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Oficina 5 - ProJovem Urbano

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ESTUDOS COMPLEMENTARES II<br />

LEITURAS LITERÁRIAS<br />

<strong>Oficina</strong> 5


Presidente da República<br />

Luiz Inácio Lula da Silva<br />

Vice-Presidente da República<br />

José Alencar Gomes da Silva<br />

Secretaria-Geral da Presidência da República<br />

Luiz Soares Dulci<br />

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome<br />

Patrus Ananias<br />

Ministério da Educação<br />

Fernando Haddad<br />

Ministério do Trabalho e Emprego<br />

Carlos Lupi<br />

Secretaria-Geral da Presidência da República<br />

Ministro de Estado Chefe Luiz Soares Dulci<br />

Secretaria-Executiva<br />

Secretário-Executivo Antonio Roberto Lambertucci<br />

Secretaria Nacional de Juventude<br />

Secretário Luiz Roberto de Souza Cury<br />

Coordenação Nacional do Programa Nacional<br />

de Inclusão de Jovens – <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Coordenadora Nacional Maria José Vieira Féres


Presidência da República<br />

Secretaria-Geral<br />

Secretaria Nacional de Juventude<br />

Coordenação Nacional do <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II<br />

LEITURAS LITERÁRIAS<br />

Programa Nacional de Inclusão de Jovens<br />

Brasília, DF<br />

2009


Copyright © 2009<br />

Permitida a reprodução sem fins lucrativos, parcial ou total, por qualquer meio, se citada a fonte<br />

e o sítio da Internet onde pode ser encontrado o original (www.projovemurbano.gov.br).<br />

Coleção <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Elaboração e Organização<br />

Equipe Técnica<br />

Coordenação Nacional do <strong>ProJovem</strong> <strong>Urbano</strong> – Assessoria Pedagógica<br />

Cláudia Veloso Torres Guimarães<br />

Luana Pimenta de Andrada<br />

Leila Taeko Jin Brandão<br />

Jazon Macêdo<br />

Organização<br />

Cláudia Veloso Torres Guimarães<br />

Eleuza Maria Rodrigues Barboza<br />

Fabiana Carneiro Martins Coelho<br />

Maria Umbelina Caiafa Salgado<br />

Luana Pimenta de Andrada<br />

Leila Taeko Jin Brandão<br />

Autores – Língua Portuguesa<br />

Sandra Maria Andrade del-Gaudio<br />

Terezinha Maria Barroso Santos<br />

Revisão<br />

Leandro Bertoletti Jardim<br />

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica<br />

Luiza Sarrapio


1<br />

1<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS<br />

<strong>Oficina</strong> 5<br />

LEITURAS LITERÁRIAS<br />

CRÔNICA – UMA FORMA<br />

DE CONTAR O MUNDO (Parte I)<br />

ANTECIPANDO SENTIDOS DO TEXTO<br />

O texto que será lido nos Encontros I e II é uma crônica. O termo crônica tem origem na<br />

palavra grega chronos, que significa tempo.<br />

O texto foi escrito por Fernando Sabino. Você já ouviu falar sobre esse autor? Quem foi<br />

Fernando Sabino? Você já leu algum de seus textos? Qual?<br />

LENDO TEXTOS<br />

Como já foi informado, o texto abaixo é uma crônica.<br />

RELEMBRANDO: Crônica é um gênero de texto, normalmente, curto, que registra<br />

fatos, sensações e impressões do cotidiano: cômicos, trágicos, comoventes.<br />

As crônicas são publicadas em jornais, revistas, em sites na internet<br />

e podem ser reunidas em livros, pelos seus autores, formando coletâneas.<br />

Leia-o, com atenção.<br />

A última crônica<br />

Fernando Sabino<br />

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade<br />

estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar<br />

com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia<br />

apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz<br />

mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer<br />

num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples<br />

espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu<br />

café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não<br />

sou poeta e estou sem assunto. Lanço, então, um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que<br />

