitos amigos<br />

Sorrisos novos e antigos<br />

É a graça e simpatia no ar<br />

Do meu queri<strong>do</strong> Guará!<br />

112 113


Amário Cassimiro<br />

Dr. AMÁRIO CASSIMIRO DA SILVA<br />

é natural de Turiúba, interior de São<br />

Paulo, filho de José Cassimiro da Silva e<br />

Marvina Rosa de Jesus. Viveu sua juventude<br />

em Gastão Vidigal/SP, <strong>ao</strong>nde anualmente<br />

realiza o projeto “<strong>Coletânea</strong> de Poesia Inter<br />

Regional”, também extensivo às cidades<br />

paulistas de Buritama, Floreal, Lourdes, Monções, Nova Luzitânia<br />

e, obviamente, Turiúba. Está em Brasília desde 1969. Advoga<strong>do</strong> de<br />

renome internacional, foi Secretário-Geral da Associação Americana<br />

de Juristas e ex-Membro Consultivo da Associação Cultural Brasil -<br />

Cuba. Em 2003 foi condecora<strong>do</strong> com a Ordem <strong>do</strong> Rio Branco pelo<br />

Ministério das Relações Exteriores.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: FRAGMENTOS DE SAUDADES<br />

Editora: GRÁFICA DOMINANTE<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Sonhos de Poeta<br />

Sonhei um dia<br />

Ser um poeta,<br />

Ter um grande amor<br />

Procurei nas estrelas,<br />

No sol,<br />

No mar,<br />

No ar.<br />

Pela terra andei a procurar<br />

Encontrei a deusa<br />

Dos meus sonhos,<br />

Sonhos de poeta,<br />

Do amor irreal,<br />

Do amor sem igual,<br />

Do amor imortal.<br />

Não gostaria<br />

De vê-lo acabar,<br />

Sonhar e não acordar.<br />

114 115


Ana Paula<br />

ANA PAULA MARTINS AGUIAR<br />

nasceu dia 30 de janeiro de 1995 em<br />

Brasília/DF. É filha de Valdir Moreira de<br />

Aguiar e Santinha Alves Martins. Aquariana<br />

que gosta de ler e escrever poemas.<br />

Incentivada pela professora Lira, agora tomou<br />

iniciativa de mostrar o seu la<strong>do</strong> poetisa, pois<br />

percebeu que escreven<strong>do</strong> poderia ir mais longe. Estuda no centro de<br />

Ensino Fundamental 519 de Samambaia e está cursan<strong>do</strong> a 6ª série.<br />

Há nove anos freqüenta as atividades complementares educativas da<br />

Assistência Social Casa Azul.<br />

APOIO SÓCIO-EDUCATIVO:<br />

CASA AZUL - A missão da Instituição “ser um espaço prazeroso e de<br />

referência no atendimento às crianças e <strong>ao</strong> a<strong>do</strong>lescente.Volta<strong>do</strong> para a<br />

formação humana, solidária e cidadã, buscan<strong>do</strong> a melhoria da qualidade<br />

de vida e a inclusão social.”<br />

Público atendi<strong>do</strong><br />

De 0 a 6 anos - 200 crianças<br />

De 07 a 14 anos - 268 Crianças<br />

Jovens - 140<br />

Famílias - 352<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Brasil Sonha<strong>do</strong>r<br />

Meu Brasil<br />

Que tem fome<br />

E o homem cada vez<br />

Queren<strong>do</strong> mais<br />

Sem sentir a <strong>do</strong>r<br />

Que provoca o terror<br />

Num país de paz<br />

Que cabe cada vez mais<br />

Meu Brasil<br />

Verde e amarelo<br />

Que fez um elo<br />

Com a natureza<br />

Tornan<strong>do</strong>-a mais bela<br />

Meu Brasil<br />

Dos amores<br />

Que nos faz crescer<br />

Na harmonia das cores<br />

Meu Brasil<br />

Que enche a gente<br />

De muito amor<br />

Onde tem um povo trabalha<strong>do</strong>r<br />

Que mora nas ruas escuras<br />

Com muito frio<br />

E também com muito calor<br />

Mas sonha com felicidade<br />

E alegria nesse...<br />

BRASIL SONHADOR!<br />

116 117


Angélica Torres<br />

ANGÉLICA TORRES LIMA nasceu<br />

dia 27 de fevereiro em Ipameri/GO.<br />

Está em Brasília desde 1965. Diplomada<br />

em Comunicação, é jornalista, tradutora<br />

e coreógrafa. Publicou em 1988 o livro<br />

“Solares” pela turibiana marca Bric-a-<br />

Brac. Atualmente, integra a equipe <strong>do</strong><br />

Profº Antonio Miranda à frente da Biblioteca Nacional de Brasília,<br />

responsável pela realização da I Bienal Internacional de Poesia em<br />

Brasília – I BIP/2008.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: SINDICATO DE ESTUDANTES<br />

Editora: BRASILIANA<br />

Ano: 1986<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

“Tomara que caia<br />

um haikai<br />

na tua saia”<br />

Aula de Arte<br />

Bendito sejam os malditos<br />

porque tornam os tolos<br />

gente que se identifica com eles,<br />

os crus desgraça<strong>do</strong>s<br />

místicos obscenos.<br />

Se eu tivesse conheci<strong>do</strong> Bukowski<br />

mais uma eu seria entre as vacas<br />

pintadas por ele? me ninaria?<br />

me beijaria os rolinhos na cabeça?<br />

me amaria a Maria, laranja<br />

cain<strong>do</strong> da mesa, rolan<strong>do</strong> pra longe<br />

de porre, fumada, num seu poema trêba<strong>do</strong>?<br />

Morro. E digo,<br />

esta nunca mais vai ter que ler<br />

Charles na vida e sua himenotomia<br />

em madrugadas azedas.<br />

118 119


Antonio Carlos Sampaio Macha<strong>do</strong><br />

ANTONIO CARLOS SAMPAIO<br />

MACHADO nasceu em União/PI.<br />

Bacharel em Letras pelo UniCeub (2001),<br />

editou o Perío<strong>do</strong> da Língua Portuguesa.<br />

Filia<strong>do</strong> à União Brasileira <strong>do</strong>s Escritores/<br />

UBES (secção <strong>do</strong> Piauí), é também membro<br />

correspondente da Academia Taguatinguense<br />

de Letras. Publicou em 2003 o livro “Trovas & Haicais”. Neste mesmo<br />

ano fun<strong>do</strong>u a ONG CIAPIB (Comitê Independente de Apoio às<br />

Artes <strong>do</strong> Piauí e <strong>do</strong> Brasil), que agora se chama Comitê Independente<br />

de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: TROVAS & HAICAIS<br />

Editora: PROCOEL/ATL<br />

Ano: 2003<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Trovas <strong>Candanga</strong>s<br />

(fragmentos)<br />

Canta, canta! Oh! Ceilândia<br />

Hoje é teu belo dia<br />

Teu mar é céu;<br />

E tua bela melodia!<br />

Cada quadra muita arte!<br />

Teu povo caminha sereno<br />

Tens sintonia com marte<br />

Esse <strong>do</strong>te não é pequeno.<br />

Bela vista panorâmica<br />

Cidade de vocação;<br />

Demonstra que é dinâmica;<br />

Seus filhos em oração!<br />

Tem viola e bom violeiro<br />

Essa terra dá bons frutos<br />

Há um passo bem certeiro<br />

Das meninas nos estu<strong>do</strong>s!<br />

Candangos aqui vieram!<br />

<strong>Som</strong>aram ricos talentos;<br />

Na construção souberam<br />

Desenhar em suaves ventos!<br />

Na aclap hoje tomo posse<br />

Com os amigos confrades!<br />

Prazer, orgulho ela torce:<br />

É a musa! E meus compadres?!<br />

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Antonio Garcia Muralha<br />

ANTONIO GARCIA MURALHA<br />

nasceu dia 21 de março de 1948 na<br />

Estação de Doura<strong>do</strong>quara, município de<br />

Monte Carmelo <strong>do</strong> Triângulo Mineiro.<br />

Filho de Sigismun<strong>do</strong> Garcia e Domitildes<br />

Rodrigues, com os quais veio para Brasília em<br />

1964 – ano <strong>do</strong> fatídico golpe militar. Antes de<br />

se formar em Letras e tornar-se professor e economiário, foi balconista<br />

<strong>do</strong> antológico Bar Estrela. Devi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> seu engajamento no movimento<br />

estudantil <strong>do</strong>s anos 70, foi preso e tortura<strong>do</strong> pela ditadura militar. Sua<br />

trilogia literária versa principalmente sobre Taguatinga (“Ta’wa’tiga”) e<br />

Ceilândia (“C.E.I. Land”), cidades onde sempre morou e trabalhou; o<br />

que não o afastou da temática universal, influencia<strong>do</strong> pelo seu patrono<br />

poético Augusto <strong>do</strong>s Anjos. Por ser considera<strong>do</strong> o maior poeta da<br />

história local, é também chama<strong>do</strong> de “POETA MURALHA, o Imortal<br />

da Poesia <strong>Candanga</strong>”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: VERSO É VERSO O RESTO É PROSA<br />

Editora: GRÁFICA SATURNO<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

C.E.I. “Land”<br />

(Fragmentos)<br />

Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />

Que <strong>ao</strong>s grandes ban<strong>do</strong>s vieram das bandas lá <strong>do</strong> sertão<br />

Nas asas <strong>do</strong>s paus-de-arara, nos lombos de caminhão<br />

Fazen<strong>do</strong> curvas rasantes, voan<strong>do</strong> bem rente <strong>ao</strong> chão<br />

Com a ajuda de Padim Ciço, padrinho de Lampião<br />

Sertanejos retirantes da colheita de carvão<br />

Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />

Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />

Que construíram Brasília, o orgulho deste torrão<br />

Torrão que também é deles, mas que nem sabem quem são<br />

Pois que empenha<strong>do</strong>s nas obras, com toda dedicação<br />

Nem em sonhos construíram sua própria habitação<br />

Por isso em cada caixote tinha um barraco-embrião<br />

Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />

Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />

Que transformavam caixotes em telhas de barracão<br />

Crescen<strong>do</strong> o Plano Piloto nas vilas em progressão<br />

Na IAPI, na Tenório, na Mercedes da ilusão<br />

Forman<strong>do</strong> o maior complexo da mais famosa invasão<br />

Que crescia na medida em que crescia a migração<br />

Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />

Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />

Abre as portas, Taguatinga! Lá vem mais um, meu irmão!!!<br />

(*) Poema épico candango originalmente escrito em 1971 e publica<strong>do</strong> pela primeira vez em 1984.<br />

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Antonio Miranda<br />

ANTONIO LISBOA CARVALHO<br />

DE MIRANDA nasceu dia 05 de<br />

agosto de 1940 em Bacabal/MA. Está em<br />

Brasília desde 1967. É mestre em Ciências<br />

da Informação, <strong>do</strong>utor em Comunicação e<br />

professor da Universidade de Brasília/UnB.<br />

É também poeta e dramaturgo. Publicou<br />

em 1971 o clássico poema “Tu País Está Feliz”, já traduzi<strong>do</strong> em mais<br />

de dez idiomas e encena<strong>do</strong> em mais de vinte países, especialmente no<br />

continente latino-americano. Atualmente, ocupa o cargo de diretor da<br />

Biblioteca Nacional de Brasília, responsável pela I Bienal de Poesia de<br />

Brasília – I BIP/2008.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: POEMÁRIO<br />

Edição: I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Na Academia de Letras<br />

Usava <strong>do</strong>is ternos,<br />

com intermitência:<br />

*Poema <strong>do</strong> Barão de Pindaré Júnior<br />

(pseudônimo de Antonio Miranda)<br />

124 125<br />

um, cinza,<br />

o outro, preto;<br />

um, para o chá das cinco,<br />

o outro, com igual freqüência,<br />

para o enterro <strong>do</strong>s imortais.


