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<strong>Candanga</strong><br />
edição especial para coleciona<strong>do</strong>res<br />
Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares<br />
1
Prefácio
Copyright 2013 Aclap<br />
Editor<br />
Manoel Jevan<br />
Digitação e Revisão<br />
Coletivo de autores<br />
Xilogravuras<br />
Marcílio Tabosa<br />
Editoração<br />
Osmi Vieira<br />
www.oclube<strong>do</strong>som.com.br<br />
Pedi<strong>do</strong>s de Publicação Avulsa:<br />
Art Letras Gráfica e Editora Ltda. - 3376-1463<br />
Catalogação Bibliográfica:<br />
Da<strong>do</strong>s Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)<br />
C694col <strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong>: Academia Ceilandense de Letras<br />
& Artes Populares/Manoel Jevan, organiza<strong>do</strong>r - Brasília :<br />
Arte Letras, 2008.<br />
200p.<br />
“<strong>Coletânea</strong> para Criação da Academia de Ceilândia-DF”<br />
1. Literatura, Brasil. 2. Literatura, Distrito Federal<br />
3. Poesia brasileira. I. Jevan, Manoel, organiza<strong>do</strong>r<br />
II. Título. II.<br />
CDU 82-1<br />
Catalogação na fonte elaborada pela bibliotecária<br />
Maria das Graças de Lima - CRB-1 / 608<br />
ISBN nº 978-85-61326-02-9<br />
Fotos extraídas <strong>do</strong>s títulos supracita<strong>do</strong>s. To<strong>do</strong>s os direitos reserva<strong>do</strong>s <strong>ao</strong>s autores coletanea<strong>do</strong>s.
Prefácio<br />
ACADEMIA CEILANDENSE DE LETRAS, Um Sonho!<br />
Percília Júlia Tole<strong>do</strong><br />
Desde os meus oito anos, remontan<strong>do</strong> às altas montanhas lá da<br />
minha infância no interior das Minas Gerais, que eu já escrevia minhas<br />
estorinhas de criança (a primeira, inclusive, foi sobre uma formiguinha<br />
que um dia eu vi tropegan<strong>do</strong> de cansaço pelo grande peso da folha que<br />
seu corpinho não conseguia carregar, mas que não desistia nunca de<br />
tentar); e assim eu também esperava um dia ser uma escritora muito<br />
conhecida e admirada por to<strong>do</strong>s. Pois bem, o tempo passou e só agora,<br />
na chamada “terceira idade”, foi que vim a publicar o primeiro da meia<br />
dúzia de livros que hoje tenho edita<strong>do</strong>s. Até que os livros vieram, muitas<br />
pessoas passaram a me admirar por isso, mas o dito (re)conhecimento<br />
ainda é muito pouco. Tanto é assim que a gente pode verificar aqui<br />
na nossa academia como em qualquer outro lugar que são os próprios<br />
autores que pagaram para ver publicadas as suas obras, porque ninguém<br />
consegue chegar nos tais financiamentos públicos.<br />
Talvez até mesmo por essa dificuldade de “viver das letras”<br />
foi que comecei a procurar outros escritores (inicialmente só aqui da<br />
paróquia <strong>do</strong> ‘P’ Norte), até que apareceu na minha vida <strong>do</strong>is professores<br />
que marcaram a minha história: o Ronal<strong>do</strong> Mousinho da Academia<br />
Taguatinguense de Letras e o Manoel Jevan da Casa da Memória Viva.<br />
Juntan<strong>do</strong> esses <strong>do</strong>is com o nosso jornalista João Batista e mais<br />
a minha nada pequena “família de artistas” pude finalmente sonhar<br />
de olhos abertos e anunciar para to<strong>do</strong>s o meu antigo projeto de uma<br />
“Academia de Letras para a Ceilândia”; e aí foi que eu vim perceber<br />
que, aquilo que no início era só meu, começou a tornar-se um desejo de<br />
muitos; e hoje eu vejo que o que era apenas um sonho no longínquo ano<br />
de 2005, tornou-se uma realização coletiva desses 35 autores talentosos<br />
e corajosos.<br />
Por fim, investida na presidência dessa querida instituição, eu só<br />
posso mesmo é pedir a Deus que abençoe cada um de nós com o seu<br />
livro publica<strong>do</strong> e toda a nossa academia com esse feliz sonho realiza<strong>do</strong>:<br />
nossa missão está cumprida!<br />
SHOW PÓSTUMO DE LANÇAMENTO DA<br />
COLETÂNEA ACLAP CANDANGA<br />
O POETA<br />
NÃO<br />
MORREU!<br />
2 DE NOVEMBRO (Fina<strong>do</strong>s)<br />
BAR PÉ NA COVA<br />
(<strong>ao</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Cemitério - Taguatinga / Ceilândia)<br />
Venha presenciar a canonização de<br />
SÃO FRANCISCO MOROJÓ,<br />
o primeiro santo candango.<br />
APOIO CULTURAL:<br />
Forró<br />
PARAIBOLA<br />
ANIMANDO<br />
O VELÓRIO<br />
ACLAP, aqui o normal<br />
é ser diferente.
SUMÁRIO<br />
Prefácio<br />
Academia Ceilandense de Letras: um sonho! .......................................08<br />
Apresentação<br />
Fundação da Academia de Ceilândia: sessão solene ..............................14<br />
I - Patrono Popular & Libertário .........................................................17<br />
Francisco Morojó: Poeta Pezão .............................................................18<br />
II. - Acadêmicos Funda<strong>do</strong>res & Imortais ............................................21<br />
Percília Júlia Tole<strong>do</strong> ...............................................................................22<br />
Donzílio Luiz de Oliveira .....................................................................26<br />
III - Membros Efetivos & Locais .........................................................31<br />
Adauto de Souza ...................................................................................32<br />
Adelaide de Paula ..................................................................................34<br />
André Rocha ..........................................................................................36<br />
Antonio Soares ......................................................................................38<br />
Assis Coelho ..........................................................................................40<br />
Chico Ivo ...............................................................................................42<br />
Clinaura Macê<strong>do</strong> ...................................................................................44<br />
Conceição Tavares .................................................................................46<br />
Dukaldas ................................................................................................48<br />
Ezequiel Dias Cruz ............................................................................... 50<br />
Gil d’La Rosa .........................................................................................52<br />
Israel Ângelo ..........................................................................................54<br />
João Batista ............................................................................................56<br />
Joaquim Bezerra da Nóbrega ...............................................................58<br />
José Antonio ..........................................................................................60<br />
Léo Maravilha ........................................................................................62<br />
Manoel Jevan .........................................................................................64<br />
Mano Lima .............................................................................................66<br />
Marcílio Tabosa .....................................................................................68<br />
Marcos Viana .........................................................................................70<br />
Mariana Lima .........................................................................................72<br />
Messsias de Oliveira ..............................................................................74<br />
Nair Rosa ...............................................................................................76<br />
Neftaly Vieira .........................................................................................78<br />
Nina Tolle<strong>do</strong> ..........................................................................................80<br />
Osval<strong>do</strong> Espínola ..................................................................................82<br />
Rapper Japão ..........................................................................................84<br />
Ronal<strong>do</strong> Mousinho ................................................................................86<br />
Rosana Maria .........................................................................................88<br />
Sebastião Lima .......................................................................................90<br />
Sidiney Breguê<strong>do</strong> ...................................................................................92<br />
Vaíston ....................................................................................................94<br />
Valdinei Cordeiro ...................................................................................96<br />
Vanildes de Deus ....................................................................................98<br />
Valter Farias..........................................................................................100<br />
Vicente de Melo ...................................................................................102<br />
IV - Membros Correspondentes & Convida<strong>do</strong>s ...............................107<br />
Adalberto Adalbertos ..........................................................................108<br />
Adélia Coimbras ..................................................................................110<br />
Adilson Cordeiro Didi ........................................................................112<br />
Amário Cassimiro ...............................................................................114<br />
Ana Paula .............................................................................................116<br />
Angélica Torres ....................................................................................118<br />
Antonio Carlos Sampaio Macha<strong>do</strong> ....................................................120<br />
Antonio Garcia Muralha .....................................................................122<br />
Antonio Miranda .................................................................................124<br />
Arlete Sylvia .........................................................................................126<br />
Astrogil<strong>do</strong> Miag ..................................................................................128<br />
Carlos Augusto Cacá ..........................................................................130<br />
Chico Morbeck ...................................................................................132<br />
Clo<strong>do</strong> Ferreira .....................................................................................134<br />
Dinorá Couto ......................................................................................136<br />
Élton Skartazini ...................................................................................138<br />
Emanuel Lima ......................................................................................140<br />
Ênio Rudi Sturzbecher ........................................................................142<br />
Gonçalo Ferreira ..................................................................................144
Gustavo Doura<strong>do</strong> ................................................................................146<br />
Ildefonso Sambaíba .............................................................................148<br />
Jerônimo de Caldas .............................................................................150<br />
João Bosco Bezerra Bonfim ...............................................................152<br />
José Orlan<strong>do</strong> Pereira da Silva ..............................................................154<br />
Lília Diniz ............................................................................................156<br />
Márcio Cotrim ....................................................................................158<br />
Margarida Drumond ...........................................................................160<br />
Meireluce Fernandes ...........................................................................162<br />
Menezes y Morais ...............................................................................164<br />
Nicolas Behr ........................................................................................166<br />
Pedro Gomes .......................................................................................168<br />
Popó Magalhães ...................................................................................170<br />
Sandra Fayad ........................................................................................172<br />
Tetê Catalão .........................................................................................174<br />
Valnira Vaz ...........................................................................................176<br />
Xiko Mendes ........................................................................................178<br />
Zé Luiz .................................................................................................180<br />
V - Os Pioneiros das Letras <strong>Candanga</strong>s ............................................183<br />
Stella Ro<strong>do</strong>poulos: patronesse das letras candangas ............................184<br />
Newton Rossi: teatro sesc ceilândia ....................................................186<br />
Clemente Luz: o cronista <strong>do</strong>s candangos ............................................188<br />
Carlos Drummond de Andrade: crônica das favelas brasileiras ........190<br />
Niemeyer na Ceilândia: a ceilândia em cordel ...................................192<br />
Gilberto Gil na Guariroba: a palmeira nativa <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong> ..................194<br />
A UnB na Ceilândia: campus sociológico candango ...........................196<br />
Posfácio<br />
ACLAP: uma sigla! ..............................................................................198<br />
13
Apresentação<br />
DISCURSO DE FUNDAÇÃO DA ACLAP<br />
SESSÃO SOLENE DE 27 DE MARÇO DE 2006<br />
Ronal<strong>do</strong> Alves Mousinho<br />
Senhoras e senhores componentes desta histórica sessão<br />
solene, preza<strong>do</strong> público que prestigia este ato de expressivo conteú<strong>do</strong><br />
cultural:<br />
É com efusivo entusiasmo que saú<strong>do</strong> <strong>ao</strong> professor e historia<strong>do</strong>r<br />
da cidade de Ceilândia – Manoel Jevan – e a seus colabora<strong>do</strong>res mais<br />
próximos – os escritores Donzílio Luiz de Oliveira e Percília Júlia<br />
Tole<strong>do</strong> – presentes neste ato de fundação da Academia Ceilandense de<br />
Letras & Artes Populares, a “ACLAP”.<br />
Vivemos um momento de grave crise nas relações humanas,<br />
especialmente porque a política - que já foi a “suprema razão da existência<br />
humana” (Aristóteles) - transformou-se em atividade perniciosa, que<br />
nos arranca nossa porção divina, conduzida que é pela indignidade.<br />
A fundação desta confraria propiciará o sadio exercício<br />
intelectual para o nosso crescimento cultural e para o fortalecimento<br />
de nossas relações sociais, forjan<strong>do</strong> o bom caráter e o senso crítico. E,<br />
se por um la<strong>do</strong> tentam-nos o engo<strong>do</strong> e a pequenez humana, por outro<br />
chamam-nos à razão e nos seduzem a dignidade e a busca incessante da<br />
verdade, valores das quais é irmã a arte.<br />
O escritor e o artista em geral têm a responsabilidade de,<br />
agin<strong>do</strong> com lucidez e humanismo, perseguirem a justiça, a verdade e<br />
a felicidade, instrumentaliza<strong>do</strong>s no conhecimento e no saber, que são<br />
fontes prósperas de libertação. E a “palavra”, senhores neo-acadêmicos,<br />
assim como as demais vertentes artísticas, são as ferramentas que nos<br />
libertam de toda e qualquer forma de prisão, sen<strong>do</strong> esta mesma palavra<br />
- segun<strong>do</strong> Latino Coelho - “a mais bela e expressiva de todas as artes,<br />
pois é a que fala <strong>ao</strong> mesmo tempo à fantasia e à razão, <strong>ao</strong> sentimento<br />
e às paixões...” Só a palavra, mais comove<strong>do</strong>ra e persuasiva <strong>do</strong> que o<br />
plectro <strong>do</strong>s orfeus, encadeia à lira estas feras humanas e a um só tempo<br />
desumanas, que se chamam homens.<br />
Vivemos, caros neo-acadêmicos, este momento de instigante<br />
expectativa: somos a espécie mais evoluída <strong>do</strong> planeta, com to<strong>do</strong><br />
potencial de perfeição, mas temos agi<strong>do</strong> com ín<strong>do</strong>le irracional,<br />
abjeta; e este é o grande desafio que nos é posto: assumirmo-nos<br />
conscientemente benevolentes, fraternos e justos; ou sermos partícipes<br />
e insensíveis expecta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cortejo egoísta para onde marcha nossa<br />
atual sociedade consumista.<br />
14 15
Ao papa bento candango YURI PIERRE<br />
NA PARADA CENTRAL<br />
(depois de perder o último ônibus)<br />
Ceilândia, você não me engana<br />
te cruzo dia & noite sem muamba<br />
choro a <strong>do</strong>r <strong>do</strong>s moribun<strong>do</strong>s<br />
morren<strong>do</strong> na fila de teu hospital<br />
rememoran<strong>do</strong> teus trambiqueiros<br />
traficantes mequetrefes de fun<strong>do</strong>-de-quintal.<br />
Ceí, paradigma <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
toda quadra tem um artista (anônimo)<br />
pense nos teus candangos<br />
que nunca foram no plano... planejar<br />
Teu (herói) não é Gregorinho<br />
e sim teu povo morren<strong>do</strong><br />
nos canteiros da construção CER-VIL.<br />
Ceí, nunca te enrolei na Feira <strong>do</strong> Rolo<br />
to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala que vai te limpar<br />
tu sois um cristal de marfim lapida<strong>do</strong><br />
de poetas, canta<strong>do</strong>res & forrozeiros<br />
a capital nordestina <strong>do</strong> Brazil<br />
Tuas fábricas fantasmas<br />
não fabricam mais boçais.<br />
(O VOO DO PÁSSARO DE CHUMBO)<br />
Capítulo I<br />
Patrono Popular<br />
e<br />
Libertário<br />
16 17
Memorial Poeta Pezão<br />
FRANCISCO ROBERTO DE LIMA<br />
MOROJÓ - ou o popular “POETA<br />
PEZÃO, Seu Cria<strong>do</strong>” - nasceu dia 24 de<br />
outubro de 1959 em Patos das Espinharas/<br />
PB e morreu dia 07 de dezembro de 2003<br />
in<strong>do</strong> para os Olhos D´Água de Alexânia no<br />
entorno de Brasília. Foi o primeiro poeta da<br />
Ceilândia e um <strong>do</strong>s pioneiros da “geração<br />
mimeógrafo” da literatura candanga <strong>do</strong>s anos 70. Anarquista convicto,<br />
se gabava em dizer que nunca teve e nem teria “patrão”, chegan<strong>do</strong><br />
a trabalhar de costureiro com a sua mãe para “viver só da poesia”.<br />
Como alfaiate, produzia suas próprias indumentárias, assim como das<br />
personagens teatrais que montava e ensinava. Foi também funda<strong>do</strong>r<br />
e compositor e <strong>do</strong> “tailandense” Forró Paraibola - grupo responsável<br />
pelo seu célebre “sarau fúnebre”. Polêmico e irreverente, o poeta partiu<br />
desse mun<strong>do</strong> deixan<strong>do</strong> amigos e inimigos, mas acima de tu<strong>do</strong>, a poesia.<br />
Adeus <strong>ao</strong> Maiakoviski Candango<br />
O Poeta Caboclo foi-se<br />
Para além da liberdade<br />
Levou o martelo e a foice<br />
Montan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>rso da verdade<br />
Apressa<strong>do</strong>, ele esqueceu<br />
De levar consigo a poesia<br />
Deixou-nos o que escreveu<br />
Ouro em versos e melodia<br />
Poeta Caboclo (Gil d’La Rosa)<br />
O POETA E O ALFAIATE<br />
NECROLÓGIO NO CEMITÉRIO<br />
DE SÃO FRANCISCO MOROJÓ<br />
José Carlos Vieira<br />
Conheci Francisco Morojó, o Pezão no final <strong>do</strong>s anos de 1970;<br />
freqüentávamos o agita<strong>do</strong> bar <strong>do</strong> Kareka. Os <strong>do</strong>is, sem dinheiro no<br />
bolso, uni<strong>do</strong>s por uma mesa de bar. A corrida pela vida nos levou a<br />
rumos diferentes. Já no início da década de 80, encontrei-o em Olhos<br />
D’Água, onde os malucos beleza de Brasília se reuniam para trocar<br />
roupas e sapatos usa<strong>do</strong>s por artesanatos locais. Pezão fazia parte <strong>do</strong><br />
Paraibola, “o Sex Pistols <strong>do</strong> forró candango”. Lançava seus primeiros<br />
livros de poesia mimeografa<strong>do</strong>s. Um repentista urbano, destemi<strong>do</strong><br />
como to<strong>do</strong> cangaceiro. Nos encontramos pela última vez em 2000 no<br />
lançamento <strong>do</strong> meu livro. “Você é o príncipe da poesia - repetia para<br />
to<strong>do</strong>s os poetas - no que emendava: E eu sou o rei”.<br />
Num final de semana de dezembro de 2003, Pezão pegou carona<br />
com amigos para ir à Feira de Trocas <strong>do</strong>s Olhos D’Água. No meio<br />
<strong>do</strong> caminho, duas garotas também pediam carona. Gentleman, saiu <strong>do</strong><br />
carro e deu lugar para as “princesas”. Retornou à estrada com o dedão<br />
em pé. Os amigos e as meninas chegaram à cidade, mas o poeta não<br />
chegou. O carro em que viajava capotou: só ele morreu. No enterro,<br />
várias tribos reunidas, o forró comen<strong>do</strong> solto e as garrafas vazias de<br />
vinho e de cachaça espalhadas no chão. As pessoas das outras capelas<br />
não entendiam, todas embasbacadas, <strong>ao</strong>s assistir o ritual daqueles anjos<br />
da noite. De repente, na hora <strong>do</strong> enterro, um pula dentro da cova; em<br />
desespero, pede para ser leva<strong>do</strong> no lugar <strong>do</strong> amigo. Foi uma das mais<br />
belas e verdadeiras homenagens a um poeta.<br />
Parafrasean<strong>do</strong> Itamar Assunção quan<strong>do</strong> na morte de Paulo<br />
Leminski - o músico enviou um fax <strong>ao</strong> poeta já morto - uso essa crônica<br />
para homenageá-lo: “Pezão, aqui é o Zé Carlos, não fui <strong>ao</strong> enterro seu<br />
porque você não irá <strong>ao</strong> meu”.<br />
18 19
Ao filho da iapi ÉDSON CASTRO<br />
PRETENSÃO<br />
Não quero ser<br />
o vigário de sua matriz<br />
nem tão pouco<br />
o operário de sua filial.<br />
Quero ser apenas<br />
uma banquinha de camelô<br />
num ponto bem situa<strong>do</strong> de sua alma,<br />
onde eu possa vender<br />
to<strong>do</strong>s os sonhos...<br />
(PARAÍSO DOS FRAGELADOS)<br />
Capítulo II<br />
Acadêmicos Funda<strong>do</strong>res<br />
e<br />
Imortais<br />
20 21
Percília Júlia Tole<strong>do</strong><br />
PERCÍLIA JÚLIA TOLEDO nasceu<br />
dia 31 de agosto de 1939 em Tabajara,<br />
município de Inhapim/MG. Pioneira <strong>do</strong> ‘P’<br />
Norte, escritora romancista e evangeliza<strong>do</strong>ra<br />
da Legião de Maria, é autora <strong>do</strong>s livros:<br />
“Envolto em Sua Paz” (1988), “Jamais<br />
Esquecerei” (1995), “Difícil Para Viver”<br />
(1998), “O Céu Espera Por Mim” (2003), “O Cavaleiro da Meia Noite”<br />
(2004) e “Gagá, O Gavião Solitário” (2006). É também conhecida<br />
como “Dª PERCÍLIA, a Cora Coralina <strong>Candanga</strong>” por ter estrea<strong>do</strong><br />
tardiamente na literatura e também pela extrema simplicidade que<br />
caracteriza e enriquece suas reminiscências.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: JAMAIS ESQUECEREI<br />
Edição: CONSÓRCIO ASEFE<br />
Ano: 1995<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Céu Espera Por Mim<br />
O céu está coberto de nuvens<br />
Até o horizonte sem fim<br />
A natureza é tão bela<br />
Eu vivo imaginan<strong>do</strong>:<br />
O céu espera por mim<br />
As flores nascem e crescem,<br />
Como crescem as <strong>do</strong> jasmim<br />
Passa o tempo de repente<br />
E não deixo de imaginar<br />
Que o céu espera por mim<br />
O perfume exala<br />
Pelos campos e jardins<br />
Passa dia, passa noite<br />
Continuo imaginan<strong>do</strong><br />
Que o céu espera por mim<br />
Nesse dia ensolara<strong>do</strong><br />
Tenho uma inspiração sem fim<br />
Começo a escrever poemas<br />
Dizen<strong>do</strong> comigo mesma<br />
Que o céu espera por mim<br />
Andan<strong>do</strong> pelas montanhas<br />
Colhen<strong>do</strong> flor no jardim<br />
Eu páro pra descansar<br />
E agradeço <strong>ao</strong> Cria<strong>do</strong>r<br />
Esse céu que espera por mim<br />
22 23
Olho a lua e as estrelas<br />
Ouço o cantar <strong>do</strong> passarinho<br />
Olhan<strong>do</strong> e ven<strong>do</strong> as belezas<br />
Uma voz disse em meu peito<br />
Que o céu espera por mim<br />
Vejo a água jorrar na rocha<br />
E medito sempre assim<br />
Contemplan<strong>do</strong> o ruí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ventos<br />
O tempo lento a passar<br />
E o céu espera por mim<br />
Nas estradas onde an<strong>do</strong><br />
Vejo a flora e o alecrim<br />
Nas palmeiras cantam os pássaros<br />
De amor vou vislumbran<strong>do</strong><br />
Porque o céu espera por mim<br />
Passan<strong>do</strong> pelas ruas<br />
Andan<strong>do</strong> devagarzinho<br />
Vejo o movimento <strong>do</strong> povo<br />
E imagino fortemente<br />
Que o céu espera por mim<br />
Passean<strong>do</strong> nas campinas<br />
Vou rezan<strong>do</strong> bem baixinho<br />
Vem o sereno da noite<br />
Eu medito em minha mente<br />
Que o céu espera por mim<br />
De manhã, <strong>ao</strong> despertar<br />
Sei que não estou sozinha<br />
As borboletas voan<strong>do</strong><br />
E eu só imaginan<strong>do</strong><br />
O céu que espera por mim<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Nas horas que me repouso<br />
Eu lembro de um caminho<br />
Durmo e começo a sonhar<br />
Abro a janela e contemplo<br />
O céu que espera por mim<br />
Aquele espaço azula<strong>do</strong><br />
Onde cantam os anjinhos<br />
Fico agradecen<strong>do</strong> a Deus<br />
Mesmo sem eu merecer<br />
Este céu que espera por mim<br />
Espera por to<strong>do</strong>s nós<br />
Teremos o mesmo fim<br />
As nuvens escuras passam<br />
Não perco as esperanças<br />
No céu que espera por mim.<br />
Meu Deus<br />
Ocupe minha mente de vossas palavras tão preciosas<br />
e meus lábios anunciem sem cessar vossos louvores,<br />
Porque vós sois o meu Rei.<br />
Minha casa seja vossa morada<br />
e meus filhos vossos servos,<br />
Pois tu<strong>do</strong> quanto possuo vos pertence.<br />
Meu ser se encha da fé mais profunda,<br />
meus caminhos sejam ilumina<strong>do</strong>s<br />
à luz <strong>do</strong>s vossos olhos,<br />
E nessa luz, seja eu purificada.<br />
Meu Deus, só vos peço<br />
que minha geração alcance a tua salvação eterna,<br />
E meu coração esteja sempre transbordan<strong>do</strong><br />
de amor e verdade,<br />
Então meu ser por inteiro estará<br />
envolto em sua paz!<br />
24 25
Donzílio Luiz de Oliveira<br />
DONZÍLIO LUIZ DE OLIVEIRA<br />