merecem uma crônica.<br />

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore<br />

ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixase<br />

acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no<br />

vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos<br />

grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional<br />

da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.<br />

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o


garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe<br />

limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este<br />

ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para<br />

os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem<br />

do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo<br />

simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa,<br />

olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer?<br />

Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa<br />

de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A<br />

filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.<br />

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto<br />

ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha<br />

repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater<br />

palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns<br />

pra você, parabéns pra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha<br />

agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para<br />

ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai<br />

corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração.<br />

Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila,<br />

ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.<br />

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.<br />

CONSTRUINDO SENTIDOS PARA O TEXTO<br />

(Do livro “A Companheira de viagem”, Círculo do Livro, s/d).<br />

1. Na crônica apresentada, o narrador observa uma família em um bar. Esse narrador é o<br />

autor, Fernando Sabino, ou é um personagem da crônica? Justifique sua resposta.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

2. Marque a resposta correta: O narrador desta crônica escreve, então, na 1ª pessoa/3ª pessoa.<br />

Copie mais uma passagem que comprove sua resposta.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

3. Releia o trecho do 1º parágrafo transcrito abaixo, para responder ao que está sendo pedido:<br />

“A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café<br />

junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva<br />

me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais<br />

um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um”.<br />

2<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


a) Por que o narrador entrou em um botequim, quando ia para casa?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) O que ele temia? Por que temia?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

4. Releia:<br />

“Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina,<br />

quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, tornome<br />

simples espectador e perco a noção do essencial”.<br />

Quando o autor/narrador afirma que se torna um simples espectador, ‘ao perseguir fatos<br />

do cotidiano sobre os quais escrever’, o que é possível compreender sobre o papel de um<br />

cronista?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

5. Ainda no 1º parágrafo da crônica, encontramos informações sobre o conteúdo dos textos<br />

que o cronista costumava escrever. Assinale com (x) duas alternativas que citam características<br />

dos textos escritos por ele:<br />

( ) Narram fatos pitorescos do cotidiano das pessoas.<br />

( ) Tratam de fatos relacionados à convivência diária das pessoas.<br />

( ) São escritos em forma de versos, por serem inspirados em poemas famosos.<br />

6. Releia, para responder:<br />

“Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os<br />

assuntos que merecem uma crônica”.<br />

a) Os assuntos das crônicas vivem onde, em que lugar?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) Que assunto mereceu, afinal, uma crônica do autor?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

3<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


7. O texto pode ser dividido em três partes. Identifique os parágrafos que compõem cada<br />

uma dessas partes:<br />

1ª parte: ______ parágrafo(s) – Trata de reflexões do autor/narrador sobre a procura de um<br />

assunto para sua última crônica.<br />

2ª parte: ______, ______ e ______ parágrafos – Tratam das observações do autor/narrador sobre<br />

a comemoração de um aniversário feita por uma família, no bar onde estava o narrador.<br />

3ª parte: ______ parágrafo(s) – Trata da conclusão do autor/narrador, desejando que sua crônica<br />

ficasse tão pura quanto o sorriso que ele recebeu no bar.<br />

8. Releia:<br />

“Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto<br />

o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu<br />

último poema". Não sou poeta e estou sem assunto”.<br />

O verso citado acima pelo cronista é do poeta Manuel Bandeira e pertence ao texto O último<br />

poema. Foi publicado, pela primeira vez, no livro Libertinagem, em 1930. Leia-o abaixo:<br />

O último poema<br />

Assim eu quereria meu último poema<br />

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais<br />

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas<br />

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume<br />

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos<br />

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.<br />

a) O poeta deseja que seu último poema – o melhor, o poema ideal – tivesse que características?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) Complete: O poeta compara seu poema a: coisas simples, um soluço, _________,<br />

_________, ______________________.<br />

4<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


2<br />

CRÔNICA – UMA FORMA<br />

DE CONTAR O MUNDO (Parte II)<br />

ANTECIPANDO SENTIDOS DO TEXTO<br />

Faça uma nova leitura do texto A última crônica.<br />

CONSTRUINDO SENTIDOS PARA O TEXTO (continuação)<br />

1. Volte à definição de crônica, para responder:<br />

O fato narrado em A última crônica pode ser mais bem interpretado como:<br />

( ) divertido. ( ) trágico. ( ) comovente.<br />

2. Marque três opções corretas.<br />

Os membros da família retratados na crônica são apresentados, no geral, como:<br />