Arlete Sylvia<br />

ARLETE SYLVIA nasceu em Belém<br />

<strong>do</strong> Pará no dia 5 de julho. Graduada<br />

em letras pelo UniCEUB, é professora<br />

e aluna de música. Trabalhou por muitos<br />

anos no Ministério da Educação/MEC e<br />

na Universidade Católica de Brasília. Foi<br />

também voluntária <strong>do</strong> Centro de Valorização<br />

da Vida/CVV. Sempre foi apaixonada pelo romantismo das poesias,<br />

porém somente agora com o incentivo de amigos, tomou iniciativa<br />

de mostrar a to<strong>do</strong>s o seu la<strong>do</strong> de escritora, para deleitá-los com este<br />

“Hino <strong>ao</strong> Amor”. Além da Academia Ceilandense de Letras, faz parte<br />

da Associação Nacional de Escritores/ANE. Seu patrono literário é<br />

o médico paraense Sérgio Martins Pan<strong>do</strong>lfo, para quem escreveu o<br />

poema aqui publica<strong>do</strong>.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: UM HINO AO AMOR<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Mãos Abençoadas<br />

Que Deus abençoe sempre suas mãos!<br />

E elas possam trazer felicidade.<br />

Mesmo conviven<strong>do</strong> com seres não-sãos,<br />

Elas demonstram toda a sua bondade.<br />

Quan<strong>do</strong> nós vimos a esta Terra,<br />

To<strong>do</strong>s temos destinada uma missão,<br />

A sua é grandiosa nessa era.<br />

É sublime, pois exige o coração.<br />

Coração que vive tão escondi<strong>do</strong>...<br />

Onde só o <strong>do</strong>no sabe o que sente,<br />

Tristeza, alegria, amor conti<strong>do</strong>,<br />

Porém a emoção se faz presente.<br />

Feliz de alguém que nasceu para brilhar;<br />

Mãos que sabem operar e escrever.<br />

Que palavra eu teria pr´exaltar...<br />

Quem foi abençoa<strong>do</strong> desde o nascer.<br />

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Astrogil<strong>do</strong> Miag<br />

ASTROGILDO MIAG REGIS<br />

BARBOSA nasceu dia 25 de novembro<br />

de 1955 em Remanso/BA. Após vinte anos<br />

em Salva<strong>do</strong>r, capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mu<strong>do</strong>use<br />

para Brasília, onde é servi<strong>do</strong>r público e<br />

membro titular da Academia Taguatinguense<br />

de Letras. É autor de cinco romances<br />

imbuí<strong>do</strong>s de lirismo e de humor, marcas maiores <strong>do</strong> escritor. Publicou<br />

em 2007 o livro “Era uma vez um Comunista”. Dedican<strong>do</strong>-se com<br />

intensidade à prosa, o autor também se aventura pelos versos. Da sua<br />

obra poética praticamente inédita brinda nossos leitores com “Chama<br />

Apagada”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: MEMÓRIAS DE UM COROINHA<br />

Editora: GUARÁ<br />

Ano: 2005<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Chama Apagada<br />

(Por ocasião da morte de Leonor Regis)<br />

O quarto ficou vazio.<br />

A cama já não existe.<br />

A mala de tábuas largas<br />

onde se guardava a mortalha<br />

está vazia.<br />

As sandálias que pouco usava<br />

panos, colchão aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s.<br />

E o quartinho no fun<strong>do</strong> da casa<br />

perdeu toda a originalidade.<br />

O gosto amargo, velho;<br />

o rosto desfigura<strong>do</strong>, magro;<br />

o ar abafa<strong>do</strong><br />

os gemi<strong>do</strong>s lacra<strong>do</strong>s<br />

os pedi<strong>do</strong>s frágeis<br />

o corpo imóvel<br />

os móveis<br />

o banco de cabeceira<br />

o chão sujo negro<br />

acostuma<strong>do</strong> sem água<br />

desde que a<strong>do</strong>ecera;<br />

os braços magros<br />

compri<strong>do</strong>s<br />

paralíticos!...<br />

Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.<br />

Pouco ainda existe.<br />

O velho candeeiro de asas<br />

secou o pavio.<br />

Sua chama tênue<br />

confundiu-se<br />

com o reflexo de muitas velas<br />

e morreu...<br />

- Morreu com ela.<br />

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Carlos Augusto Cacá<br />

CARLOS AUGUSTO CACÁ é<br />

forma<strong>do</strong> em Sociologia pela UnB.<br />

Escreve poesias, contos e artigos sobre<br />

cultura. Organiza recitais em praças, cafés,<br />

bibliotecas e mobilizações de trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Publicou em 2006 o livro “Máscaras” (contos<br />

e crônicas). Valoriza a linguagem popular<br />

“pela sua atitude amorosa <strong>ao</strong>s que lutam por uma nova sociedade”. Fez<br />

parte <strong>do</strong> grupo de teatro Retalhos e já foi presidente da Confederação<br />

Nacional de Teatro Ama<strong>do</strong>r. Integra a Tribo desde quan<strong>do</strong> foi fundada<br />

em 2000 (grupo multicultural que mensalmente realiza saraus e edita a<br />

revista homônima “Tribo das Artes”).<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: FADAS GUERREIRAS<br />

Editora: LGE<br />

Ano: 2003<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Margarida Alves<br />

Lá estão elas rompen<strong>do</strong> a estrada.<br />

Deixam distantes seus dias risonhos.<br />

Já desistiram <strong>do</strong>s contos de fadas.<br />

Hoje cultivam os seus próprios sonhos.<br />

Lá estão elas cerran<strong>do</strong> fileiras.<br />

Trazem enxadas e foices nos ombros.<br />

Fadas madrinhas se tornam guerreiras.<br />

Marcham por sobre seus próprios escombros.<br />

Se já não têm o destino nas mãos,<br />

Se, sob os pés, lhes retiram o chão,<br />

Ainda assim vão em busca da vida.<br />

Se lhes acuam, empurram pra morte,<br />

Criam desvios, mas mantêm o norte.<br />

Seguem marchan<strong>do</strong> feito Margarida.<br />

(*) Homenagem à líder <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais sem terra de Alagoa Grande/PB que foi assassinada em<br />

12 de agosto de 1983 e cujo nome hoje é o símbolo da Marcha das Margaridas.<br />

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Chico Morbeck<br />

CHICO (FRANCISCO FERREIRA)<br />

MORBECK nasceu em Inhumas/GO<br />

e reside em Brasília desde 1960. Professor<br />

de Artes Cênicas, em 1972 montou no<br />

SESI de Taguatinga o espetáculo “Prometeu<br />

Acorrenta<strong>do</strong>”, de Ésquilo. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

anos 70, fun<strong>do</strong>u o grupo Favela Teatro<br />

Popular, onde dirigiu “Lampião em 2 Tempos” e “A Farsa <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong>”.<br />

Já na década de 80 – pulan<strong>do</strong> sua história política - organizou o projeto<br />

Mandacaru, bem como o projeto Marimba, ambos na cidade satélite<br />

de Ceilândia. Atualmente, além de coordenar um curso de idiomas,<br />

prepara o lançamento de um CD e <strong>do</strong> livro “Confissões Vermelhas”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: NASCIDO AQUI<br />

Edições: FAVELA PRODUÇÕES<br />

Anos: 1979<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

21 de Abril<br />

Ninguém me imagina triste<br />

À espera de alguém<br />

Só me imaginam gigante<br />

Com a certeza <strong>do</strong>s vagões no trem<br />

Ninguém me imagina pequeno<br />

A cair nos braços de um bem<br />

Só me imaginam colosso<br />

Com os fuzis nas batalhas que vem<br />

Ninguém me imagina frágil<br />

Como quem não sabe se o amor vem<br />

Só me imaginam mãe gentil<br />

Com as pedras que a montanha tem<br />

Assim liberto, assim prisioneiro<br />

Vou batucan<strong>do</strong> no compasso da espera<br />

Logo após o último desfile de carnaval, sou eu<br />

No minuto seguinte da bola no fim <strong>do</strong> jogo, sou eu<br />

Nas noites de <strong>do</strong>mingo antes <strong>do</strong> início das batalhas, sou eu.<br />

Brasil: uma esperança em cor de sangue<br />

Um retrato em tom de mangue.<br />

Naquele minuto...<br />

após a partida <strong>do</strong> trem.<br />

Naquela felicidade...<br />

Prometida pelas manhãs que vêm.<br />

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Clo<strong>do</strong> Ferreira<br />

CLODOMIR FERREIRA piauiense de<br />

Teresina, nasceu em 1951. Veio com a<br />

família para Brasília em 1964, residin<strong>do</strong> por<br />

quatro anos em Taguatinga, cidade-satélite<br />

na qual iniciou sua carreira artística. Em<br />

1972 venceu o Festival de Música <strong>do</strong> CEUB,<br />

quan<strong>do</strong> conheceu o cearense Raimun<strong>do</strong><br />

Fagner, intérprete de “Revelação” - seu sucesso de referência.<br />

Compositor, com três discos solos e seis outros lança<strong>do</strong>s em parceria,<br />

é autor de mais de 100 músicas gravadas por nomes da MPB como<br />

Zizi Possi, MPB4 e Dominguinhos. É <strong>do</strong>utor em História Cultural<br />

e professor de Comunicação da UnB. Em 2000 dirigiu o vídeo “J.<br />

Borges, cordel e gravura”, depois transforma<strong>do</strong> no livro “J.Borges por<br />

J.Borges”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: J.BORGES POR J.BORGES<br />

Editora: UnB<br />

Ano: 2000<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Mentira da Saudade<br />

A frente da casa é bem menor<br />

Aquela janela é uma só<br />

Aberta no olhar perdidamente<br />

E tinha uma rua <strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r<br />

A usina tocava, e o resto é pó<br />

Gruda<strong>do</strong> no olhar eternamente<br />

Rever a paisagem na lembrança<br />

Aumenta o desejo e a esperança<br />

Mas não traz de volta uma cidade<br />

Tiran<strong>do</strong> as pessoas encantadas<br />

E alguma alma bem amada<br />

O resto é mentira da saudade.<br />

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Dinorá Couto<br />

DINORÁ COUTO CANÇADO<br />

nasceu em Bom Despacho/MG.<br />

Está em Brasília desde 1974. Professora,<br />

dinamiza<strong>do</strong>ra de bibliotecas e incentiva<strong>do</strong>ra<br />

de leituras. Publicou em 1997 o livro<br />

“Revolucionan<strong>do</strong> Bibliotecas” e atua como<br />

voluntária na Biblioteca Braille Dorina<br />

Nowill. Participa ativamente de congressos nacionais e internacionais,<br />

sempre levan<strong>do</strong> as experiências de leituras <strong>do</strong> DF, já com alguns<br />

reconhecimentos: Destaque ODM 2005, Cidadã Honorária, Mérito<br />

Espírito Candango, Cidadã de Ouro e finalista <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> MEC<br />

VivaLeitura.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: REVELANDO AUTORES EM BRAILE<br />

Editora: BIBLIOTECA DORINA NOWILL<br />

Ano: 2001<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Beleza que Encanta<br />

Protegida pela UNESCO, uma das mais belas cidades<br />

A maior realização de um sonho modernista<br />

Tombada como patrimônio cultural, assim é Brasília.<br />

Recorde o início desta história, os espaços, as obras,<br />

Incluin<strong>do</strong> até árvores, um tombamento bem singular.<br />

Monumental, o Eixo, a avenida mais larga <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

Outros como o Eixão, os eixinhos e até o eixo ro<strong>do</strong>viário.<br />

Na beleza <strong>do</strong>s palácios, da ponte JK e Lago Paranoá<br />

Inúmeras outras nos encantam, os vitrais, cidade-parque,<br />

O Catetinho, a Catedral, os ipês flori<strong>do</strong>s, o cerra<strong>do</strong>!<br />

De prédios <strong>do</strong> governo local, Memorial JK - a oeste<br />

A Espalanada <strong>do</strong>s Ministérios, Palácio <strong>do</strong> Planalto, Congresso - a leste.<br />

Hoje, com setor novo, o Complexo Cultural da República<br />

Uma dupla obra, com Museu e Biblioteca Nacional.<br />

Mais cultura, com Teatro Nacional, o Festival de Cinema...<br />

A construção alta da cidade, com mirante: a Torre de TV.<br />

Na grandeza da ação de Juscelino Kubitschek de Oliveira<br />

Ilustres nomes como Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão<br />

Deram vida e beleza à Brasília: cidade-inovação<br />

A partir de um sonho, de ser a capital <strong>do</strong> país<br />

Da plena integração arte com arquitetura surge Brasília<br />

Eleita patrimônio, beleza que encanta e nova capital da cultura.<br />

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Elton Skartazini<br />

JOSÉ ELTON SKARTAZINI nasceu<br />

dia 08 de dezembro de 1961 em David<br />

Canabarro/RS. Forma<strong>do</strong> em Jornalismo, é<br />

editor, escritor, crítico de música, fotógrafo,<br />

cenógrafo, ator, escultor, artista plástico e<br />

produtor cultural. Veio de Porto Alegre para<br />

Brasília em 1989 – ano <strong>do</strong> assentamento de<br />

Samambaia – como concorrente <strong>do</strong> Festival de Brasília <strong>do</strong> Cinema<br />