nasceu dia 05 de agosto de 1933 no<br />
sítio Gameleira, município de Itapetiim/<br />
PE. Pioneiro da Ceilândia, poeta cordelista e<br />
professor “autodidata” da Língua Portuguesa,<br />
é autor <strong>do</strong>s livros: “Ranchos & Garranchos”<br />
(1996), “Vôo Livre” (2002), “Onze Poemas<br />
Matutos” (2004), “Sendas Invisíveis” (2005), “Pinto <strong>do</strong> Monteiro &<br />
Nonato Costa” (2006), “Tópicos Gramaticais da Língua Portuguesa”<br />
(2007) e “Duas Mil Charadas” (2008). É também conheci<strong>do</strong> como<br />
“DOM DONZÍLIO. o Camões <strong>do</strong> Cordel Candango” por ser<br />
considera<strong>do</strong> “o maior sonetista da História <strong>Candanga</strong>”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: TÓPICOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA<br />
Editora: CONHECIMENTO<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
CandangoCei<br />
Ceilândia, Ceilândia, nasceste e cresceste,<br />
Depressa chegaste à maioridade,<br />
Sem muitos saberem definir por que<br />
A palavra CEI deu nome à cidade;<br />
Aquela “campanha de erradicação<br />
para as invasões” tem a sigla CEI.<br />
podemos dizer, sem me<strong>do</strong> de errar,<br />
que o nome Ceilândia nasceu dessa lei.<br />
Viemos da Vila <strong>do</strong> IAPI,<br />
Das vilas Tenório, Colombo, Esperança,<br />
Morro <strong>do</strong> Urubu e <strong>do</strong> Querosene,<br />
Foi mais um despejo que uma mudança;<br />
Abriram as ruas, demarcaram as quadras,<br />
dividiram em lotes, puseram endereços<br />
e jogaram a gente no meio <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>,<br />
como quem afirma: pobre não tem preço.<br />
Ceilândia, tu foste criada de um erro,<br />
Que uniu preconceito e discriminação;<br />
Nós fomos expulsos <strong>do</strong> meio <strong>do</strong>s ricos<br />
Para dá lugar a prédio e mansão.<br />
Para os nordestinos, migrantes, “araras”,<br />
és o maior ponto de concentração,<br />
exibin<strong>do</strong> estórias, forró, cantoria,<br />
cultura de um povo de uma região.<br />
26 27
Ceilândia, Ceilândia, tu, por muitos anos,<br />
Foste conhecida como “<strong>do</strong>rmitório”,<br />
Depois <strong>do</strong> progresso, estás sen<strong>do</strong> agora<br />
A maior cidade deste território,<br />
Invejan<strong>do</strong> aqueles que nos expulsaram,<br />
Agora, Ceilândia, és grande também.<br />
Para os tubarões mostran<strong>do</strong> que somos<br />
Humildes, mas dignos de morarmos bem.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
As Paixões<br />
(Soneto sem a vogal “U”)<br />
No rol de todas as paixões vividas<br />
Só essa foi sincera e verdadeira<br />
Pois combinava regras e medidas<br />
Para se ser feliz a vida inteira<br />
Mas logo, por razões desconhecidas<br />
Se foi modifican<strong>do</strong>, de maneira<br />
A se classificar como perdidas<br />
Todas as chances de transpor barreiras;<br />
E não haven<strong>do</strong> possibilidade<br />
De novas fases de prosperidade<br />
O jeito é nos rendermos <strong>ao</strong>s fracassos;<br />
Mas mesmo admitin<strong>do</strong>-se as derrotas<br />
Ainda há chances e não tão remotas<br />
Para transposição <strong>do</strong>s embaraços.<br />
28 29
Ao poeta cerratense NIKI<br />
VIVO NA MARGEM<br />
(para alguns babacas que me chamam de<br />
poeta marginal)<br />
Eu só espero<br />
é o dia em que esse país<br />
seja realmente democrático<br />
e a juventude passe a ler e escrever<br />
<strong>ao</strong> invés de se alienar<br />
com as drogas marinhas da TV<br />
E o trabalha<strong>do</strong>r tenha na mesa<br />
<strong>ao</strong> invés de conta de água<br />
de luz, de esgoto e de lixo<br />
(COMIDA)<br />
sem ser obriga<strong>do</strong> a viver na sarjeta<br />
Aí, vou convidar<br />
sua netinha e sobrinha<br />
sua mulherzinha e mãezinha<br />
e por que não, sua vovozinha<br />
para fazer um tremen<strong>do</strong> zulubabel<br />
nas margens <strong>do</strong> paranoá.<br />
(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)<br />
Capítulo III<br />
Membros Efetivos<br />
e<br />
Autores Locais<br />
30 31
Adauto de Souza<br />
ADAUTO FRANCISCO DE SOUZA<br />
nasceu dia 27 de maio de 1956 em<br />
Ituaçu/BA. Mora<strong>do</strong>r pioneiro da Ceilândia,<br />
onde sempre residiu desde que chegou<br />
em Brasília. É funcionário <strong>do</strong> SERPRO,<br />
compositor e músico funda<strong>do</strong>r da banda<br />
“Conexão <strong>do</strong> Reggae”. Militante histórico<br />
<strong>do</strong> movimento cultural local, foi o idealiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Centro Cultural<br />
e Poliesportivo da Ceilândia – cujas iniciais remontam à ideológica<br />
sigla da antiga União Soviética - em prol <strong>do</strong> qual publicou a primeira<br />
coletânea da cidade: “Ceilândia Grita Poesia” em 1987. Como escritor,<br />
estréia agora com a “Oficina da Minha Vida”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CEILÂNDIA GRITA POESIA<br />
Edição: CCPC<br />
Ano: 1987<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Porque grito poesia<br />
pela razão de não mais silenciar<br />
pelo motivo de já não mais agüentar<br />
um grito preso na garganta<br />
na mente, sufocan<strong>do</strong> o pensamento<br />
um grito, um grito só, será o bastante<br />
para limpar minha alma<br />
para despoluir o coração<br />
para desintoxicar o sangue<br />
mistura<strong>do</strong> <strong>ao</strong> veneno<br />
um grito chama<strong>do</strong> poesia<br />
para atender a tantos outros<br />
gritos de socorro, para acalmar<br />
o grito da fome<br />
o grito <strong>do</strong> me<strong>do</strong><br />
o grito de solidão<br />
o grito de covardia<br />
o grito de <strong>do</strong>r<br />
o grito de vida<br />
o grito de morte<br />
grito de poesia é um resumo compacto<br />
de tantos gritos que devemos segurar<br />
de outros gritos para não chorar...<br />
(Pedro Araújo)<br />
32 33
Adelaide de Paula<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
A infância na masmorra<br />
da indiferença<br />
(fragmentos)<br />
Até o século XVII, a infância como conhecemos hoje, inexistia.<br />
Crianças e adultos compartilhavam das mesmas experiências; vida e<br />
morte eram vivências comuns a to<strong>do</strong>s. A própria família era uma<br />
A<br />
instituição pluricelular e complexa, onde os laços afetivos eram tênues<br />
DELAIDE DE PAULA SANTOS<br />
e frios. As mães “pariam uma extensa prole” e diante da escassez de<br />
nasceu dia 13 de novembro em Brasília/<br />
recursos e assistência médica, viam seus filhos perecerem até a morte. O<br />
DF. Mestra em Teoria Crítica Feminista pela<br />
sentimento de maternidade, tão exacerba<strong>do</strong> “nos tempos modernos”,<br />
UnB, é professora universitária. Em 2006<br />
era um da<strong>do</strong> inexpressivo naquele perío<strong>do</strong>.<br />
organizou o antológico sarau literário cuja<br />
Com a ascensão da burguesia, um outro conceito de família<br />
meta era a criação e fundação da academia de<br />
começou a se delinear. A preocupação com a destinação da herança, fez<br />
letras da Ceilândia, mas que depois preferiu<br />
com que a criança burguesa ganhasse um novo status social. Tornava-se<br />
somar seus esforços à já propalada ACLAP, da qual hoje é uma ilustre<br />
urgente a formação e a educação da mente infantil para conviver em um<br />
membro funda<strong>do</strong>ra, diretora de “crítica literária”.<br />
outro contexto sócio-cultural.<br />
Não obstante à revolução que alcançou a pequena burguesia,<br />
a massa forma<strong>do</strong>ra da mão-de-obra feudal, <strong>do</strong>s vassalos, permaneceu<br />
na mesma condição aviltante; destituí<strong>do</strong>s de direitos e oportunidades.<br />
Os filhos da vassalagem perambulavam sem ocupação ou coisa que<br />
os valesse. Tal situação, se perdurasse, colocaria em risco o destino da<br />
descendência burguesa. Afinal, sem mão-de-obra especializada, quem<br />
serviria <strong>ao</strong>s próximos aristocratas? Era necessário criar uma instituição<br />
que não só retirasse as crianças das ruas, mas que as disciplinasse em<br />
torno <strong>do</strong> ideário burguês, que destinava <strong>ao</strong>s que serviam a obediência e<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
a submissão. Assim surgiu a escola.<br />
Muito tempo transcorreu desde então, todavia não se alterou o<br />
quadro social de crianças e a<strong>do</strong>lescentes no mun<strong>do</strong> afora. A violência,<br />
em seu senti<strong>do</strong> mais amplo, se impõe onde o descaso impera. Apesar de<br />
Sarau: ACADEMIA DE LETRAS DA CEILÂNDIA<br />
penetrar em todas as classes sociais, é na periferia das grandes cidades<br />
Jornada: FACULDADE DE LETRAS/FACEB<br />
Ano: 2006<br />
onde ela se revela e se declara com maior intensidade. Assim como<br />
ocorria no século XVII, as crianças continuam alijadas <strong>do</strong>s direitos<br />
inerentes a elas, como o direito à vida.<br />
É inaceitável que em plena pós-modernidade se perpetue<br />
valores medievais. E que o Esta<strong>do</strong> permaneça omisso diante da situação<br />
degradante em que se encontram crianças e a<strong>do</strong>lescentes, condena<strong>do</strong>s a<br />
viver na masmorra da indiferença social.<br />
34 35
André Rocha<br />
ANDRÉ LUIZ GONÇALVES DA<br />
ROCHA nasceu dia 12 de agosto de<br />
1975 em Brasília/DF. É mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong><br />
Setor “O” da Ceilândia. Fez to<strong>do</strong> o ensino<br />
fundamental e médio em escolas públicas,<br />
forman<strong>do</strong>-se em Magistério pela Escola<br />
Normal da Ceilândia. Já participou de várias<br />
coletâneas, destacan<strong>do</strong>-se “Mil Poetas Brasileiros” <strong>do</strong> Instituto da<br />
Poesia Internacional de Porto Alegre/RS em 1994, “Solte os Bichos”<br />
da Escola Normal da Ceilândia/DF em 1995 e a “Ceilândia in Versos”<br />
em 1996. Seu patrono “literário” na ACLAP é Renato Russo, devi<strong>do</strong><br />
sua forte ligação com a cultura local.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: QUASE TODOS SENTIMENTOS EM VERSOS<br />
Editora: ALGR<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
BrasILHA<br />
Brasília, até hoje melhor não se viu<br />
Suaves formas, frio concreto.<br />
Afinal quem te construiu<br />
Só leva o título de arquiteto?<br />
Brasília de pedra e de flor<br />
Qual seria melhor inspiração?<br />
Brasília também de fel e <strong>do</strong>r<br />
Quem teria a explicação?<br />
Brasília <strong>do</strong> herói e <strong>do</strong> cidadão<br />
Cada dia mais tenta viver.<br />
Brasília <strong>do</strong> burocrata e <strong>do</strong> ladrão<br />
Quem tentará se defender?<br />
Brasília que tanto se mostra bela<br />
Do passa<strong>do</strong> <strong>ao</strong> futuro em um segun<strong>do</strong>.<br />
Apesar <strong>do</strong> que entristece e traz seqüela<br />
Ainda te quero a outro lugar no mun<strong>do</strong>.<br />
Brasília, mistura da mistura brasileira<br />
Cada cidadão que é acolhi<strong>do</strong>.<br />
E mesmo na passagem mais ligeira<br />
A tu<strong>do</strong> de bom acaba rendi<strong>do</strong>.<br />
Aos anônimos e <strong>ao</strong>s conheci<strong>do</strong>s<br />
Minha homenagem!<br />
Aos mártires e alguns esqueci<strong>do</strong>s,<br />
Minha homenagem!<br />
Aos vence<strong>do</strong>res e <strong>ao</strong>s venci<strong>do</strong>s,<br />
Minha homenagem!<br />
Aos políticos oportunistas e bandi<strong>do</strong>s,<br />
Minha mensagem!<br />
36 37
Antonio Soares<br />
ANTONIO SOARES TEIXEIRA<br />
nasceu dia 27 de novembro de 1956<br />
em Teresina/PI. Apesar de não residir<br />
propriamente no Setor Privê, acompanhou<br />
o nasce<strong>do</strong>uro dessa comunidade pelos laços<br />
ambientais com a Chácara das Águas - “o<br />
cartão postal verde da Ceilândia”. Foi nesse<br />
paraíso ecológico local que escreveu “A Lenda da Princesa Bromélia<br />
& o Surgimento <strong>do</strong> Rio Descoberto”. Publicou em 2003 o livro<br />
“Passageiro <strong>do</strong> Inferno” , cujo roteiro para cinema conta com mais de<br />
mil personagens. É cineasta, jornalista e ambientalista. Presidente da<br />
Fundação Sangue Verde, é também membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: REVISTA SANGUE VERDE<br />
Editora: FUNDAÇÃO SANGUE VERDE<br />
Ano: 2001<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Paraíso<br />
(fragmentos)<br />
O vento é forte e balança as árvores<br />
A chuva cai e o orvalho é frio<br />
Vea<strong>do</strong> corre quan<strong>do</strong> o cachorro late<br />
A inhuma canta louvan<strong>do</strong> os riachos<br />
E eu aqui plantan<strong>do</strong> a esperança de um dia voltar<br />
Para matar a saudade <strong>do</strong> verde deste lugar<br />
E <strong>do</strong> canto <strong>do</strong> sabiá,<br />
Do estalar da faveira<br />
Chaman<strong>do</strong> toda a bicharada.<br />
38 39
Assis Coelho<br />
fRANCISCO DE ASSIS COELHO é<br />
natural de Viçosa no Ceará. Forma<strong>do</strong> em<br />
Letras pelo UniCEUB, é professor de inglês<br />
na Secretaria de Educação <strong>do</strong> Distrito Federal<br />
(CILCeilândia). Publicou em 2000 o livro<br />
“Labirintos”, sobre o qual obteve o seguinte<br />
comentário <strong>do</strong> grande Poeta Muralha: “Em<br />
se tratan<strong>do</strong> de contos, hei de reconhecer que o autor recria o cotidiano<br />
como se estivesse descreven<strong>do</strong> a imaginação”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: LABIRINTOS<br />
Editora: MINAS<br />
Ano: 2000<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Caminhada<br />
Os <strong>do</strong>is caminhavam tomban<strong>do</strong>. Pareciam leva<strong>do</strong>s pelo vento.<br />
Um mais abasta<strong>do</strong> possuía um chinelo. O outro, descalço. Seguiam<br />
indiferentes a to<strong>do</strong>s. O menos bêba<strong>do</strong> sobraçava um saco de papel.<br />
Era fácil imaginar o conteú<strong>do</strong>. O descalço parava tentan<strong>do</strong> suspender a<br />
bermuda que relutava em cair. Por estar menos bêba<strong>do</strong>, ainda guardava<br />
um pouco de preocupação com a decência.<br />
Parece que levavam consigo uma certeza de “que tinham de ir<br />
em frente”. Para onde? Para quê? Continuavam in<strong>do</strong> em frente, embora<br />
tu<strong>do</strong> lutasse pelo contrário.<br />
Paravam de vez em quan<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> sôfregos goles que caíam<br />
em suas barbas crescidas e amareladas pela nicotina.<br />
Na tentativa de manter um certo equilíbrio, o baixinho, descalço,<br />
empunhava a barriga para frente, arquean<strong>do</strong> seu corpo, dan<strong>do</strong>-lhe um<br />
ar patético; mas necessário para seguir em frente. Mesmo com grande<br />
dificuldade de equilíbrio, parecia andar levemente. O outro seguia em<br />
frente, tentan<strong>do</strong> demonstrar um certo ar de superioridade por estar um<br />
pouco menos embriaga<strong>do</strong>.<br />
Com pouco tempo, o baixinho encostou-se num poste,<br />
articulan<strong>do</strong> palavras incompreensíveis e gestos que indicavam pedi<strong>do</strong>s<br />
de espera <strong>ao</strong> companheiro que seguia em frente.<br />
O outro seguia, determina<strong>do</strong> a chegar a algum lugar que ele<br />
mesmo não sabia dizer qual era. Relutava, também, em parar e perder o<br />
equilíbrio. Cair naquele momento seria inaceitável, pois não atingiria o<br />
objetivo traça<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> lúci<strong>do</strong>s.<br />
Com essa vontade inexorável de avançar, o baixinho passou sem<br />
perceber o sinal vermelho, atravessan<strong>do</strong>-o sem olhar para os la<strong>do</strong>s e sem<br />
ouvir os xingamentos que se seguiram. Seguiu indiferente. Subitamente<br />
olhou para trás, lembran<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> companheiro. Viu muita gente parada<br />
<strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r de um corpo caí<strong>do</strong>. Não conseguia distinguir quem estava<br />
no chão. No meio de tanta gente, não via mais seu companheiro. Será<br />
que tinha caí<strong>do</strong>, como era de costume, e fica<strong>do</strong> pelo chão? Era melhor<br />
seguir em frente. Depois, se encontrariam.<br />
40 41
Chico Ivo<br />
CHICO IVO PEIXOTO nasceu dia 03<br />
de julho de 1949 no sítio Pedra Furada,<br />
município de Jaguaretama/CE. Tornou-se<br />
canta<strong>do</strong>r profissional em 1967, participan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s principais Festivais de Repente <strong>do</strong><br />
nordeste e de to<strong>do</strong> o Brasil. Além da parceria<br />
com Dom Donzílio, orgulha-se de já ter se<br />
apresenta<strong>do</strong> até com Ivanil<strong>do</strong> Vilanova – uma lenda vida da cantoria.<br />
Como bom canta<strong>do</strong>r que é, vive mais viajan<strong>do</strong> <strong>do</strong> que em casa, sen<strong>do</strong><br />
por isso mesmo designa<strong>do</strong> “o embaixa<strong>do</strong>r da ACLAP” – seu membro<br />
funda<strong>do</strong>r e “seu propaga<strong>do</strong>r, por to<strong>do</strong>s os cantos que for”. Escolheu<br />
como sua patronesse a conterrânea cearense Raquel de Queiróz.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
CD: MISCELÂNIA CULTURAL<br />
Gravação: PRÓPRIA<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
To<strong>do</strong> Fumante Carrega<br />
A Morte Acesa na Mão<br />
O vício fere e ilude<br />
Traz a pior conseqüência<br />
Abrevia a existência<br />
Empurra pro ataúde<br />
Um desgaste pra saúde<br />
Um blecaute no pulmão<br />
Nas veias <strong>do</strong> coração<br />
A nicotina se agrega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega<br />
A morte acesa na mão.<br />
No conhecimento pleno<br />
Esse mal marcou um passo<br />
A droga ganhou espaço<br />
O vício ganhou terreno<br />
A fumaça é um veneno<br />
O cheiro é poluição<br />
À própria destruição<br />
O vicia<strong>do</strong> se entrega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega<br />
A morte acesa na mão.<br />
To<strong>do</strong> fumante costuma<br />
Ser no vício mais atento<br />
Descarta o próprio alimento<br />
Não liga coisa nenhuma<br />
Acende o cigarro e fuma<br />
Nem lembra da refeição<br />
Tem reflexo na visão<br />
Mas a consciência é cega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega<br />
A morte acesa na mão.<br />
Tu<strong>do</strong> o tabagismo aumenta:<br />
Usuário se perverte<br />
O ministério adverte<br />
A medicina orienta<br />
A Cruz Vermelha comenta<br />
O SUS dá explicação<br />
O colégio entra em ação<br />
A igreja também prega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega<br />
A morte acesa na mão.<br />
Torra<strong>do</strong>r de economias<br />
Semea<strong>do</strong>r de desgraças<br />
É encontra<strong>do</strong> nas praças<br />
Centros e periferias<br />
Lanchonetes, padarias<br />
Banca, cinema e saguão<br />
Hotel, merca<strong>do</strong>, salão<br />
Cassino, bar e bodega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega<br />
A morte acesa na mão.<br />
Quem faz exame de escarro<br />
Vê o mal onde se arrancha<br />
Tem no pulmão uma mancha<br />
E na garganta um pigarro<br />
Quan<strong>do</strong> lhe falta cigarro<br />
Entra em alucinação<br />
Desacor<strong>do</strong>, depressão<br />
Se não fumar, não sossega<br />
To<strong>do</strong> fumante carrega.<br />
A morte acesa na mão.<br />
42 43
Clinaura Macê<strong>do</strong><br />
CLINAURA MACÊDO nasceu em 17<br />
de abril em Valença/PI. Graduada em<br />
violino pela UnB, é violinista funda<strong>do</strong>ra da<br />
Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Teatro Nacional<br />
Cláudio Santoro desde 1979. Atua também<br />
como orienta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s violinistas da<br />
Orquestra Sinfônica de Teresina. Publicou<br />
em 2006 o livro “Histórias de uma Orquestra em Cordel” e integrou<br />
a coletânea “Geografia Poética <strong>do</strong> Distrito Federal” lançada em 2007.<br />
Além da ACLAP, também faz parte <strong>do</strong> Comitê Independente de Apoio<br />
às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB. Em outubro de 2007 foi agraciada com a<br />
Comenda da Ordem Estadual <strong>do</strong> Mérito Renascença <strong>do</strong> Piauí.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: HISTÓRIAS DE UMA ORQUESTRA EM CORDEL<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Cantiga de Amô<br />
(fragmentos)<br />
Home espie, seu minino<br />
O canto <strong>do</strong> violino<br />
Cala inté um sabiá<br />
Faz mais de trezentos ano<br />
Um dia um italiano<br />
Disse: “apois num me ingano<br />
É tu que sabe cantá!”<br />
No meu ombro, seu minino<br />
Cumigo, o meu violino<br />
Me agüentô sem reclamá<br />
Cumpanheiro to<strong>do</strong> dia<br />
Nas dô e nas alegria<br />
Nos choro e nas cantoria<br />
Te chamei, tu tava lá.<br />
No mei dessa confusão<br />
De luta e disilusão<br />
É sagra<strong>do</strong> o teu lugá<br />
Sabiá da sinfonia<br />
Quan<strong>do</strong> eu te vi num sabia<br />
A increnca em que eu me metia<br />
E me danei a istudá.<br />
De tu<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> que eu fiz<br />
Numa coisa eu fui feliz<br />
Que foi nunca te deixá<br />
A mais feliz das paixão<br />
A melhó das decisão<br />
Foi toda a dedicação<br />
Que te dei, meu sabiá!<br />
44 45
Conceição Tavares<br />
CONCEIÇÃO DE MARIA TAVAVES<br />
DOS SANTOS nasceu dia 08 de<br />
dezembro - “dia da família” - em Rio<br />
Grande/MA. Mora<strong>do</strong>ra pioneira <strong>do</strong> Setor ‘P’<br />
Norte, está em Ceilândia desde 1979. Como<br />
integrante da paróquia São Marcos e São<br />
Lucas, é catequista e atua em movimentos<br />
com crianças e ainda faz parte - como voluntária - da Associação Fé,<br />
Amor e Cidadania/FACi. Publicou em 2007 o livro “Sonho de uma<br />
Paixão”. É também membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: SONHO DE UMA PAIXÃO<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Pensamentos<br />
46 47<br />
Sentei<br />
Pensei<br />
Te vi<br />
Te senti<br />
Te desejei<br />
Te beijei<br />
Te amei<br />
A porta abriu<br />
Saíste<br />
Partiste<br />
Tua sombra, não vi<br />
Tuas pegadas, deixaste<br />
Sozinha, fiquei<br />
No quarto, teu perfume<br />
No lençol, o teu cheiro<br />
No meu coração, a saudade.
Dukaldas<br />
DUKALDAS (MARIA DO CARMO<br />
PEREIRA DE CALDAS) nasceu dia 28<br />
de março em Araióses/MA. Como professora<br />
na área rural de Brazlândia desenvolveu o<br />
projeto pedagógico que deu origem <strong>ao</strong> seu<br />
primeiro conto infanto-juvenil: “O Boneco<br />
de Milho”. Outra estória que nasceu da sua<br />
práxis didática – agora atuan<strong>do</strong> com crianças no Centro de Ensino<br />
Especial <strong>do</strong> ‘P’ Sul - foi “Terezinha como tantas outras de Jesus”. É<br />
membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP e sua patronesse é Ana Maria Macha<strong>do</strong>.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
DUKALDAS<br />
CONTOS<br />
BRASÍLIA 2007<br />
Título: CONTOS<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Boneco de Milho<br />
(fragmentos)<br />
Em um milharal localiza<strong>do</strong> em uma fazenda, lá no interior de<br />
Minas Gerais, nasceu uma bela espiga bem diferente das demais. Era a<br />
mais rechonchuda de todas.<br />
O <strong>do</strong>no da fazenda não se cansava de admirar, tamanha era a<br />
beleza daquele fruto da terra.<br />
Um dia antes da colheita, uma lagarta muito malvada e gulosa<br />
veio <strong>ao</strong> milharal, a fim de devorar a tal espiga de quem já ouvira falar.<br />
Ao vê-la, lançou-se a ela e a devorou o quanto pôde.<br />
No dia da colheita, o estrago foi nota<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s. Da bela<br />
espiga só restaram alguns grãos, palha e sabugo. Deixaram-na então,<br />
sozinha e aban<strong>do</strong>nada ali no milharal.<br />
Uma menina pobre, filha de um emprega<strong>do</strong> da fazenda, ven<strong>do</strong><br />
aquela espiga jogada, pegou-a em seus braços e levou para casa.<br />
Chegan<strong>do</strong> lá, transformou-a em um lin<strong>do</strong> boneco, seu único<br />
brinque<strong>do</strong>, e passaram a brincar juntos constantemente.<br />
Passan<strong>do</strong> alguns anos, a menina cresceu, se casou e foi<br />
embora deixan<strong>do</strong> mais uma vez o boneco - outrora só uma espiga -<br />
aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>.<br />
A sorte <strong>do</strong> boneco é que desde que fora transforma<strong>do</strong> em<br />
brinque<strong>do</strong> especial, ganhou uma fada madrinha que estava sempre por<br />
perto; para que ele, mais uma vez não ficasse sozinho, resolveu ajudálo.<br />
Com sua varinha mágica fez plim, plim, plim na cabeça <strong>do</strong> boneco,<br />
dan<strong>do</strong>-lhe vida e também uma missão: a partir daquele dia seria protetor<br />
<strong>do</strong>s milharais. Para isso, contava com uma arma poderosa, uma bolsa<br />
conten<strong>do</strong> um pó amarelo que, em contato com a pele, causava coceira.<br />
Os inimigos <strong>do</strong>s milharais que se cuidem!!!<br />
(*)Conto extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> projeto pedagógico homônimo.<br />
48 49
Ezequiel CeilanDias Cruz<br />
EZEQUIEL DIAS CRUZ nasceu em<br />
Lizarda/TO e mora na Ceilândia desde<br />
1978. Professor da SEDF desde 1992, já<br />
lecionou em mais de 32 escolas da cidade,<br />
lançou mais de uma dúzia de livretos e<br />
instalou mais de 600 espelhos escolas <strong>do</strong><br />
DF. Filho de mãe nordestina - Dona Luíza<br />
– gosta de dizer que tem alma nordestina<br />
pela forte influência recebida da professora primária que desde os nove<br />
anos lhe ensinou a ler Camilo Castelo Branco e outros clássicos da<br />
literatura brasileira, além das “páginas mágicas da bíblia”. Ti<strong>do</strong> como<br />
uma personalidade polêmica, já se acorrentou no centro da cidade,<br />
foi processa<strong>do</strong> por políticos cita<strong>do</strong>s em seus livretos e saiu candidato<br />
a deputa<strong>do</strong> distrital nas eleições de 2010. Em seu livro “Se Deus é<br />
Brasileiro, Jesus é Nordestino”, além das críticas políticas, discute e<br />
propõe a escolha de uma nova nomenclatura para a região administrativa<br />
da Ceilândia.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: SE DEUS É BRASILEIRO, JESUS É NORDESTINO<br />
Edição: INDEPENDENTE<br />
Ano: 2002<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
S/Título<br />
Votar sem refletir é cuspir para o alto<br />
é empurrar com a barriga a roncar<br />
É deixar como está, para ver como será<br />
o futuro <strong>do</strong> país.<br />
É deixar para amanhã o hoje <strong>do</strong> Brasil<br />
é mandar para a ponte que caiu<br />
nossas crianças, nossos jovens, nossos velhos<br />
É acreditar que está assim porque Deus quis.<br />
Votar sem pesquisar o passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito<br />
é condenar nosso presente e o futuro<br />