( ) apressados.<br />

( ) barulhentos.<br />

( ) compenetrados.<br />

( ) humildes.<br />

( ) carinhosos.<br />

3. Na crônica, um dos personagens é descrito, fisicamente, de forma mais completa do que<br />

os outros dois personagens. Qual deles é descrito assim? Como é descrito?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

4. Releia:<br />

“Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso”.<br />

O autor/narrador conclui seu texto com a afirmativa destacada no quadro. Responda:<br />

a) A que sorriso ele se refere?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) No dicionário, o termo pureza está assim definido:<br />

pureza sf. 1. Estado ou qualidade de puro. 2. Limpidez. 3. Inocência.<br />

No contexto da crônica, qual o significado de sorriso puro?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

5<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


REFLETINDO SOBRE OS USOS DA LÍNGUA<br />

1. Leia as frases:<br />

a) O pai da garotinha aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma.<br />

b) O pai da garotinha aponta no balcão um pedaço de bolo sobre a redoma.<br />

Os termos SOB e SOBRE são chamados de PREPOSIÇÕES. As preposições<br />

relacionam dois termos em uma frase, de tal forma que o sentido de<br />

um dos termos é explicado ou completado pelo sentido do outro.<br />

A preposição SOB indica posição de inferioridade no espaço.<br />

sob a redoma = debaixo da redoma<br />

A preposição SOBRE indica posição de superioridade no espaço.<br />

sobre a redoma = em cima da redoma<br />

Complete com as preposições sob ou sobre, ficando atento ao sentido das frases:<br />

a) O avião voa por _________ as nuvens, que parecem um tapete branco e macio.<br />

b) O garçom largou o bolo _________ a mesa de mármore do botequim.<br />

c) A mãe espeta as três velinhas _________ o bolo de aniversário.<br />

d) Os trabalhadores das minas procuram o ouro escondido _________ a pedra e o cascalho.<br />

e) _________ a ponte, as águas do riacho correm, poluídas.<br />

2. Fique atento:<br />

O tempo presente do indicativo dos verbos expressa<br />

um fato ocorrido no momento em que se fala.<br />

Copie três frases em que o verbo aparece empregado no presente do indicativo:<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

3. Leia:<br />

Explique a diferença de sentido entre:<br />

a) “Na realidade, estou adiando o momento de escrever”.<br />

E<br />

Na realidade, adio o momento de escrever.<br />

______________________________________________________________________________<br />

______________________________________________________________________________<br />

b) “A mulher está olhando para ela com ternura (...)”<br />

E<br />

A mulher olha para ela com ternura.<br />

______________________________________________________________________________<br />

______________________________________________________________________________<br />

6<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


4. Leia:<br />

A mãe espeta caprichosamente as velinhas no bolo.<br />

Caprichosamente é um advérbio, que exprime uma circunstância de modo, explicando<br />

como a ação de espetar as velinhas aconteceu.<br />

Faça como o modelo acima:<br />

a) O pai contou o dinheiro que, discretamente, retirou do bolso.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) O garçom ouve o pedido do homem concentradamente.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

c) Ternamente, a mãe e o pai olham para a garotinha.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

PRODUZINDO TEXTOS<br />

Imagine que você deseja, como o autor, escrever uma crônica. Para isso, põe-se a observar<br />

os lugares, as pessoas, os acontecimentos do cotidiano, tentando encontrar um assunto<br />

que possa resultar em uma crônica.<br />

Observe, de longe, o encontro, em uma praça, de um jovem casal de namorados. Que<br />

ações você poderia descrever?<br />

OU: no interior de um ônibus, duas amigas que enviam mensagens pelo celular uma para<br />