Brasileiro com o curta “Van Gogh” – interpreta<strong>do</strong> pelo próprio. Lançou<br />

em 1997 o projeto “O Grande Quadro” de difusão cultural geral da<br />

Samambaia, cidade onde mora desde a sua criação e onde hoje fica o seu<br />

histórico ateliê candango.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O GRANDE QUADRO<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 1997<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Samambaia<br />

Deixo<br />

na poeira<br />

grava<strong>do</strong> o meu rastro.<br />

Trago<br />

no meu rosto<br />

mistura<strong>do</strong> suor e lágrimas.<br />

Concretizo<br />

o meu sonho<br />

com areia, cimento e ferro.<br />

Enquanto<br />

<strong>ao</strong> meu re<strong>do</strong>r<br />

se agiganta uma cidade.<br />

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Emanuel Lima<br />

EMANUEL MAGALHÃES LIMA<br />

nasceu dia 02 de outubro de 1955 em<br />

Caicó/RN. Está em Brasília desde 1967.<br />

Mu<strong>do</strong>u-se para o Canadá em 1973, de onde<br />

–“ para matar a saudade <strong>do</strong> torrão nacional” –<br />

fun<strong>do</strong>u a Liga <strong>do</strong>s Poetas Brasileiros, da qual<br />

é seu presidente e correspondente histórico.<br />

Diploma<strong>do</strong> em Magistério, é professor, escritor e tradutor. Publicou<br />

em 1985 a primeira novela candanga de época “A Lua Está na Moda”.<br />

Por residir no setor entre bairro de Taguatinga & Ceilândia, é conheci<strong>do</strong><br />

como “O Maior Cronista da Tailândia Brasiliense”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: A LUA ESTÁ NA MODA<br />

Editora: ATL/FAC<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Hino à Ceilândia<br />

Cidade construída com energia<br />

Sobre um terreno cheio de erosão<br />

É uma prova de grande valentia<br />

De sua varonil e justa população<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

Por ti sempre cantaremos!<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />

Teu comércio e tua indústria<br />

São conheci<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong> inteiro<br />

To<strong>do</strong> o povo alegre desfruta<br />

Este rincão to<strong>do</strong> brasileiro<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

Por ti sempre cantaremos!<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />

A beleza de tuas mulheres<br />

A coragem de teus homens<br />

Atraem de to<strong>do</strong>s os lugares<br />

Muitos imigrantes de renome<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

Por ti sempre cantaremos!<br />

Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />

A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />

(*) Concurso oficializa<strong>do</strong> pela OS n° 93/2001 da Administração Regional IX de Ceilândia.<br />

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Ênio Rudi Sturzbecher<br />

êNIO RUDI STURZBECHER nasceu<br />

dia 17 de novembro de 1955 em Mondaí/<br />

SC. Credita seu sobrenome - de difícil<br />

pronúncia - à família de imigrantes alemães.<br />

Está em Brasília desde 1974. Licencia<strong>do</strong> em<br />

Geografia e pós-gradua<strong>do</strong> em Administração<br />

Escolar. Professor muito envolvi<strong>do</strong> com<br />

as causas ambientais, já foi por duas vezes diretor de escola pública.<br />

Costuma dizer que “escreve poesia para desintoxicar o espírito”.<br />

Publicou em 1997 o livro “<strong>Som</strong>an<strong>do</strong> Perdas”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: SOMANDO PERDAS<br />

Editora: ASEFE<br />

Ano: 1997<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Trabalho!<br />

São todas essas águas<br />

mergulhan<strong>do</strong> entre montanhas e pedras<br />

- perdas irreparáveis - sujas da vida<br />

que arrancam das encostas<br />

onde homens trabalham pela vida!<br />

Pela vida sem tempo de riso<br />

trabalha o homem no campo e,<br />

o campo exauri<strong>do</strong> é prenúncio de morte,<br />

não apenas a morte de si mesmo,<br />

mas mesmo de quem deseja a fartura!<br />

Tão imbecil é o ser humano<br />

com toda sua inteligência!<br />

suas grandes conquistas são tão fúteis,<br />

fáceis históricas de homens brancos,<br />

“limpan<strong>do</strong> a terra”, acumulan<strong>do</strong> bens inúteis!<br />

Trabalha o homem no campo,<br />

trabalho duro entre pedras, montanhas,<br />

vales e vontades desperdiçadas...<br />

desrespeito de princípios,<br />

final de temporada de caça<br />

carcaças descarnadas de homens<br />

mergulha<strong>do</strong>s na utopia da vida<br />

passageiros inexoráveis da síndrome da fome!<br />

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Gonçalo Ferreira<br />

GONÇALO FERREIRA DA SILVA<br />

nasceu no dia 20 de dezembro de<br />

1937 na cidade de Ipu/CE. Funda<strong>do</strong>r e<br />

presidente da ACBL - Academia Brasileira<br />

de Literatura de Cordel, é autor de mais de<br />

duzentos opúsculos de literatura de cordel,<br />

além de ensaios, textos críticos e inúmeros<br />

artigos para revistas, jornais e anuários acadêmicos. Algumas de suas<br />

produções já foram vertidas para idiomas importantes como francês,<br />

inglês, alemão e japonês.<br />

DIFUSÃO CULTURAL:<br />

Instituição: ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL<br />

Fundação: 7 DE SETEMBRO DE 1988<br />

Edições: MILART - RJ Da inspiração mais pura,<br />

No mais luminoso dia,<br />

Porque Cordel é cultura<br />

Nasceu nossa Academia<br />

O céu da literatura<br />

A casa da poesia.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Senhor Livro<br />

(fragmentos)<br />

Dedico <strong>ao</strong> senhor meu livro<br />

eterno e sincero amor,<br />

ele me ensina em silêncio<br />

sem ar de superior;<br />

por ser meu fraterno amigo<br />

antes de <strong>do</strong>rmir eu digo:<br />

- Vou guardar meu professor.<br />

Confidente verdadeiro,<br />

companheiro e alia<strong>do</strong>,<br />

portanto queri<strong>do</strong> livro<br />

eternamente obriga<strong>do</strong>,<br />

pois fraternalmente mu<strong>do</strong><br />

o senhor me ensina tu<strong>do</strong><br />

humildemente cala<strong>do</strong>.<br />

Obriga<strong>do</strong>, senhor livro,<br />

pelo seu grande valor;<br />

só como mestre em carne e osso<br />

não se chega a ser <strong>do</strong>utor;<br />

mesmo depois de forma<strong>do</strong>s<br />

nós somos sempre obriga<strong>do</strong>s<br />

a consultar o senhor.<br />

Como Confúcio o senhor<br />

faz bem sem olhar a quem<br />

e sem esperar jamais<br />

recompensa de ninguém;<br />

o título, com mil louvores<br />

de “professor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utores”<br />

<strong>ao</strong> senhor cai muito bem.<br />

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Gustavo Doura<strong>do</strong><br />

AMARGEDON (pseudônimo<br />

de FRANCISCO GUSTAVO<br />

D E C A S T R O DOURADO) nasceu dia<br />

18 de maio de 1960 em Ibititá/BA. Está em<br />

Brasília desde 1975. Diploma<strong>do</strong> em Letras,<br />

é professor de Português e autor de onze<br />

livros. É produtor cultural e membro de<br />

várias academias e entidades socioculturais. É ainda Presidente Emérito<br />

<strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong> DF. Participa ativamente de feiras <strong>do</strong><br />

livro me Brasília, no Brasil e no exterior. Em 2000 inaugurou a Estante<br />

<strong>do</strong> Escritor Brasiliense, na Biblioteca Central da UnB. Recentemente,<br />

participou <strong>do</strong> filme “A Poesia <strong>do</strong> Barro.” Como autor de centenas de<br />

folhetos de cordel, improvisa e declama brilhantemente. Apresentou<br />

originalmente o “Cordel <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n” no I Festival Nacional de<br />

Cordelistas e Poetas Repentistas (Ceilândia/DF, agosto de 1980).<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CORDÉLI@<br />

Edição: INTERNET<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Cordel <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />

(fragmentos)<br />

Pra começo de viagem<br />

Preciso me apresentar<br />

Sou poeta <strong>do</strong> destino<br />

Uma história vou contar<br />

Da Guerra <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />

Que <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> vai transformar.<br />

Refaço a visão <strong>do</strong> apocalipse<br />

Do profeta São João<br />

A cidade <strong>do</strong>s remi<strong>do</strong>s<br />

A musa da salvação<br />

O berço da eternidade<br />

A glória da perfeição.<br />

Não se fala em poesia<br />

Só se vê corrupção<br />

Filhos desrespeitam os pais<br />

Cresce a prostituição<br />

Comanda a ditadura:<br />

Com tortura e repressão.<br />

Os ricos estão mais ricos<br />

Muita gente a roubar<br />

Desfalcam o nosso erário<br />

Sem ligar para o azar<br />

Exploram o dia to<strong>do</strong><br />

Para o tesouro aumentar.<br />

Surge a grande meretriz<br />

Babilônia, a grande musa.<br />

O c<strong>ao</strong>s se espalha na Terra<br />

A multidão fica confusa<br />

Sorve a taça de sangue:<br />

Que a Besta-Fera U.$.A<br />

A Terra fora <strong>do</strong>s eixos<br />

Em grande transformação<br />

Terremoto e hecatombe<br />

Maremoto e furacão<br />

Ondas gigantes no Mar<br />

E a fúria <strong>do</strong> vulcão.<br />

O egoísmo não morreu<br />

Faz o homem se matar<br />

Avareza e mentira<br />

O homem a enganar<br />

Usura e lucro fácil<br />

O homem a explorar.<br />

O homem não tem remédio<br />

É um eterno carniceiro<br />

Desde os tempos da caverna<br />

Tem mania de guerreiro<br />

A Guerra <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />

Abalará o mun<strong>do</strong> inteiro...<br />

146 147


Ildefonso Sambaíba<br />

ILDEFONSO PEREIRA DE SOUZA<br />

SAMBAÍBA nasceu dia 23 de janeiro<br />

de 1953 em Grajaú/MA. Está em Brasília<br />

desde 1972. Servi<strong>do</strong>r público, é <strong>do</strong>utor em<br />

Filosofia, mestre em Educação e bacharel<br />

em Comunicação Social. Foi jornalista<br />

responsável pelo periódico “Escriba” <strong>do</strong><br />

SEDF e ex-funcionário da Imprensa Nacional. Atualmente, assina a<br />

coluna “Ciência ponto Consciência” para o jornal Linha de Frente.<br />

Publicou em 2000 o livro “Buquê de Urtigas”. É membro da Academia<br />

Taguatinguense de Letras e da Associação Nacional de Escritores.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: QUEM MATOU AS GAZELAS?<br />

Editora: SER<br />

Ano: 2004<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Esta Língua Portuguesa<br />

Ela é feminina<br />

Elo masculino<br />

148 149<br />

Elo ou ele?<br />

A poeta é fêmea<br />

O poeto macho<br />

Por que não?<br />

Eu poetizo (z)<br />

Ela: poetisa?!<br />

Nós poetizamos<br />

Têm razão...