É deixar que o safa<strong>do</strong> seja eleito<br />
mesmo depois de ser cassa<strong>do</strong> o infeliz.<br />
Votar sem atentar, sem refletir e sem pensar<br />
é entregar <strong>ao</strong> estrangeiro as riquezas nacionais<br />
É dizer que to<strong>do</strong>s são iguais<br />
E a Ceilândia assim não pode ser feliz.<br />
Votar sem ter vontade de mudar<br />
é o peca<strong>do</strong> de quem vota mal<br />
Pois aquele que não pensa pra votar<br />
é o culpa<strong>do</strong> por Fernan<strong>do</strong>s e Roriz.<br />
50 51
Gil D’La Rosa<br />
GIL D’LA ROSA (pseudônimo de<br />
GILMAR CORREA DOS SANTOS)<br />
é engenheiro florestal e de sistema. Já foi<br />
astrólogo, hippie, produtor cultural, instrutor<br />
e praticante de yoga, entre outras tentativas<br />
de expressão nesses seus - segun<strong>do</strong> o próprio<br />
- bem vivi<strong>do</strong>s quarenta e tantos anos. Pois,<br />
ele acredita piamente no que disse Albert Einstein: “Conhecimento é<br />
experiência, qualquer outra coisa é apenas informação”. Publicou em<br />
2007 o livro “Mulher, Invenção <strong>do</strong> Diabo”, numa referência à temática<br />
feminina na literatura de cordel e também à “Divina Comédia” de<br />
Dante Alighieri.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: MULHER INVENÇÃO DO DIABO<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Canto LII<br />
Eis que a mulher se apossou <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
E o Diabo alcançou o seu intuito<br />
Ao ver o sucesso <strong>do</strong> seu invento<br />
Que exercen<strong>do</strong> um poder profun<strong>do</strong><br />
Relegou esses machos <strong>ao</strong> submun<strong>do</strong><br />
De obedecer-lhe às ordens no instante<br />
Dedica<strong>do</strong>s, sem hesitar. Não obstante,<br />
O regozijo se estampa na cara<br />
Do demônio, que com alegria rara<br />
Festeja o seu <strong>do</strong>mínio constante.<br />
52 53
Israel ângelo<br />
ISRAEL ÂNGELO PEREIRA nasceu<br />
dia 07 de maio de 1978 em Crateús/CE.<br />
Chegou em Brasília com apenas dez meses<br />
de idade. Em 2003 participou <strong>do</strong> concurso<br />
que elegeu o hino oficial da Ceilândia,<br />
quan<strong>do</strong> chegou à final. É poeta e já atuou<br />
como <strong>do</strong>cente voluntário de literatura no<br />
pré-vestibular da associação FACi. É também agente voluntário da<br />
Mala <strong>do</strong> Livro desde 2003 (um projeto da Secretária de Cultura), sen<strong>do</strong><br />
responsável pelas estações culturais no metrô de Ceilândia. Funda<strong>do</strong>r<br />
da ong “O Ninho <strong>do</strong> Con<strong>do</strong>r” e profun<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> “poeta<br />
<strong>do</strong>s escravos”, é conheci<strong>do</strong> como “ISRAEL âNGELO, El Con<strong>do</strong>r<br />
Candango”. É o membro funda<strong>do</strong>r “caçula” da ACLAP.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: VOO POÉTICO DO CONDOR<br />
Editora e Gráfica: ARTLETRAS<br />
Ano: 2011<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Navio Brasileiro<br />
Nesse abissal onde o céu vai <strong>ao</strong> mar<br />
Um dia é perene nesse total martírio<br />
O sol! A lua! Provam meu falar<br />
Dan<strong>do</strong> asas a ser um passarinho.<br />
Tenho asa... pequena, mas sou um Con<strong>do</strong>r<br />
Dessa outrora dantesca não vou olvidar<br />
Faço da lembrança meu estro com amor<br />
Nessa terra, o poeta não pode parar.<br />
Rei! Dessa terra volta o cat´vo a lutar<br />
Hoje o antro é o nosso martírio<br />
Quero ser súdito, mas o bem lograr<br />
E ser o mar que recebe água <strong>do</strong> rio...<br />
Sen<strong>do</strong> aspirante conheço essa história<br />
Tão dantesca que no estro fui deplorar<br />
Ao abissal a vida descia e outros sorriam<br />
Fazen<strong>do</strong> o Con<strong>do</strong>r esse porvir mudar.<br />
Manc´bo bar<strong>do</strong> por muitos repudia<strong>do</strong><br />
Defenden<strong>do</strong> a antítese <strong>ao</strong> seu viver<br />
Na praça foi plausív´l, isso é lin<strong>do</strong>!<br />
Uma outrora que não consigo ver.<br />
Hoje a liberdade é o prime´ro vôo<br />
Um Con<strong>do</strong>r viven<strong>do</strong> como um passarinho<br />
Liberdade que a vida não sonhou<br />
Um navio terrestre em cada ninho.<br />
54 55
João Batista<br />
JOÃO BATISTA MACHADO VIEIRA<br />
nasceu dia 23 de setembro de 1952 em<br />
União/PI. Mora<strong>do</strong>r pioneiro da “Expansão<br />
<strong>do</strong> Setor O”, está em Ceilândia desde 1985.<br />
Já trabalhou como faxineiro no Banco <strong>do</strong><br />
Brasil e hoje é servi<strong>do</strong>r público da Secretaria<br />
de Educação. É forma<strong>do</strong> em jornalismo<br />
comunitário pelo histórico projeto “NÓS da Ceilândia”, desenvolvi<strong>do</strong><br />
no Decanato de Extensão da UnB em 1989. Publicou em 1995 o livropainel<br />
“União <strong>do</strong>s Colunistas Brasileiros”. Pelo seu trabalho jornalístico<br />
nos periódicos locais e pela sua função na academia como diretor de<br />
imprensa - ten<strong>do</strong> remeti<strong>do</strong> mais de “mil cartas” - é conheci<strong>do</strong> como<br />
“JOÃO BATISTA, o Cronista Candango”. É membro funda<strong>do</strong>r da<br />
ACLAP, onde tem como patrono o sau<strong>do</strong>so poeta Leão <strong>Som</strong>bra <strong>do</strong><br />
Norte Fontes - funda<strong>do</strong>r da Academia Taguatinguense de Letras e seu<br />
conterrâneo piauiense.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: VI CONCURSO LITERÁRIO<br />
Editora: ASEFE<br />
Ano: 1997<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Crônica da Minha Vida<br />
(fragmentos)<br />
Cada dia que eu lia<br />
As colunas sociais de Brasília<br />
O meu delírio aumentava<br />
E eu viajava no sonho<br />
De ver meu nome intitulan<strong>do</strong><br />
Minha coluna e a minha foto 3 x 4<br />
Padronizan<strong>do</strong> a coluna João<br />
Batista (em maiúscula, no original)<br />
Rodeada de estrelinhas<br />
Igualmente um cartaz de cinema.<br />
(*) Texto extraí<strong>do</strong> de Conceição de Freitas em Crônica da Cidade.<br />
56 57
Joaquim Bezerra da Nóbrega<br />
JOAQUIM BEZERRA DA NÓBREGA<br />
nasceu dia 20 de abril de 1953 em Santa<br />
Luzia <strong>do</strong> Sabugi/PB. Filho de João Bezerra<br />
da Nóbrega e Julieta Bezerra da Nóbrega,<br />
veio para Brasília em 1969. Inicialmente,<br />
morou na “invasão” da Vila Tenório - no<br />
Núcleo Bandeirante; sen<strong>do</strong> depois removi<strong>do</strong><br />
para a cidade de Ceilândia, onde vive no mesmo “barraco” construí<strong>do</strong><br />
nos primórdios de 1971. Publicou em 1976 o livro “Terracap contra<br />
a Ceilândia” - considera<strong>do</strong> o primeiro livro da história local. É autor<br />
também <strong>do</strong> livro de cordel “A Vida <strong>do</strong> Nordestino”, há muito tempo<br />
produzi<strong>do</strong> e somente agora lança<strong>do</strong>. Admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> poeta matuto<br />
Patativa <strong>do</strong> Assaré, é membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, de onde recebeu a<br />
cadeira acadêmica nº 27 em referência à data de fundação da Ceilândia:<br />
27 de março de 1971.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: TERRACAP CONTRA A CEILÂNDIA<br />
Editora: CHICU´S SCREEN (mimeógrafo)<br />
Ano: 1976<br />
Joaquim é na Ceilândia<br />
O incansável porque há<br />
Anos que aqui cheguei<br />
Quero dizer prá você<br />
Um povo forte e valente<br />
Isto tu<strong>do</strong> minha gente<br />
Muito mais nós vamos ter<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
TERRACAP contra a Ceilândia<br />
(fragmentos)<br />
Leitores eu vou contar<br />
Prestem bastante atenção<br />
O que está acontecen<strong>do</strong><br />
Com parte da população<br />
É o povo de Ceilândia<br />
Que sofre grande aflição<br />
To<strong>do</strong> este pessoal<br />
Morava no Bandeirante<br />
Em seus humildes barracos<br />
Porém não tinha o bastante<br />
Hoje sim que piorou<br />
Pois estão bem mais distante<br />
Quan<strong>do</strong> o caminhão chegava<br />
Jogava tu<strong>do</strong> no chão<br />
A mata era de fazer me<strong>do</strong><br />
Porém não temiam não<br />
De dia debaixo de chuva<br />
De noite era na escuridão<br />
Só se ouvia a noite inteira<br />
A pancada <strong>do</strong> martelo<br />
Trabalhan<strong>do</strong> dia e noite<br />
Naquele mesmo duelo<br />
Só mesmo para aprontar<br />
O amparo para o burguelo<br />
O coita<strong>do</strong> <strong>do</strong> pobre luta<br />
E sempre um pouco anima<strong>do</strong><br />
Faz logo o seu barraquinho<br />
Pensan<strong>do</strong> ter sossega<strong>do</strong><br />
Vem o ricaço e lhe toma<br />
O pobre fica joga<strong>do</strong><br />
Os Incansáveis mora<strong>do</strong>res<br />
Estão lutan<strong>do</strong> prá valer<br />
Com a união de to<strong>do</strong>s<br />
A gente pode vencer<br />
Com a ajuda <strong>do</strong> povo<br />
Tu<strong>do</strong> se pode fazer<br />
O povo da TERRACAP<br />
Não querem se entregar<br />
E não sabem que um dia<br />
Eles sim vão precisar<br />
De um lote bem pequeno<br />
Pra poderem se enterrar<br />
É triste ver pelas ruas<br />
A lama a escorrer<br />
As crianças nela brincan<strong>do</strong><br />
Logo vão a<strong>do</strong>ecer<br />
Se não têm nenhum conforto<br />
Só resta mesmo é morrer<br />
Eu tenho meu barraquinho<br />
Cheio de mato <strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r<br />
Não me deram uma tábua<br />
Foi eu com meu suor<br />
Querem agora me tomar<br />
Sem ter um pingo de dó<br />
Eu também moro em Ceilândia<br />
E digo de coração<br />
To<strong>do</strong>s sonhavam com tu<strong>do</strong><br />
Menos essa exploração<br />
Façam algo por a gente<br />
Que to<strong>do</strong>s somos irmãos.<br />
58 59
José Antonio<br />
JOSÉ ANTONIO DO NASCIMENTO<br />
veio <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> dia 23 de maio de 1960<br />
em Alegre/ES. É professor de Atividades<br />
da Secretaria de Educação. Forma<strong>do</strong> em<br />
artes plásticas pela Universidade de Brasília.<br />
Escreve e esconde to<strong>do</strong>s os textos até que<br />
estes possam emergir por influência de<br />
amigos ou de um sonho próprio. Tem forte ligação com as figuras<br />
de linguagem da poesia. Músico autodidata, compõe e toca desde a<br />
juventude. Já participou de vários festivais de música e poesia. Acredita<br />
que a arte é expressão, e não competição. Oriun<strong>do</strong> de família simples,<br />
evitou sempre a badalação em torno de seus trabalhos, fican<strong>do</strong> por isso,<br />
à margem <strong>do</strong>s movimentos culturais da cidade. Publicou em 2005 o<br />
livro “Giro Sons Com Versos”<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: MUNDO CAROCINHO<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Computa<strong>do</strong>r<br />
COM PUTA DOR<br />
VOCÊ VAI AO MERCADO<br />
FALA COM OS AMIGOS<br />
DEIXA RECADO NA SECRETÁRIA<br />
DIZ NÃO TER TEMPO<br />
COM PUTA DOR<br />
VOCÊ VIAJA O MUNDO INTEIRO<br />
BABA NA IMAGEM DIGITAL<br />
E ENCHE A BOCA D´ÁGUA<br />
PELA COMIDA SEM CHEIRO<br />
COM PUTA DOR<br />
VOCÊ ARRUMA PAQUERA NO JAPÃO<br />
PÕE CHIFRE FRANCÊS NO MARIDO ALEMÃO<br />
VAI A QUALQUER LUGAR NA VELOCIDADE<br />
DA INFORMAÇÃO<br />
FAZ TURISMO DE CABEÇA<br />
ENQUANTO O CORPO CRIA RAÍZES NA CADEIRA<br />
COM PUTA DOR<br />
VOCÊ VIVE O PESADELO DA TECNOLOGIA<br />
VÍTIMA DA SOLIDÃO.<br />
60 61
Léo Maravilha<br />
LÉO MARAVILHA<br />
(pseudônimo de SUE-<br />
LENITO DOS SANTOS)<br />
nasceu dia 11 de dezembro<br />
de 1961 no Morro <strong>do</strong> Urubu<br />
– uma das muitas “invasões”<br />
que abrigavam os candangos<br />
construtores de Brasília.<br />
Pelo fato pitoresco <strong>do</strong> local onde nasceu e também pelo seu destaque<br />
como um <strong>do</strong>s principais compositores de samba-enre<strong>do</strong> <strong>do</strong> DF, hoje é<br />
conheci<strong>do</strong> como “ o Sambista <strong>do</strong> Morro Candango”. Além de funda<strong>do</strong>r<br />
da escola de samba da Ceilândia - a Águia Imperial - é também funda<strong>do</strong>r<br />
e o primeiro presidente da ARCAB (Associação Recreativa e Cultural<br />
Acadêmicos de Brazlândia). Como autêntico “filho da Ceilândia” (seu<br />
avô João Evaristo foi um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> histórico movimento <strong>do</strong>s<br />
Incansáveis), recebeu da ACLAP a cadeira acadêmica nº 35 em referência<br />
<strong>ao</strong> dia em que a cidade completou seu 35º aniversário (27 de março de<br />
2006).<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
ESCOLA DE SAMBA<br />
10 DE MARÇO DE 2005<br />
LÉO MARAVILHA<br />
PRESIDENTE<br />
Escola: ACADÊMICOS DE BRAZLÂNDIA<br />
Desfile: CEILAMBÓDROMO<br />
Ano: 2005<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Foto: Madrinha Ilma<br />
Infância Carente<br />
Eu vim para contar a história da criança<br />
Pobre carente sem lar<br />
Aban<strong>do</strong>nada, tem o mun<strong>do</strong> como herança<br />
Infelizmente o desprezo é seu mal<br />
Vejam o que é desafeto, um problema social<br />
Reza prum santo sem nome<br />
Quan<strong>do</strong> pode ela come, a saúde anda mal<br />
No seu canto escuro<br />
Dorme pensan<strong>do</strong> com as coisas lá <strong>do</strong> céu<br />
Sofre calada, cadê seu Papai Noel?<br />
Sou um artista sem fã<br />
Ainda assim quero viver, sem sofrer<br />
Nesse Brasil abençoa<strong>do</strong><br />
Sou o homem de amanhã<br />
Desse jeito, essa infância carente sem brincadeira<br />
Sem afeto e proteção<br />
Infiltra no submun<strong>do</strong>, no buraco mais profun<strong>do</strong><br />
E de lá, não sai mais não<br />
A economia é de guerra, inerte sem reação<br />
Hoje se fala muito, mas não surge a solução<br />
Vejam como é lin<strong>do</strong> na avenida o carnaval<br />
Vamos fantochean<strong>do</strong> definin<strong>do</strong><br />
A essa gente o bem e o mal.<br />
62 63
Manoel Jevan<br />
MANOEL JEVAN<br />
GOMES DE<br />
OLINDA nasceu dia 26<br />
de outubro de 1963 em São<br />
Gonçalo <strong>do</strong>s Inhamuns,<br />
município de Catarina/CE.<br />
Veio para a Ceilândia em<br />
1979 e mora no ‘P’ Sul desde 1981. É professor de história e pesquisa<strong>do</strong>r<br />
da memória candanga na Ceilândia. Em 1997 lançou o primeiro livro-deparede<br />
da História <strong>do</strong> Brasil: “CEI, a CandangoLÂNDIA é Aqui”, <strong>do</strong><br />
qual se originou o projeto <strong>do</strong> Museu da Memória Viva <strong>do</strong>s Candangos<br />
Incansáveis da Ceilândia. Pelo seu trabalho à frente da SPPCei<br />
(Sociedade <strong>do</strong>s Pesquisa<strong>do</strong>res e Pioneiros da Ceilândia), tornou-se<br />
conheci<strong>do</strong> como “PROFº JEVAN, o Ceilandólogo”. Publicou em 2007<br />
o livro “A Ceilândia Hoje”. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, na qual<br />
a<strong>do</strong>tou orgulhosamente como seu patrono o imortal Poeta Muralha.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: A CEILÂNDIA HOJE<br />
Editora: ART LETRAS<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Perguntas de um Candango que Lê<br />
“E quantos nordestinos com as mãos calejadas<br />
foram expulsos após a inauguração de Brasília?”*<br />
Quem construiu os postais de Brasília?<br />
Nos livros, só constam os nomes <strong>do</strong>s governantes...<br />
Foram eles que ergueram os blocos de concreto?<br />
E a brazuca capital transferida mais de uma vez?<br />
Quem a reconstruiu de novo?<br />
Quais as Casas de Dinda com torneiras <strong>do</strong>uradas<br />
Que abrigaram seus jardineiros?<br />
Na noite em que se construiu a Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />
Para onde foram os candangos da sua construção?<br />
A faraônica Brasília está cheia de eixos e monumentos:<br />
Quem os construiu?<br />
Sobre quem “postaram” seus arquitetos?<br />
As colunas <strong>do</strong> Alvorada - tão decantadas - só continham o palácio?<br />
Mesmo na legendária Matança da Pacheco<br />
Os empreiteiros chamavam por a GEB<br />
Naquela noite em que os confetes os encobriam...<br />
O “peixe-vivo” JK construiu a Bras“ilha”:<br />
Construiu sozinho?<br />
Bernar<strong>do</strong> Sayão desbravou ro<strong>do</strong>vias:<br />
Não tinha <strong>ao</strong> menos um tratorista consigo?<br />
Israel Pinheiro chorou a primeira cova <strong>do</strong><br />
Campo da Esperança: só ele chorou?<br />
Lúcio Costa venceu o concurso <strong>do</strong> Plano Piloto:<br />
Quem mais aqui venceu um concurso?<br />
Cada verso, uma glória...<br />
Quem prepara os seus planos?<br />
De “50 em 5 anos” surge um grande herói...<br />
Quem paga as suas campanhas?<br />
Tantas perguntas... Quantas histórias...<br />
* NEIDE LISBOA, adaptação <strong>do</strong> poema de Bertold Brecht<br />
64 65
Mano Lima<br />
MANO (MANOEL CORDEIRO)<br />
LIMA nasceu dia 21 de junho de 1967<br />
em Coreaú/CE. Está em Brasília desde 1971,<br />
ano em que a ditadura militar promoveu o<br />
primeiro assentamento da capital, com a<br />
“remoção” <strong>do</strong>s candangos para a Ceilândia.<br />
Autor da segunda coletânea da história de<br />
Ceilândia, publicou também em 2001 o livro “Ginga no Cerra<strong>do</strong>”.<br />
Diploma<strong>do</strong> em Estu<strong>do</strong>s Sociais e Jornalismo, foi editor <strong>do</strong> jornal<br />
comunitário “Fala Satélite” e atualmente é assessor de imprensa e<br />
editor da revista “Capoeira em Evidência” da Fundação Ladainha <strong>do</strong><br />
conheci<strong>do</strong> Mestre Gilvan.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CEILÂNDIA IN VERSOS<br />
Editora: LUSTOSA<br />
Ano: 1996<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Retrato <strong>do</strong>s Atos<br />
Ceilândia tem de tu<strong>do</strong>:<br />
o vende<strong>do</strong>r ambulante, disputan<strong>do</strong> o espaço na feira<br />
e, no <strong>do</strong>mingo, alegria<br />
vozes de um alto falante, militantes de um parti<strong>do</strong> atuante<br />
e uma roda de capoeira<br />
é a boemia <strong>do</strong> dia<br />
- Olha o gás, <strong>do</strong>na Luzia!<br />
Mas na poeira das ruas<br />
a criança envolve-se com brinque<strong>do</strong>s improvisa<strong>do</strong>s<br />
vê-se, de longe, o anúncio <strong>do</strong> repara<strong>do</strong>r viajante:<br />
- Conserta-se fogão a gás, geladeira e enceradeira!<br />
Na vastidão, três, quatro crianças nuas<br />
que a miséria não manda prenúncia<br />
no biscateiro o semblante <strong>do</strong> cansaço:<br />
- E conserto pra vida, não tem?<br />
Ora, deixe de besteira<br />
Mulher, hoje não tem feira!<br />
E os legumes, os ciúmes noturnos nas biroscas, nos bares<br />
e a prostituta que me assusta com seu alto preço<br />
o menino travesso:<br />
- Vai graxa, seu moço?<br />
Ceilândia, fonte de to<strong>do</strong>s<br />
o canta<strong>do</strong>r repentista, em versos que ponteia<br />
conta a história de um povo<br />
que veio vin<strong>do</strong>, devagarinho<br />
desvendan<strong>do</strong> o cerra<strong>do</strong>, montan<strong>do</strong> barracos<br />
construin<strong>do</strong> prédios para uma minoria:<br />
- Onde você mora, Ceilândia?<br />
Ceilândia, <strong>do</strong> bêba<strong>do</strong> sentimental<br />
<strong>do</strong>s bastar<strong>do</strong>s vassalos que servem a elite<br />
sem nenhum mérito ou prêmio<br />
- Homem, meu troco<br />
A passagem aumentou!<br />
Não agüento mais violência contra o bolso, contra a vida<br />
e a ferida não curada que o INPS não pagou.<br />
66 67
Marcílio Tabosa<br />
MARCÍLIO TABOSA DE CASTRO<br />
nasceu dia 25 de novembro de<br />
1965 (mas só oficialmente registra<strong>do</strong> em<br />
02/02/1966) em Itapipoca (sen<strong>do</strong> porém sua<br />
família procedente de Monsenhor Tabosa/<br />
CE). Está em Ceilândia desde 1975, lugar<br />
onde cresceu e descreveu suas principais<br />
figuras populares. Artista plástico e ilustra<strong>do</strong>r gráfico, é destacadamente<br />
conheci<strong>do</strong> por suas xilogravuras, as quais podem ser encontradas nos<br />
principais pontos culturais da cidade. Em 2007 tornou-se o primeiro<br />
artista ceilandense a montar uma exposição na Aliança Francesa. Tem<br />
“produzi<strong>do</strong>” o livro “Xilogravuras” e até por isso é conheci<strong>do</strong> como<br />
“M.Tabosa, o J.Borges Candango”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: XILOGRAVURAS<br />
Editor: OSMI VIEIRA<br />
Ano: 2004<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Lata d’Água na Cabeça<br />
(*) Obra-prima da xilogravura, que une os pioneiros da Ceilândia<br />
com os candangos de Brasília pelo elo enigmático das águas.<br />
68 69
Marcos Viana<br />
MARCOS ANTONIO DOS SANTOS<br />
VIANA nasceu dia 17 de fevereiro<br />
de 1964 em Teresina/PI. Forma<strong>do</strong> em<br />
pedagogia, atua na rede pública de ensino<br />
como orienta<strong>do</strong>r educacional. É um exímio<br />
artista plástico - que produz sua própria<br />
matéria-prima e autor da exposição temáticoambiental<br />
“O Cerra<strong>do</strong> Ameaça<strong>do</strong>” - mas que pela sua honesta modéstia<br />
prefere ser chama<strong>do</strong> de “artesão”. Atualmente dedica-se a pesquisas<br />
com grupos indígenas como uma forma de negação à geléia geral da<br />
globalização. Por este seu caráter suy generis, é também chama<strong>do</strong><br />
de “Marquim, o São Francisco Candango”. Publicou em 1994 -<br />
artesanalmente! - o livro “Vivências”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
MARCOS VIANA<br />
VIVÊNCIAS<br />
BRASÍLIA-DF<br />
Título: VIVÊNCIAS<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 1994<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Capital da Esperança<br />
Vocês estão nas ruas<br />
Na margem da pista<br />
À margem da vida<br />
Vocês estão nas ruas<br />
Puxan<strong>do</strong> um trago<br />
Vigian<strong>do</strong> carros<br />
Vocês estão nas ruas<br />
Chupan<strong>do</strong> drops<br />
Chutan<strong>do</strong> latas<br />
Vocês estão nas ruas<br />
Engraxan<strong>do</strong> sapatos<br />
Por um pastel e cal<strong>do</strong><br />
Vocês estão nas ruas<br />
Na boca <strong>do</strong>s caixas<br />
Subin<strong>do</strong> e rolan<strong>do</strong> escadas<br />
Vocês estão nas ruas<br />
Nos chaman<strong>do</strong> de tio<br />
Sem teto, sem família<br />
Vocês estão nas ruas<br />
À margem da pista<br />
Na margem da vida.<br />
70 71
Mariana Lima<br />
MARIANA CARVALHO DE<br />
OLIVEIRA LIMA nasceu dia 03 de<br />
novembro em Matias Olímpio/PI. Sempre<br />
demonstrou inclinação para as letras. Faz da<br />
escrita algo imprescindível para quem tem a<br />
literatura impressa na alma. É graduada em<br />
Letras e Literatura pela Faculdade Cenecista<br />
de Brasília/FACEB e autora <strong>do</strong> livro “Brincan<strong>do</strong> com Poesias” - escrito<br />
em co-autoria com a também professora Suzana Ferraz e ilustra<strong>do</strong><br />
pelo inestimável amigo Neftaly Vieira. Participa <strong>do</strong> livro “Diário de<br />
Escritor” da Litteris Editora, versão 2008. Está lançan<strong>do</strong> seu novo<br />
livro “Cirandas” pela Conhecimento Editora. É membro funda<strong>do</strong>ra da<br />
ACLAP, onde elegeu como sua patronesse a escritora Júlia Lopes de<br />
Almeida.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: BRINCANDO COM POESIAS<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 2000<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Segre<strong>do</strong><br />
Não devo te querer, bem sei<br />
Porque não posso te amar;<br />
Ainda que o amor em meu peito<br />
Esteja a dilacerar<br />
Insistin<strong>do</strong> com o coração<br />
A idéia de te procurar.<br />
O desejo de teus beijos, eu sinto<br />
É uma verdade, não minto<br />
Mas sei que é um amor impossível<br />
É um querer sem razão;<br />
Apenas um sentimento ingênuo<br />
Do meu pobre coração.<br />
Noites sem fim em minha cama<br />
Penso em ti minha dama,<br />
É difícil a<strong>do</strong>rmecer!<br />
Não consigo entender<br />
Esse amor que me invade a alma<br />
Tiran<strong>do</strong>-me o sono e a calma.<br />
Ainda assim, preciso ponderar,<br />
Estamos tão longe um <strong>do</strong> outro<br />
Como o sul está <strong>do</strong> norte,<br />
Tu, és dama da corte<br />
E eu, um plebeu sem sorte.<br />
Guardarei só para mim<br />
O desejo de te amar,<br />
Não saberás de mim,<br />
Nem das minhas ansiedades<br />
Ficarei no anonimato<br />
Com minha infelicidade.<br />
72 73
Messias de Oliveira<br />
MESSIAS DE OLIVEIRA nasceu dia 26<br />
de outubro de 1957 em Nova Russas/<br />
CE. Repentista, desde os 21 anos, está em<br />
Brasília desde 1975. Além <strong>do</strong> “Cordel da<br />
Mala” exibe em seu currículo incontáveis<br />
festivais de cantoria, “oficinas” ministradas<br />
na Feira <strong>do</strong> Livro e até uma apresentação<br />
“erudita e popular” com a violinista funda<strong>do</strong>ra da Orquestra Sinfônica<br />
de Brasília Clinaura Macê<strong>do</strong>. Cita como grande parceiro de pelejas o<br />
professor Valdenor de Almeida, com quem cantou o cordel “Resolver<br />
o Problema Educativo é Dever <strong>do</strong> Governo Federal” pelo projeto<br />
Cantoria-Escola da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r de Ceilândia.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CORDEL CANTORIA ESCOLA<br />
Editora: CASA DO CANTADOR/CUT<br />
Ano: 1996<br />
M essias de Oliveira<br />
E ssa figura discreta<br />
S ensível, quan<strong>do</strong> é ouvinte<br />
S eguro, quan<strong>do</strong> interpreta<br />
I nvencível na defesa<br />
A vida, sua riqueza<br />
S ua missão: ser poeta<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
A Mala <strong>do</strong> Livro é hoje<br />
Uma extensão da cultura<br />
Que tem na Secretaria<br />
Sua total cobertura<br />
Incentivan<strong>do</strong> as pessoas<br />
A praticarem a leitura<br />
A nossa Literatura<br />
Passou a ser divulgada<br />
Depois que a Mala <strong>do</strong> Livro<br />
Chegou perto da morada<br />
Dos que, antes <strong>do</strong> projeto,<br />
Não sabiam quase nada<br />
A Mala é organizada<br />
De mo<strong>do</strong> a contribuir<br />
Com aqueles que não podem<br />
Os livros adquirir<br />
E quem participa uma vez<br />
Nunca mais quer sair<br />
Seu objetivo é ir<br />
Aos lugares mais distantes<br />
Levar o conhecimento<br />
Aos nossos estudantes<br />
Transforman<strong>do</strong>-os de objetos<br />
Em sujeitos atuantes<br />
O Cordel da Mala<br />
(fragmentos)<br />
Nasceu <strong>do</strong> grande talento<br />
De uma francesa feliz<br />
Que enchia cestas de livros<br />
E distribuí-los quis<br />
Pelas ruas de Clamart<br />
Um subúrbio de Paris<br />
Ressurge na região<br />
Samambaia, uma cidade<br />
Neusa Doura<strong>do</strong> moveu-se<br />
Com essa realidade<br />
E iniciou o trabalho<br />
Naquela localidade<br />
Neusa com toda vontade<br />
No seu trabalho completo<br />
Chamou Maria José<br />
Nome que merece afeto<br />
Educa<strong>do</strong>ra dinâmica<br />