a outra.<br />

OU: em uma piscina, uma mãe e duas crianças se divertindo na água.<br />

OU: um pai ensinando seu filho a andar de bicicleta.<br />

OU: um homem sozinho, numa mesa de bar, tomando uma cerveja.<br />

OU: outra cena qualquer do cotidiano.<br />

Descreva a cena que você escolher, usando os verbos no presente do indicativo (caso<br />

seja necessário, releia o 2º, 3º e 4º parágrafos da crônica, em que as cenas são descritas<br />

pelo autor/narrador).<br />

7<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


3<br />

HISTÓRIA DE DETETIVE – UMA FORMA DE<br />

NARRAR E DESVENDAR O MUNDO (Parte I)<br />

ANTECIPANDO SENTIDOS DO TEXTO<br />

Você gosta de histórias de detetives?<br />

Conhece alguma história desse gênero?<br />

Onde é possível ler ou conhecer histórias de detetives?<br />

O que não pode faltar em uma boa história de detetive?<br />

LENDO O TEXTO<br />

Texto I<br />

O texto que você vai ler é uma história de detetive, escrita por Marcos Rey. Foi transcrita<br />

do livro “Para gostar de ler: histórias de detetive”. São Paulo: Ática, 1992, p.86-93, e encontra-se<br />

disponível em: http://www.cenpec.org.br/memoria/uploads/F293_066-05-00009%20<br />

M%F3dulo%204%20-%20Para%20Ler%20nas%20F%E9rias.pdf.<br />

História de detetive é um gênero de texto literário em que deve haver um<br />

detetive, um criminoso e um assassinato. O criminoso é um personagem<br />

da história e deixa pistas de suas ações. O detetive segue essas pistas e, a<br />

partir delas, cria hipóteses para explicar o crime. No decorrer da história, as<br />

hipóteses são testadas pelo detetive, que as confirma ou as reformula, até<br />

explicar o crime e chegar ao criminoso.<br />

O último cuba-libre (1ª parte)<br />

8<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA<br />

Marcos Rey<br />

Durante o dia Adão Flores era um gordo como qualquer<br />

outro. Sua atividade e seu charme começavam depois das<br />

22 horas e às vezes até mais tarde. Então era visto levando<br />

seus 120 quilos às boates, bistrôs e inferninhos da cidade,<br />

profissionalmente, pois não só gostava da noite como também<br />

vivia dela. Empresário de modestos espetáculos, era a<br />

salvação, a última esperança de cantores, mágicos, humoristas<br />

e dançarinos decadentes. Dizia que se dedicava a esses<br />

náufragos por puro espírito de solidariedade, pilhéria capaz<br />

de comover até os que não tivessem espírito boêmio. Alguns<br />

desses artistas haviam tido a sua vez no passado, pouco ou muito prestígio, até serem abandonados pelo<br />

público. Adão não abandonava ninguém, talvez devido à tão propalada bondade dos obesos.<br />

Com o tempo, Adão Flores adquiriu outra profissão, paralela à de empresário da noite, a de detetive<br />

particular, mas sem placa na porta e mesmo sem porta, atividade restrita apenas a cenários noturnos e<br />

pessoas conhecidas. Apesar de agir esporadicamente e circunscrito a poucos quarteirões, Adão Flores<br />

começou a ganhar certa fama graças a um jornalista, Lauro de Freitas, que começava a fazer dele personagem<br />

freqüente em sua coluna, a ponto de muita gente supor tratar-se de ficção e mais nada.


Adão Flores apareceu no “Yes Club”, cumprindo seu itinerário habitual. Rara era a noite em que não comparecia<br />

ao tradicional estabelecimento da Bianca, onde seus casos tinham grande repercussão, e onde a seu ver<br />

se reuniam as mais prestativas ninfetas. Mas nem teve tempo de sentar-se. Uma mulher, nervosíssima, que já<br />

o aguardava, aproximou-se dele um tanto ofegante.<br />

– Lembra-se de mim, Adão?<br />

– Estela Lins?! Como vai o malandrão do seu marido? Anda sumido!<br />

– É por causa dele que estou aqui. Adão, você pode me acompanhar? Meu carro está na porta. É um<br />

caso grave.<br />

– O que aconteceu?<br />

– Direi tudo no carro.<br />

Júlio Barrios, mexicano, cantor de boleros, fora um dos contratados de Adão que mais lhe deram<br />

dinheiro nos quase dez anos em que estivera sob contrato. Seu valor era contestado por muitos, mas<br />

até esses concordavam que o bigodudo era o mais personalíssimo intérprete de “Perfume de Gardênia”,<br />