Jerônimo de Caldas<br />

JERÔNIMO GENOILTON DE CAL-<br />

DAS nasceu dia 02 de março de 1962<br />

na Paraíba. Além de Brasília, já morou no<br />

Tocantins e em São Paulo, onde se tornou<br />

colunista <strong>do</strong> jornal Gazeta <strong>do</strong> Taboão da Serra.<br />

Sempre de forma independente e contan<strong>do</strong><br />

com o “apoio cultural” <strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong><br />

local, já publicou vários livros, inclusive “A História <strong>do</strong> Nordestino”.<br />

APOIO INDUSTRIAL:<br />

Família: ELEUZA & ANTONIO ReALUMÍNIOS<br />

Filhos: GANDHI, EINSTEIN, MAXWELL,<br />

ARMSTRONG e GORBACHEV.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Traças Não Corroem Glória<br />

(fragmentos)<br />

Alfre<strong>do</strong> Evangelista é o retrato de um típico e genuíno homem<br />

nordestino, nasci<strong>do</strong> numa pequena cidade <strong>do</strong> sertão. Homem pacato,<br />

que vivia tranqüilo em sua atividade diária, trabalhan<strong>do</strong> a dura vida de<br />

agricultor. Em pleno sol causticante, cultivava sua lavoura com muita<br />

dificuldade, a falta de boas chuvas era um castigo que atormentava aquele<br />

homem com mãos calejadas. Morava numa pequena casa simples, feita<br />

de barro e cipó, com seus cinco filhos, três homens e duas mulheres.<br />

Juntaram as economias de to<strong>do</strong>s, e em pouco tempo concluíram<br />

a obra <strong>do</strong> tão sonha<strong>do</strong> poço, pelo fato <strong>do</strong> lugar de perfuração ser muito<br />

dificultoso, gastaram quase tu<strong>do</strong> o que tinham, a água só começou a<br />

minar a dezenas de metros de perfuração. Isto levou quase um ano de<br />

trabalho e uma boa parte da aposenta<strong>do</strong>ria de seu Alfre<strong>do</strong>; to<strong>do</strong>s fizeram<br />

um grande esforço, bem justo, pois tratava-se de uma causa essencial<br />

à sobrevivência da família. Como o custo foi altíssimo - compara<strong>do</strong> <strong>ao</strong><br />

calibre financeiro da família - a esperta filha Augusta teve uma brilhante<br />

idéia (era de se esperar que de sua privilegiada cabeça algo ilumina<strong>do</strong><br />

sairia): já que não pudera expor os seus artesanatos, venderia-os na<br />

beira da estrada. To<strong>do</strong>s os dias, percorria uma distância de quase sete<br />

quilômetros, colocava seus trabalhos na sombra de um grande juazeiro<br />

na beira da estrada e ficava à disposição <strong>do</strong>s viajantes que passavam por<br />

ali.<br />

A estrada era bem movimentada, principalmente pelos que iam<br />

fazer feira na cidade vizinha, ela percebeu com o tempo que poucas<br />

pessoas paravam, resolveu então fincar uma grande placa, ignoran<strong>do</strong><br />

algumas regras básicas de português, a uns cem metros <strong>do</strong> local de<br />

venda: “Beba água pura <strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong>”, estratégia com a qual conseguiu<br />

com que as pessoas curiosas parassem e além de beberem um pouco<br />

da tão falada água - de graça - compraram sem dificuldades os belos<br />

trabalhos da simpática moça.<br />

Os viajantes eram surpreendi<strong>do</strong>s pela criatividade de “marketing”<br />

da garota, que conseguiu assim vender todas as suas artes, e não precisou<br />

fazer exposição alguma para isso!<br />

150 151


João Bosco Bezerra Bonfim<br />

JOÃO BOSCO BEZERRA BONFIM<br />

nasceu dia 30 de outubro de 1961 em<br />

Novo Oriente/CE. Está em Brasília desde<br />

1972, onde se formou em Letras pela UnB.<br />

Antes de se tornar Consultor Legislativo<br />

<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> Federal, atuou como professor<br />

de português e literatura. É mestre em<br />

Lingüística, com pesquisas na área de Análises de Discursos. Publicou<br />

em 2002 “A Fome Não Sai no Jornal”, dentre outros. Na foto acima,<br />

aparece em cima de uma parada de ônibus, num criativo e poético<br />

protesto contra a retirada <strong>do</strong>s poemas “concreta<strong>do</strong>s” na W3 Sul.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR<br />

Editora: LGE<br />

Ano: 2003<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Romance <strong>do</strong> Vaqueiro Voa<strong>do</strong>r<br />

(Fragmentos)<br />

Quem em noite de lua<br />

Da Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />

Se aproxima há de ouvir u’a<br />

Voz que ecoa, entre blocos<br />

E um aboio assim senti<strong>do</strong><br />

De onde vem? Mistério!<br />

Que segre<strong>do</strong> esconde<br />

Essa aparição me<strong>do</strong>nha<br />

Será milagre de Deus,<br />

Será alguma peçonha?<br />

Se quer saber então ouça,<br />

Não faça cerimônia.<br />

Era de janeiro primeiro,<br />

Nos i<strong>do</strong>s anos cinqüenta<br />

Quan<strong>do</strong> voou um vaqueiro<br />

De altura sem tamanho<br />

Espatifou-se no chão<br />

Teve da vida o desengano.<br />

Desse fatal acontecimento<br />

Ninguém jamais teve notícias<br />

Não deu manchete em jornal<br />

Nem registro na polícia<br />

E foi sua sepultura<br />

Desconheci<strong>do</strong> precipício.<br />

Agora vamos saber<br />

Quem terá si<strong>do</strong> esse tal<br />

Que despencou <strong>do</strong> prédio<br />

Cavalgan<strong>do</strong> que animal?<br />

Voou de que maneira?<br />

Gente de bem ou cria <strong>do</strong> mal?<br />

Era valente ou o quê?<br />

Aquele Oraci Vaqueiro<br />

Com faca na cinta,<br />

Com ar zombeteiro,<br />

Sorriso entre dentes<br />

Nas artes era treteiro.<br />

Era pobre operário<br />

Retirante sem valor<br />

Verseja<strong>do</strong>r de mão cheia<br />

Analfabeto e ladino<br />

Fazia troça da <strong>do</strong>r<br />

Na morte tirava fino.<br />

Ei-lo caí<strong>do</strong> de bruços<br />

Para o campo paramenta<strong>do</strong><br />

Peitoral, perneira, gibão<br />

Chapéu passa<strong>do</strong> o barbicacho<br />

Voou no rabo da rês<br />

Mas só chão havia embaixo.<br />

152 153


José Orlan<strong>do</strong> Pereira da Silva<br />

JOSÉ ORLANDO PEREIRA DA SILVA<br />

nasceu dia 06 de setembro de 1942 em<br />

João Pessoa/PB. Está em Brasília desde 1966,<br />

quan<strong>do</strong> veio transferi<strong>do</strong> como funcionário <strong>do</strong><br />

DNOCS. É bacharel em Ciências Jurídicas<br />

e Sociais pelo UniCEUB. Aposenta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

serviço público, estabeleceu sua banda de<br />

advocacia em Taguatinga, local onde mora e integra – como membro<br />

correspondente - a academia de letras. Além de escrever artigos para<br />

a revista “O Elo”, já publicou os livros “Memórias de Mato Grosso”,<br />

“Se Não Fosse o Primo Viterbo”, e “Direito Inspecional <strong>do</strong> Trabalho”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O DESTINO DE RONCÔ<br />

Editora: ATL<br />

Ano: 2007<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

A Musa<br />

Para o poeta<br />

A alma da mulher<br />

Transcende a visão sensual...<br />

Ao desenhá-la em versos,<br />

Transforma-a em deusa,<br />

De sinuosidades perfeitas,<br />

De inteligência angelical,<br />

Cultua-a como se fosse santa,<br />

Materializa sua fantasia<br />

E chama-a de musa!...<br />

Nem todas as mulheres,<br />

Menos ainda as evidentes,<br />

Mas só aquela<br />

Que lhe inspirou os versos:<br />

A mulher singular,<br />

Única, fascinante,<br />

De quem, mesmo à distância,<br />

O poeta vê a imagem,<br />

Ouve-lhe a voz,<br />

E roga por sua volta,<br />

Para abraçá-la!...<br />

154 155


“Mulher <strong>do</strong> baque solto<br />

menina da pá virada<br />

de arrepiar na quebrada<br />

mas isso ainda diz pouco<br />

pra entender a metiz<br />

a verve dessa atriz<br />

que além de tu<strong>do</strong> é poeta<br />

é uma mulher completa<br />

a nossa Lilia Diniz”<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Cacá<br />

Título: MIOLO DE POTE DA CACIMBA DE BEBER<br />

Edições: LAMPARINA K&R<br />

Ano: Março de 2007<br />

Lilia Diniz<br />

“Canto tu<strong>do</strong> o que existe<br />

canto o alegre e o triste<br />

sou poeta popular”<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

CD Gilson Alencar<br />

Encomenda<br />

In<strong>do</strong> à feira da Ceilândia<br />

Encontran<strong>do</strong> meu benzinho por lá<br />

Diz que eu tou quase morren<strong>do</strong><br />

Com uma saudade me<strong>do</strong>nha<br />

Passo o dia a choramingar.<br />

Diz que mande nem que seja<br />

Uma cuia de feijão pra mim<br />

Mas tem que ser <strong>do</strong> Piauí<br />

Ou intão mande uns cravim<br />

Pra eu mastigar to<strong>do</strong> dia<br />

E não esquecer <strong>do</strong>s seus bejim.<br />

Que se quiser pode mandar<br />

Uma buchada temperadinha<br />

Pelas mãos de Rita véia<br />

Com coentro e cebolinha<br />

Que bote assim de quebra<br />

Um punha<strong>do</strong> de farinha<br />

E tem que ser de puba<br />

Daquela caroçudinha.<br />

Aceito de muito bom gra<strong>do</strong><br />

Um queijo de coalho de Caicó<br />

Também me lambuzo todinha<br />

Ai, mas se ele vier junto<br />

Pra eu num ficar mais só...<br />

Vixe Maria! Que eu prometo<br />

Devorar ele tim tim por tim tim<br />

No café, no almoço, na janta<br />

Empunha<strong>do</strong> ele de abraço e de bejim<br />

Tempero nosso imenso querer<br />

Arrisco até uns versim<br />

Mas vê se passa mermo<br />

Passa na feira da Ceí<br />

Traz essa encomenda pra mim.<br />

156 157


Márcio Cotrim<br />

MÁRCIO DA SILVA COTRIM nasceu<br />

dia 14 de março de 1939 no Rio de<br />

Janeiro/RJ. Está em Brasília desde 1972.<br />

É jornalista e escritor. Publicou em 1985<br />

o clássico “Crônica da Cidade Amada”.<br />

Cidadão Honorário de Brasília, foi Secretário<br />

de Cultura e idealiza<strong>do</strong>r da “primeira<br />

prefeitura de quadra” na 303 Sul, em 1977. Atual diretor-executivo da<br />

Fundação Assis Chateaubriand, <strong>do</strong>s Diários Associa<strong>do</strong>s, também faz<br />

parte <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico <strong>do</strong> Distrito Federal.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: CRÔNICA DA CIDADE AMADA<br />

Editora: THESAURUS<br />

Ano: 1985<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Brasília em Cascata<br />

(fragmentos)<br />

Alvíssaras, alvíssaras! Já está funcionan<strong>do</strong> a primeira cascata<br />

numa quadra residencial de Brasília! Novinha em folha, fica na SQSW<br />

101 entre os blocos C e J, no Su<strong>do</strong>este.<br />

A iniciativa foi da prefeitura da quadra, cujo titular é Luciano<br />

Gnone. A vice-prefeita, mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> bloco J, é a simpática Eneida<br />

Carbonel, com quem conversei sobre o assunto outro dia. O prefeito<br />

estava viajan<strong>do</strong>.<br />

A cascata, inaugurada dia 20 de dezembro passa<strong>do</strong>, custou<br />

cerca de 5 mil reais, pagos pela comunidade. Isso, é claro, sem contar o<br />

paisagismo e a urbanização <strong>do</strong> local.<br />

É uma graça. Traz umidade, cria delicioso microclima em seu<br />

re<strong>do</strong>r e ainda tem, para torná-la mais simpática, pequena ponte em<br />

japonês e acolhe<strong>do</strong>res bancos que formam - em semicírculo - uma<br />

pracinha. Neles apetece sentar, ler o jornal, namorar ou simplesmente<br />

ficar pensan<strong>do</strong> na vida.<br />

Jovens mamães e seus pimpolhos, senhoras e senhores, vovós<br />

e vovôs estão a<strong>do</strong>ran<strong>do</strong>, ali têm novo refúgio diário. Aproveitam o sol<br />

generoso <strong>ao</strong> som <strong>do</strong> barulhinho da água que cai e rola. Um universo<br />

mágico. Em meio à fanfarra pessoal de júbilo com a inovação, permitame<br />

lembrar-lhe que é como um sonho realiza<strong>do</strong>.<br />

Sim, porque venho defenden<strong>do</strong> constantemente, repetidamente,<br />

a construção de chafarizes nas quadras de Brasília. Considero-me um<br />

chafarizeiro de carteirinha - que não é vantagem, nem privilégio numa<br />

cidade que padece, esturricada, quatro meses por ano, de uma seca<br />

feroz. E, como sabe até um bebê de colo, a solução para a seca é água,<br />

simplesmente água.<br />

Não me venha falar em desperdício , que a cidade não pode darse<br />

a esse luxo porque as reservas <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> são escassas: os chafarizes<br />

quase não gastam água. Ela circula e sua evaporação não passa de 3%,<br />

segun<strong>do</strong> os técnicos da área.<br />

Em vez de chafariz, cascata. Tu<strong>do</strong> bem, principalmente para as<br />

crianças, as maiores vítimas da seca. Cascata vem <strong>do</strong> italiano e significa<br />