Que vibrou com o projeto<br />
Neste projeto excelente<br />
Os nossos jovens estão<br />
Viajan<strong>do</strong> na leitura<br />
Crian<strong>do</strong> imaginação<br />
Adquirin<strong>do</strong> saber<br />
E crescen<strong>do</strong> em educação.<br />
Mala <strong>do</strong> Livro, a biblioteca para todas as comunidades no DF<br />
A Mala <strong>do</strong> Livro é um programa volta<strong>do</strong> à criança, <strong>ao</strong> a<strong>do</strong>lescente e <strong>ao</strong> adulto, visan<strong>do</strong> facilitar o acesso à<br />
informação e à leitura. É coordena<strong>do</strong> pela Diretoria de Bibliotecas da Secretaria de Cultura <strong>do</strong> GDF e surgiu no<br />
formato de biblioteca <strong>do</strong>miciliar em 1990, como atividade de extensão da Biblioteca Pública de Brasília.<br />
74 75
Nair Rosa<br />
NAIR ROSA DE JESUS<br />
nasceu dia 17 de junho<br />
de 1937 em Catalão e se<br />
criou em Caldas Novas/GO.<br />
Aposentada, trabalha como<br />
costureira para não parar de<br />
viver. A<strong>do</strong>ra viajar e dançar no<br />
“forró da melhor idade”. Participa anualmente da romaria para Trindade<br />
de Goiás com a amiga Anita. Foi revelada para a literatura pela <strong>do</strong>utora<br />
Elza Maria (autora <strong>do</strong> projeto Reminiscências Integran<strong>do</strong> Gerações<br />
lança<strong>do</strong> em 1997 na Escola Classe 15 da Guariroba). Ela participou<br />
<strong>do</strong> projeto como uma conta<strong>do</strong>ra de estória, mas seu sonho sempre<br />
foi “aprender a ler para escrever o próprio livro”. E a “academia”<br />
representa para ela a esperança da realização desse sonho. Como obra<br />
literária produzida para ingressar na ACLAP, escreveu a “Carta” que<br />
aqui publicamos.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: REMINISCÊNCIAS INTEGRANDO GERAÇÕES<br />
Editora: VOZES<br />
Ano: 1997<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
CARTA PARA MINHA MÃE: Mamãe, hoje <strong>ao</strong> ver uma rosa lembrei de você/Com o perfume que ela<br />
exalava eu lembrei <strong>do</strong> seu cheiro/Não pude deixar ela lá e trouxe para casa pois ela me fez sentir estar perto<br />
de você/Nesse momento pensei nos conselhos que me dava de tu<strong>do</strong> que me ensinava e que nunca esqueci<br />
o que me falava/Porque você, mamãe, é e sempre será para mim a pessoa mais importante da minha vida/<br />
Agradeço a Deus por ser sua filha/E sei que aí perto de Deus você ora por mim e por isso termino essa<br />
carta lhe pedin<strong>do</strong>/A sua bênção, mamãe.<br />
76 77
Neftaly Vieira<br />
NEFTALY VIEIRA GONÇALVES<br />
nasceu dia 04 de janeiro de 1963 em<br />
Teófilo Otone/MG. Sua família – que traz<br />
na genealogia o nome Zimmer-Cöllen <strong>do</strong>s<br />
imigrantes alemães – veio das vilas operárias<br />
de Brasília removi<strong>do</strong> para a Ceilândia. É<br />
ilustra<strong>do</strong>r profissional da área jornalística,<br />
com diversos trabalhos publica<strong>do</strong>s em revistas, livros didáticos e<br />
infantis. Já fez charges para os periódicos Jornal de Brasília e Correio<br />
Braziliense. Está finalizan<strong>do</strong> a ilustração <strong>do</strong> livro “Cirandas” da amiga<br />
e companheira de ACLAP Mariana Lima. É forman<strong>do</strong> em Letras pela<br />
Universidade Católica de Brasília. Por ter cria<strong>do</strong> a histórica capa <strong>do</strong><br />
livro “Ceilândia Ontem, Hoje... E Amanhã?” é também conheci<strong>do</strong><br />
como “NEF, o Ilustra<strong>do</strong>r Incansável”. Como membro efetivo da<br />
ACLAP, ocupa a cadeira acadêmica nº 19.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CEILÂNDIA ONTEM, HOJE ...E AMANHÃ?<br />
Ilustrações: NEF NENO e IURI VIEIRA (in memorian)<br />
Ano: 1979/1981<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Imagem Incansável<br />
(*) Capa <strong>do</strong> primeiro livro coletivo da memória candanga.<br />
78 79
Nina Tolle<strong>do</strong><br />
NINA TOLLEDO (p s e u d ô n i m o<br />
d e MARIA ALCINA DA SILVA)<br />
nasceu dia 1º de junho na cidade de Tabajara,<br />
município de Inhapim/MG. É filha de<br />
Percília Júlia Tole<strong>do</strong> e Geral<strong>do</strong> Américo<br />
Raimun<strong>do</strong>. Desde a década de 80 escreve<br />
poemas e contos. Estu<strong>do</strong>u Letras e cursa<br />
atualmente a faculdade de Pedagogia. Têm no prelo mais duas obras<br />
e já publicou “Codinome: Você” (2004) e “Casos e Descasos” (2005),<br />
além da participação na coletânea comemorativa <strong>do</strong> cinqüentenário <strong>do</strong><br />
Distrito Federal “Geografia Poética” (2007). É membro funda<strong>do</strong>ra da<br />
Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares e, pela delicadeza<br />
de seus versos e a forte influência recebida de sua patronesse, é também<br />
conhecida como “a Cecília Meireles <strong>Candanga</strong>”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CASOS & DESCASOS<br />
Editora: BRASÍLIA CULTURAL/FAC<br />
Ano: 2005<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Cotidiano<br />
Quem me vê passar apressada<br />
Nem imagina minha estrada<br />
O que sinto, penso e vivo<br />
Enfim, minha jornada...<br />
Nem sabe que tenho vazios,<br />
Sinto frio na madrugada<br />
Que às vezes me sinto feia<br />
Triste e desanimada<br />
Que sonho em ter um amor<br />
Novo horizonte, nova vida<br />
Um ombro bem confortável<br />
Ter paz, ser compreendida...<br />
Quem me vê passar apressada<br />
De mim não sabe nada<br />
Que minha cor não é essa<br />
Em minha tez estampada<br />
Que o sol <strong>do</strong> dia-a-dia<br />
Deixou-me bem mais corada.<br />
Quem me vê passar to<strong>do</strong> dia<br />
Nem imagina quem sou...<br />
Não sou essa andarilha<br />
De apenas uma estrada<br />
Meu coração corre o mun<strong>do</strong><br />
Bate forte, vive em revoadas<br />
Buscan<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>...<br />
E nada encontra... Nada!<br />
80 81
Osval<strong>do</strong> Espínola<br />
OSVALDO PEREIRA ESPÍNOLA<br />
nasceu dia 25 de fevereiro de 1953<br />
em Itaberá/BA. Chegou em Brasília com<br />
treze anos de idade, residin<strong>do</strong> no Núcleo<br />
Bandeirante, depois in<strong>do</strong> para a falada Vila <strong>do</strong><br />
IAPI e de lá sen<strong>do</strong> removi<strong>do</strong> para a não menos<br />
histórica Ceilândia. Trabalha de pedreiro e<br />
nas horas vagas descansa compon<strong>do</strong> versos e melodias. Declama versos<br />
de repente – no improviso – e se orgulha de ter si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s finalistas<br />
<strong>do</strong> concurso que escolheu em 2003 o “hino oficial” da cidade. É grande<br />
admira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> maluco beleza Raul Seixas - seu conterrâneo baiano em<br />
quem se inspirou para criar suas famosas “vestimentas temáticas”.<br />
Membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP, é também conheci<strong>do</strong> como “BBB, o<br />
Bom Baiano Brasileiro”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: VESTIDO DE POESIA<br />
Edição: PRÓPRIA/ACLAP<br />
Ano: 2009<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Conselho de um Pai<br />
Meu filho, se chegar alguém<br />
E perguntan<strong>do</strong>: tu<strong>do</strong> bem?<br />
Te falan<strong>do</strong> bem baixinho<br />
Sempre de cabeça baixa<br />
Com a mão dentro da caixa<br />
E te entregan<strong>do</strong> um pacotinho<br />
Diga não para este moço<br />
Diga que é em vão o seu esforço<br />
Que ele é um destrui<strong>do</strong>r<br />
E pelo jeito que estou ven<strong>do</strong><br />
Meu filho, ele está queren<strong>do</strong><br />
É destruir o nosso amor<br />
Quan<strong>do</strong> ele vier de mansinho<br />
E chegar bem devagarinho<br />
Até sorrin<strong>do</strong> pra você<br />
Na manhã de um lin<strong>do</strong> dia<br />
Já depois que você vicia<br />
Ele vem pra receber<br />
Aí bate o desespero<br />
Você treme o corpo inteiro<br />
E não tem mais o que fazer<br />
Pois é tão grande o desespero<br />
E se você não tem dinheiro<br />
Meu filho, ele mata você.<br />
82 83
Rapper Japão<br />
RAPPER JAPÃO (MARCOS<br />
VINÍCIUS DE JESUS) é candango<br />
de nascimento e mora<strong>do</strong>r pioneiro da<br />
“Expansão” <strong>do</strong> Setor O de Ceilândia, berço<br />
rap de Brasília. Rapper há 19 anos, produtor<br />
musical e ativista social, já gravou cd’s com o<br />
grupo <strong>do</strong> Gog e com o Viela 17. Participou<br />
de videoclipes e entrou para a história <strong>do</strong> cinema local com o filme<br />
“Rap, o Canto da Ceilândia” – que tem na produção João Break, seu<br />
parceiro ceilandense e também seu patrono na ACLAP. Em 2000<br />
montou o grupo Viela 17 em parceria com Dino Black e Mano Mix.<br />
Percebe o rap como “música” não apenas de protesto, mas sim como<br />
uma rebeldia sonora existente entre a periferia e o asfalto, seguin<strong>do</strong> a<br />
trilha iniciada por Gabriel O Pensa<strong>do</strong>r, Marcelo D2, Thaíde e MV Bill.<br />
Atualmente, é coordena<strong>do</strong>r artístico da Central Única das Favelas no<br />
Distrito Federal/CUFA-DF.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Filme: RAP, O CANTO DA CEILÂNDIA<br />
Prêmio: 38º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO<br />
Ano: 2005<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Lá no Morro<br />
(fragmentos)<br />
Não tô nem aí, nem reclamo, a vida tá firmeza<br />
Aí muleke passa um pano, qualque é, desenrola mané<br />
Ter um carro muito louco é um sonho<br />
Pagar de boy nunca foi a nossa cara<br />
Na quebrada, humildade sempre vinga<br />
Ah, cara, sem essa de licença, sem caô seu <strong>do</strong>utor<br />
Pouco dinheiro mas eu fico feliz<br />
E me amarro nos muleke, chega e diz<br />
Ficar no beco, ouvir rap é pra mala<br />
Se não é isso, sai canalha<br />
Liga o rádio, Claudinho se destaca<br />
Qualé o baile hoje aí pivete, se encaixa<br />
Bota uns pano, um relógio da hora<br />
Tá na chuva, então se molha<br />
Fica lá no canto, escuta o som que é Viela, simbora<br />
É nós no morro, só batida, só glória<br />
Vou lá no morro<br />
Comunidade unida é um pote de ouro<br />
Vou lá no morro<br />
De Ceilândia a Planaltina, é frevo de novo<br />
“92 cor de sangue”, “pá”, uns banco de couro<br />
Com os olhos vermelhos igual a nota da escola<br />
E quem entende sim, eu quero ser assim<br />
Calça de lim, não é pra mim<br />
Bem pior <strong>do</strong> que aparenta<br />
Eu sei o que meu boné representa<br />
Tu<strong>do</strong> nosso, tu<strong>do</strong> bem<br />
No morro o samba trinca<br />
E o céu brilha também<br />
Tu<strong>do</strong> nosso, tu<strong>do</strong> bem<br />
No morro o samba trinca<br />
E nisso eu vou além.<br />
84 85
Ronal<strong>do</strong> Mousinho<br />
ONALDO ALVES MOUSINHO<br />
R nasceu dia 16 de outubro de 1951<br />
em Guadalupe/PI. Está em Brasília desde<br />
1978. Licencia<strong>do</strong> em Letras, é professor e<br />
advoga<strong>do</strong>. Publicou em 1994 o livro “Asas<br />
para o Apogeu”. Verdadeiro intelectual,<br />
produtor cultural e editor de inúmeras<br />
coletâneas, é conheci<strong>do</strong> - e reconheci<strong>do</strong>! - tanto em Brasília como nas<br />
terras <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> Piauí. Além de membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP - cujo<br />
patrono é o pioneiro da literatura candanga Clemente Luz - é sócio<br />
efetivo <strong>do</strong> Comitê Independente de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB<br />
e o atual presidente da Academia Taguatinguense de Letras. Por ser o<br />
maior pesquisa<strong>do</strong>r e estudioso da literatura local, é conheci<strong>do</strong> como<br />
“MESTRE MOUSINHO, o Macha<strong>do</strong> de Assis Candango”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: PROJETO ALUNO ESCRITOR<br />
Editora: ASEFE<br />
Ano: 1995<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Nave-Mãe <strong>Candanga</strong><br />
(fragmentos)<br />
Quero pilotar a nave-mãe, sobrevoar Brasília<br />
Admirar a Torre de TV, cumprimentar os feirantes.<br />
Voar rasante sobre a Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />
Saudar Jesus Cristo <strong>ao</strong> passar pela Catedral.<br />
Sacudir a poeira da máquina administrativa e injetar-lhe ânimo.<br />
Chamar à razão o Palácio <strong>do</strong> Planalto e <strong>do</strong> Buriti<br />
E dizer-lhes que os fins não justificam os meios.<br />
Contemplar as águas <strong>do</strong> Paranoá e os barcos passeantes e gritar:<br />
“alto lá, vocês não podem continuar acima da lei”,<br />
<strong>ao</strong>s invasores daquelas margens.<br />
Plainar sobre o Teatro Nacional e lavar a alma com os acordes<br />
da Orquestra Sinfônica.<br />
Rumar para Taguatinga e Ceilândia em busca de tradição e amenidades.<br />
Esticar até a Feira da QNL, comer peixe e rapadura <strong>do</strong> Maranhão,<br />
Saborear carne-de-sol e cajuína <strong>do</strong> Piauí.<br />
Revisitar o Museu Casa da Memória Viva <strong>do</strong> mecenas Jevan<br />
E ali ouvir a Orquestra Sanfônica <strong>Candanga</strong>.<br />
Participar da fundação da ACLAP mas, pessimista,<br />
constatar que a política<br />
“suprema razão da existência humana”,<br />
hoje é flagelo que nos aniquila.<br />
86 87
Rosana Maria<br />
OSANA MARIA CARVALHO DA<br />
R COSTA nasceu dia 30 de outubro em<br />
Brasília. Por gostar muito de criar coisas para<br />
casa, começou a confeccionar “roupinhas de<br />
boneca” ainda na infância, adquirin<strong>do</strong> a arte<br />
da costura e <strong>do</strong> artesanato pelo seu autêntico<br />
tino autodidata. Além das confecções<br />
artesanais para Casa da Memória Viva, tornou-se a única produtora da<br />
“bandeira da Ceilândia” (tanto para a Administração Regional, como<br />
para as escolas locais). Orgulha-se muito de fazer parte <strong>do</strong> histórico<br />
grupo <strong>do</strong>s 35 artistas ceilandenses que fundaram a ACLAP.<br />
CONFECÇÃO:<br />
Título: BANDEIRA DA ACLAP<br />
Criação: MV MODAS<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Eu Sou a Cei<br />
No começo, eu era erradicação<br />
Pelo um anel-sanitário<br />
Fizeram a minha remoção<br />
Sem teto, fui barraco<br />
Sem luz, só apagão<br />
Sem água, era a “ceilama”<br />
Carência era o meu sobrenome<br />
Comissão, campanha, invasão...<br />
Tanto nome que quase me consome<br />
Os anos se passaram<br />
E agora sei<br />
Que hoje eu sou:<br />
Cidade, sim.<br />
Excluída, nunca.<br />
Incansável, sempre!<br />
88 89
Sebastião Lima<br />
EBASTIÃO JOSÉ DE LIMA nasceu dia<br />
S 14 de novembro de 1947 na cidade de<br />
Ceres/GO. Filho de agricultor goiano e mãe<br />
pernambucana, fez os seus estu<strong>do</strong>s primários<br />
em Anápolis e veio para Brasília em 1972.<br />
Servi<strong>do</strong>r público, é mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong><br />
Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. Começou a<br />
cursar a faculdade de Teologia em 1987. Católico, professor de catequese<br />
na paróquia São Marcos e São Lucas, é coordena<strong>do</strong>r de grupos teatrais<br />
e organiza<strong>do</strong>r da Via Sacra. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP e, pela<br />
admiração que sente por se patrono literário, é também chama<strong>do</strong> de “o<br />
Drummond Candango”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: HISTÓRICO DO SETOR “P” NORTE<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Luz <strong>do</strong> Saber<br />
Sou como o pensamento que está sempre atento<br />
Tanto nos antigos como <strong>ao</strong>s novos movimentos<br />
Sempre fico no meu cantinho bem quietinho<br />
Observan<strong>do</strong> o que está acontecen<strong>do</strong><br />
Pensan<strong>do</strong> num mun<strong>do</strong> mais justo e consciente<br />
Onde o homem e a mulher possam andar de mãos dadas<br />
Tentan<strong>do</strong> construir um mun<strong>do</strong> mais sábio e inteligente.<br />
90 91
Sidiney Breguê<strong>do</strong><br />
IDINEY DE SOUZA BREGUÊDO<br />
S nasceu dia 22 de janeiro de 1972 em<br />
Monte Azul/MG. Mora em Ceilândia<br />
desde os primórdios da cidade. É chargista,<br />
caricaturista, artista plástico e... poeta! Dono<br />
de um estilo poético “Beat”, é também<br />
conheci<strong>do</strong> como “o Charles Bukowski<br />
Candango”. Como artista plástico, entrou para a história de Brasília<br />
com o quadro “É Q´Eu Sou Candango”, que descreve – plasticamente –<br />
os três tempos da história candanga (construção, remoção e exclusão).<br />
Nome tarimba<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento cultural local, já realizou diversas<br />
exposições e tem (manuscrito, em cinco cadernos) mais de mil poemas<br />
a serem publica<strong>do</strong>s.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O JACARÉ PENSADOR<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2009<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Quan<strong>do</strong> Eu Morrer<br />
Quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />
Não quero fama, nem estardalhaço.<br />
Não quero caixão de pinho,<br />
Nem gravata de laço.<br />
Menino, hoje sou vivo e belo<br />
E ninguém vê meu sorriso amarelo.<br />
Amanhã quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />
Tirarão <strong>do</strong> meu pé o chinelo<br />
E esculpirão em bronze<br />
Bengala ou cutelo,<br />
Plaqueta para o senhor administra<strong>do</strong>r<br />
Assinar: poeta, menino, poeta!!<br />
Me cobrirão com o pó<br />
Do ouro amarelo<br />
E a glória me darão em verdade,<br />
Dos empresários serei a vaidade,<br />
Seu ouro e sua vida,<br />
O caviar e a bebida.<br />
Quan<strong>do</strong> eu morrer,<br />
Não quero fama, nem estardalhaço,<br />
Os homens declaman<strong>do</strong> meu nome<br />
Como estúpi<strong>do</strong>s palhaços,<br />
As moças me enrolan<strong>do</strong> em abraços.<br />
Nas escolas, não quero que estudem<br />
A minha vida em bagaço.<br />
Ou mesmo que revolucionei,<br />
Que uma escola literária inventei,<br />
Não me cantem como herói<br />
Para que o povo me compre,<br />
Mas foheiem minha vida<br />
Num instante.<br />
92 93
Vaíston<br />
AÍSTON TOLEDO DA SILVA nasceu<br />
V dia 11 de novembro de 1961 na cidade<br />
de Tabajara, município de Inhapim/MG. Veio<br />
para Brasília ainda quan<strong>do</strong> criança, onde em<br />
1980 tornar-se-ia servi<strong>do</strong>r público. Através da<br />
sua mãe – a escritora evangeliza<strong>do</strong>ra Percília<br />
Júlia Tole<strong>do</strong> - começou sua vida artística<br />
como “narra<strong>do</strong>r” <strong>do</strong> grupo de teatro “Altas Montanhas”, ajudan<strong>do</strong> a<br />
fundar a paróquia São Marcos e São Lucas ainda nos primórdios <strong>do</strong><br />
Setor ‘P’ Norte da Ceilândia. É membro funda<strong>do</strong>r da ACLAP e tem<br />
um livro “produzi<strong>do</strong>” no campo da ficção científica.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Teatro: ALTAS MONTANHAS<br />
Papel: NARRADOR<br />
Ano: 1979<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Cogumelo<br />
Com sopro suave<br />
De cachimbo sem fogo<br />
Varreu a vassoura <strong>do</strong> vento:<br />
94 95<br />
Tempo<br />
Projetos<br />
Sistemas<br />
Teorias<br />
Vida de temor...<br />
A dimensão se tornou túmulo<br />
Só prédios, fábricas,<br />
Dinheiro, ambições.<br />
Nasceu no Planalto<br />
Uma nova hierarquia:<br />
Reis ratos, ratas rainhas.<br />
Queijo, queijo, queijo...<br />
E pizza na pradaria.
Valdinei Cordeiro<br />
ALDINEI CORDEIRO DOS<br />
V SANTOS nasceu dia 08 de julho de 1980<br />
em São Romão/MG. Mora<strong>do</strong>r da Ceilândia, é<br />
estudante e declara que “tornou-se poeta pelo<br />
projeto escolar”. Seu poema foi originalmente<br />
publica<strong>do</strong> na “Antologia Poética <strong>do</strong>s Alunos<br />
<strong>do</strong> Primeiro Ano <strong>do</strong> Centro de Ensino<br />
Médio 04”, idealizada pela professora - e sua patronesse na ACLAP -<br />
Maria Lucinete de França. O projeto <strong>ao</strong> qual se refere, além de lançar<br />
para a cidade dezenas de “novos” escritores, rendeu ainda a literária<br />
reportagem “Arma<strong>do</strong>s com Versos”, o que elevou a auto-estima tanto<br />
<strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s como da própria Ceilândia. Como membro efetiva, ela<br />
ocupa a cadeira nº 26. E como diz a frase que “o verdadeiro mestre é<br />
aquele que dá a lição pelo exemplo”, hoje vemos alguns destes poetas<br />
recitan<strong>do</strong> versos em rádios comunitárias e outros até participan<strong>do</strong> da<br />
Academia Ceilandense de Letras, como Irismeire Benevides, autora<br />
desse antológico poema.<br />
PATRONESSE EDUCACIONAL:<br />
<strong>Coletânea</strong>: PRIMEIRO VÔO<br />
Autora: PROFª MARIINHA<br />
Ano: 2004 “Meu mestre, meu amigo<br />
Que belo dia encontrei<br />
Foi quem me ensinou<br />
Tu<strong>do</strong> o que hoje eu sei”<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
(Francisco Benevides)<br />
A Preciosidade <strong>do</strong>s Amigos<br />
Os amigos são tão especiais que voltam<br />
São tão simples que cativam<br />
São tão desprendi<strong>do</strong>s que <strong>do</strong>am<br />
São tão dignos que compreendem e per<strong>do</strong>am<br />
Bem, eles são tão necessários<br />
Que sempre se fazem presentes<br />
São tão preciosos que se conservam<br />
São tão irmãos que compartilham<br />
São tão sábios que ouvem<br />
iluminam e calam<br />
Eles são tão raros que se consagram<br />
São tão importantes que não se esquecem<br />
São tão felizes que fazem a festa<br />
Os amigos são tão responsáveis<br />
Que vivem no mar da verdade<br />
São tão livres que acabam viran<strong>do</strong> pássaro<br />
queren<strong>do</strong> voar<br />
São tão amigos que dão a vida<br />
São tão amigos que se eternizam.<br />
96 97
Vanildes de Deus<br />
ANILDES DE DEUS ALVES nasceu dia<br />
V 04 de Setembro em Oeiras/PI. Filha de<br />
Isabel Santana Alves e de João de Deus Alves.<br />
Veio para Brasília em 1977 e mora no ‘P’ Sul<br />
desde sua fundação. Licenciada em Estu<strong>do</strong>s<br />
Sociais e bacharel em Geografia, exerceu o<br />
magistério por mais de 25 anos, dedican<strong>do</strong>se<br />
atualmente <strong>ao</strong> trabalho cultural e religioso<br />
junto à sua comunidade. Graças <strong>ao</strong> seu poema sobre a “padroeira da<br />
Ceilândia”, foi cria<strong>do</strong> o Projeto de Lei nº 2.908 (publica<strong>do</strong> no Diário<br />
Oficial de 08/02/2002) estabelecen<strong>do</strong> o dia <strong>ao</strong>s santos padroeiros de<br />
todas as Regiões Administrativas de Brasília. Participou em 2007 da<br />
coletânea “Geografia Poética”, comemorativa <strong>ao</strong> cinqüentenário <strong>do</strong><br />
Distrito Federal. Além de ser membro funda<strong>do</strong>ra da ACLAP – onde<br />
escolheu por patrono o Pe. Antônio Vieira – é também sócia efetiva <strong>do</strong><br />
Comitê Independente de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: UM OLHAR TRANSPARENTE<br />
Editora: THESAURUS/FAC<br />
Ano: 2010<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Nossa Senhora da Glória,<br />
Padroeira da Ceilândia<br />
Oh! Querida virgem da glória!<br />
Quão sublime é teu olhar!<br />
És esperança, és vitória,<br />
És a força <strong>do</strong> nosso caminhar.<br />
Leva a Jesus nossa luta e história,<br />
Deixa sua luz nos iluminar...<br />
És mãe <strong>do</strong>s ceilandenses,<br />
Dos incansáveis e de toda a população<br />
Também <strong>do</strong>s candangos, <strong>do</strong>s brasilienses,<br />
Dos pobres e da nossa geração.<br />
Acalenta-nos com o teu silêncio<br />
Sê nosso escu<strong>do</strong> e proteção!<br />
És bendita! Ó querida padroeira,<br />
Que a este povo vieste abençoar.<br />
Da Ceilândia, és uma das primeiras<br />
A “palavra” e a “eucaristia” celebrar.<br />
Sen<strong>do</strong> fonte viva e luz verdadeira<br />
Vem, almas de sede e fome saciar.<br />
Tua história é grande fascínio<br />
Vários nomes temos a destacar,<br />
Como o célebre frei Cirino<br />
Cuja memória vale-me exaltar.<br />
Alimentou muitos pobres e meninos<br />
E <strong>do</strong>s desabriga<strong>do</strong>s soube cuidar.<br />
À custa <strong>do</strong> seu ofício<br />
Sua vida a Deus entregou<br />
Deixan<strong>do</strong> marcos, registros...<br />
Das obras <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r.<br />
A ele então o título:<br />
Primeiro “pároco e funda<strong>do</strong>r”.<br />
98 99
Walter gugu Farias<br />
ALTER PEREIRA FARIAS, o Gugu<br />
W <strong>do</strong> ‘P’ Sul, fez história na poesia<br />
da cidade em toda a década de 1980 com<br />
sua linguagem meio beatnick, meio rock<br />
nacional. Auto definia-se como um poeta<br />
marginal, mas para os mais próximos,<br />
revelava-se um homem-menino, um gigante<br />
frágil. O próprio título <strong>do</strong> seu livro Tenho<br />
Que Proteger As Orquídeas (lança<strong>do</strong> em 1987 na lendária lanchonete<br />
Enkontres) desvelava muito da sua personalidade. Militante atuante<br />
<strong>do</strong> movimento cultural, além de poeta, foi compositor <strong>do</strong> grupo<br />
Anjos <strong>do</strong> Rock e ator-funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Espaço 50 (era uma casa de nº 50<br />
na Via Guariroba) com o Paulinho Rapadura e outros porra-loucas;<br />
juntamente o com Adauto Francisco lançou a coletânea Ceilândia Grita<br />
Poesia em 1986 no antigo Quarentão; participou de várias FACULTA’s<br />
e também <strong>do</strong> I Encontro de Poetas Brasilienses em 1983, dentre tantos<br />
outros eventos culturais candangos.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: TENHO QUE PROTEGER AS ORQUÍDEAS<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 1986<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
100 101<br />
Hoje<br />
Desfilarei minha amargura<br />
sobre a ponte costa & silva<br />
ou simplesmente sob a torre de tv<br />
De nada adiantará livros, revistas,<br />
discos, jornais ou qualquer tipo<br />
de comunicação<br />
nem mesmo a inter-planetária.<br />
sofro...<br />
e para esse mal não há remédio<br />
nem mesmo os carinhos de Alice<br />
nem mesmo esse nosso amor<br />
neurótico, paranóico, esquizofônico...<br />
Observo no microscópio eletrônico<br />
o cenário multicor da meganópole<br />
desvairada em busca <strong>do</strong> poder material.<br />
Meu nome é rasgo<br />
sou filho <strong>do</strong> nada<br />
indivíduo sem opção.<br />
Tenho mil planos<br />
que serão os enganos<br />
para os próximos <strong>do</strong>is mil anos.<br />
ignoro até os OVINs, que a sombra<br />
da realidade ofusca.<br />
Meu coração além da ia <strong>do</strong>s kamikazes.<br />
Observo um Dark na dança mágica da Drack.<br />
Suicidei-me ontem/<br />
Velejo na noite/<br />
Sob a luz de neon<br />
Na fusão sonora oriente-ocidente/<br />
Estou além da compreensão <strong>do</strong> eu<br />
numa viagem imbecil<br />
em busca <strong>do</strong> nada.