“Total”, “Hoy” e “Somos”. Quando o público se cansou dele, Flores levou-o às churrascarias, salões da<br />

periferia e cidades do interior, etapas do declínio de qualquer cantor. Júlio não se abateu totalmente, pois,<br />

enquanto tivesse uma mulher apaixonada a seu lado, podia levar a vida.<br />

Estela dirigia atabalhoadamente um fusca em estado de desmaterialização.<br />

– Disse que Júlio está assustado?<br />

– Disse apavorado.<br />

– Por quê?<br />

– Telefonemas ameaçadores.<br />

– Quem seria a pessoa?<br />

– Ele diz que não sabe.<br />

– Mas você acha que sim.<br />

– Pode ser algum traficante de drogas.<br />

– Ora, Júlio nunca mexeu com isso. Trabalhamos juntos anos a fio e nunca o vi cheirar nada suspeito.<br />

Sua obsessão sempre foi outra...<br />

O que o empresário-detetive imaginava era a ameaça de algum marido ou amante ciumento, daí Júlio<br />

não revelar nada a Estela, sua terceira ou quarta mulher desde que chegara ao Brasil. Apesar da decadência<br />

artística, Júlio continuava bem-sucedido nessa modalidade esportiva. Adão conhecera diversas favoritas<br />

do sultão mexicano, todas apaixonadas e dispostas a dividir com ele o que faturassem. Aliás, odiava<br />

mulheres ociosas e sempre lhes permitia a liberdade de ir e vir – ao trabalho. Assim, Estela era esteticista<br />

com boa clientela; Glória, a antecessora, possuía um sebo de livros espíritas, e Marusca, massagista, com<br />

técnica própria, cuidava da coluna de uma legião de velhos generosos.<br />

– Júlio sabe que veio me buscar?<br />

– Sabe. Disse que quer tomar um cuba-libre com você, como nos velhos tempos.<br />

– Espero que ele não acredite muito na coluna do Lauro de Freitas. Não sou tão bom detetive assim.<br />

– Estamos chegando.<br />

Estela estacionou o carro diante de um pequeno edifício de três andares. O casal morava no primeiro,<br />

cujas luzes estavam acesas. Passaram por um portão de ferro, atravessaram um pequeno corredor<br />

e chegaram à porta do apartamento. A mulher abriu a porta, acendeu a luz e indicou um velho divã ao<br />

empresário. Foi se dirigindo ao interior do apartamento, anunciando:<br />

– Adão está aqui, querido!<br />

O empresário-detetive largou todo o seu peso numa mirrada poltrona, que protestou, rangendo. Não<br />

conhecia aquele apartamento. Júlio, sempre que mudava de mulher, mudava também de endereço. Glória,<br />

por exemplo, fora ao supermercado e ao chegar em casa não o encontrara mais. Marusca não vira<br />

9<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


mais nem sombra dele ao voltar do cabeleireiro. Júlio explicava aos amigos que seu coração sensível não<br />

suportava despedidas. Alguns o elogiavam por isso.<br />

– Quem é o senhor? – Adão ouviu de repente a voz de Estela, vinda do quarto, em tom de pavor. – O<br />

que faz aqui?<br />

Adão levantou-se: algo de anormal acontecia.<br />

Novamente a voz de Estela, agora num grito:<br />

– Juuuulio!<br />

Adão deu uns passos enquanto Estela aparecia à porta do quarto, tentando dizer alguma coisa. O<br />

detetive entrou precipitadamente. A primeira imagem que viu foi Júlio sobre a cama, ensangüentado.<br />