“pequena queda d´água”.<br />

158 159


Margarida Drumond<br />

MARGARIDA DRUMOND DE<br />

ASSIS nasceu dia 10 de junho em<br />

Timóteo/MG. Filha de Manuel de Assis<br />

Bowen e Margarida Pacífico Drumond – cujo<br />

sobrenome já diz tu<strong>do</strong> sobre sua vocação para<br />

a literatura. Está em Brasília desde 1986. É<br />

professora, bibliotecária e membro efetiva da<br />

Academia Taguatinguense de Letras. Já quase chegan<strong>do</strong> <strong>ao</strong>s 49 títulos<br />

<strong>do</strong> “poeta <strong>do</strong> século”, sua vasta produção inclui os seguintes livros:<br />

Um Conflito no Amor, Aconteceu no Cárcere, Tempo de Saudade,<br />

No Acerto <strong>do</strong>s Bondes, Busca de Você, Além <strong>do</strong>s Versos, Pegadas no<br />

Tempo, Não Dá Pra Esquecer, Isso, Aquilo e Mais um Pouco, Padre<br />

Antonio de Urucânia a sua Bênção, Miragem, Além da Imaginação,<br />

A Busca da Paz, Seria Feliz se Pudesse, Preito a José de Alencar e De<br />

Novo o Amor.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: DE NOVO O AMOR<br />

Editora: PETRY/FAC<br />

Ano: 2006<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Ode <strong>ao</strong> Poeta <strong>do</strong> Século no Brasil<br />

(fragmentos)<br />

Em cada poema vejo-te,<br />

oh, Drummond, de Itabira das Gerais.<br />

Teus versos inovam,<br />

prescindem de uma métrica regular<br />

ou de uma rima,<br />

mas conservam o ritmo,<br />

tão necessário à poesia.<br />

Finda agora o século em que nasceste,<br />

e, no comecinho <strong>do</strong> novo, no ano <strong>do</strong>is,<br />

lembramos o teu centenário.<br />

Com justiça foste eleito o poeta <strong>do</strong> século no Brasil.<br />

Assim, ergo-te este meu cantar:<br />

simples, mas um canto, Drummond, que tu, aí de onde estás,<br />

sentirás é pura poesia.<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

o espírito de Minas Gerais também me visita.<br />

E mais cautelosa ainda estou.<br />

No emaranha<strong>do</strong> destes novos tempos,<br />

onde a realidade é mais forte que o sentimento,<br />

confundin<strong>do</strong>-me sempre,<br />

ergo-te este canto.<br />

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Meireluce Fernandes<br />

MEIRELUCE FERNANDES DA<br />

SILVA nasceu dia 11 de setembro<br />

em Marabá/PA. Está em Brasília há 37<br />

anos. Formada em Pedagogia, mestra<strong>do</strong> em<br />

Biblioteconomia, <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Propriedade<br />

Intelectual pela Universidade de Sussex,<br />

Inglaterra (1998) e mestra<strong>do</strong> em Ciência da<br />

Informação pela Universidade de Brasília (1981). Organizou em 2005<br />

a antologia “Versos & Prosa” para a Academia de Letras e Música <strong>do</strong><br />

Brasil. É escritora, diretora de cooperação internacional da Agência<br />

Espacial Brasileira e a atual presidenta <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong><br />

DF. É também membro efetiva da Academia de Letras <strong>do</strong> Distrito<br />

Federal.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: SONHAR... AMAR... VIVER....<br />

Editora: EDICEL<br />

Ano: 2002<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

O Mar<br />

O mar estava tranqüilo<br />

Sem vento,<br />

A água morna,<br />

O sol abrasante...<br />

E eu a sonhar,<br />

Um sonho distante...<br />

Ven<strong>do</strong> as ondas<br />

Baten<strong>do</strong> nas pedras,<br />

O horizonte infin<strong>do</strong>...<br />

Qual uma longa espera,<br />

O barulho que vem<br />

De longe...<br />

Não é qualquer barulho,<br />

É aquele que faz vibrar<br />

O mais distante pensamento.<br />

O cheiro é sensual...<br />

Em mim provocante...<br />

Por que não dizer<br />

Afrodisíaco?...<br />

Mar, introspecções e reflexões<br />

Nos traz...<br />

Com tuas pedras, tuas rochas<br />

E o teu brilho,<br />

Que reluz, parecen<strong>do</strong> cristais.<br />

Meus cabelos esvoaçantes<br />

Como barcos velejantes...<br />

Querem em ti flutuar,<br />

Porém só me resta desejar...<br />

162 163


Menezes y Morais<br />

JOSÉ MENEZES DE MORAIS nasceu<br />

dia 29 de julho de 1951 em Altos/<br />

PI. Licencia<strong>do</strong> em História pela UnB,<br />

é professor, jornalista e poeta. Pioneiro<br />

<strong>do</strong> Sindica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Escritores, foi um <strong>do</strong>s<br />

seus funda<strong>do</strong>res que em 1977 assinou o<br />

requerimento no Ministério <strong>do</strong> Trabalho<br />

para a transformação da Associação Profissional <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong> DF<br />

em entidade classista. Publicou em 1975 o livro “Laranja Partida <strong>ao</strong><br />

Meio”. Tem participa<strong>do</strong> de inúmeras antologias e integra o já histórico<br />

Coletivo de Poetas candangos.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: COLETIVO DE POETAS<br />

Edição: SINDICATO DOS ESCRITORES/DF<br />

Ano: 1992<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Domicílio Inviolável<br />

tu<strong>do</strong> me leva a ti camponesa<br />

com teus olhos de framboeza e teucheiro de abacaxi<br />

amo em ti esta manhã revolucionária bem pagu pra lá de passionária<br />

manhã de sonhos de marcas de cervejas em tua boca-cereja<br />

e obturações de porcelana<br />

meu coração liga tripa meu coração legião urbana<br />

clo<strong>do</strong> clésio climério paus de arara e suburbanos<br />

ita catta preta al<strong>do</strong> justo beirão jorge antunes nonato veras<br />

meu coração marginal anuncia a primavera<br />

a estrada da saudade é apenas a estação <strong>do</strong> encontro<br />

e ondexiste vírgula leia-se pronto!<br />

isto não passa da frituras de linguagem<br />

a tv serve a tua ceia a gente ranga tuas metáforas<br />

preparadas em forno de raio-laser com satélites e microondas<br />

camponesa camponesa bebo de tua sede<br />

banho em tua fonte e persigo os teus desejos<br />

são renato matos regae por nós<br />

regina ramalho nicolas behr cineas santos orai pro nobis<br />

maria da inglaterra otacílio mendes elnora paiva<br />

meu coração caloro nesta vida banda de bandi<strong>do</strong>s<br />

salga<strong>do</strong> maranhão sérgio duboc gadelha joão baiano vicente sá<br />

to<strong>do</strong> dia é dia da nossa marginalegria<br />

a utopia é de quem acreditar por derradeiro<br />

a utopia é de quem acreditar primeiro<br />

em matéria de gravidez não existe meio termo<br />

se não somos assim seja vire a mesa<br />

meu coração plebe rude não se ilude<br />

escola de escândalos arte no escuro nexo dia d 5 generais<br />

bsb-h artigo 153 unidade móvel eduar<strong>do</strong> rangel banda trem das cores<br />

meu coração capital inicial<br />

to<strong>do</strong>s os corações filhos da luta to<strong>do</strong>s os filhos da luta<br />

a vida é <strong>do</strong>micílio inviolável a vida é nossossonhos nossaboca nossacoragem<br />

o infinito <strong>do</strong> azul é a senha da vertigem e a vertigem é a senha da viagem.<br />

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Nicolas Behr<br />

NICOLAS (NIKOLAUS HUBERTUS<br />

JOSEF MARIA VON) BEHR<br />

nasceu dia 05 de agosto de 1958 no<br />

distrito Diamantino de Cuiabá/MT, filho<br />

de imigrantes alemães. Veio em 1974 para<br />

“a capital da esperança”. Publicou em 1977<br />

seu best-seller mimeografa<strong>do</strong> “iogurte com<br />

farinha”. Em 1982, aju<strong>do</strong>u a fundar o move<br />

(movimento ecológico de brasília). Em 1986, transferiu suas atividades<br />

ambientalistas pra funatura (fundação pró-natureza). Dedica-se, desde<br />

então, à produção de mudas de espécies nativas <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>. É autor <strong>do</strong><br />

projeto “Poesia de 2ª” (sarau livre realiza<strong>do</strong> toda 2ª segunda-feira de<br />

cada mês) no Quiosque Cultural <strong>do</strong> Ivan da Presença. Contemporâneo<br />

de Renato Russo, é ti<strong>do</strong> como “o maior poeta das letras candangas”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: OITOPOEMASPARACEILÂNDIA<br />

Editora e Gráfica: TEIXEIRA<br />

Ano: 2009<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

o poeta descobre<br />

as cidades satélites<br />

e em entra em órbita<br />

mas não sabe a diferença<br />

entre taguatinga centro e taguacenter<br />

e eu pensava que ceilândia<br />

tinha alguma coisa a ver<br />

com ceilão - não tem não<br />

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Pedro Gomes<br />

PEDRO GOMES DA SILVA nasceu dia<br />

09 de abril de 1941 em uma fazenda no<br />

Distrito de Iabetê - antiga Ponte Alta <strong>do</strong><br />

Norte/GO, atual Ponte Alta <strong>do</strong> Tocantins/<br />

TO. Técnico de Administração Pública, em<br />

1977 tornou-se o primeiro membro da sua<br />

família com diploma de curso superior. Veio<br />

para a Cidade Livre de Brasília em 1960. Pioneiro de Taguatinga, faz<br />

questão de declarar que “viu bem de perto o nascimento da Ceilândia”,<br />

onde hoje leciona a sua filha. Participou das antologias da Casa <strong>do</strong> Poeta<br />

Brasileiro(POEBRAS-DF) “Brasília 25 Anos” de 1985 e “Dez Anos de<br />

Poesia e União” de 1988. Publicou em 2000 o livro “O Tortura”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O TORTURA<br />

Editora: GRÁFICA TEIXEIRA<br />

Ano: 2000<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Colo Ama<strong>do</strong><br />

Colo inigualável<br />

é o da bem amada,<br />

onde declinamos a cabeça<br />

sob o afago abençoa<strong>do</strong>.<br />

Colo benfazejo,<br />

fonte <strong>do</strong>s desejos<br />

celeiro das inspirações.<br />

Acalento das ilusões.<br />

Colo bonito.<br />

Colo bendito.<br />

Colo anguloso.<br />

Colo formoso.<br />

Colo inigualável.<br />

é o da bem amada,<br />

travesseiros <strong>do</strong>s prazeres,<br />

fontes <strong>do</strong>s desejos,<br />

celeiro das inspirações.<br />

Colírio da visão.<br />

Colo belo,<br />

calmante <strong>do</strong> meu flagelo.<br />

Prêmio <strong>do</strong> amor sincero.<br />

Colo bonito.<br />

Colo bendito.<br />

Colo anguloso.<br />

Colo gostoso.<br />

168 169


Popó Magalhães<br />

POPÓ MAGALHÃES SOUSA nasceu<br />

dia 03 de junho de 1950 em Santa<br />

Quitéria/CE. Pioneiro candango, está em<br />

Brasília desde 1960, quan<strong>do</strong> aqui chegou <strong>ao</strong>s<br />

oito anos de idade. Diploma<strong>do</strong> em Letras e<br />

Administração e pós-gradua<strong>do</strong> em Literatura<br />

Brasileira e Língua Portuguesa, é professor da<br />

rede pública de Ceilândia desde os primórdios da cidade. Assim como<br />

“libertário literário”, Popó bem que poderia ser chama<strong>do</strong> de “o poeta<br />

das epígrafes”. Publicou em 2000 o livro “As Nuvens de Magalhães”.<br />

Além de pertencer à Academia Taguatinguense de Letras é também<br />

membro The Planetary Society, com sede em Pasadena/EUA.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: EU ANJO EU CANALHA<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 1998<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

<strong>do</strong> Poeta, de Poetas<br />

“Sou criança, quan<strong>do</strong> meu la<strong>do</strong> adulto se faz necessário uma criança;<br />

sou adulto ou mais que adulto, quan<strong>do</strong> a criança quer tomar conta de mim.”<br />