Vicente de Melo<br />
ICENTE GERALDO DE MELO<br />
V NETO nasceu dia 23 de janeiro de 1960<br />
em Uberaba/MG. É mora<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Setor ‘P’<br />
Sul da Ceilândia, ex-funcionário público <strong>do</strong><br />
Poder Executivo Federal e arte-educa<strong>do</strong>r da<br />
rede pública local. Publicou em 2007 o livro<br />
“Contos Federais”. Em 2005, foi o vence<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> Prêmio SESC de Contos Macha<strong>do</strong> de Assis, com “Os Estultos”.<br />
Dono de um talento privilegia<strong>do</strong> para “a criação e contação de histórias<br />
fantásticas”, é ti<strong>do</strong> pelos seus companheiros de ACLAP como “o Maior<br />
Contista da Literatura <strong>Candanga</strong>”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: A SAGA DE UM CANDANGO<br />
Editora: BARAÚNA<br />
Ano: 2013<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Candango<br />
(fragmentos)<br />
O calor era insuportável. O solo seco e racha<strong>do</strong>, de tão candente,<br />
queimava os pés descalços <strong>do</strong> homem que olhava sua plantação<br />
totalmente perdida. É a seca que castiga, sem dó, o rincão nordestino.<br />
Ele, que sempre fora um sertanejo de fibra, desta vez estava desola<strong>do</strong>.<br />
A mulher, o recebeu tentan<strong>do</strong>, com citações bíblicas, reconfortá-lo. O<br />
filho pequeno, alheio à tu<strong>do</strong>, apenas <strong>do</strong>rmia para enganar a fome.<br />
Bastião, senta<strong>do</strong> em um banco tosco de madeira, puxou para si<br />
o velho rádio de pilha. Apesar de analfabeto, não era nenhum apedeuta,<br />
pois acompanhava com grande interesse os problemas de sua pátria.<br />
Subitamente, uma notícia chamou-lhe a atenção. Estavam recrutan<strong>do</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res para a construção da nova capital <strong>do</strong> Brasil.<br />
Com a mulher e o filho, Bastião pegou algumas tralhas - o<br />
inseparável rádio e a velha sanfona - e partiu. Na cidade, o caminhão<br />
conheci<strong>do</strong> como pau-de-arara, já aguardava as famílias de retirantes<br />
para a longa viagem até o Planalto Central.<br />
As chusmas chegavam de todas as procedências à nova terra<br />
prometida. São os pioneiros da nova capital, chama<strong>do</strong>s pejorativamente<br />
de candangos que, na acepção da palavra significa “pessoa ruim”.<br />
Bastião e a família ficaram instala<strong>do</strong>s na Cidade Livre. No outro dia,<br />
bem cedinho, ele e muitos outros começaram a lida nas obras faraônicas<br />
da cidade-céu, em meio à imensa solidão <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong> sem fim.<br />
Pouco tempo depois, tu<strong>do</strong> parecia uma torre de babel. Milhares<br />
de operários, dependura<strong>do</strong>s em andaimes. O ritmo era alucinante, dia e<br />
noite e noite e dia trabalhavam sem parar. Os responsáveis pelas obras,<br />
sempre gritan<strong>do</strong> muito, mais pareciam feitores com chicotes saí<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>s tempos de faraó da era <strong>do</strong> escravismo.<br />
Como ajudante de pedreiro, Bastião carrega sacos de cimento<br />
nas costas, enverga ferros e arma concretos. Ele é de fibra, e antes<br />
de tu<strong>do</strong>, um sertanejo. Vivia sempre sorrin<strong>do</strong> para os conterrâneos e<br />
seus chefes. Até para o presidente, que estava sempre rondan<strong>do</strong> pelos<br />
canteiros de obra, ele um dia sorriu, puxou uns acordes <strong>do</strong> clássico<br />
“Asa Branca” e ainda tirou de improviso uns versinhos de cordel:<br />
102 103
Este é o grande presidente<br />
Que o Brasil já viu falar<br />
Empregou toda essa gente<br />
Fazen<strong>do</strong> a nova “capitá”<br />
Dias depois Bastião seria chama<strong>do</strong> no escritório da NOVACAP,<br />
pois havia si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> o “operário-padrão” <strong>do</strong> ano. A cerimônia<br />
aconteceu num <strong>do</strong>mingo à tarde, sobre um palanque monta<strong>do</strong> em<br />
frente <strong>ao</strong> futuro Palácio <strong>do</strong> Alvorada, onde estudantes treina<strong>do</strong>s pelas<br />
“tias” balançavam fitinhas verde e amarelo e cantarolavam o “peixevivo”.<br />
Encosta<strong>do</strong> num canto, suan<strong>do</strong> em bicas, Bastião finalmente é<br />
chama<strong>do</strong> à frente. Recebeu das mãos <strong>do</strong> próprio presidente da república<br />
uma caneta banhada à pirita, ou seja, o popular ouro de tolo. O pobre<br />
operário, que era pobre mas não era besta, agradeceu às autoridades<br />
com seu costumeiro sorriso e, dias depois, vendeu o valoroso “prêmio”<br />
num boteco qualquer.<br />
Porém, a cada dia que se aproximava a data oficial da inauguração,<br />
o ritmo de trabalho aumentava freneticamente. Bastião já não sorria à<br />
toa. Com o cenho franzi<strong>do</strong> e as mãos calejadas, sempre sua<strong>do</strong> e cansa<strong>do</strong>,<br />
trabalhava, trabalhava... e nada melhorava.<br />
A manhã era de sol e carnaval. O arrebol banhava o acampamento<br />
com lumaréus de fogueira. Alguns operários, insatisfeitos com a má<br />
qualidade da comida servida, resolveram fazer uma manifestação. A<br />
notícia caíra como um raio na cabeça das empresas responsáveis pela<br />
construção de Brasília. Iniciou-se, então, uma guerra cruel e desumana.<br />
De um la<strong>do</strong>, operários famélicos e indefesos; e <strong>do</strong> outro, solda<strong>do</strong>s da GEB<br />
assoman<strong>do</strong> e atiran<strong>do</strong>. O resulta<strong>do</strong> final foi uma verdadeira “matança”.<br />
Os corpos seriam sorrateiramente enterra<strong>do</strong>s nos arre<strong>do</strong>res da cidade,<br />
onde hoje estão vários monumentos arquitetônicos “patrimônios da<br />
humanidade” ergui<strong>do</strong>s à “modernidade”.<br />
A rotina voltara <strong>ao</strong> normal depois da chacina oficial. Muitos<br />
ainda choravam e lastimavam o “desaparecimento” <strong>do</strong>s antigos<br />
companheiros. Num jogo estratégico, as empreiteiras resolveram<br />
antecipar o pagamento. Era uma forma maquiavélica de tentar fazer com<br />
que to<strong>do</strong>s esquecessem o mais rápi<strong>do</strong> possível aquelas cenas funestas,<br />
covardes e desiguais. Bastião - que conseguira escapar fugin<strong>do</strong> pelos<br />
fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> acampamento - a partir daquele dia passara a ter certeza de<br />
que a “capital da esperança” fora apenas uma grande ilusão.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O tempo passara rápi<strong>do</strong>. Depois de três anos e dez meses<br />
de muita labuta, a nova capital finalmente fora inaugurada. To<strong>do</strong>s<br />
receberam homenagens; já os candangos (e dentre eles, o agora<br />
desiludi<strong>do</strong> Bastião), nem dinheiro para participarem da festa tinham.<br />
Bastião virou alcoólatra, passan<strong>do</strong> a beber de revolta e tristeza.<br />
Sem emprego e sobreviven<strong>do</strong> de “bicos”, foi joga<strong>do</strong> numa invasão<br />
próxima <strong>ao</strong> Núcleo Bandeirante, conhecida como “Morro <strong>do</strong> Urubu”,<br />
em meio à lama, poeira, miséria e violência. Os anos se passaram. A<br />
favela onde morava, após uma “campanha de erradicação das invasões”<br />
promovida pela ditadura militar, foi “removida” e assentada em uma<br />
nova cidade-satélite, bem longe <strong>do</strong> poder.<br />
Certo dia, encontra<strong>do</strong> pelo serviço social, Bastião fora interna<strong>do</strong><br />
em um asilo de velhos. A mulher, após uma crise de convulsões, há<br />
tempos já o tinha deixa<strong>do</strong>. O menino, cria<strong>do</strong> em meio a maloqueiros<br />
e mequetrefes, acabou preso e condena<strong>do</strong> por envolvimento com o<br />
tráfico de drogas. O velho rádio e a sau<strong>do</strong>sa sanfona, troca<strong>do</strong>s pela<br />
maldita cachaça, já não lhe faziam companhia. O solitário candango é<br />
um homem com mais de setenta anos. Sua boca banguela, agora sorria<br />
<strong>ao</strong>s “novos” companheiros. Alguns também eram heróis anônimos<br />
da epopéia de Brasília. Bastião passa as horas relembran<strong>do</strong> os tempos<br />
i<strong>do</strong>s.<br />
O dia estava ensolara<strong>do</strong>, era uma manhã de sexta-feira. O asilo<br />
organizou um “passeio” para os velhinhos até o Plano Piloto. Bastião<br />
levantou-se ce<strong>do</strong>. Iria viver um dia de turista pelo lugar que tanto suor<br />
derramara e também ajudara a construir. O ônibus da viação Pioneira<br />
entrou lentamente no eixo monumental. Reconhecen<strong>do</strong> a figura <strong>do</strong><br />
ex-presidente “acenan<strong>do</strong> para a cidade”, Bastião ensaiou um sorriso<br />
irônico, <strong>ao</strong> relembrar o dia em que recebera a falsa caneta de ouro.<br />
O velho veículo passou pela ro<strong>do</strong>viária e entrou na grande esplanada.<br />
À sua volta, surgiram os sinais de luxo e ostentação, próprios das<br />
grandes construções. Mais uma vez, lembrou-se de tu<strong>do</strong> que a vida o<br />
havia feito sofrer. Imaginou-se, então, de volta <strong>ao</strong> queri<strong>do</strong> nordeste,<br />
no seu pequeno roça<strong>do</strong>. O suor <strong>do</strong> seu rosto misturava-se às lágrimas<br />
escorridas daqueles olhos de pálpebras cansadas.<br />
De volta <strong>ao</strong> asilo, numa expressão de lassidão, Bastião <strong>do</strong>rmiu<br />
rápi<strong>do</strong> e profundamente. No outro dia não acordaria mais. O velho<br />
candango expirou solitário e esqueci<strong>do</strong>.<br />
104 105
Ao homem chama<strong>do</strong> cavalo ÉDSON DA NOVA SHOCK<br />
BORBOLETA<br />
Eu sou um misantrópico<br />
e às vezes hermético<br />
para os nacionalistas de direita<br />
e detesto crianças por não nascerem<br />
com o espírito de luta de CHE GUEVARA<br />
Mas um dia uma borboleta<br />
com a asa quebrada<br />
baixou no meu circo<br />
e eu lhe dei toda a assistência possível<br />
comprei um rolo de durex<br />
e colei na sua asa<br />
deixei-a na cama de mamãe<br />
e fui comprar flor prá ela<br />
Hoje ela voa nas margens <strong>do</strong> paranoá<br />
cheiran<strong>do</strong> as flores de sua preferência<br />
concubinan<strong>do</strong> com quem ela quer<br />
sobrevoan<strong>do</strong> a ponte daquele ex-dita<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> lago sul <strong>ao</strong> lago norte<br />
voa... borboleta... voa... voa...<br />
voa os segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> abismo infinito<br />
mesmo sentin<strong>do</strong> que eu estou morren<strong>do</strong><br />
de saudade<br />
a<strong>do</strong>ro te ver nos ares, no ar.<br />
(hoje em dia só me preocupo<br />
com a felicidade <strong>do</strong>s hermanos<br />
simplesmente porque já fui feliz).<br />
(ANARQUISMO TAMBÉM É SOCIALISMO)<br />
Capítulo IV<br />
Membros Correspondentes<br />
e<br />
Autores Convida<strong>do</strong>s<br />
106 107
Adalberto Adalbertos<br />
ADALBERTO DUARTE DE<br />
OLIVEIRA ADALBERTOS nasceu<br />
dia 18 de março de 1952 em Poté/MG.<br />
Pioneiro de Taguatinga, está em Brasília desde<br />
1966. Diploma<strong>do</strong> em Ciências Biológicas e<br />
em Ecologia. Na efevercente UnB <strong>do</strong>s anos<br />
70, foi um <strong>do</strong>s protagonistas <strong>do</strong> antológico<br />
“Show <strong>do</strong> Arroto”. Foi também um <strong>do</strong>s membros funda<strong>do</strong>res da<br />
Academia Taguatinguense de Letras/ATL em 1986. Publicou em 2006 o<br />
livro “Inquietudes”. Educa<strong>do</strong>r militante e engaja<strong>do</strong>, tornou-se um <strong>do</strong>s<br />
diretores mais conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Professores/SINPRO-DF.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: PARASITA OBRIGATÓRIO<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
LAND CEI: Saga-Enre<strong>do</strong><br />
da Criação de um Novo Mun<strong>do</strong><br />
(fragmentos)<br />
“Noventa milhões em ação,<br />
Pra frente Brasil <strong>do</strong> meu coração...”<br />
Para censurar, oprimir e torturar,<br />
Botas, butes, botinas, king-kongs e camburão.<br />
No subúrbio, periferia, eu residia:<br />
Tabatinga, “ta‘wa’tiga”, barro branco.<br />
Mas numa super, numa quadra, superquadra,<br />
Das forças, às vezes, me escondia.<br />
E então, tão só, nem mesmo pelo elemento combongó<br />
A cidade ília, ilha eu via.<br />
“Eu te amo, meu Brasil; eu te amo...<br />
Ninguém segura a juventude <strong>do</strong> Brasil...”<br />
Foi quan<strong>do</strong> os milicos, pais e mães da ditadura<br />
Fonte de <strong>do</strong>r, tristeza, morte e muita agrura<br />
Resolveram, por decreto, a “C.E.I.” instituir<br />
Para com ela, o piloto-plano, aero-plano,<br />
Sanear, varrer, limpar<br />
E, imediatamente, a Land Cei fazer brotar.<br />
108 109
Adélia Coimbras<br />
ADÉLIA IGNÁCIO DE MELLO<br />
COIMBRAS nasceu em 1935 na<br />
Vila Formosa de Imperatriz/GO. Filha de<br />
família humilde, veio para a Vila <strong>do</strong> IAPI<br />
em 1966 e de lá a trouxeram pra Ceilândia<br />
em 1971. Mora<strong>do</strong>ra pioneira da Ceilândia<br />
Sul, foi vende<strong>do</strong>ra de roupas ate montar sua<br />
própria loja de confecções, com a qual viria adquirir, tempos depois,<br />
a tão sonhada fazenda em Mimoso de Goiás. Em 2006 teve seu livro<br />
“Biografia de uma Camponesa” edita<strong>do</strong> pelo pastor Cláudio Divino,<br />
professor de Geografia com palestras já proferidas na Conferência<br />
Anabatista Latino-Americana da Colômbia e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: BIOGRAFIA DE UMA CAMPONESA<br />
Editor: CLÁUDIO DIVINO<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Poema Saudade<br />
Eu sou uma videira, que no seu tempo deu nove galhos<br />
To<strong>do</strong>s bem grandes e flori<strong>do</strong>s. Mas em 1994 um galho quebrou<br />
Veio o tempo, e o vento, e um galho ele levou<br />
Saudade vem e saudade vai<br />
Deixou muita saudade, saudade para seus pais.<br />
Deixa saudade para seus irmãos.<br />
Saudade muita que ficou, da família que deixou<br />
Esposa maravilhosa! Que lembrança tão espinhosa!<br />
Ah! Saudade. Tinha sim, alegria e prazer.<br />
Galho que deixou sementes,<br />
Dois filhos para a família render<br />
Saudade de sua família pequena<br />
Saudade de sua esposa morena<br />
Saudade <strong>do</strong>s filhos que deixou<br />
Me dizia que casou-se por amor.<br />
Saudade! Saudade de quan<strong>do</strong> você era criança<br />
Ah! Que <strong>do</strong>ce e triste lembrança.<br />
Está comigo em qualquer lugar,<br />
Pois está vivo dentro de mim<br />
Nos meus sonhos, no meu jardim<br />
Como eu queria você, aqui bem pertinho de mim...<br />
110 111
Adilson Cordeiro Didi<br />
ADILSON RODRIGUES CORDEI-<br />
RO DIDI nasceu dia 25 de outubro<br />
de 1952 em Pirapora – margem esquerda<br />
<strong>do</strong> Rio São Francisco/MG. Está em Brasília<br />
desde 1970. Servi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil,<br />
trabalhou nas aprazíveis cidades de Maceió/<br />
AL e Pirenópolis/GO. Hoje, já aposenta<strong>do</strong>,<br />
exerce prazeravelmente o cargo de diretor da Casa de Cultura <strong>do</strong><br />
Guará. Poeta bastante conheci<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o Distrito Federal, publicou<br />
em 2007 o livro “Algo Tão Doce” a partir de um recital que fez na Feira<br />
<strong>do</strong> Livro de Brasília.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: COLETÂNEA POÉTICA DO GUARÁ<br />
Edição: COMEMORATIVA<br />
Ano: 2009<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Meu Queri<strong>do</strong> Guará<br />
Meu Queri<strong>do</strong> Guará<br />
Terra de sonhar!<br />
O Guará é o meu lar<br />
Minha sala de estar<br />
É onde gosto de ficar<br />
Ver os pássaros cantar<br />
E é sempre muito prazer<br />
As crianças no alvorecer<br />
Sua calma me acalanta<br />
Sua alma me encanta<br />
Posso correr e sentir<br />
A brisa leve daqui<br />
A pureza de um beija-flor<br />
Que faz ouvir músicas de amor<br />
A ternura <strong>do</strong> flamboyant flori<strong>do</strong><br />
No Guará, é o mais colori<strong>do</strong><br />
Vejo a esperança renascer<br />
Neste céu, <strong>ao</strong> entardecer<br />
E na luz de prata <strong>do</strong> luar<br />
Das lindas noites <strong>do</strong> Guará<br />
Aqui tem muitos amigos<br />
Sorrisos novos e antigos<br />
É a graça e simpatia no ar<br />
Do meu queri<strong>do</strong> Guará!<br />
112 113
Amário Cassimiro<br />
Dr. AMÁRIO CASSIMIRO DA SILVA<br />
é natural de Turiúba, interior de São<br />
Paulo, filho de José Cassimiro da Silva e<br />
Marvina Rosa de Jesus. Viveu sua juventude<br />
em Gastão Vidigal/SP, <strong>ao</strong>nde anualmente<br />
realiza o projeto “<strong>Coletânea</strong> de Poesia Inter<br />
Regional”, também extensivo às cidades<br />
paulistas de Buritama, Floreal, Lourdes, Monções, Nova Luzitânia<br />
e, obviamente, Turiúba. Está em Brasília desde 1969. Advoga<strong>do</strong> de<br />
renome internacional, foi Secretário-Geral da Associação Americana<br />
de Juristas e ex-Membro Consultivo da Associação Cultural Brasil -<br />
Cuba. Em 2003 foi condecora<strong>do</strong> com a Ordem <strong>do</strong> Rio Branco pelo<br />
Ministério das Relações Exteriores.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: FRAGMENTOS DE SAUDADES<br />
Editora: GRÁFICA DOMINANTE<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Sonhos de Poeta<br />
Sonhei um dia<br />
Ser um poeta,<br />
Ter um grande amor<br />
Procurei nas estrelas,<br />
No sol,<br />
No mar,<br />
No ar.<br />
Pela terra andei a procurar<br />
Encontrei a deusa<br />
Dos meus sonhos,<br />
Sonhos de poeta,<br />
Do amor irreal,<br />
Do amor sem igual,<br />
Do amor imortal.<br />
Não gostaria<br />
De vê-lo acabar,<br />
Sonhar e não acordar.<br />
114 115
Ana Paula<br />
ANA PAULA MARTINS AGUIAR<br />
nasceu dia 30 de janeiro de 1995 em<br />
Brasília/DF. É filha de Valdir Moreira de<br />
Aguiar e Santinha Alves Martins. Aquariana<br />
que gosta de ler e escrever poemas.<br />
Incentivada pela professora Lira, agora tomou<br />
iniciativa de mostrar o seu la<strong>do</strong> poetisa, pois<br />
percebeu que escreven<strong>do</strong> poderia ir mais longe. Estuda no centro de<br />
Ensino Fundamental 519 de Samambaia e está cursan<strong>do</strong> a 6ª série.<br />
Há nove anos freqüenta as atividades complementares educativas da<br />
Assistência Social Casa Azul.<br />
APOIO SÓCIO-EDUCATIVO:<br />
CASA AZUL - A missão da Instituição “ser um espaço prazeroso e de<br />
referência no atendimento às crianças e <strong>ao</strong> a<strong>do</strong>lescente.Volta<strong>do</strong> para a<br />
formação humana, solidária e cidadã, buscan<strong>do</strong> a melhoria da qualidade<br />
de vida e a inclusão social.”<br />
Público atendi<strong>do</strong><br />
De 0 a 6 anos - 200 crianças<br />
De 07 a 14 anos - 268 Crianças<br />
Jovens - 140<br />
Famílias - 352<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Brasil Sonha<strong>do</strong>r<br />
Meu Brasil<br />
Que tem fome<br />
E o homem cada vez<br />
Queren<strong>do</strong> mais<br />
Sem sentir a <strong>do</strong>r<br />
Que provoca o terror<br />
Num país de paz<br />
Que cabe cada vez mais<br />
Meu Brasil<br />
Verde e amarelo<br />
Que fez um elo<br />
Com a natureza<br />
Tornan<strong>do</strong>-a mais bela<br />
Meu Brasil<br />
Dos amores<br />
Que nos faz crescer<br />
Na harmonia das cores<br />
Meu Brasil<br />
Que enche a gente<br />
De muito amor<br />
Onde tem um povo trabalha<strong>do</strong>r<br />
Que mora nas ruas escuras<br />
Com muito frio<br />
E também com muito calor<br />
Mas sonha com felicidade<br />
E alegria nesse...<br />
BRASIL SONHADOR!<br />
116 117
Angélica Torres<br />
ANGÉLICA TORRES LIMA nasceu<br />
dia 27 de fevereiro em Ipameri/GO.<br />
Está em Brasília desde 1965. Diplomada<br />
em Comunicação, é jornalista, tradutora<br />
e coreógrafa. Publicou em 1988 o livro<br />
“Solares” pela turibiana marca Bric-a-<br />
Brac. Atualmente, integra a equipe <strong>do</strong><br />
Profº Antonio Miranda à frente da Biblioteca Nacional de Brasília,<br />
responsável pela realização da I Bienal Internacional de Poesia em<br />
Brasília – I BIP/2008.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: SINDICATO DE ESTUDANTES<br />
Editora: BRASILIANA<br />
Ano: 1986<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
“Tomara que caia<br />
um haikai<br />
na tua saia”<br />
Aula de Arte<br />
Bendito sejam os malditos<br />
porque tornam os tolos<br />
gente que se identifica com eles,<br />
os crus desgraça<strong>do</strong>s<br />
místicos obscenos.<br />
Se eu tivesse conheci<strong>do</strong> Bukowski<br />
mais uma eu seria entre as vacas<br />
pintadas por ele? me ninaria?<br />
me beijaria os rolinhos na cabeça?<br />
me amaria a Maria, laranja<br />
cain<strong>do</strong> da mesa, rolan<strong>do</strong> pra longe<br />
de porre, fumada, num seu poema trêba<strong>do</strong>?<br />
Morro. E digo,<br />
esta nunca mais vai ter que ler<br />
Charles na vida e sua himenotomia<br />
em madrugadas azedas.<br />
118 119
Antonio Carlos Sampaio Macha<strong>do</strong><br />
ANTONIO CARLOS SAMPAIO<br />
MACHADO nasceu em União/PI.<br />
Bacharel em Letras pelo UniCeub (2001),<br />
editou o Perío<strong>do</strong> da Língua Portuguesa.<br />
Filia<strong>do</strong> à União Brasileira <strong>do</strong>s Escritores/<br />
UBES (secção <strong>do</strong> Piauí), é também membro<br />
correspondente da Academia Taguatinguense<br />
de Letras. Publicou em 2003 o livro “Trovas & Haicais”. Neste mesmo<br />
ano fun<strong>do</strong>u a ONG CIAPIB (Comitê Independente de Apoio às<br />
Artes <strong>do</strong> Piauí e <strong>do</strong> Brasil), que agora se chama Comitê Independente<br />
de Apoio às Artes <strong>do</strong> Brasil/CIAB.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: TROVAS & HAICAIS<br />
Editora: PROCOEL/ATL<br />
Ano: 2003<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Trovas <strong>Candanga</strong>s<br />
(fragmentos)<br />
Canta, canta! Oh! Ceilândia<br />
Hoje é teu belo dia<br />
Teu mar é céu;<br />
E tua bela melodia!<br />
Cada quadra muita arte!<br />
Teu povo caminha sereno<br />
Tens sintonia com marte<br />
Esse <strong>do</strong>te não é pequeno.<br />
Bela vista panorâmica<br />
Cidade de vocação;<br />
Demonstra que é dinâmica;<br />
Seus filhos em oração!<br />
Tem viola e bom violeiro<br />
Essa terra dá bons frutos<br />
Há um passo bem certeiro<br />
Das meninas nos estu<strong>do</strong>s!<br />
Candangos aqui vieram!<br />
<strong>Som</strong>aram ricos talentos;<br />
Na construção souberam<br />
Desenhar em suaves ventos!<br />
Na aclap hoje tomo posse<br />
Com os amigos confrades!<br />
Prazer, orgulho ela torce:<br />
É a musa! E meus compadres?!<br />
120 121
Antonio Garcia Muralha<br />
ANTONIO GARCIA MURALHA<br />
nasceu dia 21 de março de 1948 na<br />
Estação de Doura<strong>do</strong>quara, município de<br />
Monte Carmelo <strong>do</strong> Triângulo Mineiro.<br />
Filho de Sigismun<strong>do</strong> Garcia e Domitildes<br />
Rodrigues, com os quais veio para Brasília em<br />
1964 – ano <strong>do</strong> fatídico golpe militar. Antes de<br />
se formar em Letras e tornar-se professor e economiário, foi balconista<br />
<strong>do</strong> antológico Bar Estrela. Devi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> seu engajamento no movimento<br />
estudantil <strong>do</strong>s anos 70, foi preso e tortura<strong>do</strong> pela ditadura militar. Sua<br />
trilogia literária versa principalmente sobre Taguatinga (“Ta’wa’tiga”) e<br />
Ceilândia (“C.E.I. Land”), cidades onde sempre morou e trabalhou; o<br />
que não o afastou da temática universal, influencia<strong>do</strong> pelo seu patrono<br />
poético Augusto <strong>do</strong>s Anjos. Por ser considera<strong>do</strong> o maior poeta da<br />
história local, é também chama<strong>do</strong> de “POETA MURALHA, o Imortal<br />
da Poesia <strong>Candanga</strong>”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: VERSO É VERSO O RESTO É PROSA<br />
Editora: GRÁFICA SATURNO<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
C.E.I. “Land”<br />
(Fragmentos)<br />
Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />
Que <strong>ao</strong>s grandes ban<strong>do</strong>s vieram das bandas lá <strong>do</strong> sertão<br />
Nas asas <strong>do</strong>s paus-de-arara, nos lombos de caminhão<br />
Fazen<strong>do</strong> curvas rasantes, voan<strong>do</strong> bem rente <strong>ao</strong> chão<br />
Com a ajuda de Padim Ciço, padrinho de Lampião<br />
Sertanejos retirantes da colheita de carvão<br />
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />
Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />
Que construíram Brasília, o orgulho deste torrão<br />
Torrão que também é deles, mas que nem sabem quem são<br />
Pois que empenha<strong>do</strong>s nas obras, com toda dedicação<br />
Nem em sonhos construíram sua própria habitação<br />
Por isso em cada caixote tinha um barraco-embrião<br />
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />
Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />
Que transformavam caixotes em telhas de barracão<br />
Crescen<strong>do</strong> o Plano Piloto nas vilas em progressão<br />
Na IAPI, na Tenório, na Mercedes da ilusão<br />
Forman<strong>do</strong> o maior complexo da mais famosa invasão<br />
Que crescia na medida em que crescia a migração<br />
Dia e noite, noite e dia, soca paçoca pilão!<br />
Ceilândia... lândia <strong>do</strong>s filhos das aves de arribação<br />
Abre as portas, Taguatinga! Lá vem mais um, meu irmão!!!<br />
(*) Poema épico candango originalmente escrito em 1971 e publica<strong>do</strong> pela primeira vez em 1984.<br />
122 123
Antonio Miranda<br />
ANTONIO LISBOA CARVALHO<br />
DE MIRANDA nasceu dia 05 de<br />
agosto de 1940 em Bacabal/MA. Está em<br />
Brasília desde 1967. É mestre em Ciências<br />
da Informação, <strong>do</strong>utor em Comunicação e<br />
professor da Universidade de Brasília/UnB.<br />
É também poeta e dramaturgo. Publicou<br />
em 1971 o clássico poema “Tu País Está Feliz”, já traduzi<strong>do</strong> em mais<br />
de dez idiomas e encena<strong>do</strong> em mais de vinte países, especialmente no<br />
continente latino-americano. Atualmente, ocupa o cargo de diretor da<br />
Biblioteca Nacional de Brasília, responsável pela I Bienal de Poesia de<br />
Brasília – I BIP/2008.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: POEMÁRIO<br />
Edição: I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Na Academia de Letras<br />
Usava <strong>do</strong>is ternos,<br />
com intermitência:<br />
*Poema <strong>do</strong> Barão de Pindaré Júnior<br />
(pseudônimo de Antonio Miranda)<br />
124 125<br />
um, cinza,<br />
o outro, preto;<br />
um, para o chá das cinco,<br />
o outro, com igual freqüência,<br />
para o enterro <strong>do</strong>s imortais.