Estela apontou para a janela aberta.<br />

– Ele fugiu!<br />

Adão correu para a sala e Estela abriu a porta do apartamento. Os dois precipitaram-se para a rua,<br />

ela na frente. Logo adiante havia uma esquina, que o criminoso já devia ter dobrado. Estela segurou Adão<br />

pelo braço.<br />

– Vamos socorrer Júlio.<br />

Regressaram ao apartamento. A lâmina toda de uma tesoura comprida estava enterrada nas costas<br />

de Júlio. O detetive apalpou-lhe o peito. O coração já não batia nem no ritmo lento do bolero.<br />

Enquanto a polícia não chegava, Adão dava uma olhada no quarto. Estela, em prantos, aguardava a<br />

presença do cunhado, um de seus únicos parentes. Flores notou que algumas gavetas de uma cômoda<br />

estavam abertas. O criminoso estivera procurando alguma coisa. No peitoril da janela, um pouco de<br />

terra, certamente deixada pelos sapatos do homem que saltara. E sobre o criado-mudo um copo, o último<br />

cuba-libre que Júlio não terminara de beber. Sem gelo. Quem tomaria um cuba sem gelo num calor<br />

daquele? Foi ao encontro de Estela, na sala, e a achou dobrada sobre um divã.<br />

– Gostaria de conversar com o zelador.<br />

– O prédio não tem zelador, apenas uma faxineira no período da manhã.<br />

– Acha que poderia reconhecer o homem?<br />

– Nunca mais o esquecerei – garantiu Estela. – Era baixo, troncudo, e tinha os olhos puxados.<br />

– Já o vira antes?<br />

– Não.<br />

Adão retornou ao quarto para dar mais uma espiada. Dali a instantes a polícia chegou: um delegado<br />

e dois tiras.<br />

– Não mexi em nada – disse-lhes Flores. – E cuidado com o peitoril da janela. Há terra de sapato nele.<br />

Foi por onde o criminoso fugiu.<br />

– O senhor o viu?<br />

– Não, mas dona Estela poderá ajudar a fazer o retrato falado dele. Ela o encontrou no quarto de<br />

Júlio.<br />

O delegado encarou o detetive.<br />

– Você não é um tal Adão Flores, metido a Sherlock?<br />

– Sou esse tal, mas vim aqui como amigo, chamado por Estela. Júlio tinha recebido uns telefonemas<br />

ameaçadores. (...)<br />

AGUARDEM A SEGUNDA PARTE NO PRÓXIMO ENCONTRO!!!<br />

CONSTRUINDO SENTIDOS PARA O TEXTO<br />

1. Adão Flores, o personagem principal, é apresentado ao leitor, no início do texto. A respeito<br />

desse personagem, é possível afirmar:<br />

10<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


( ) Era um homem obeso, de 120 quilos.<br />

( ) Em algumas noites, atuava como cantor de boleros no “Yes Club”.<br />

( ) Exercia duas profissões: era empresário da noite e detetive particular.<br />

( ) Gostava de viver e trabalhar à noite, após as 22 horas.<br />

( ) Como detetive, atendia os clientes em um escritório na cidade.<br />

2. Quem era Lauro de Freitas e qual sua relação com Adão Flores?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

3. Quem conta a história “O último cuba-libre” é:<br />

( ) Marcos Rey.<br />

( ) Adão Flores.<br />

( ) o jornalista.<br />

( ) um narrador de 3ª pessoa.<br />

4. Que acontecimento dá início à ação nesta história de detetive?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

5. A partir das informações do texto, responda: quem era Estela Lins?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

6. Sobre Julio Barrios, de acordo com o texto, só NÃO é possível afirmar que:<br />

( ) tinha sido um artista de sucesso.<br />

( ) estava envolvido com traficantes de drogas.<br />

( ) fora contratado de Adão Flores durante quase 10 anos.<br />

( ) atuava em churrascarias, nas periferias e em pequenas cidades.<br />

( ) já havia se casado algumas vezes.<br />

7. Duas hipóteses são levantadas para explicar os telefonemas anônimos para Júlio Barrios:<br />

uma, por Estela Lins e outra, por Adão Flores.<br />

a) Identifique cada uma dessas hipóteses:<br />

Hipótese de Estela Lins: ____________________________________________________________.<br />