Incansável poeta,<br />

Poeta improvável.<br />

Na sua mão a arma:<br />

A sua amiga caneta,<br />

Azul, vermelha, qualquer preta...<br />

Voa o seu coração de Cazuza,<br />

Usa os chicos verbos...<br />

Dylan, Leminsky, não arisque.<br />

Muralha, Nicolas, Popó sem pó,<br />

Sem dó, sol maior... e voz <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>,<br />

Do mun<strong>do</strong> imun<strong>do</strong>...<br />

Trova <strong>ao</strong>s sába<strong>do</strong>s em Brasília e Poa,<br />

Taguatinga, Ceilândia-boa.<br />

E no álcool das piscinas,<br />

Acorda suas meninas, lágrimas nas retinas.<br />

Chora,<br />

Canta,<br />

Bebe,<br />

Maldiz,<br />

Não diz...<br />

Feliz,<br />

Infeliz,<br />

Poeta incansável...<br />

Boêmio, menino,<br />

E talvez um destino...<br />

170 171


Sandra Fayad<br />

SANDRA FAYAD nasceu dia 15 de<br />

fevereiro em Catalão/GO, filha de<br />

família sírio-libanesa. <strong>Candanga</strong> de coração,<br />

guarda as boas recordações <strong>do</strong> tempo em<br />

que lecionou para crianças da Vila Tenório<br />

antes de serem removidas para a Ceilândia.<br />

Economista por formação e cronista por<br />

vocação, atua como colunista em vários portais, revistas e jornais<br />

virtuais, além <strong>do</strong>s textos publica<strong>do</strong>s no Diário de Catalão a partir das<br />

pesquisas de observação da sua Horta Comunitária experimental. Foi<br />

deste projeto que saiu a publicação <strong>do</strong> livro “Animais que Plantam<br />

Gente”. Tem participação nas seguintes coletâneas: “Antologia <strong>do</strong>s<br />

Escritores Brasileiros” (2006), “Roda Mun<strong>do</strong>” (2007) e “Navegantes<br />

das Letras” (2008).<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: ANIMAIS QUE PLANTAM GENTE<br />

Editora: LGE<br />

Ano: 2008<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Acróstico <strong>do</strong> Tamanduá Bandeira<br />

Tua figura não se classifica de beleza.<br />

Aparentas ser até bicho desagradável,<br />

Mas és um ser como eu, com certeza.<br />

Animal que sente, ama. És afável!<br />

No habitat, atacas apenas uma zona:<br />

Depreda<strong>do</strong>r de cupins e formigueiros,<br />

Usan<strong>do</strong> patas com garras e linguona,<br />

Alimentas teu corpo por inteiro.<br />

Bonito é o teu papel na natureza.<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> tatu e <strong>do</strong> bicho preguiça,<br />

No reino <strong>do</strong>s Xenarthra, és realeza.<br />

De insetos vives, mas se fogo te incendeia,<br />

Esturrica<strong>do</strong> ficas, sem chance de defesa.<br />

Investir em ti, tirar-te dessa intricada teia,<br />

Recuperar tua espécie será grande proeza,<br />

A consagrar político, cientista e até princesa.<br />

(*) Referência <strong>ao</strong> incêndio de 2007 no Parque Nacional de Brasília<br />

que exterminou inclusive os tamanduás em fase de reprodução.<br />

172 173


Tetê Catalão<br />

TETÊ VANDERLEI DOS SANTOS<br />

CATALÃO nasceu dia 22 de novembro<br />

de 1948 no Rio de Janeiro/RJ. Veio para<br />

Brasília em 1972. Apesar de nunca ter escrito<br />

seu próprio livro, destacou-se como um <strong>do</strong>s<br />

protagonistas <strong>do</strong> histórico Projeto Cabeças;<br />

além das destacadas participações nas<br />

antologias alternativas candangas da “Ebulição da Escrivatura” (1976)<br />

e <strong>do</strong>s “16 PoRRetas” (1979). Hoje, além de jornalista profissional<br />

brasiliense reconhecidíssimo, atua como fotógrafo ama<strong>do</strong>r cultural<br />

discretíssimo.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: 16 POrrETAS<br />

Editora: SIND. JORNALISTAS<br />

Ano: 1979<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Fala Ceilândia<br />

Fala satélite<br />

Fala para a elite<br />

Fala para plebe<br />

Fala Satélite<br />

(fragmentos)<br />

174 175<br />

Fala e cala<br />

Fala para quem te impede<br />

Fala satélite bota barro no carpete<br />

Berra no acrílico da maquete<br />

Periferia bracelete <strong>do</strong> plano e seu piloto<br />

Plana satélite - mete a gilete no joguete - dá o troco<br />

Éter satélite - sonhos e buscas - boca de filete<br />

Desmente essa cultura lanchonete - faz piquete<br />

Brota satélite - para não ser curral nem marionete<br />

Mostra que pode - mata a sede - arrisca a pele, mostra o bode<br />

Faz satélite e vai ser célebre - celebre!


Valnira Vaz<br />

VALNIRA DE MELO VAZ nasceu dia 30 de outubro em Recife/<br />

PE. Está em Brasília desde 1962. É diplomada em Psicologia e<br />

atua como professora no Centro de Ensino Médio 10 da Ceilândia,<br />

onde integra - com os demais educa<strong>do</strong>res - o projeto literário ADIP<br />

(Academia Dez da Imortalidade Poética), responsável pela publicação<br />

da coletânea escolar “Celebrações Poéticas” e que contou com o<br />

apoio (e reconhecimento) da UNESCO e <strong>do</strong> Ministério da Educação.<br />

Publicou em 1994 o livro “Turmalina”.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: TURMALINA<br />

Editora: THESAURUS/ASEFE<br />

Ano: 1994<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Alheamento<br />

TÊNUES imagens vindas e findas,<br />

Desvelam-se <strong>ao</strong> meu alhear-me<br />

E nesse cicio espontâneo, inda que lindas,<br />

Segredam sonhos <strong>ao</strong> desperto estagnar-me.<br />

Para onde vai o pensamento<br />

Quan<strong>do</strong> o olhar passa pela janela?<br />

Onde o vagar <strong>do</strong> meu incero olhar<br />

Pinta cores em distante tela?<br />

Que rumos descreve o pensar liberto,<br />

Solto, <strong>ao</strong> contemplar a lua tremeluzente<br />

Nas águas de regato incerto?<br />

Como a consciência da consciência ausente?<br />

Só sei que deliro.<br />

E nesse devaneio creio o que crio,<br />

Dan<strong>do</strong>, a essa seda, a razão<br />

Esvoaçante da emoção.<br />

176 177


Xiko Mendes<br />

XIKO MENDES (FRANCISCO<br />

DA PAZ M. DE SOUZA) nasceu<br />

no emblemático 1968 (“o ano que não<br />

terminou”), em Formoso de Minas Gerais.<br />

Mora na histórica cidade de Planaltina desde<br />

1989. É professor de História e Filosofia da<br />

Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação <strong>do</strong> Distrito<br />

Federal. Pós-gradua<strong>do</strong> em Ecologia Urbana pela Universidade Católica<br />

de Brasília, é também muito conheci<strong>do</strong> como poeta e historia<strong>do</strong>r<br />

cerratense. Em parceria com o professor Ronal<strong>do</strong> Mousinho, organizou<br />

a coletânea <strong>do</strong> “Projeto Aluno-Escritor/Planaltina” (ASEFE/1996).<br />

Publicou em 2002 seu épico livro “Formoso de Minas no final <strong>do</strong> Século<br />

XX – 130 Anos” (uma paidéia de quase mil páginas conten<strong>do</strong> até um<br />

“hino” à sua terra natal). É membro funda<strong>do</strong>r da Academia Planaltinense<br />

de Letras/APL e ainda faz parte da Academia de Letras e Artes <strong>do</strong> Planalto/<br />

Luziânia-GO, da Academia de Letras <strong>do</strong> Noroeste de Minas/Paracatu-MG<br />

e da Associação Nacional de Escritores/ANE-Brasília.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: O MITO DA INTERIORIZAÇÃO ATRAVÉS DE BRASÍLIA<br />

Edição: ASEFE<br />

Ano: 1995<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Ler é Viver!<br />

Ler um livro é ignorar fronteiras;<br />

Expor-se a idéias como <strong>ao</strong> vento;<br />

É derrubar muralhas e trincheiras<br />

Apenas com a força <strong>do</strong> pensamento.<br />

Ler um livro é esquecer o relógio;<br />

Porque idéias pulsam como as horas;<br />

Transcendem a morte e os necrológios,<br />

Transformam a vida e a nossa história.<br />

Ler um livro na escola ou em casa<br />

É sentir sem perceber o que é liberdade<br />

Porque o livro é como se fosse a asa,<br />

Pois a gente voa em busca de verdades.<br />

Ler um livro é transportar sonhos<br />

No delírio pleno que, em cada palavra,<br />

Me faz ver o quanto me envergonho...<br />

Quan<strong>do</strong> dizem algo <strong>do</strong> qual não sei nada.<br />

É para isto que sempre leio um livro:<br />

É para saber sempre e cada vez mais.<br />

Com um livro sinto que de fato vivo<br />

Porque viver é não deixar de ler... Jamais!<br />

178 179


Zé Luiz<br />

JOSÉ LUIZ MUNIZ GOMES nasceu<br />

dia 30 de setembro de 1953 em Coroatá/<br />

MA. Mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong> Setor ‘P’ Sul da<br />

Ceilândia, orgulha-se de ter ajuda<strong>do</strong> a fundar<br />

a paróquia da Mãe Divina Providência,<br />

<strong>ao</strong>nde até hoje presta seus serviços cristãos.<br />

Publicou em 1999 seu único livro “Renúncia”.<br />

Ex-atleta maratonista, hoje trabalha como feirante na ASFEGUASUL<br />

(a feira localizada entre a Guariroba e o ‘P’ Sul) e acredita piamente na<br />

força comunitária da sua gente.<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

Título: RENÚNCIA<br />

Edição: PRÓPRIA<br />

Ano: 2003<br />

“Oh! Mãe da Divina Providência<br />

Que nos acolhestes com seu olhar<br />

Estenda sua mão e dai-nos proteção”<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Fala Povo<br />

Vou relatar o meu pensar<br />

Nesse espaço da poesia<br />

Da agonia que é viver<br />

Nesse pedaço de chão<br />

Fala povo, chora povo<br />

Mas não se cala não<br />

Se for preciso, morra povo<br />

Nesse pedaço de chão<br />

Povo que perde a voz<br />

Não é cidadão<br />

Não pode ficar entre nós<br />

Nesse pedaço de chão<br />

Povo ameaça<strong>do</strong>, denuncia<br />

Exerce sua cidadania<br />

O silêncio nunca foi solução<br />

Nesse pedaço de chão.<br />

180 181


À conterrânea de mala paraibana MARIA JOSÉ<br />

PASSAGEIRO DAS ESTRELAS<br />

A luz que acendeste aqui<br />

Vulcão que não a<strong>do</strong>rmece mais<br />

O que espantava em ti<br />

Um lobo acordan<strong>do</strong> a paz<br />

O voo que tentaste dar<br />

Trapézio foi curto demais.<br />

Que mensagem tentaste passar<br />

Si no riso de nosso olhar<br />

Reflete o sinal da <strong>do</strong>r<br />

Não foi tão natural<br />

A espanhola despencou<br />

E o pedaço da noite<br />

Escureceu sem teu amor<br />

O vento que enfeitava teus cabelos<br />

Te iludiu, te fechou<br />

Tu que enfeitavas a natureza<br />

Aqui para nós, quem te ensinou?<br />

Mumunhas, OLHOS D´ÁGUA, poço azul<br />

O disco avoantes que tu eras<br />

Poeta, lobo sentinela<br />

Si escuta na floresta<br />

A voz <strong>do</strong> rapaz<br />

Ladeira de águas limpas<br />

Pára-raio da nobreza<br />

Sereno de teu olhar<br />

Acendes nossas fogueiras<br />

Quan<strong>do</strong> formos acampar<br />

Presença em todas as fontes<br />

Brisa pra rememorar.<br />

(A SERENATA DA ACAUÃ)<br />

Capítulo V<br />

Os Pioneiros<br />

das<br />

Letras <strong>Candanga</strong>s<br />

182 183


Stella Ro<strong>do</strong>poulos<br />

Jamais verão a morte<br />

<strong>do</strong>s meus sonhos!...<br />

Pelo fato de ter si<strong>do</strong> eleita pela comunidade<br />

literária candanga como “A Patronesse da<br />

27ª Feira <strong>do</strong> Livro de Brasília edição 2008”- e<br />

também em atenção à solicitação feita pelos nossos<br />

estima<strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res Gustavo Doura<strong>do</strong> e Maria Félix - foi que<br />

solidariamente incluímos aqui o nome desta eloqüente escritora.<br />

STELLA ALEXANDRA RODOPOULOS nasceu dia 05 de outubro<br />

em Itacuruçá, município de Mangaratiba/RJ. Seus pais, naturais da<br />

Grécia, vieram para o Brasil em 1928. Residiu algum tempo em São<br />

Paulo, onde se casou em 1960 e, logo em seguida, veio para Brasília; daí<br />

o epíteto de “pioneira das letras candangas”. Como membro efetiva<br />

da Academia de Letras e Música <strong>do</strong> Brasil/ALMUB e detentora de<br />

valorosos prêmios, já recebeu a Comenda Carlos Gomes; pelo conjunto<br />

de toda a sua obra, recebeu o Troféu Johan Sebastian Bach; além da<br />

oportunamente desejada Medalha de Ouro da Academia Internacional<br />

de Lutéce, na França. Nossa escritora homenageada ainda pertence<br />

<strong>ao</strong> Instituto Internacional de Poesia/RS, à Casa <strong>do</strong> Poeta Brasileiro/<br />