Arlete Sylvia<br />
ARLETE SYLVIA nasceu em Belém<br />
<strong>do</strong> Pará no dia 5 de julho. Graduada<br />
em letras pelo UniCEUB, é professora<br />
e aluna de música. Trabalhou por muitos<br />
anos no Ministério da Educação/MEC e<br />
na Universidade Católica de Brasília. Foi<br />
também voluntária <strong>do</strong> Centro de Valorização<br />
da Vida/CVV. Sempre foi apaixonada pelo romantismo das poesias,<br />
porém somente agora com o incentivo de amigos, tomou iniciativa<br />
de mostrar a to<strong>do</strong>s o seu la<strong>do</strong> de escritora, para deleitá-los com este<br />
“Hino <strong>ao</strong> Amor”. Além da Academia Ceilandense de Letras, faz parte<br />
da Associação Nacional de Escritores/ANE. Seu patrono literário é<br />
o médico paraense Sérgio Martins Pan<strong>do</strong>lfo, para quem escreveu o<br />
poema aqui publica<strong>do</strong>.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: UM HINO AO AMOR<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Mãos Abençoadas<br />
Que Deus abençoe sempre suas mãos!<br />
E elas possam trazer felicidade.<br />
Mesmo conviven<strong>do</strong> com seres não-sãos,<br />
Elas demonstram toda a sua bondade.<br />
Quan<strong>do</strong> nós vimos a esta Terra,<br />
To<strong>do</strong>s temos destinada uma missão,<br />
A sua é grandiosa nessa era.<br />
É sublime, pois exige o coração.<br />
Coração que vive tão escondi<strong>do</strong>...<br />
Onde só o <strong>do</strong>no sabe o que sente,<br />
Tristeza, alegria, amor conti<strong>do</strong>,<br />
Porém a emoção se faz presente.<br />
Feliz de alguém que nasceu para brilhar;<br />
Mãos que sabem operar e escrever.<br />
Que palavra eu teria pr´exaltar...<br />
Quem foi abençoa<strong>do</strong> desde o nascer.<br />
126 127
Astrogil<strong>do</strong> Miag<br />
ASTROGILDO MIAG REGIS<br />
BARBOSA nasceu dia 25 de novembro<br />
de 1955 em Remanso/BA. Após vinte anos<br />
em Salva<strong>do</strong>r, capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mu<strong>do</strong>use<br />
para Brasília, onde é servi<strong>do</strong>r público e<br />
membro titular da Academia Taguatinguense<br />
de Letras. É autor de cinco romances<br />
imbuí<strong>do</strong>s de lirismo e de humor, marcas maiores <strong>do</strong> escritor. Publicou<br />
em 2007 o livro “Era uma vez um Comunista”. Dedican<strong>do</strong>-se com<br />
intensidade à prosa, o autor também se aventura pelos versos. Da sua<br />
obra poética praticamente inédita brinda nossos leitores com “Chama<br />
Apagada”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: MEMÓRIAS DE UM COROINHA<br />
Editora: GUARÁ<br />
Ano: 2005<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Chama Apagada<br />
(Por ocasião da morte de Leonor Regis)<br />
O quarto ficou vazio.<br />
A cama já não existe.<br />
A mala de tábuas largas<br />
onde se guardava a mortalha<br />
está vazia.<br />
As sandálias que pouco usava<br />
panos, colchão aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s.<br />
E o quartinho no fun<strong>do</strong> da casa<br />
perdeu toda a originalidade.<br />
O gosto amargo, velho;<br />
o rosto desfigura<strong>do</strong>, magro;<br />
o ar abafa<strong>do</strong><br />
os gemi<strong>do</strong>s lacra<strong>do</strong>s<br />
os pedi<strong>do</strong>s frágeis<br />
o corpo imóvel<br />
os móveis<br />
o banco de cabeceira<br />
o chão sujo negro<br />
acostuma<strong>do</strong> sem água<br />
desde que a<strong>do</strong>ecera;<br />
os braços magros<br />
compri<strong>do</strong>s<br />
paralíticos!...<br />
Tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u.<br />
Pouco ainda existe.<br />
O velho candeeiro de asas<br />
secou o pavio.<br />
Sua chama tênue<br />
confundiu-se<br />
com o reflexo de muitas velas<br />
e morreu...<br />
- Morreu com ela.<br />
128 129
Carlos Augusto Cacá<br />
CARLOS AUGUSTO CACÁ é<br />
forma<strong>do</strong> em Sociologia pela UnB.<br />
Escreve poesias, contos e artigos sobre<br />
cultura. Organiza recitais em praças, cafés,<br />
bibliotecas e mobilizações de trabalha<strong>do</strong>res.<br />
Publicou em 2006 o livro “Máscaras” (contos<br />
e crônicas). Valoriza a linguagem popular<br />
“pela sua atitude amorosa <strong>ao</strong>s que lutam por uma nova sociedade”. Fez<br />
parte <strong>do</strong> grupo de teatro Retalhos e já foi presidente da Confederação<br />
Nacional de Teatro Ama<strong>do</strong>r. Integra a Tribo desde quan<strong>do</strong> foi fundada<br />
em 2000 (grupo multicultural que mensalmente realiza saraus e edita a<br />
revista homônima “Tribo das Artes”).<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: FADAS GUERREIRAS<br />
Editora: LGE<br />
Ano: 2003<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Margarida Alves<br />
Lá estão elas rompen<strong>do</strong> a estrada.<br />
Deixam distantes seus dias risonhos.<br />
Já desistiram <strong>do</strong>s contos de fadas.<br />
Hoje cultivam os seus próprios sonhos.<br />
Lá estão elas cerran<strong>do</strong> fileiras.<br />
Trazem enxadas e foices nos ombros.<br />
Fadas madrinhas se tornam guerreiras.<br />
Marcham por sobre seus próprios escombros.<br />
Se já não têm o destino nas mãos,<br />
Se, sob os pés, lhes retiram o chão,<br />
Ainda assim vão em busca da vida.<br />
Se lhes acuam, empurram pra morte,<br />
Criam desvios, mas mantêm o norte.<br />
Seguem marchan<strong>do</strong> feito Margarida.<br />
(*) Homenagem à líder <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res rurais sem terra de Alagoa Grande/PB que foi assassinada em<br />
12 de agosto de 1983 e cujo nome hoje é o símbolo da Marcha das Margaridas.<br />
130 131
Chico Morbeck<br />
CHICO (FRANCISCO FERREIRA)<br />
MORBECK nasceu em Inhumas/GO<br />
e reside em Brasília desde 1960. Professor<br />
de Artes Cênicas, em 1972 montou no<br />
SESI de Taguatinga o espetáculo “Prometeu<br />
Acorrenta<strong>do</strong>”, de Ésquilo. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
anos 70, fun<strong>do</strong>u o grupo Favela Teatro<br />
Popular, onde dirigiu “Lampião em 2 Tempos” e “A Farsa <strong>do</strong> Delega<strong>do</strong>”.<br />
Já na década de 80 – pulan<strong>do</strong> sua história política - organizou o projeto<br />
Mandacaru, bem como o projeto Marimba, ambos na cidade satélite<br />
de Ceilândia. Atualmente, além de coordenar um curso de idiomas,<br />
prepara o lançamento de um CD e <strong>do</strong> livro “Confissões Vermelhas”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: NASCIDO AQUI<br />
Edições: FAVELA PRODUÇÕES<br />
Anos: 1979<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
21 de Abril<br />
Ninguém me imagina triste<br />
À espera de alguém<br />
Só me imaginam gigante<br />
Com a certeza <strong>do</strong>s vagões no trem<br />
Ninguém me imagina pequeno<br />
A cair nos braços de um bem<br />
Só me imaginam colosso<br />
Com os fuzis nas batalhas que vem<br />
Ninguém me imagina frágil<br />
Como quem não sabe se o amor vem<br />
Só me imaginam mãe gentil<br />
Com as pedras que a montanha tem<br />
Assim liberto, assim prisioneiro<br />
Vou batucan<strong>do</strong> no compasso da espera<br />
Logo após o último desfile de carnaval, sou eu<br />
No minuto seguinte da bola no fim <strong>do</strong> jogo, sou eu<br />
Nas noites de <strong>do</strong>mingo antes <strong>do</strong> início das batalhas, sou eu.<br />
Brasil: uma esperança em cor de sangue<br />
Um retrato em tom de mangue.<br />
Naquele minuto...<br />
após a partida <strong>do</strong> trem.<br />
Naquela felicidade...<br />
Prometida pelas manhãs que vêm.<br />
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Clo<strong>do</strong> Ferreira<br />
CLODOMIR FERREIRA piauiense de<br />
Teresina, nasceu em 1951. Veio com a<br />
família para Brasília em 1964, residin<strong>do</strong> por<br />
quatro anos em Taguatinga, cidade-satélite<br />
na qual iniciou sua carreira artística. Em<br />
1972 venceu o Festival de Música <strong>do</strong> CEUB,<br />
quan<strong>do</strong> conheceu o cearense Raimun<strong>do</strong><br />
Fagner, intérprete de “Revelação” - seu sucesso de referência.<br />
Compositor, com três discos solos e seis outros lança<strong>do</strong>s em parceria,<br />
é autor de mais de 100 músicas gravadas por nomes da MPB como<br />
Zizi Possi, MPB4 e Dominguinhos. É <strong>do</strong>utor em História Cultural<br />
e professor de Comunicação da UnB. Em 2000 dirigiu o vídeo “J.<br />
Borges, cordel e gravura”, depois transforma<strong>do</strong> no livro “J.Borges por<br />
J.Borges”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: J.BORGES POR J.BORGES<br />
Editora: UnB<br />
Ano: 2000<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Mentira da Saudade<br />
A frente da casa é bem menor<br />
Aquela janela é uma só<br />
Aberta no olhar perdidamente<br />
E tinha uma rua <strong>ao</strong> re<strong>do</strong>r<br />
A usina tocava, e o resto é pó<br />
Gruda<strong>do</strong> no olhar eternamente<br />
Rever a paisagem na lembrança<br />
Aumenta o desejo e a esperança<br />
Mas não traz de volta uma cidade<br />
Tiran<strong>do</strong> as pessoas encantadas<br />
E alguma alma bem amada<br />
O resto é mentira da saudade.<br />
134 135
Dinorá Couto<br />
DINORÁ COUTO CANÇADO<br />
nasceu em Bom Despacho/MG.<br />
Está em Brasília desde 1974. Professora,<br />
dinamiza<strong>do</strong>ra de bibliotecas e incentiva<strong>do</strong>ra<br />
de leituras. Publicou em 1997 o livro<br />
“Revolucionan<strong>do</strong> Bibliotecas” e atua como<br />
voluntária na Biblioteca Braille Dorina<br />
Nowill. Participa ativamente de congressos nacionais e internacionais,<br />
sempre levan<strong>do</strong> as experiências de leituras <strong>do</strong> DF, já com alguns<br />
reconhecimentos: Destaque ODM 2005, Cidadã Honorária, Mérito<br />
Espírito Candango, Cidadã de Ouro e finalista <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> MEC<br />
VivaLeitura.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: REVELANDO AUTORES EM BRAILE<br />
Editora: BIBLIOTECA DORINA NOWILL<br />
Ano: 2001<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Beleza que Encanta<br />
Protegida pela UNESCO, uma das mais belas cidades<br />
A maior realização de um sonho modernista<br />
Tombada como patrimônio cultural, assim é Brasília.<br />
Recorde o início desta história, os espaços, as obras,<br />
Incluin<strong>do</strong> até árvores, um tombamento bem singular.<br />
Monumental, o Eixo, a avenida mais larga <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
Outros como o Eixão, os eixinhos e até o eixo ro<strong>do</strong>viário.<br />
Na beleza <strong>do</strong>s palácios, da ponte JK e Lago Paranoá<br />
Inúmeras outras nos encantam, os vitrais, cidade-parque,<br />
O Catetinho, a Catedral, os ipês flori<strong>do</strong>s, o cerra<strong>do</strong>!<br />
De prédios <strong>do</strong> governo local, Memorial JK - a oeste<br />
A Espalanada <strong>do</strong>s Ministérios, Palácio <strong>do</strong> Planalto, Congresso - a leste.<br />
Hoje, com setor novo, o Complexo Cultural da República<br />
Uma dupla obra, com Museu e Biblioteca Nacional.<br />
Mais cultura, com Teatro Nacional, o Festival de Cinema...<br />
A construção alta da cidade, com mirante: a Torre de TV.<br />
Na grandeza da ação de Juscelino Kubitschek de Oliveira<br />
Ilustres nomes como Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão<br />
Deram vida e beleza à Brasília: cidade-inovação<br />
A partir de um sonho, de ser a capital <strong>do</strong> país<br />
Da plena integração arte com arquitetura surge Brasília<br />
Eleita patrimônio, beleza que encanta e nova capital da cultura.<br />
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Elton Skartazini<br />
JOSÉ ELTON SKARTAZINI nasceu<br />
dia 08 de dezembro de 1961 em David<br />
Canabarro/RS. Forma<strong>do</strong> em Jornalismo, é<br />
editor, escritor, crítico de música, fotógrafo,<br />
cenógrafo, ator, escultor, artista plástico e<br />
produtor cultural. Veio de Porto Alegre para<br />
Brasília em 1989 – ano <strong>do</strong> assentamento de<br />
Samambaia – como concorrente <strong>do</strong> Festival de Brasília <strong>do</strong> Cinema<br />
Brasileiro com o curta “Van Gogh” – interpreta<strong>do</strong> pelo próprio. Lançou<br />
em 1997 o projeto “O Grande Quadro” de difusão cultural geral da<br />
Samambaia, cidade onde mora desde a sua criação e onde hoje fica o seu<br />
histórico ateliê candango.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O GRANDE QUADRO<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 1997<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Samambaia<br />
Deixo<br />
na poeira<br />
grava<strong>do</strong> o meu rastro.<br />
Trago<br />
no meu rosto<br />
mistura<strong>do</strong> suor e lágrimas.<br />
Concretizo<br />
o meu sonho<br />
com areia, cimento e ferro.<br />
Enquanto<br />
<strong>ao</strong> meu re<strong>do</strong>r<br />
se agiganta uma cidade.<br />
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Emanuel Lima<br />
EMANUEL MAGALHÃES LIMA<br />
nasceu dia 02 de outubro de 1955 em<br />
Caicó/RN. Está em Brasília desde 1967.<br />
Mu<strong>do</strong>u-se para o Canadá em 1973, de onde<br />
–“ para matar a saudade <strong>do</strong> torrão nacional” –<br />
fun<strong>do</strong>u a Liga <strong>do</strong>s Poetas Brasileiros, da qual<br />
é seu presidente e correspondente histórico.<br />
Diploma<strong>do</strong> em Magistério, é professor, escritor e tradutor. Publicou<br />
em 1985 a primeira novela candanga de época “A Lua Está na Moda”.<br />
Por residir no setor entre bairro de Taguatinga & Ceilândia, é conheci<strong>do</strong><br />
como “O Maior Cronista da Tailândia Brasiliense”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: A LUA ESTÁ NA MODA<br />
Editora: ATL/FAC<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Hino à Ceilândia<br />
Cidade construída com energia<br />
Sobre um terreno cheio de erosão<br />
É uma prova de grande valentia<br />
De sua varonil e justa população<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
Por ti sempre cantaremos!<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />
Teu comércio e tua indústria<br />
São conheci<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong> inteiro<br />
To<strong>do</strong> o povo alegre desfruta<br />
Este rincão to<strong>do</strong> brasileiro<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
Por ti sempre cantaremos!<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />
A beleza de tuas mulheres<br />
A coragem de teus homens<br />
Atraem de to<strong>do</strong>s os lugares<br />
Muitos imigrantes de renome<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
Por ti sempre cantaremos!<br />
Ceilândia! Oh! Ceilândia!<br />
A teu la<strong>do</strong> sempre estaremos!<br />
(*) Concurso oficializa<strong>do</strong> pela OS n° 93/2001 da Administração Regional IX de Ceilândia.<br />
140 141
Ênio Rudi Sturzbecher<br />
êNIO RUDI STURZBECHER nasceu<br />
dia 17 de novembro de 1955 em Mondaí/<br />
SC. Credita seu sobrenome - de difícil<br />
pronúncia - à família de imigrantes alemães.<br />
Está em Brasília desde 1974. Licencia<strong>do</strong> em<br />
Geografia e pós-gradua<strong>do</strong> em Administração<br />
Escolar. Professor muito envolvi<strong>do</strong> com<br />
as causas ambientais, já foi por duas vezes diretor de escola pública.<br />
Costuma dizer que “escreve poesia para desintoxicar o espírito”.<br />
Publicou em 1997 o livro “<strong>Som</strong>an<strong>do</strong> Perdas”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: SOMANDO PERDAS<br />
Editora: ASEFE<br />
Ano: 1997<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Trabalho!<br />
São todas essas águas<br />
mergulhan<strong>do</strong> entre montanhas e pedras<br />
- perdas irreparáveis - sujas da vida<br />
que arrancam das encostas<br />
onde homens trabalham pela vida!<br />
Pela vida sem tempo de riso<br />
trabalha o homem no campo e,<br />
o campo exauri<strong>do</strong> é prenúncio de morte,<br />
não apenas a morte de si mesmo,<br />
mas mesmo de quem deseja a fartura!<br />
Tão imbecil é o ser humano<br />
com toda sua inteligência!<br />
suas grandes conquistas são tão fúteis,<br />
fáceis históricas de homens brancos,<br />
“limpan<strong>do</strong> a terra”, acumulan<strong>do</strong> bens inúteis!<br />
Trabalha o homem no campo,<br />
trabalho duro entre pedras, montanhas,<br />
vales e vontades desperdiçadas...<br />
desrespeito de princípios,<br />
final de temporada de caça<br />
carcaças descarnadas de homens<br />
mergulha<strong>do</strong>s na utopia da vida<br />
passageiros inexoráveis da síndrome da fome!<br />
142 143
Gonçalo Ferreira<br />
GONÇALO FERREIRA DA SILVA<br />
nasceu no dia 20 de dezembro de<br />
1937 na cidade de Ipu/CE. Funda<strong>do</strong>r e<br />
presidente da ACBL - Academia Brasileira<br />
de Literatura de Cordel, é autor de mais de<br />
duzentos opúsculos de literatura de cordel,<br />
além de ensaios, textos críticos e inúmeros<br />
artigos para revistas, jornais e anuários acadêmicos. Algumas de suas<br />
produções já foram vertidas para idiomas importantes como francês,<br />
inglês, alemão e japonês.<br />
DIFUSÃO CULTURAL:<br />
Instituição: ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL<br />
Fundação: 7 DE SETEMBRO DE 1988<br />
Edições: MILART - RJ Da inspiração mais pura,<br />
No mais luminoso dia,<br />
Porque Cordel é cultura<br />
Nasceu nossa Academia<br />
O céu da literatura<br />
A casa da poesia.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Senhor Livro<br />
(fragmentos)<br />
Dedico <strong>ao</strong> senhor meu livro<br />
eterno e sincero amor,<br />
ele me ensina em silêncio<br />
sem ar de superior;<br />
por ser meu fraterno amigo<br />
antes de <strong>do</strong>rmir eu digo:<br />
- Vou guardar meu professor.<br />
Confidente verdadeiro,<br />
companheiro e alia<strong>do</strong>,<br />
portanto queri<strong>do</strong> livro<br />
eternamente obriga<strong>do</strong>,<br />
pois fraternalmente mu<strong>do</strong><br />
o senhor me ensina tu<strong>do</strong><br />
humildemente cala<strong>do</strong>.<br />
Obriga<strong>do</strong>, senhor livro,<br />
pelo seu grande valor;<br />
só como mestre em carne e osso<br />
não se chega a ser <strong>do</strong>utor;<br />
mesmo depois de forma<strong>do</strong>s<br />
nós somos sempre obriga<strong>do</strong>s<br />
a consultar o senhor.<br />
Como Confúcio o senhor<br />
faz bem sem olhar a quem<br />
e sem esperar jamais<br />
recompensa de ninguém;<br />
o título, com mil louvores<br />
de “professor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>utores”<br />
<strong>ao</strong> senhor cai muito bem.<br />
144 145
Gustavo Doura<strong>do</strong><br />
AMARGEDON (pseudônimo<br />
de FRANCISCO GUSTAVO<br />
D E C A S T R O DOURADO) nasceu dia<br />
18 de maio de 1960 em Ibititá/BA. Está em<br />
Brasília desde 1975. Diploma<strong>do</strong> em Letras,<br />
é professor de Português e autor de onze<br />
livros. É produtor cultural e membro de<br />
várias academias e entidades socioculturais. É ainda Presidente Emérito<br />
<strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong> DF. Participa ativamente de feiras <strong>do</strong><br />
livro me Brasília, no Brasil e no exterior. Em 2000 inaugurou a Estante<br />
<strong>do</strong> Escritor Brasiliense, na Biblioteca Central da UnB. Recentemente,<br />
participou <strong>do</strong> filme “A Poesia <strong>do</strong> Barro.” Como autor de centenas de<br />
folhetos de cordel, improvisa e declama brilhantemente. Apresentou<br />
originalmente o “Cordel <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n” no I Festival Nacional de<br />
Cordelistas e Poetas Repentistas (Ceilândia/DF, agosto de 1980).<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CORDÉLI@<br />
Edição: INTERNET<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Cordel <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />
(fragmentos)<br />
Pra começo de viagem<br />
Preciso me apresentar<br />
Sou poeta <strong>do</strong> destino<br />
Uma história vou contar<br />
Da Guerra <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />
Que <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> vai transformar.<br />
Refaço a visão <strong>do</strong> apocalipse<br />
Do profeta São João<br />
A cidade <strong>do</strong>s remi<strong>do</strong>s<br />
A musa da salvação<br />
O berço da eternidade<br />
A glória da perfeição.<br />
Não se fala em poesia<br />
Só se vê corrupção<br />
Filhos desrespeitam os pais<br />
Cresce a prostituição<br />
Comanda a ditadura:<br />
Com tortura e repressão.<br />
Os ricos estão mais ricos<br />
Muita gente a roubar<br />
Desfalcam o nosso erário<br />
Sem ligar para o azar<br />
Exploram o dia to<strong>do</strong><br />
Para o tesouro aumentar.<br />
Surge a grande meretriz<br />
Babilônia, a grande musa.<br />
O c<strong>ao</strong>s se espalha na Terra<br />
A multidão fica confusa<br />
Sorve a taça de sangue:<br />
Que a Besta-Fera U.$.A<br />
A Terra fora <strong>do</strong>s eixos<br />
Em grande transformação<br />
Terremoto e hecatombe<br />
Maremoto e furacão<br />
Ondas gigantes no Mar<br />
E a fúria <strong>do</strong> vulcão.<br />
O egoísmo não morreu<br />
Faz o homem se matar<br />
Avareza e mentira<br />
O homem a enganar<br />
Usura e lucro fácil<br />
O homem a explorar.<br />
O homem não tem remédio<br />
É um eterno carniceiro<br />
Desde os tempos da caverna<br />
Tem mania de guerreiro<br />
A Guerra <strong>do</strong> Amarge<strong>do</strong>n<br />
Abalará o mun<strong>do</strong> inteiro...<br />
146 147
Ildefonso Sambaíba<br />
ILDEFONSO PEREIRA DE SOUZA<br />
SAMBAÍBA nasceu dia 23 de janeiro<br />
de 1953 em Grajaú/MA. Está em Brasília<br />
desde 1972. Servi<strong>do</strong>r público, é <strong>do</strong>utor em<br />
Filosofia, mestre em Educação e bacharel<br />
em Comunicação Social. Foi jornalista<br />
responsável pelo periódico “Escriba” <strong>do</strong><br />
SEDF e ex-funcionário da Imprensa Nacional. Atualmente, assina a<br />
coluna “Ciência ponto Consciência” para o jornal Linha de Frente.<br />
Publicou em 2000 o livro “Buquê de Urtigas”. É membro da Academia<br />
Taguatinguense de Letras e da Associação Nacional de Escritores.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: QUEM MATOU AS GAZELAS?<br />
Editora: SER<br />
Ano: 2004<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Esta Língua Portuguesa<br />
Ela é feminina<br />
Elo masculino<br />
148 149<br />
Elo ou ele?<br />
A poeta é fêmea<br />
O poeto macho<br />
Por que não?<br />
Eu poetizo (z)<br />
Ela: poetisa?!<br />
Nós poetizamos<br />
Têm razão...