POEBRAS-DF e à Academia de Letras de Brasília.<br />

A PATRONESSE DAS LETRAS CANDANGAS<br />

ESCRITORA PIONEIRA<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Stella: Estrela é...<br />

De grandeza universal<br />

Mãe, mulher e escritora<br />

Vate <strong>do</strong> transcendental<br />

Nossa Cora Coralina:<br />

Do Distrito Federal...<br />

Stella no Reino Encanta<strong>do</strong><br />

O Cavalinho Sonha<strong>do</strong>r<br />

Filha de Itacuruçá<br />

Mangaratiba, um primor...<br />

Do Rio de Janeiro para o Mun<strong>do</strong>:<br />

Com suas Pétalas de Amor...<br />

Os seus pais eram da Grécia,<br />

Divina terra de Platão...<br />

Tem a poesia no sangue:<br />

A arte da transmutação...<br />

Nossa Princesa <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>:<br />

É Rainha <strong>do</strong> Coração...<br />

Uns tempos na Paulicéia<br />

Nossa Sampa capital<br />

Em janeiro de 1960<br />

Em um ato ritual...<br />

Mu<strong>do</strong>u-se para Brasília:<br />

Luz <strong>do</strong> Planalto Central...<br />

Cordel para Stella<br />

(homenagem <strong>do</strong> Poeta Amarge<strong>do</strong>n)<br />

Pioneira... Bandeirante<br />

Na Capital Federal...<br />

Stella pra lá de estrela<br />

Telúrica-espiritual...<br />

Escritora cristalina:<br />

Criativa e fraternal...<br />

Stella Alexandra Ro<strong>do</strong>poulos<br />

Serena, da alma pura<br />

Límpida, diamantina<br />

Semeia amor e ternura<br />

Mãe, mulher e pensa<strong>do</strong>ra:<br />

Deusa da Literatura...<br />

Em Paris, cidade-luz...<br />

Stella recebe o louro<br />

Da Academia de Lutèce<br />

Ganha a Medalha de Ouro...<br />

É consagrada na França:<br />

Com um brilhante tesouro...<br />

Um exemplo para to<strong>do</strong>s<br />

Do Distrito Federal<br />

Poesia, amor e bondade<br />

Na senda espiritual...<br />

Uma estrela que brilha<br />

No cenário universal...<br />

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Newton Rossi (em memória)<br />

Última Foto: ATL<br />

Data: 2007<br />

Em reverência <strong>ao</strong> Poeta Muralha – parceiro de<br />

Newton Rossi no livro “Academia em Dois<br />

Discursos” – é que dedicamos esta página à memória <strong>do</strong><br />

último trova<strong>do</strong>r candango. NEWTON EGÍDIO ROSSI, que nasceu<br />

dia 29 de setembro de 1926 em Ouro Fino/MG e faleceu dia 28 de agosto<br />

de 2007. Amigo pessoal <strong>do</strong> presidente JK, veio de Belo Horizonte<br />

para Brasília em 1960. Como empreende<strong>do</strong>r, foi proprietário da Loja<br />

Cipal de eletro<strong>do</strong>mésticos, funda<strong>do</strong>r da Federação Comercial <strong>do</strong> DF e<br />

diretor <strong>do</strong> SESC-DF por 25 anos. Teve seu “necrológio”recita<strong>do</strong> pelo<br />

presidente da Associação Nacional de Escritores Joanyr de Oliveira,<br />

no que se seguiu uma “homenagem crepuscular” com declamações de<br />

Ronal<strong>do</strong> Mousinho, Gacy Simas, Rosidete Rose e Donzílio Luiz - este<br />

último, presidente da ACLAP. Por fim, o que mais poderia simbolizar<br />

a presença desse “mecenas candango” nesta coletânea senão a justa,<br />

porém inesperada homenagem que seu nome trouxe <strong>ao</strong> “primeiro<br />

teatro da Ceilândia”:<br />

TEATRO SESC CEILÂNDIA<br />

TROVAS ESCOLHIDAS - livro com a última trova escrita por NEWTON ROSSI.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Meu Canto Derradeiro<br />

Em meu canto derradeiro,<br />

Bendizen<strong>do</strong> o <strong>do</strong>m da vida,<br />

Meu coração fica inteiro<br />

Na trova da despedida.<br />

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Clemente Luz (em memória)<br />

Foto: Fernan<strong>do</strong> Luz<br />

Data: 1993<br />

CLEMENTE RIBEIRO DA LUZ<br />

nasceu dia 22 de setembro de 1920<br />

em Delfim Moreira/MG e faleceu em<br />

17 de outubro de 1999 na Ceilândia/DF.<br />

Pioneiro candango, veio para Brasília em<br />

1958. Escritor e jornalista, tornou-se o<br />

primeiro cronista da nova capital; ofício que exercia diariamente - e de<br />

ônibus - no trajeto de sua residência <strong>ao</strong> trabalho (Radiobrás) no Plano<br />

Piloto. Tem em sua rica bibliografia “Ombros Caí<strong>do</strong>s” (1942), “Bilino e<br />

Jaca, o Mágico” (1943), “Infância Humilde de Grandes Homens” (1944),<br />

“Aventura da Bicharada” (1949), “O Caça<strong>do</strong>r de Mosquitos” (1956),<br />

“Pedro Pipoca” (1958) “Invenção da Cidade” (1968) e “Minivida”<br />

(1972). Juntamente a esta recente biografia - feita em parceria com o<br />

historia<strong>do</strong>r da literatura candanga Ronal<strong>do</strong> Mousinho - estamos reunin<strong>do</strong><br />

outras publicações (como os livros reproduzi<strong>do</strong>s abaixo) para o já tardio<br />

“Projeto Editorial Clemente Luz”.<br />

O CRONISTA DOS CANDANGOS<br />

CEILÂNDIA NASCE UMA CIDADE - MINI VIDA - CEILÂNDIA TEM MEMÓRIA<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Tributo À Memória<br />

Com a transferência de favela<strong>do</strong>s, promovida pela Comissão<br />

de Erradicação das Invasões, em 1971, cerca de 16 mil famílias foram<br />

transportadas, em caminhões da NOVACAP, da Vila <strong>do</strong> IAPI, das vilas<br />

Tenório, Esperança, e outras nas cercanias <strong>do</strong> Núcleo Bandeirante - e<br />

atiradas, com seus pobres pertences - em lotes de dez por vinte e cinco<br />

metros, apenas demarca<strong>do</strong>s por piquetes de madeira, em ruas apenas<br />

delineadas, num loteamento que só se definiu muito tempo depois.<br />

Esse povo sofri<strong>do</strong>, ainda com as marcas da longa viagem<br />

migratória, e que não encontrou em Brasília o “el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>” prometi<strong>do</strong>,<br />

deixou a condição de invasor para entrar na posse <strong>do</strong> direito de<br />

construir a moradia em lote próprio, embora sem condições mínimas<br />

de conforto. Essa marcha rumo à nova terra de Canaã é a história<br />

desse povo migrante, que povoou inicialmente Taguatinga, depois foi<br />

assenta<strong>do</strong> em Ceilândia - nome nasci<strong>do</strong> da sigla CEI.<br />

(*) Crônica compilada <strong>do</strong> livro Ceilândia Tem Memória.<br />

188 189


Drummond na Ceilândia<br />

Por uma dessas ironias que a história nos reserva,<br />

aconteceu que, nos i<strong>do</strong>s de 1979, quan<strong>do</strong><br />

escrevia a “Crônica das Favelas Brasileiras”,<br />

eis que um noticiário sobre “a maior favela <strong>do</strong><br />

Brasil” chamou a atenção de CARLOS DRUMMOND DE<br />

ANDRADE (31/10/1902+17/08/1987) para a Ceilândia. E assim<br />

nasceria seu sociológico “prosoema”. Porém, o mais curioso foi a sua<br />

publicação concomitante à evidência <strong>do</strong> combativo Movimento <strong>do</strong>s<br />

Incansáveis Mora<strong>do</strong>res da Ceilândia que - naquele perío<strong>do</strong> de ditadura<br />

militar - além de lutar por moradia e democracia, também produzia<br />

cultura; e em 1981 lançou o livreto “A Ceilândia Ontem, Hoje... E<br />

Amanhâ?”, conten<strong>do</strong> o texto inédito <strong>do</strong> “maior poeta da literatura<br />

contemporânea brasileira”, além das ilustrações <strong>do</strong>s geniais irmãos<br />

Vieira e <strong>do</strong>s versos em cordel de Nadir Tavares. Tais coincidências<br />

se deveram à vinculação <strong>do</strong>s incansáveis com a Ação Cristã Pró-<br />

Gente e dessa com a CNBB, que através <strong>do</strong> Centro Ecumênico de<br />

Documentação e Informação editaria a revista Tempo e Presença,<br />

trazen<strong>do</strong> por fim o tal “Confronto de Drummond”.<br />

CRÔNICA DAS FAVELAS BRASILEIRAS<br />

Revista Tempo e Presença - CEDI<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Confronto<br />

A suntuosa Brasília e a esquálida Ceilândia<br />

contemplam-se.<br />

Qual delas falará primeiro?<br />

Que têm a dizer ou a esconder<br />

uma em face da outra?<br />

Que mágoas, que ressentimentos<br />

prestes a saltar da goela coletiva<br />

E não se exprimem?<br />

Por que Ceilândia fere o majestoso<br />

orgulho da flórea capital?<br />

Por que Brasília resplandece<br />

ante a pobreza exposta<br />

<strong>do</strong>s barracos de Ceilândia<br />

Filhos da majestade de Brasília ?<br />

E pensam-se, remiram-se em silêncio<br />

as gêmeas criações <strong>do</strong> bom brasileiro.<br />

190 191


Niemeyer na Ceilândia<br />

Por ter si<strong>do</strong> a “cidade-satélite”<br />

que abrigou os “candangos”<br />

construtores de Brasília e até pela<br />

fama de ser “a capital nordestina <strong>do</strong><br />

Planalto Central”, coube à Ceilândia<br />

receber em 1986 a Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Brasil: única obra <strong>do</strong> arquiteto OSCAR NIEMEYER RIBEIRO<br />

DE ALMEIDA SOARES fora <strong>do</strong> Plano Piloto de Brasília. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, o que poucos sabem é que o “poeta <strong>do</strong> concreto” se inspirou<br />

na “asa branca” - símbolo <strong>do</strong>s retirantes da seca - para desenhar o<br />

“palácio da poesia”, conforme evidencia no seu discurso “Os Palácios<br />

e o Candango”. Outro nome também pouco conheci<strong>do</strong> é LUCAS<br />

EVANGELISTA (o “pioneiro <strong>do</strong> cordel candango”) que, com a famosa<br />

“Kombi da Literatura de Cordel”, cravou sua imagem na paisagem<br />

cultural local.<br />

A CEILÂNDIA EM CORDEL<br />

CASA DO CANTADOR - A CEILÂNDIA EM CORDEL - LUCAS EVANGELISTA<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

A Ceilândia tem a Origem<br />

da Construção de Brasília<br />

O braço <strong>do</strong> operário<br />

Do nordeste brasileiro<br />

Edificou a Brasília<br />

Espelho <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro<br />

E seus traços arquitetônicos<br />

Brilharam no estrangeiro<br />

Hoje o sonho de Dom Bosco<br />

Foi materializa<strong>do</strong><br />

Juscelino Kubitschek<br />

Com Lúcio Costa de la<strong>do</strong><br />

Oscar Niemeyer entre outros<br />

E o candango operaria<strong>do</strong><br />

Tu<strong>do</strong> foi consolida<strong>do</strong><br />

A obra com a história<br />

Uma identifica a outra<br />

No registro da memória<br />

Ceilândia foi premiada<br />

Também contan<strong>do</strong> vitória<br />

Recebeu para seu povo<br />

Uma obra de valor<br />

Projeto de Niemeyer<br />

A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />

Construída em Ceilândia<br />

Pro poeta trova<strong>do</strong>r<br />

Na entrada <strong>do</strong> ‘P’ Sul<br />

A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />

Hoje Brasília e Ceilândia<br />

Possuem o mesmo valor<br />

Com as obras de Niemeyer<br />

Brilhan<strong>do</strong> de esplen<strong>do</strong>r<br />

A vinte e um de abril<br />

Brasília aniversaria<br />

E Ceilândia comemora<br />

Este felicíssimo dia<br />

A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />

Com vate improvisa<strong>do</strong>r<br />

Dá festa de poesia.<br />

(*) Cordel <strong>do</strong> Poeta Gon-Gon declama<strong>do</strong> na inauguração da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r em 09 de novembro 1986.<br />

192 193


Gilberto Gil na Guariroba<br />

“O povo sabe o que quer<br />

Mas também quer o que não sabe”<br />

Nem o músico, nem o ministro<br />

GILBERTO PASSOS GIL<br />

MOREIRA nunca colocou os pés no barro<br />

deste bairro da Ceilândia que outrora<br />

abrigara as terras da “Fazenda” Guariroba de<br />

Santa Luzia <strong>do</strong> Goiás, e cujo nome advém de<br />

uma palmeira nativa que, de tão fina, acaba<br />

se resumin<strong>do</strong> numa espécie de “macaxeira<br />

goiana”, apreciada por essas bandas como autêntica comida típica. Mas,<br />

voltan<strong>do</strong> <strong>ao</strong> poeta tropicalista, o caso foi que no Dia da Árvore (21<br />

de setembro de 2005) os educa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> CEF 11 resolveram a<strong>do</strong>tar a<br />

“Refazenda” como tema <strong>do</strong> projeto pedagógico que falava justamente<br />

das origens da Guariroba: a música, a planta e a comunidade. Eis, então,<br />

que surge a idéia de convidá-lo para vir à escola pelo conhecimento que<br />

tínhamos da sua assessora de imprensa, filha <strong>do</strong> poeta concretista TT<br />

Catalão. O final dessa história foi que descobrimos - além <strong>do</strong>s pioneiros<br />

- que infelizmente a citação da música se referia a uma outra fazenda,<br />

também aqui <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>, porém localizada em Buritis de Minas Gerais.<br />

A PALMEIRA NATIVA DO CERRADO<br />

TROPICÁLIA - 1969 - GUARÁ/C.E.I.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Refazenda<br />

Abacateiro, acataremos teu ato<br />

nós também somos <strong>do</strong> mato<br />

como o pato e o leão<br />

Aguardaremos, brincaremos no regato<br />

até que nos tragam frutos<br />

teu amor, teu coração<br />

Abacateiro, teu recolhimento<br />

é justamente o significa<strong>do</strong><br />

da palavra temporão<br />

Enquanto o tempo<br />

não trouxer teu abacate<br />

Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão<br />

Abacateiro, sabes <strong>ao</strong> que estou me referin<strong>do</strong><br />

Porque to<strong>do</strong> tamarin<strong>do</strong> tem<br />

Seu gosto aze<strong>do</strong>, ce<strong>do</strong><br />

antes que o janeiro<br />

<strong>do</strong>ce manga venha ser também<br />

Abacateiro, serás meu parceiro solitário<br />

Nesse itinerário da leveza pelo ar<br />

Abacateiro, saiba que na refazenda<br />

Tu me ensina a fazer renda<br />

Que eu te ensino a namorar<br />

Refazen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong><br />

Refazenda<br />

Refazenda toda<br />

GUARIROBA.<br />

(*) Planta símbolo da CEILÂNDIA, cidade-satélite de Brasília (antiga Fazenda Guariroba).<br />

194 195


A UnB na Ceilândia<br />

o contexto his-<br />

N tórico da Nova<br />

República - e também<br />

graças à gestão<br />

democrática e popular<br />

<strong>do</strong> reitor Cristovam<br />

Buarque - eis que a<br />

“academia” desce, literalmente,<br />

da sua torre<br />

de marfim e coloca seus<br />

delica<strong>do</strong>s pés no chão vermelho da Ceilândia: era a “política de extensão”<br />

que, a partir <strong>do</strong> MOPUC (Movimento pró Universidade Popular da<br />

Ceilândia) instalou aqui o Decanato da UnB em 1988. Sobressaíram,<br />

então, professores e personalidades que inscreveram para sempre<br />

os seus nomes na memória viva da nossa cidade, como o cineasta<strong>do</strong>cumentarista<br />

VLADIMIR CARVALHO & o pioneiro Seu Ermínio<br />

“Incansável”; a alfabetiza<strong>do</strong>ra-freiriana MARIA LUÍZA ANGELIM &<br />

o pedreiro Seu Valdir; a jornalista-alternativa ARCELINA HELENA<br />

DIAS & o cartunista Broba; e a socióloga-assistente social SAFIRA<br />

BEZERRA AMMAM & e o cordelista Joaquim Bezerra da Nóbrega..<br />

CAMPUS SOCIOLÓGICO CANDANGO<br />

NÓS DA CEILÂNDIA - OS INCANSÁVEIS - CEPAFRE<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />

Eu Sou Incansável<br />

Você sabe quem eu sou?<br />

Você sabe de onde venho<br />

Pra esta casa que tenho<br />

E ainda não posso pagar<br />

Este lugar de morar?<br />

Venho <strong>do</strong> Núcleo Bandeirante<br />

Este lugar ali adiante<br />

Vila Tenório, engana<strong>do</strong>!<br />

Dos amigos atraiçoa<strong>do</strong>s<br />

E aqui vim parar<br />

Venho da Vila <strong>do</strong> IAPI<br />

Ali não pude ficar<br />

O lugar é privilegia<strong>do</strong><br />

Eu sou assalaria<strong>do</strong><br />

Os ricos, posso envergonhar!<br />

Você sabe de onde venho?<br />

Com a filharada que tenho<br />

Lá eu não pude ficar<br />

Do Morro <strong>do</strong> Querosene<br />

Da Vila <strong>do</strong> Canavial<br />

Ali não pude ficar<br />

Para não envergonhar<br />

Vim <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Urubu<br />

Da rua <strong>do</strong> Padre Lino<br />

Ali eu era inquilino<br />

E aqui eu fui joga<strong>do</strong><br />

De livre vontade, esforça<strong>do</strong><br />

Aonde tenho o meu barraco<br />

Que ainda não pude pagar<br />

Você sabe de onde venho?<br />

Lá da Vila Esperança<br />

Que espera e não se cansa<br />

Por um lugar de morar<br />

Eu sou um incansável!<br />

196 197


Posfácio<br />

ACLAP, Uma Sigla!<br />

Donzílio Luiz de Oliveira<br />

Como um bom poeta popular, eu também me tornei – desde<br />

muito ce<strong>do</strong> - um andarilho ou, como dizem alguns, um cidadão <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Conheci e convivi com grandes nomes da cultura brasileira<br />

e, em especial, com aqueles advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> Nordeste que tanto<br />

já contribuiu na construção dessa rica identidade nacional chamada<br />

Brasília.<br />

Outro privilégio que ostento <strong>do</strong> alto <strong>do</strong>s meus setenta-e-uns<br />

anos de vida & versos é a lembrança <strong>do</strong>s pontos de cantoria que foram<br />

se forman<strong>do</strong> em Brasília desde que aqui cheguei em 17 de janeiro de<br />

1960. Partin<strong>do</strong> da Vila Amauri, passan<strong>do</strong> pela Cidade Livre até fincar<br />

os pés na outrora “Feira <strong>do</strong> Pau Seco” da Ceilândia, e de lá conseguir<br />

chegar à almejada construção da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, em 1986.<br />

Uma década depois, lá estava eu lançan<strong>do</strong> o primeiro <strong>do</strong>s meus<br />

seis livros que hoje tenho publica<strong>do</strong>s. Conheci, então, outras expressões<br />

culturais.<br />

Entretanto, foi na própria Ceilândia que me apareceu a chance<br />

de participar de um desafio diferente: juntamente a outros membros<br />

funda<strong>do</strong>res da Academia Ceilandense de Letras, iniciamos uma jornada<br />

histórica em 27 de agosto de 2005 numa escola <strong>do</strong> Setor ‘P’ Norte e, <strong>ao</strong><br />

longo de nove meses (que foi “o tempo de uma gestação”, como sempre<br />

nos lembra o Prof. Jevan) percorremos todas as comunidades que<br />

integram nossa cidade, até que, no dia 27 de março de 2006 chegamos<br />

<strong>ao</strong>s 35 componentes (uma vez que a Ceilândia estava completan<strong>do</strong> esta<br />

mesma idade). Porém, o curioso de tu<strong>do</strong> isso foi que, como nem to<strong>do</strong>s<br />

deste “grêmio literário” tinham livros edita<strong>do</strong>s, e muitos eram de outras<br />

linhagens artísticas, fomos obriga<strong>do</strong>s a inovar, e foi aí que me ocorreu<br />

a idéia <strong>do</strong> nome Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares,<br />

o que deu origem à sigla “ACLAP” que, pelo senti<strong>do</strong> onomatopaico,<br />

quer dizer “palmas, aplauso”.<br />

Por fim, eu quero dizer que - muito mais satisfeito <strong>do</strong> que ter<br />

si<strong>do</strong> eleito o primeiro presidente desta “academia” - é poder conviver<br />

com artistas de diferentes vertentes em um mesmo ambiente sodalício:<br />

isto, prá mim, é que é cultura popular!<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong> da ACLAP<br />

foi composta em tipologia Original<br />

Garamond, corpo 12/14,4 Pt<br />

e impressa em papel AP 90g<br />

e capa em papel Suprema 240g<br />

na Art Letras Gráfica e Editora.<br />

198 199


UMA “ACLAP” PARA TODOS<br />

...É o que merece cada um e cada uma das pessoas que participaram e/ou<br />

ajudaram na efetivação da nossa COLETÂNEAaclapCANDANGA, pois como<br />

o próprio nome já evidenciava, este livro viria não apenas para configurar<br />

entre mais um compêndio “acadêmico”, mas sim para aglutinar & produzir<br />

a mais bela página já escrita na memória viva das letras ceilandenses e<br />

candangas!<br />

Desde o último dia 27 de março até este 7 de setembro - por meio da suy<br />

generis Campanha de SOLIDARIEDADE Poética - conseguimos propagar,<br />

empolgar e entrelaçar <strong>ao</strong>s nossos ideais os mais representativos nomes da<br />

literatura candanga (ou <strong>ao</strong> menos, os mais voluntariamente “solidários”),<br />

simplesmente pelo intuito de fazer “o registro de nascimento desse nosso<br />

grêmio literário histórico & popular”.<br />

Acreditávamos que tínhamos escritos raros & inéditos de alto valor históricocultural,<br />

e também, que contávamos com os mais talentosos escritores<br />

locais: nos apegamos <strong>ao</strong> que tínhamos em mãos e fomos à luta. Não<br />

queremos nem pensar na cara – debochada - <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s “imortais” da<br />

suntuosa Academia Brasileira de Letras (assim como de seus séquilos locais)<br />

<strong>ao</strong> rirem da nossa esquálida “proposta de adesão”; e agora..., com que cara<br />

& fardão eles ficarão. Nós é que não temos tempo pra isso, porque estamos<br />

acaban<strong>do</strong> de vir <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> das letras, e temos muito o que escrever e fazer<br />

pelo mun<strong>do</strong> afora.<br />

Por tu<strong>do</strong> o que já foi feito e o infinito que nos aguarda, só podemos concluir<br />

dizen<strong>do</strong> <strong>ao</strong>s nossos novos companheiros e companheiras de jornada que<br />

“jamais os esqueceremos” e para sempre os agradeceremos.<br />

Por fim, então, pedimos - perfila<strong>do</strong>s de pé - para to<strong>do</strong>s nós...<br />

PALMAS !!!

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