Jerônimo de Caldas<br />
JERÔNIMO GENOILTON DE CAL-<br />
DAS nasceu dia 02 de março de 1962<br />
na Paraíba. Além de Brasília, já morou no<br />
Tocantins e em São Paulo, onde se tornou<br />
colunista <strong>do</strong> jornal Gazeta <strong>do</strong> Taboão da Serra.<br />
Sempre de forma independente e contan<strong>do</strong><br />
com o “apoio cultural” <strong>do</strong> empresaria<strong>do</strong><br />
local, já publicou vários livros, inclusive “A História <strong>do</strong> Nordestino”.<br />
APOIO INDUSTRIAL:<br />
Família: ELEUZA & ANTONIO ReALUMÍNIOS<br />
Filhos: GANDHI, EINSTEIN, MAXWELL,<br />
ARMSTRONG e GORBACHEV.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Traças Não Corroem Glória<br />
(fragmentos)<br />
Alfre<strong>do</strong> Evangelista é o retrato de um típico e genuíno homem<br />
nordestino, nasci<strong>do</strong> numa pequena cidade <strong>do</strong> sertão. Homem pacato,<br />
que vivia tranqüilo em sua atividade diária, trabalhan<strong>do</strong> a dura vida de<br />
agricultor. Em pleno sol causticante, cultivava sua lavoura com muita<br />
dificuldade, a falta de boas chuvas era um castigo que atormentava aquele<br />
homem com mãos calejadas. Morava numa pequena casa simples, feita<br />
de barro e cipó, com seus cinco filhos, três homens e duas mulheres.<br />
Juntaram as economias de to<strong>do</strong>s, e em pouco tempo concluíram<br />
a obra <strong>do</strong> tão sonha<strong>do</strong> poço, pelo fato <strong>do</strong> lugar de perfuração ser muito<br />
dificultoso, gastaram quase tu<strong>do</strong> o que tinham, a água só começou a<br />
minar a dezenas de metros de perfuração. Isto levou quase um ano de<br />
trabalho e uma boa parte da aposenta<strong>do</strong>ria de seu Alfre<strong>do</strong>; to<strong>do</strong>s fizeram<br />
um grande esforço, bem justo, pois tratava-se de uma causa essencial<br />
à sobrevivência da família. Como o custo foi altíssimo - compara<strong>do</strong> <strong>ao</strong><br />
calibre financeiro da família - a esperta filha Augusta teve uma brilhante<br />
idéia (era de se esperar que de sua privilegiada cabeça algo ilumina<strong>do</strong><br />
sairia): já que não pudera expor os seus artesanatos, venderia-os na<br />
beira da estrada. To<strong>do</strong>s os dias, percorria uma distância de quase sete<br />
quilômetros, colocava seus trabalhos na sombra de um grande juazeiro<br />
na beira da estrada e ficava à disposição <strong>do</strong>s viajantes que passavam por<br />
ali.<br />
A estrada era bem movimentada, principalmente pelos que iam<br />
fazer feira na cidade vizinha, ela percebeu com o tempo que poucas<br />
pessoas paravam, resolveu então fincar uma grande placa, ignoran<strong>do</strong><br />
algumas regras básicas de português, a uns cem metros <strong>do</strong> local de<br />
venda: “Beba água pura <strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong>”, estratégia com a qual conseguiu<br />
com que as pessoas curiosas parassem e além de beberem um pouco<br />
da tão falada água - de graça - compraram sem dificuldades os belos<br />
trabalhos da simpática moça.<br />
Os viajantes eram surpreendi<strong>do</strong>s pela criatividade de “marketing”<br />
da garota, que conseguiu assim vender todas as suas artes, e não precisou<br />
fazer exposição alguma para isso!<br />
150 151
João Bosco Bezerra Bonfim<br />
JOÃO BOSCO BEZERRA BONFIM<br />
nasceu dia 30 de outubro de 1961 em<br />
Novo Oriente/CE. Está em Brasília desde<br />
1972, onde se formou em Letras pela UnB.<br />
Antes de se tornar Consultor Legislativo<br />
<strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> Federal, atuou como professor<br />
de português e literatura. É mestre em<br />
Lingüística, com pesquisas na área de Análises de Discursos. Publicou<br />
em 2002 “A Fome Não Sai no Jornal”, dentre outros. Na foto acima,<br />
aparece em cima de uma parada de ônibus, num criativo e poético<br />
protesto contra a retirada <strong>do</strong>s poemas “concreta<strong>do</strong>s” na W3 Sul.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR<br />
Editora: LGE<br />
Ano: 2003<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Romance <strong>do</strong> Vaqueiro Voa<strong>do</strong>r<br />
(Fragmentos)<br />
Quem em noite de lua<br />
Da Esplanada <strong>do</strong>s Ministérios<br />
Se aproxima há de ouvir u’a<br />
Voz que ecoa, entre blocos<br />
E um aboio assim senti<strong>do</strong><br />
De onde vem? Mistério!<br />
Que segre<strong>do</strong> esconde<br />
Essa aparição me<strong>do</strong>nha<br />
Será milagre de Deus,<br />
Será alguma peçonha?<br />
Se quer saber então ouça,<br />
Não faça cerimônia.<br />
Era de janeiro primeiro,<br />
Nos i<strong>do</strong>s anos cinqüenta<br />
Quan<strong>do</strong> voou um vaqueiro<br />
De altura sem tamanho<br />
Espatifou-se no chão<br />
Teve da vida o desengano.<br />
Desse fatal acontecimento<br />
Ninguém jamais teve notícias<br />
Não deu manchete em jornal<br />
Nem registro na polícia<br />
E foi sua sepultura<br />
Desconheci<strong>do</strong> precipício.<br />
Agora vamos saber<br />
Quem terá si<strong>do</strong> esse tal<br />
Que despencou <strong>do</strong> prédio<br />
Cavalgan<strong>do</strong> que animal?<br />
Voou de que maneira?<br />
Gente de bem ou cria <strong>do</strong> mal?<br />
Era valente ou o quê?<br />
Aquele Oraci Vaqueiro<br />
Com faca na cinta,<br />
Com ar zombeteiro,<br />
Sorriso entre dentes<br />
Nas artes era treteiro.<br />
Era pobre operário<br />
Retirante sem valor<br />
Verseja<strong>do</strong>r de mão cheia<br />
Analfabeto e ladino<br />
Fazia troça da <strong>do</strong>r<br />
Na morte tirava fino.<br />
Ei-lo caí<strong>do</strong> de bruços<br />
Para o campo paramenta<strong>do</strong><br />
Peitoral, perneira, gibão<br />
Chapéu passa<strong>do</strong> o barbicacho<br />
Voou no rabo da rês<br />
Mas só chão havia embaixo.<br />
152 153
José Orlan<strong>do</strong> Pereira da Silva<br />
JOSÉ ORLANDO PEREIRA DA SILVA<br />
nasceu dia 06 de setembro de 1942 em<br />
João Pessoa/PB. Está em Brasília desde 1966,<br />
quan<strong>do</strong> veio transferi<strong>do</strong> como funcionário <strong>do</strong><br />
DNOCS. É bacharel em Ciências Jurídicas<br />
e Sociais pelo UniCEUB. Aposenta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
serviço público, estabeleceu sua banda de<br />
advocacia em Taguatinga, local onde mora e integra – como membro<br />
correspondente - a academia de letras. Além de escrever artigos para<br />
a revista “O Elo”, já publicou os livros “Memórias de Mato Grosso”,<br />
“Se Não Fosse o Primo Viterbo”, e “Direito Inspecional <strong>do</strong> Trabalho”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O DESTINO DE RONCÔ<br />
Editora: ATL<br />
Ano: 2007<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
A Musa<br />
Para o poeta<br />
A alma da mulher<br />
Transcende a visão sensual...<br />
Ao desenhá-la em versos,<br />
Transforma-a em deusa,<br />
De sinuosidades perfeitas,<br />
De inteligência angelical,<br />
Cultua-a como se fosse santa,<br />
Materializa sua fantasia<br />
E chama-a de musa!...<br />
Nem todas as mulheres,<br />
Menos ainda as evidentes,<br />
Mas só aquela<br />
Que lhe inspirou os versos:<br />
A mulher singular,<br />
Única, fascinante,<br />
De quem, mesmo à distância,<br />
O poeta vê a imagem,<br />
Ouve-lhe a voz,<br />
E roga por sua volta,<br />
Para abraçá-la!...<br />
154 155
“Mulher <strong>do</strong> baque solto<br />
menina da pá virada<br />
de arrepiar na quebrada<br />
mas isso ainda diz pouco<br />
pra entender a metiz<br />
a verve dessa atriz<br />
que além de tu<strong>do</strong> é poeta<br />
é uma mulher completa<br />
a nossa Lilia Diniz”<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Cacá<br />
Título: MIOLO DE POTE DA CACIMBA DE BEBER<br />
Edições: LAMPARINA K&R<br />
Ano: Março de 2007<br />
Lilia Diniz<br />
“Canto tu<strong>do</strong> o que existe<br />
canto o alegre e o triste<br />
sou poeta popular”<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
CD Gilson Alencar<br />
Encomenda<br />
In<strong>do</strong> à feira da Ceilândia<br />
Encontran<strong>do</strong> meu benzinho por lá<br />
Diz que eu tou quase morren<strong>do</strong><br />
Com uma saudade me<strong>do</strong>nha<br />
Passo o dia a choramingar.<br />
Diz que mande nem que seja<br />
Uma cuia de feijão pra mim<br />
Mas tem que ser <strong>do</strong> Piauí<br />
Ou intão mande uns cravim<br />
Pra eu mastigar to<strong>do</strong> dia<br />
E não esquecer <strong>do</strong>s seus bejim.<br />
Que se quiser pode mandar<br />
Uma buchada temperadinha<br />
Pelas mãos de Rita véia<br />
Com coentro e cebolinha<br />
Que bote assim de quebra<br />
Um punha<strong>do</strong> de farinha<br />
E tem que ser de puba<br />
Daquela caroçudinha.<br />
Aceito de muito bom gra<strong>do</strong><br />
Um queijo de coalho de Caicó<br />
Também me lambuzo todinha<br />
Ai, mas se ele vier junto<br />
Pra eu num ficar mais só...<br />
Vixe Maria! Que eu prometo<br />
Devorar ele tim tim por tim tim<br />
No café, no almoço, na janta<br />
Empunha<strong>do</strong> ele de abraço e de bejim<br />
Tempero nosso imenso querer<br />
Arrisco até uns versim<br />
Mas vê se passa mermo<br />
Passa na feira da Ceí<br />
Traz essa encomenda pra mim.<br />
156 157
Márcio Cotrim<br />
MÁRCIO DA SILVA COTRIM nasceu<br />
dia 14 de março de 1939 no Rio de<br />
Janeiro/RJ. Está em Brasília desde 1972.<br />
É jornalista e escritor. Publicou em 1985<br />
o clássico “Crônica da Cidade Amada”.<br />
Cidadão Honorário de Brasília, foi Secretário<br />
de Cultura e idealiza<strong>do</strong>r da “primeira<br />
prefeitura de quadra” na 303 Sul, em 1977. Atual diretor-executivo da<br />
Fundação Assis Chateaubriand, <strong>do</strong>s Diários Associa<strong>do</strong>s, também faz<br />
parte <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico <strong>do</strong> Distrito Federal.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: CRÔNICA DA CIDADE AMADA<br />
Editora: THESAURUS<br />
Ano: 1985<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Brasília em Cascata<br />
(fragmentos)<br />
Alvíssaras, alvíssaras! Já está funcionan<strong>do</strong> a primeira cascata<br />
numa quadra residencial de Brasília! Novinha em folha, fica na SQSW<br />
101 entre os blocos C e J, no Su<strong>do</strong>este.<br />
A iniciativa foi da prefeitura da quadra, cujo titular é Luciano<br />
Gnone. A vice-prefeita, mora<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> bloco J, é a simpática Eneida<br />
Carbonel, com quem conversei sobre o assunto outro dia. O prefeito<br />
estava viajan<strong>do</strong>.<br />
A cascata, inaugurada dia 20 de dezembro passa<strong>do</strong>, custou<br />
cerca de 5 mil reais, pagos pela comunidade. Isso, é claro, sem contar o<br />
paisagismo e a urbanização <strong>do</strong> local.<br />
É uma graça. Traz umidade, cria delicioso microclima em seu<br />
re<strong>do</strong>r e ainda tem, para torná-la mais simpática, pequena ponte em<br />
japonês e acolhe<strong>do</strong>res bancos que formam - em semicírculo - uma<br />
pracinha. Neles apetece sentar, ler o jornal, namorar ou simplesmente<br />
ficar pensan<strong>do</strong> na vida.<br />
Jovens mamães e seus pimpolhos, senhoras e senhores, vovós<br />
e vovôs estão a<strong>do</strong>ran<strong>do</strong>, ali têm novo refúgio diário. Aproveitam o sol<br />
generoso <strong>ao</strong> som <strong>do</strong> barulhinho da água que cai e rola. Um universo<br />
mágico. Em meio à fanfarra pessoal de júbilo com a inovação, permitame<br />
lembrar-lhe que é como um sonho realiza<strong>do</strong>.<br />
Sim, porque venho defenden<strong>do</strong> constantemente, repetidamente,<br />
a construção de chafarizes nas quadras de Brasília. Considero-me um<br />
chafarizeiro de carteirinha - que não é vantagem, nem privilégio numa<br />
cidade que padece, esturricada, quatro meses por ano, de uma seca<br />
feroz. E, como sabe até um bebê de colo, a solução para a seca é água,<br />
simplesmente água.<br />
Não me venha falar em desperdício , que a cidade não pode darse<br />
a esse luxo porque as reservas <strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> são escassas: os chafarizes<br />
quase não gastam água. Ela circula e sua evaporação não passa de 3%,<br />
segun<strong>do</strong> os técnicos da área.<br />
Em vez de chafariz, cascata. Tu<strong>do</strong> bem, principalmente para as<br />
crianças, as maiores vítimas da seca. Cascata vem <strong>do</strong> italiano e significa<br />
“pequena queda d´água”.<br />
158 159
Margarida Drumond<br />
MARGARIDA DRUMOND DE<br />
ASSIS nasceu dia 10 de junho em<br />
Timóteo/MG. Filha de Manuel de Assis<br />
Bowen e Margarida Pacífico Drumond – cujo<br />
sobrenome já diz tu<strong>do</strong> sobre sua vocação para<br />
a literatura. Está em Brasília desde 1986. É<br />
professora, bibliotecária e membro efetiva da<br />
Academia Taguatinguense de Letras. Já quase chegan<strong>do</strong> <strong>ao</strong>s 49 títulos<br />
<strong>do</strong> “poeta <strong>do</strong> século”, sua vasta produção inclui os seguintes livros:<br />
Um Conflito no Amor, Aconteceu no Cárcere, Tempo de Saudade,<br />
No Acerto <strong>do</strong>s Bondes, Busca de Você, Além <strong>do</strong>s Versos, Pegadas no<br />
Tempo, Não Dá Pra Esquecer, Isso, Aquilo e Mais um Pouco, Padre<br />
Antonio de Urucânia a sua Bênção, Miragem, Além da Imaginação,<br />
A Busca da Paz, Seria Feliz se Pudesse, Preito a José de Alencar e De<br />
Novo o Amor.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: DE NOVO O AMOR<br />
Editora: PETRY/FAC<br />
Ano: 2006<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Ode <strong>ao</strong> Poeta <strong>do</strong> Século no Brasil<br />
(fragmentos)<br />
Em cada poema vejo-te,<br />
oh, Drummond, de Itabira das Gerais.<br />
Teus versos inovam,<br />
prescindem de uma métrica regular<br />
ou de uma rima,<br />
mas conservam o ritmo,<br />
tão necessário à poesia.<br />
Finda agora o século em que nasceste,<br />
e, no comecinho <strong>do</strong> novo, no ano <strong>do</strong>is,<br />
lembramos o teu centenário.<br />
Com justiça foste eleito o poeta <strong>do</strong> século no Brasil.<br />
Assim, ergo-te este meu cantar:<br />
simples, mas um canto, Drummond, que tu, aí de onde estás,<br />
sentirás é pura poesia.<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
o espírito de Minas Gerais também me visita.<br />
E mais cautelosa ainda estou.<br />
No emaranha<strong>do</strong> destes novos tempos,<br />
onde a realidade é mais forte que o sentimento,<br />
confundin<strong>do</strong>-me sempre,<br />
ergo-te este canto.<br />
160 161
Meireluce Fernandes<br />
MEIRELUCE FERNANDES DA<br />
SILVA nasceu dia 11 de setembro<br />
em Marabá/PA. Está em Brasília há 37<br />
anos. Formada em Pedagogia, mestra<strong>do</strong> em<br />
Biblioteconomia, <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em Propriedade<br />
Intelectual pela Universidade de Sussex,<br />
Inglaterra (1998) e mestra<strong>do</strong> em Ciência da<br />
Informação pela Universidade de Brasília (1981). Organizou em 2005<br />
a antologia “Versos & Prosa” para a Academia de Letras e Música <strong>do</strong><br />
Brasil. É escritora, diretora de cooperação internacional da Agência<br />
Espacial Brasileira e a atual presidenta <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong><br />
DF. É também membro efetiva da Academia de Letras <strong>do</strong> Distrito<br />
Federal.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: SONHAR... AMAR... VIVER....<br />
Editora: EDICEL<br />
Ano: 2002<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
O Mar<br />
O mar estava tranqüilo<br />
Sem vento,<br />
A água morna,<br />
O sol abrasante...<br />
E eu a sonhar,<br />
Um sonho distante...<br />
Ven<strong>do</strong> as ondas<br />
Baten<strong>do</strong> nas pedras,<br />
O horizonte infin<strong>do</strong>...<br />
Qual uma longa espera,<br />
O barulho que vem<br />
De longe...<br />
Não é qualquer barulho,<br />
É aquele que faz vibrar<br />
O mais distante pensamento.<br />
O cheiro é sensual...<br />
Em mim provocante...<br />
Por que não dizer<br />
Afrodisíaco?...<br />
Mar, introspecções e reflexões<br />
Nos traz...<br />
Com tuas pedras, tuas rochas<br />
E o teu brilho,<br />
Que reluz, parecen<strong>do</strong> cristais.<br />
Meus cabelos esvoaçantes<br />
Como barcos velejantes...<br />
Querem em ti flutuar,<br />
Porém só me resta desejar...<br />
162 163
Menezes y Morais<br />
JOSÉ MENEZES DE MORAIS nasceu<br />
dia 29 de julho de 1951 em Altos/<br />
PI. Licencia<strong>do</strong> em História pela UnB,<br />
é professor, jornalista e poeta. Pioneiro<br />
<strong>do</strong> Sindica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Escritores, foi um <strong>do</strong>s<br />
seus funda<strong>do</strong>res que em 1977 assinou o<br />
requerimento no Ministério <strong>do</strong> Trabalho<br />
para a transformação da Associação Profissional <strong>do</strong>s Escritores <strong>do</strong> DF<br />
em entidade classista. Publicou em 1975 o livro “Laranja Partida <strong>ao</strong><br />
Meio”. Tem participa<strong>do</strong> de inúmeras antologias e integra o já histórico<br />
Coletivo de Poetas candangos.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: COLETIVO DE POETAS<br />
Edição: SINDICATO DOS ESCRITORES/DF<br />
Ano: 1992<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Domicílio Inviolável<br />
tu<strong>do</strong> me leva a ti camponesa<br />
com teus olhos de framboeza e teucheiro de abacaxi<br />
amo em ti esta manhã revolucionária bem pagu pra lá de passionária<br />
manhã de sonhos de marcas de cervejas em tua boca-cereja<br />
e obturações de porcelana<br />
meu coração liga tripa meu coração legião urbana<br />
clo<strong>do</strong> clésio climério paus de arara e suburbanos<br />
ita catta preta al<strong>do</strong> justo beirão jorge antunes nonato veras<br />
meu coração marginal anuncia a primavera<br />
a estrada da saudade é apenas a estação <strong>do</strong> encontro<br />
e ondexiste vírgula leia-se pronto!<br />
isto não passa da frituras de linguagem<br />
a tv serve a tua ceia a gente ranga tuas metáforas<br />
preparadas em forno de raio-laser com satélites e microondas<br />
camponesa camponesa bebo de tua sede<br />
banho em tua fonte e persigo os teus desejos<br />
são renato matos regae por nós<br />
regina ramalho nicolas behr cineas santos orai pro nobis<br />
maria da inglaterra otacílio mendes elnora paiva<br />
meu coração caloro nesta vida banda de bandi<strong>do</strong>s<br />
salga<strong>do</strong> maranhão sérgio duboc gadelha joão baiano vicente sá<br />
to<strong>do</strong> dia é dia da nossa marginalegria<br />
a utopia é de quem acreditar por derradeiro<br />
a utopia é de quem acreditar primeiro<br />
em matéria de gravidez não existe meio termo<br />
se não somos assim seja vire a mesa<br />
meu coração plebe rude não se ilude<br />
escola de escândalos arte no escuro nexo dia d 5 generais<br />
bsb-h artigo 153 unidade móvel eduar<strong>do</strong> rangel banda trem das cores<br />
meu coração capital inicial<br />
to<strong>do</strong>s os corações filhos da luta to<strong>do</strong>s os filhos da luta<br />
a vida é <strong>do</strong>micílio inviolável a vida é nossossonhos nossaboca nossacoragem<br />
o infinito <strong>do</strong> azul é a senha da vertigem e a vertigem é a senha da viagem.<br />
164 165
Nicolas Behr<br />
NICOLAS (NIKOLAUS HUBERTUS<br />
JOSEF MARIA VON) BEHR<br />
nasceu dia 05 de agosto de 1958 no<br />
distrito Diamantino de Cuiabá/MT, filho<br />
de imigrantes alemães. Veio em 1974 para<br />
“a capital da esperança”. Publicou em 1977<br />
seu best-seller mimeografa<strong>do</strong> “iogurte com<br />
farinha”. Em 1982, aju<strong>do</strong>u a fundar o move<br />
(movimento ecológico de brasília). Em 1986, transferiu suas atividades<br />
ambientalistas pra funatura (fundação pró-natureza). Dedica-se, desde<br />
então, à produção de mudas de espécies nativas <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>. É autor <strong>do</strong><br />
projeto “Poesia de 2ª” (sarau livre realiza<strong>do</strong> toda 2ª segunda-feira de<br />
cada mês) no Quiosque Cultural <strong>do</strong> Ivan da Presença. Contemporâneo<br />
de Renato Russo, é ti<strong>do</strong> como “o maior poeta das letras candangas”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: OITOPOEMASPARACEILÂNDIA<br />
Editora e Gráfica: TEIXEIRA<br />
Ano: 2009<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
o poeta descobre<br />
as cidades satélites<br />
e em entra em órbita<br />
mas não sabe a diferença<br />
entre taguatinga centro e taguacenter<br />
e eu pensava que ceilândia<br />
tinha alguma coisa a ver<br />
com ceilão - não tem não<br />
166 167
Pedro Gomes<br />
PEDRO GOMES DA SILVA nasceu dia<br />
09 de abril de 1941 em uma fazenda no<br />
Distrito de Iabetê - antiga Ponte Alta <strong>do</strong><br />
Norte/GO, atual Ponte Alta <strong>do</strong> Tocantins/<br />
TO. Técnico de Administração Pública, em<br />
1977 tornou-se o primeiro membro da sua<br />
família com diploma de curso superior. Veio<br />
para a Cidade Livre de Brasília em 1960. Pioneiro de Taguatinga, faz<br />
questão de declarar que “viu bem de perto o nascimento da Ceilândia”,<br />
onde hoje leciona a sua filha. Participou das antologias da Casa <strong>do</strong> Poeta<br />
Brasileiro(POEBRAS-DF) “Brasília 25 Anos” de 1985 e “Dez Anos de<br />
Poesia e União” de 1988. Publicou em 2000 o livro “O Tortura”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O TORTURA<br />
Editora: GRÁFICA TEIXEIRA<br />
Ano: 2000<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Colo Ama<strong>do</strong><br />
Colo inigualável<br />
é o da bem amada,<br />
onde declinamos a cabeça<br />
sob o afago abençoa<strong>do</strong>.<br />
Colo benfazejo,<br />
fonte <strong>do</strong>s desejos<br />
celeiro das inspirações.<br />
Acalento das ilusões.<br />
Colo bonito.<br />
Colo bendito.<br />
Colo anguloso.<br />
Colo formoso.<br />
Colo inigualável.<br />
é o da bem amada,<br />
travesseiros <strong>do</strong>s prazeres,<br />
fontes <strong>do</strong>s desejos,<br />
celeiro das inspirações.<br />
Colírio da visão.<br />
Colo belo,<br />
calmante <strong>do</strong> meu flagelo.<br />
Prêmio <strong>do</strong> amor sincero.<br />
Colo bonito.<br />
Colo bendito.<br />
Colo anguloso.<br />
Colo gostoso.<br />
168 169
Popó Magalhães<br />
POPÓ MAGALHÃES SOUSA nasceu<br />
dia 03 de junho de 1950 em Santa<br />
Quitéria/CE. Pioneiro candango, está em<br />
Brasília desde 1960, quan<strong>do</strong> aqui chegou <strong>ao</strong>s<br />
oito anos de idade. Diploma<strong>do</strong> em Letras e<br />
Administração e pós-gradua<strong>do</strong> em Literatura<br />
Brasileira e Língua Portuguesa, é professor da<br />
rede pública de Ceilândia desde os primórdios da cidade. Assim como<br />
“libertário literário”, Popó bem que poderia ser chama<strong>do</strong> de “o poeta<br />
das epígrafes”. Publicou em 2000 o livro “As Nuvens de Magalhães”.<br />
Além de pertencer à Academia Taguatinguense de Letras é também<br />
membro The Planetary Society, com sede em Pasadena/EUA.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: EU ANJO EU CANALHA<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 1998<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
<strong>do</strong> Poeta, de Poetas<br />
“Sou criança, quan<strong>do</strong> meu la<strong>do</strong> adulto se faz necessário uma criança;<br />
sou adulto ou mais que adulto, quan<strong>do</strong> a criança quer tomar conta de mim.”<br />
Incansável poeta,<br />
Poeta improvável.<br />
Na sua mão a arma:<br />
A sua amiga caneta,<br />
Azul, vermelha, qualquer preta...<br />
Voa o seu coração de Cazuza,<br />
Usa os chicos verbos...<br />
Dylan, Leminsky, não arisque.<br />
Muralha, Nicolas, Popó sem pó,<br />
Sem dó, sol maior... e voz <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>,<br />
Do mun<strong>do</strong> imun<strong>do</strong>...<br />
Trova <strong>ao</strong>s sába<strong>do</strong>s em Brasília e Poa,<br />
Taguatinga, Ceilândia-boa.<br />
E no álcool das piscinas,<br />
Acorda suas meninas, lágrimas nas retinas.<br />
Chora,<br />
Canta,<br />
Bebe,<br />
Maldiz,<br />
Não diz...<br />
Feliz,<br />
Infeliz,<br />
Poeta incansável...<br />
Boêmio, menino,<br />
E talvez um destino...<br />
170 171
Sandra Fayad<br />
SANDRA FAYAD nasceu dia 15 de<br />
fevereiro em Catalão/GO, filha de<br />
família sírio-libanesa. <strong>Candanga</strong> de coração,<br />
guarda as boas recordações <strong>do</strong> tempo em<br />
que lecionou para crianças da Vila Tenório<br />
antes de serem removidas para a Ceilândia.<br />
Economista por formação e cronista por<br />
vocação, atua como colunista em vários portais, revistas e jornais<br />
virtuais, além <strong>do</strong>s textos publica<strong>do</strong>s no Diário de Catalão a partir das<br />
pesquisas de observação da sua Horta Comunitária experimental. Foi<br />
deste projeto que saiu a publicação <strong>do</strong> livro “Animais que Plantam<br />
Gente”. Tem participação nas seguintes coletâneas: “Antologia <strong>do</strong>s<br />
Escritores Brasileiros” (2006), “Roda Mun<strong>do</strong>” (2007) e “Navegantes<br />
das Letras” (2008).<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: ANIMAIS QUE PLANTAM GENTE<br />
Editora: LGE<br />
Ano: 2008<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Acróstico <strong>do</strong> Tamanduá Bandeira<br />
Tua figura não se classifica de beleza.<br />
Aparentas ser até bicho desagradável,<br />
Mas és um ser como eu, com certeza.<br />
Animal que sente, ama. És afável!<br />
No habitat, atacas apenas uma zona:<br />
Depreda<strong>do</strong>r de cupins e formigueiros,<br />
Usan<strong>do</strong> patas com garras e linguona,<br />
Alimentas teu corpo por inteiro.<br />
Bonito é o teu papel na natureza.<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> tatu e <strong>do</strong> bicho preguiça,<br />
No reino <strong>do</strong>s Xenarthra, és realeza.<br />
De insetos vives, mas se fogo te incendeia,<br />
Esturrica<strong>do</strong> ficas, sem chance de defesa.<br />
Investir em ti, tirar-te dessa intricada teia,<br />
Recuperar tua espécie será grande proeza,<br />
A consagrar político, cientista e até princesa.<br />
(*) Referência <strong>ao</strong> incêndio de 2007 no Parque Nacional de Brasília<br />
que exterminou inclusive os tamanduás em fase de reprodução.<br />
172 173
Tetê Catalão<br />
TETÊ VANDERLEI DOS SANTOS<br />
CATALÃO nasceu dia 22 de novembro<br />
de 1948 no Rio de Janeiro/RJ. Veio para<br />
Brasília em 1972. Apesar de nunca ter escrito<br />
seu próprio livro, destacou-se como um <strong>do</strong>s<br />
protagonistas <strong>do</strong> histórico Projeto Cabeças;<br />
além das destacadas participações nas<br />
antologias alternativas candangas da “Ebulição da Escrivatura” (1976)<br />
e <strong>do</strong>s “16 PoRRetas” (1979). Hoje, além de jornalista profissional<br />
brasiliense reconhecidíssimo, atua como fotógrafo ama<strong>do</strong>r cultural<br />
discretíssimo.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: 16 POrrETAS<br />
Editora: SIND. JORNALISTAS<br />
Ano: 1979<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Fala Ceilândia<br />
Fala satélite<br />
Fala para a elite<br />
Fala para plebe<br />
Fala Satélite<br />
(fragmentos)<br />
174 175<br />
Fala e cala<br />
Fala para quem te impede<br />
Fala satélite bota barro no carpete<br />
Berra no acrílico da maquete<br />
Periferia bracelete <strong>do</strong> plano e seu piloto<br />
Plana satélite - mete a gilete no joguete - dá o troco<br />
Éter satélite - sonhos e buscas - boca de filete<br />
Desmente essa cultura lanchonete - faz piquete<br />
Brota satélite - para não ser curral nem marionete<br />
Mostra que pode - mata a sede - arrisca a pele, mostra o bode<br />
Faz satélite e vai ser célebre - celebre!
Valnira Vaz<br />
VALNIRA DE MELO VAZ nasceu dia 30 de outubro em Recife/<br />
PE. Está em Brasília desde 1962. É diplomada em Psicologia e<br />
atua como professora no Centro de Ensino Médio 10 da Ceilândia,<br />
onde integra - com os demais educa<strong>do</strong>res - o projeto literário ADIP<br />
(Academia Dez da Imortalidade Poética), responsável pela publicação<br />
da coletânea escolar “Celebrações Poéticas” e que contou com o<br />
apoio (e reconhecimento) da UNESCO e <strong>do</strong> Ministério da Educação.<br />
Publicou em 1994 o livro “Turmalina”.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: TURMALINA<br />
Editora: THESAURUS/ASEFE<br />
Ano: 1994<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Alheamento<br />
TÊNUES imagens vindas e findas,<br />
Desvelam-se <strong>ao</strong> meu alhear-me<br />
E nesse cicio espontâneo, inda que lindas,<br />
Segredam sonhos <strong>ao</strong> desperto estagnar-me.<br />
Para onde vai o pensamento<br />
Quan<strong>do</strong> o olhar passa pela janela?<br />
Onde o vagar <strong>do</strong> meu incero olhar<br />
Pinta cores em distante tela?<br />
Que rumos descreve o pensar liberto,<br />
Solto, <strong>ao</strong> contemplar a lua tremeluzente<br />
Nas águas de regato incerto?<br />
Como a consciência da consciência ausente?<br />
Só sei que deliro.<br />
E nesse devaneio creio o que crio,<br />
Dan<strong>do</strong>, a essa seda, a razão<br />
Esvoaçante da emoção.<br />
176 177
Xiko Mendes<br />
XIKO MENDES (FRANCISCO<br />
DA PAZ M. DE SOUZA) nasceu<br />
no emblemático 1968 (“o ano que não<br />
terminou”), em Formoso de Minas Gerais.<br />
Mora na histórica cidade de Planaltina desde<br />
1989. É professor de História e Filosofia da<br />
Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação <strong>do</strong> Distrito<br />
Federal. Pós-gradua<strong>do</strong> em Ecologia Urbana pela Universidade Católica<br />
de Brasília, é também muito conheci<strong>do</strong> como poeta e historia<strong>do</strong>r<br />
cerratense. Em parceria com o professor Ronal<strong>do</strong> Mousinho, organizou<br />
a coletânea <strong>do</strong> “Projeto Aluno-Escritor/Planaltina” (ASEFE/1996).<br />
Publicou em 2002 seu épico livro “Formoso de Minas no final <strong>do</strong> Século<br />
XX – 130 Anos” (uma paidéia de quase mil páginas conten<strong>do</strong> até um<br />
“hino” à sua terra natal). É membro funda<strong>do</strong>r da Academia Planaltinense<br />
de Letras/APL e ainda faz parte da Academia de Letras e Artes <strong>do</strong> Planalto/<br />
Luziânia-GO, da Academia de Letras <strong>do</strong> Noroeste de Minas/Paracatu-MG<br />
e da Associação Nacional de Escritores/ANE-Brasília.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: O MITO DA INTERIORIZAÇÃO ATRAVÉS DE BRASÍLIA<br />
Edição: ASEFE<br />
Ano: 1995<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Ler é Viver!<br />
Ler um livro é ignorar fronteiras;<br />
Expor-se a idéias como <strong>ao</strong> vento;<br />
É derrubar muralhas e trincheiras<br />
Apenas com a força <strong>do</strong> pensamento.<br />
Ler um livro é esquecer o relógio;<br />
Porque idéias pulsam como as horas;<br />
Transcendem a morte e os necrológios,<br />
Transformam a vida e a nossa história.<br />
Ler um livro na escola ou em casa<br />
É sentir sem perceber o que é liberdade<br />
Porque o livro é como se fosse a asa,<br />
Pois a gente voa em busca de verdades.<br />
Ler um livro é transportar sonhos<br />
No delírio pleno que, em cada palavra,<br />
Me faz ver o quanto me envergonho...<br />
Quan<strong>do</strong> dizem algo <strong>do</strong> qual não sei nada.<br />
É para isto que sempre leio um livro:<br />
É para saber sempre e cada vez mais.<br />
Com um livro sinto que de fato vivo<br />
Porque viver é não deixar de ler... Jamais!<br />
178 179
Zé Luiz<br />
JOSÉ LUIZ MUNIZ GOMES nasceu<br />
dia 30 de setembro de 1953 em Coroatá/<br />
MA. Mora<strong>do</strong>r pioneiro <strong>do</strong> Setor ‘P’ Sul da<br />
Ceilândia, orgulha-se de ter ajuda<strong>do</strong> a fundar<br />
a paróquia da Mãe Divina Providência,<br />
<strong>ao</strong>nde até hoje presta seus serviços cristãos.<br />
Publicou em 1999 seu único livro “Renúncia”.<br />
Ex-atleta maratonista, hoje trabalha como feirante na ASFEGUASUL<br />
(a feira localizada entre a Guariroba e o ‘P’ Sul) e acredita piamente na<br />
força comunitária da sua gente.<br />
BIBLIOGRAFIA:<br />
Título: RENÚNCIA<br />
Edição: PRÓPRIA<br />
Ano: 2003<br />
“Oh! Mãe da Divina Providência<br />
Que nos acolhestes com seu olhar<br />
Estenda sua mão e dai-nos proteção”<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Fala Povo<br />
Vou relatar o meu pensar<br />
Nesse espaço da poesia<br />
Da agonia que é viver<br />
Nesse pedaço de chão<br />
Fala povo, chora povo<br />
Mas não se cala não<br />
Se for preciso, morra povo<br />
Nesse pedaço de chão<br />
Povo que perde a voz<br />
Não é cidadão<br />
Não pode ficar entre nós<br />
Nesse pedaço de chão<br />
Povo ameaça<strong>do</strong>, denuncia<br />
Exerce sua cidadania<br />
O silêncio nunca foi solução<br />
Nesse pedaço de chão.<br />
180 181
À conterrânea de mala paraibana MARIA JOSÉ<br />
PASSAGEIRO DAS ESTRELAS<br />
A luz que acendeste aqui<br />
Vulcão que não a<strong>do</strong>rmece mais<br />
O que espantava em ti<br />
Um lobo acordan<strong>do</strong> a paz<br />
O voo que tentaste dar<br />
Trapézio foi curto demais.<br />
Que mensagem tentaste passar<br />
Si no riso de nosso olhar<br />
Reflete o sinal da <strong>do</strong>r<br />
Não foi tão natural<br />
A espanhola despencou<br />
E o pedaço da noite<br />
Escureceu sem teu amor<br />
O vento que enfeitava teus cabelos<br />
Te iludiu, te fechou<br />
Tu que enfeitavas a natureza<br />
Aqui para nós, quem te ensinou?<br />
Mumunhas, OLHOS D´ÁGUA, poço azul<br />
O disco avoantes que tu eras<br />
Poeta, lobo sentinela<br />
Si escuta na floresta<br />
A voz <strong>do</strong> rapaz<br />
Ladeira de águas limpas<br />
Pára-raio da nobreza<br />
Sereno de teu olhar<br />
Acendes nossas fogueiras<br />
Quan<strong>do</strong> formos acampar<br />
Presença em todas as fontes<br />
Brisa pra rememorar.<br />
(A SERENATA DA ACAUÃ)<br />
Capítulo V<br />
Os Pioneiros<br />
das<br />
Letras <strong>Candanga</strong>s<br />
182 183
Stella Ro<strong>do</strong>poulos<br />
Jamais verão a morte<br />
<strong>do</strong>s meus sonhos!...<br />
Pelo fato de ter si<strong>do</strong> eleita pela comunidade<br />
literária candanga como “A Patronesse da<br />
27ª Feira <strong>do</strong> Livro de Brasília edição 2008”- e<br />
também em atenção à solicitação feita pelos nossos<br />
estima<strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res Gustavo Doura<strong>do</strong> e Maria Félix - foi que<br />
solidariamente incluímos aqui o nome desta eloqüente escritora.<br />
STELLA ALEXANDRA RODOPOULOS nasceu dia 05 de outubro<br />
em Itacuruçá, município de Mangaratiba/RJ. Seus pais, naturais da<br />
Grécia, vieram para o Brasil em 1928. Residiu algum tempo em São<br />
Paulo, onde se casou em 1960 e, logo em seguida, veio para Brasília; daí<br />
o epíteto de “pioneira das letras candangas”. Como membro efetiva<br />
da Academia de Letras e Música <strong>do</strong> Brasil/ALMUB e detentora de<br />
valorosos prêmios, já recebeu a Comenda Carlos Gomes; pelo conjunto<br />
de toda a sua obra, recebeu o Troféu Johan Sebastian Bach; além da<br />
oportunamente desejada Medalha de Ouro da Academia Internacional<br />
de Lutéce, na França. Nossa escritora homenageada ainda pertence<br />
<strong>ao</strong> Instituto Internacional de Poesia/RS, à Casa <strong>do</strong> Poeta Brasileiro/<br />
POEBRAS-DF e à Academia de Letras de Brasília.<br />
A PATRONESSE DAS LETRAS CANDANGAS<br />
ESCRITORA PIONEIRA<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Stella: Estrela é...<br />
De grandeza universal<br />
Mãe, mulher e escritora<br />
Vate <strong>do</strong> transcendental<br />
Nossa Cora Coralina:<br />
Do Distrito Federal...<br />
Stella no Reino Encanta<strong>do</strong><br />
O Cavalinho Sonha<strong>do</strong>r<br />
Filha de Itacuruçá<br />
Mangaratiba, um primor...<br />
Do Rio de Janeiro para o Mun<strong>do</strong>:<br />
Com suas Pétalas de Amor...<br />
Os seus pais eram da Grécia,<br />
Divina terra de Platão...<br />
Tem a poesia no sangue:<br />
A arte da transmutação...<br />
Nossa Princesa <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>:<br />
É Rainha <strong>do</strong> Coração...<br />
Uns tempos na Paulicéia<br />
Nossa Sampa capital<br />
Em janeiro de 1960<br />
Em um ato ritual...<br />
Mu<strong>do</strong>u-se para Brasília:<br />
Luz <strong>do</strong> Planalto Central...<br />
Cordel para Stella<br />
(homenagem <strong>do</strong> Poeta Amarge<strong>do</strong>n)<br />
Pioneira... Bandeirante<br />
Na Capital Federal...<br />
Stella pra lá de estrela<br />
Telúrica-espiritual...<br />
Escritora cristalina:<br />
Criativa e fraternal...<br />
Stella Alexandra Ro<strong>do</strong>poulos<br />
Serena, da alma pura<br />
Límpida, diamantina<br />
Semeia amor e ternura<br />
Mãe, mulher e pensa<strong>do</strong>ra:<br />
Deusa da Literatura...<br />
Em Paris, cidade-luz...<br />
Stella recebe o louro<br />
Da Academia de Lutèce<br />
Ganha a Medalha de Ouro...<br />
É consagrada na França:<br />
Com um brilhante tesouro...<br />
Um exemplo para to<strong>do</strong>s<br />
Do Distrito Federal<br />
Poesia, amor e bondade<br />
Na senda espiritual...<br />
Uma estrela que brilha<br />
No cenário universal...<br />
184 185
Newton Rossi (em memória)<br />
Última Foto: ATL<br />
Data: 2007<br />
Em reverência <strong>ao</strong> Poeta Muralha – parceiro de<br />
Newton Rossi no livro “Academia em Dois<br />
Discursos” – é que dedicamos esta página à memória <strong>do</strong><br />
último trova<strong>do</strong>r candango. NEWTON EGÍDIO ROSSI, que nasceu<br />
dia 29 de setembro de 1926 em Ouro Fino/MG e faleceu dia 28 de agosto<br />
de 2007. Amigo pessoal <strong>do</strong> presidente JK, veio de Belo Horizonte<br />
para Brasília em 1960. Como empreende<strong>do</strong>r, foi proprietário da Loja<br />
Cipal de eletro<strong>do</strong>mésticos, funda<strong>do</strong>r da Federação Comercial <strong>do</strong> DF e<br />
diretor <strong>do</strong> SESC-DF por 25 anos. Teve seu “necrológio”recita<strong>do</strong> pelo<br />
presidente da Associação Nacional de Escritores Joanyr de Oliveira,<br />
no que se seguiu uma “homenagem crepuscular” com declamações de<br />
Ronal<strong>do</strong> Mousinho, Gacy Simas, Rosidete Rose e Donzílio Luiz - este<br />
último, presidente da ACLAP. Por fim, o que mais poderia simbolizar<br />
a presença desse “mecenas candango” nesta coletânea senão a justa,<br />
porém inesperada homenagem que seu nome trouxe <strong>ao</strong> “primeiro<br />
teatro da Ceilândia”:<br />
TEATRO SESC CEILÂNDIA<br />
TROVAS ESCOLHIDAS - livro com a última trova escrita por NEWTON ROSSI.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Meu Canto Derradeiro<br />
Em meu canto derradeiro,<br />
Bendizen<strong>do</strong> o <strong>do</strong>m da vida,<br />
Meu coração fica inteiro<br />
Na trova da despedida.<br />
186 187
Clemente Luz (em memória)<br />
Foto: Fernan<strong>do</strong> Luz<br />
Data: 1993<br />
CLEMENTE RIBEIRO DA LUZ<br />
nasceu dia 22 de setembro de 1920<br />
em Delfim Moreira/MG e faleceu em<br />
17 de outubro de 1999 na Ceilândia/DF.<br />
Pioneiro candango, veio para Brasília em<br />
1958. Escritor e jornalista, tornou-se o<br />
primeiro cronista da nova capital; ofício que exercia diariamente - e de<br />
ônibus - no trajeto de sua residência <strong>ao</strong> trabalho (Radiobrás) no Plano<br />
Piloto. Tem em sua rica bibliografia “Ombros Caí<strong>do</strong>s” (1942), “Bilino e<br />
Jaca, o Mágico” (1943), “Infância Humilde de Grandes Homens” (1944),<br />
“Aventura da Bicharada” (1949), “O Caça<strong>do</strong>r de Mosquitos” (1956),<br />
“Pedro Pipoca” (1958) “Invenção da Cidade” (1968) e “Minivida”<br />
(1972). Juntamente a esta recente biografia - feita em parceria com o<br />
historia<strong>do</strong>r da literatura candanga Ronal<strong>do</strong> Mousinho - estamos reunin<strong>do</strong><br />
outras publicações (como os livros reproduzi<strong>do</strong>s abaixo) para o já tardio<br />
“Projeto Editorial Clemente Luz”.<br />
O CRONISTA DOS CANDANGOS<br />
CEILÂNDIA NASCE UMA CIDADE - MINI VIDA - CEILÂNDIA TEM MEMÓRIA<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Tributo À Memória<br />
Com a transferência de favela<strong>do</strong>s, promovida pela Comissão<br />
de Erradicação das Invasões, em 1971, cerca de 16 mil famílias foram<br />
transportadas, em caminhões da NOVACAP, da Vila <strong>do</strong> IAPI, das vilas<br />
Tenório, Esperança, e outras nas cercanias <strong>do</strong> Núcleo Bandeirante - e<br />
atiradas, com seus pobres pertences - em lotes de dez por vinte e cinco<br />
metros, apenas demarca<strong>do</strong>s por piquetes de madeira, em ruas apenas<br />
delineadas, num loteamento que só se definiu muito tempo depois.<br />
Esse povo sofri<strong>do</strong>, ainda com as marcas da longa viagem<br />
migratória, e que não encontrou em Brasília o “el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>” prometi<strong>do</strong>,<br />
deixou a condição de invasor para entrar na posse <strong>do</strong> direito de<br />
construir a moradia em lote próprio, embora sem condições mínimas<br />
de conforto. Essa marcha rumo à nova terra de Canaã é a história<br />
desse povo migrante, que povoou inicialmente Taguatinga, depois foi<br />
assenta<strong>do</strong> em Ceilândia - nome nasci<strong>do</strong> da sigla CEI.<br />
(*) Crônica compilada <strong>do</strong> livro Ceilândia Tem Memória.<br />
188 189
Drummond na Ceilândia<br />
Por uma dessas ironias que a história nos reserva,<br />
aconteceu que, nos i<strong>do</strong>s de 1979, quan<strong>do</strong><br />
escrevia a “Crônica das Favelas Brasileiras”,<br />
eis que um noticiário sobre “a maior favela <strong>do</strong><br />
Brasil” chamou a atenção de CARLOS DRUMMOND DE<br />
ANDRADE (31/10/1902+17/08/1987) para a Ceilândia. E assim<br />
nasceria seu sociológico “prosoema”. Porém, o mais curioso foi a sua<br />
publicação concomitante à evidência <strong>do</strong> combativo Movimento <strong>do</strong>s<br />
Incansáveis Mora<strong>do</strong>res da Ceilândia que - naquele perío<strong>do</strong> de ditadura<br />
militar - além de lutar por moradia e democracia, também produzia<br />
cultura; e em 1981 lançou o livreto “A Ceilândia Ontem, Hoje... E<br />
Amanhâ?”, conten<strong>do</strong> o texto inédito <strong>do</strong> “maior poeta da literatura<br />
contemporânea brasileira”, além das ilustrações <strong>do</strong>s geniais irmãos<br />
Vieira e <strong>do</strong>s versos em cordel de Nadir Tavares. Tais coincidências<br />
se deveram à vinculação <strong>do</strong>s incansáveis com a Ação Cristã Pró-<br />
Gente e dessa com a CNBB, que através <strong>do</strong> Centro Ecumênico de<br />
Documentação e Informação editaria a revista Tempo e Presença,<br />
trazen<strong>do</strong> por fim o tal “Confronto de Drummond”.<br />
CRÔNICA DAS FAVELAS BRASILEIRAS<br />
Revista Tempo e Presença - CEDI<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Confronto<br />
A suntuosa Brasília e a esquálida Ceilândia<br />
contemplam-se.<br />
Qual delas falará primeiro?<br />
Que têm a dizer ou a esconder<br />
uma em face da outra?<br />
Que mágoas, que ressentimentos<br />
prestes a saltar da goela coletiva<br />
E não se exprimem?<br />
Por que Ceilândia fere o majestoso<br />
orgulho da flórea capital?<br />
Por que Brasília resplandece<br />
ante a pobreza exposta<br />
<strong>do</strong>s barracos de Ceilândia<br />
Filhos da majestade de Brasília ?<br />
E pensam-se, remiram-se em silêncio<br />
as gêmeas criações <strong>do</strong> bom brasileiro.<br />
190 191
Niemeyer na Ceilândia<br />
Por ter si<strong>do</strong> a “cidade-satélite”<br />
que abrigou os “candangos”<br />
construtores de Brasília e até pela<br />
fama de ser “a capital nordestina <strong>do</strong><br />
Planalto Central”, coube à Ceilândia<br />
receber em 1986 a Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> Brasil: única obra <strong>do</strong> arquiteto OSCAR NIEMEYER RIBEIRO<br />
DE ALMEIDA SOARES fora <strong>do</strong> Plano Piloto de Brasília. Por outro<br />
la<strong>do</strong>, o que poucos sabem é que o “poeta <strong>do</strong> concreto” se inspirou<br />
na “asa branca” - símbolo <strong>do</strong>s retirantes da seca - para desenhar o<br />
“palácio da poesia”, conforme evidencia no seu discurso “Os Palácios<br />
e o Candango”. Outro nome também pouco conheci<strong>do</strong> é LUCAS<br />
EVANGELISTA (o “pioneiro <strong>do</strong> cordel candango”) que, com a famosa<br />
“Kombi da Literatura de Cordel”, cravou sua imagem na paisagem<br />
cultural local.<br />
A CEILÂNDIA EM CORDEL<br />
CASA DO CANTADOR - A CEILÂNDIA EM CORDEL - LUCAS EVANGELISTA<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
A Ceilândia tem a Origem<br />
da Construção de Brasília<br />
O braço <strong>do</strong> operário<br />
Do nordeste brasileiro<br />
Edificou a Brasília<br />
Espelho <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro<br />
E seus traços arquitetônicos<br />
Brilharam no estrangeiro<br />
Hoje o sonho de Dom Bosco<br />
Foi materializa<strong>do</strong><br />
Juscelino Kubitschek<br />
Com Lúcio Costa de la<strong>do</strong><br />
Oscar Niemeyer entre outros<br />
E o candango operaria<strong>do</strong><br />
Tu<strong>do</strong> foi consolida<strong>do</strong><br />
A obra com a história<br />
Uma identifica a outra<br />
No registro da memória<br />
Ceilândia foi premiada<br />
Também contan<strong>do</strong> vitória<br />
Recebeu para seu povo<br />
Uma obra de valor<br />
Projeto de Niemeyer<br />
A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />
Construída em Ceilândia<br />
Pro poeta trova<strong>do</strong>r<br />
Na entrada <strong>do</strong> ‘P’ Sul<br />
A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />
Hoje Brasília e Ceilândia<br />
Possuem o mesmo valor<br />
Com as obras de Niemeyer<br />
Brilhan<strong>do</strong> de esplen<strong>do</strong>r<br />
A vinte e um de abril<br />
Brasília aniversaria<br />
E Ceilândia comemora<br />
Este felicíssimo dia<br />
A Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r<br />
Com vate improvisa<strong>do</strong>r<br />
Dá festa de poesia.<br />
(*) Cordel <strong>do</strong> Poeta Gon-Gon declama<strong>do</strong> na inauguração da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r em 09 de novembro 1986.<br />
192 193
Gilberto Gil na Guariroba<br />
“O povo sabe o que quer<br />
Mas também quer o que não sabe”<br />
Nem o músico, nem o ministro<br />
GILBERTO PASSOS GIL<br />
MOREIRA nunca colocou os pés no barro<br />
deste bairro da Ceilândia que outrora<br />
abrigara as terras da “Fazenda” Guariroba de<br />
Santa Luzia <strong>do</strong> Goiás, e cujo nome advém de<br />
uma palmeira nativa que, de tão fina, acaba<br />
se resumin<strong>do</strong> numa espécie de “macaxeira<br />
goiana”, apreciada por essas bandas como autêntica comida típica. Mas,<br />
voltan<strong>do</strong> <strong>ao</strong> poeta tropicalista, o caso foi que no Dia da Árvore (21<br />
de setembro de 2005) os educa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> CEF 11 resolveram a<strong>do</strong>tar a<br />
“Refazenda” como tema <strong>do</strong> projeto pedagógico que falava justamente<br />
das origens da Guariroba: a música, a planta e a comunidade. Eis, então,<br />
que surge a idéia de convidá-lo para vir à escola pelo conhecimento que<br />
tínhamos da sua assessora de imprensa, filha <strong>do</strong> poeta concretista TT<br />
Catalão. O final dessa história foi que descobrimos - além <strong>do</strong>s pioneiros<br />
- que infelizmente a citação da música se referia a uma outra fazenda,<br />
também aqui <strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>, porém localizada em Buritis de Minas Gerais.<br />
A PALMEIRA NATIVA DO CERRADO<br />
TROPICÁLIA - 1969 - GUARÁ/C.E.I.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Refazenda<br />
Abacateiro, acataremos teu ato<br />
nós também somos <strong>do</strong> mato<br />
como o pato e o leão<br />
Aguardaremos, brincaremos no regato<br />
até que nos tragam frutos<br />
teu amor, teu coração<br />
Abacateiro, teu recolhimento<br />
é justamente o significa<strong>do</strong><br />
da palavra temporão<br />
Enquanto o tempo<br />
não trouxer teu abacate<br />
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão<br />
Abacateiro, sabes <strong>ao</strong> que estou me referin<strong>do</strong><br />
Porque to<strong>do</strong> tamarin<strong>do</strong> tem<br />
Seu gosto aze<strong>do</strong>, ce<strong>do</strong><br />
antes que o janeiro<br />
<strong>do</strong>ce manga venha ser também<br />
Abacateiro, serás meu parceiro solitário<br />
Nesse itinerário da leveza pelo ar<br />
Abacateiro, saiba que na refazenda<br />
Tu me ensina a fazer renda<br />
Que eu te ensino a namorar<br />
Refazen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong><br />
Refazenda<br />
Refazenda toda<br />
GUARIROBA.<br />
(*) Planta símbolo da CEILÂNDIA, cidade-satélite de Brasília (antiga Fazenda Guariroba).<br />
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A UnB na Ceilândia<br />
o contexto his-<br />
N tórico da Nova<br />
República - e também<br />
graças à gestão<br />
democrática e popular<br />
<strong>do</strong> reitor Cristovam<br />
Buarque - eis que a<br />
“academia” desce, literalmente,<br />
da sua torre<br />
de marfim e coloca seus<br />
delica<strong>do</strong>s pés no chão vermelho da Ceilândia: era a “política de extensão”<br />
que, a partir <strong>do</strong> MOPUC (Movimento pró Universidade Popular da<br />
Ceilândia) instalou aqui o Decanato da UnB em 1988. Sobressaíram,<br />
então, professores e personalidades que inscreveram para sempre<br />
os seus nomes na memória viva da nossa cidade, como o cineasta<strong>do</strong>cumentarista<br />
VLADIMIR CARVALHO & o pioneiro Seu Ermínio<br />
“Incansável”; a alfabetiza<strong>do</strong>ra-freiriana MARIA LUÍZA ANGELIM &<br />
o pedreiro Seu Valdir; a jornalista-alternativa ARCELINA HELENA<br />
DIAS & o cartunista Broba; e a socióloga-assistente social SAFIRA<br />
BEZERRA AMMAM & e o cordelista Joaquim Bezerra da Nóbrega..<br />
CAMPUS SOCIOLÓGICO CANDANGO<br />
NÓS DA CEILÂNDIA - OS INCANSÁVEIS - CEPAFRE<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong><br />
Eu Sou Incansável<br />
Você sabe quem eu sou?<br />
Você sabe de onde venho<br />
Pra esta casa que tenho<br />
E ainda não posso pagar<br />
Este lugar de morar?<br />
Venho <strong>do</strong> Núcleo Bandeirante<br />
Este lugar ali adiante<br />
Vila Tenório, engana<strong>do</strong>!<br />
Dos amigos atraiçoa<strong>do</strong>s<br />
E aqui vim parar<br />
Venho da Vila <strong>do</strong> IAPI<br />
Ali não pude ficar<br />
O lugar é privilegia<strong>do</strong><br />
Eu sou assalaria<strong>do</strong><br />
Os ricos, posso envergonhar!<br />
Você sabe de onde venho?<br />
Com a filharada que tenho<br />
Lá eu não pude ficar<br />
Do Morro <strong>do</strong> Querosene<br />
Da Vila <strong>do</strong> Canavial<br />
Ali não pude ficar<br />
Para não envergonhar<br />
Vim <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Urubu<br />
Da rua <strong>do</strong> Padre Lino<br />
Ali eu era inquilino<br />
E aqui eu fui joga<strong>do</strong><br />
De livre vontade, esforça<strong>do</strong><br />
Aonde tenho o meu barraco<br />
Que ainda não pude pagar<br />
Você sabe de onde venho?<br />
Lá da Vila Esperança<br />
Que espera e não se cansa<br />
Por um lugar de morar<br />
Eu sou um incansável!<br />
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Posfácio<br />
ACLAP, Uma Sigla!<br />
Donzílio Luiz de Oliveira<br />
Como um bom poeta popular, eu também me tornei – desde<br />
muito ce<strong>do</strong> - um andarilho ou, como dizem alguns, um cidadão <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>. Conheci e convivi com grandes nomes da cultura brasileira<br />
e, em especial, com aqueles advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> Nordeste que tanto<br />
já contribuiu na construção dessa rica identidade nacional chamada<br />
Brasília.<br />
Outro privilégio que ostento <strong>do</strong> alto <strong>do</strong>s meus setenta-e-uns<br />
anos de vida & versos é a lembrança <strong>do</strong>s pontos de cantoria que foram<br />
se forman<strong>do</strong> em Brasília desde que aqui cheguei em 17 de janeiro de<br />
1960. Partin<strong>do</strong> da Vila Amauri, passan<strong>do</strong> pela Cidade Livre até fincar<br />
os pés na outrora “Feira <strong>do</strong> Pau Seco” da Ceilândia, e de lá conseguir<br />
chegar à almejada construção da Casa <strong>do</strong> Canta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, em 1986.<br />
Uma década depois, lá estava eu lançan<strong>do</strong> o primeiro <strong>do</strong>s meus<br />
seis livros que hoje tenho publica<strong>do</strong>s. Conheci, então, outras expressões<br />
culturais.<br />
Entretanto, foi na própria Ceilândia que me apareceu a chance<br />
de participar de um desafio diferente: juntamente a outros membros<br />
funda<strong>do</strong>res da Academia Ceilandense de Letras, iniciamos uma jornada<br />
histórica em 27 de agosto de 2005 numa escola <strong>do</strong> Setor ‘P’ Norte e, <strong>ao</strong><br />
longo de nove meses (que foi “o tempo de uma gestação”, como sempre<br />
nos lembra o Prof. Jevan) percorremos todas as comunidades que<br />
integram nossa cidade, até que, no dia 27 de março de 2006 chegamos<br />
<strong>ao</strong>s 35 componentes (uma vez que a Ceilândia estava completan<strong>do</strong> esta<br />
mesma idade). Porém, o curioso de tu<strong>do</strong> isso foi que, como nem to<strong>do</strong>s<br />
deste “grêmio literário” tinham livros edita<strong>do</strong>s, e muitos eram de outras<br />
linhagens artísticas, fomos obriga<strong>do</strong>s a inovar, e foi aí que me ocorreu<br />
a idéia <strong>do</strong> nome Academia Ceilandense de Letras & Artes Populares,<br />
o que deu origem à sigla “ACLAP” que, pelo senti<strong>do</strong> onomatopaico,<br />
quer dizer “palmas, aplauso”.<br />
Por fim, eu quero dizer que - muito mais satisfeito <strong>do</strong> que ter<br />
si<strong>do</strong> eleito o primeiro presidente desta “academia” - é poder conviver<br />
com artistas de diferentes vertentes em um mesmo ambiente sodalício:<br />
isto, prá mim, é que é cultura popular!<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Candanga</strong> da ACLAP<br />
foi composta em tipologia Original<br />
Garamond, corpo 12/14,4 Pt<br />
e impressa em papel AP 90g<br />
e capa em papel Suprema 240g<br />
na Art Letras Gráfica e Editora.<br />
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UMA “ACLAP” PARA TODOS<br />
...É o que merece cada um e cada uma das pessoas que participaram e/ou<br />
ajudaram na efetivação da nossa COLETÂNEAaclapCANDANGA, pois como<br />
o próprio nome já evidenciava, este livro viria não apenas para configurar<br />
entre mais um compêndio “acadêmico”, mas sim para aglutinar & produzir<br />
a mais bela página já escrita na memória viva das letras ceilandenses e<br />
candangas!<br />
Desde o último dia 27 de março até este 7 de setembro - por meio da suy<br />
generis Campanha de SOLIDARIEDADE Poética - conseguimos propagar,<br />
empolgar e entrelaçar <strong>ao</strong>s nossos ideais os mais representativos nomes da<br />
literatura candanga (ou <strong>ao</strong> menos, os mais voluntariamente “solidários”),<br />
simplesmente pelo intuito de fazer “o registro de nascimento desse nosso<br />
grêmio literário histórico & popular”.<br />
Acreditávamos que tínhamos escritos raros & inéditos de alto valor históricocultural,<br />
e também, que contávamos com os mais talentosos escritores<br />
locais: nos apegamos <strong>ao</strong> que tínhamos em mãos e fomos à luta. Não<br />
queremos nem pensar na cara – debochada - <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s “imortais” da<br />
suntuosa Academia Brasileira de Letras (assim como de seus séquilos locais)<br />
<strong>ao</strong> rirem da nossa esquálida “proposta de adesão”; e agora..., com que cara<br />
& fardão eles ficarão. Nós é que não temos tempo pra isso, porque estamos<br />
acaban<strong>do</strong> de vir <strong>ao</strong> mun<strong>do</strong> das letras, e temos muito o que escrever e fazer<br />
pelo mun<strong>do</strong> afora.<br />
Por tu<strong>do</strong> o que já foi feito e o infinito que nos aguarda, só podemos concluir<br />
dizen<strong>do</strong> <strong>ao</strong>s nossos novos companheiros e companheiras de jornada que<br />
“jamais os esqueceremos” e para sempre os agradeceremos.<br />
Por fim, então, pedimos - perfila<strong>do</strong>s de pé - para to<strong>do</strong>s nós...<br />
PALMAS !!!