Hipótese de Adão Flores: ___________________________________________________________.<br />

11<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


) Considerando a personalidade de Júlio, qual das duas explicações seria mais adequada?<br />

Por quê?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

REFLETINDO SOBRE USOS DA LÍNGUA<br />

1. Leia o fragmento abaixo, no qual o narrador apresenta o personagem principal, Adão<br />

Flores:<br />

(...) Adão Flores era um gordo como qualquer outro. Sua atividade e seu charme<br />

começavam depois das 22 horas e às vezes até mais tarde. Então era visto<br />

levando seus 120 quilos às boates, bistrôs e inferninhos da cidade, profissionalmente,<br />

pois não só gostava da noite como também vivia dela. Empresário de<br />

modestos espetáculos, era a salvação, a última esperança de cantores, mágicos,<br />

humoristas e dançarinos decadentes. (...) Adão não abandonava ninguém, talvez<br />

devido à tão propalada bondade dos obesos.<br />

a) Qual o tempo verbal usado para a descrição do personagem?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

b) O narrador também se ocupa com a descrição de outro personagem: Júlio Barros. Volte<br />

ao texto e anote no quadro abaixo informações que podem ser usadas para descrevê-lo:<br />

Físico<br />

Nacionalidade<br />

Comportamento<br />

Atividade<br />

Descrevendo Júlio Barrios<br />

c) Usando as informações do quadro acima, e acrescentando outras de que você se lembre,<br />

escreva um pequeno parágrafo, descrevendo o personagem Júlio. Fique atento ao uso<br />

adequado do tempo verbal: pretérito imperfeito do indicativo.<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

12<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


4<br />

HISTÓRIA DE DETETIVE – UMA FORMA DE<br />

NARRAR E DESVENDAR O MUNDO (Parte II)<br />

ANTECIPANDO SENTIDOS DO TEXTO<br />

Leia, novamente, a primeira parte do texto "O último cuba-libre<br />

LENDO O TEXTO<br />

O último cuba-libre (2ª parte)<br />

Marcos Rey<br />

(...)<br />

Adão deixou os tiras trabalharem e saiu do quarto. O criminoso saltara da janela<br />

para um corredor cimentado que rodeava o edifício. Certamente ele tocara a campainha<br />

e entrara pela porta. Antes, porém, pisara em algum jardim, como atestava a terra do<br />

peitoril. Havia jardim à entrada do edifício?<br />

Um dos tiras apareceu à porta com uma pergunta.<br />

– O senhor deixou uma ponta de cigarro no cinzeiro? Há duas lá, mas só uma é da marca que Júlio<br />

fumava.<br />

– Só fumo em reuniões ecológicas. O criminoso deve ter tido tempo para fumar um cigarro. Só pode<br />

ter sido ele, pois Estela não fuma.<br />

Adão permaneceu no apartamento até a chegada da Polícia Técnica, quando Estela Lins, no bagaço,<br />

foi levada pelo cunhado, que, antes de sair, declarou com todas as letras:<br />

– Júlio bem que mereceu isso. Um vagabundo, um explorador de mulheres! A polícia não devia perder<br />

tempo procurando o assassino.<br />

Já era madrugada quando Flores retornou ao “Yes Club”. Estava cansado, que ninguém é de ferro.<br />

Contou a todos o que sucedera, recebendo em troca uma informação. Júlio Barrios aparecera<br />

por lá, naquela semana, muito feliz. Uma gravadora resolvera lançar um elepê com seus maiores<br />

sucessos, “Recuerdos”, no qual depositava muitas esperanças. Planejava inclusive pintar os cabelos<br />

para renovar o visual. Estava animadíssimo.<br />

No dia seguinte, Adão Flores compareceu à polícia para prestar depoimento. Estela, por sua vez, estava<br />

cooperando. O retrato falado do criminoso já estava pronto e sairia em todos os jornais. O delegado,<br />

porém, já manifestava uma suspeita.<br />

– Não gostei da cara daquele cunhado. Estela pode até estar tentando protegê-lo.<br />

– Não creio – replicou Adão. – Era apaixonada pelo cantor.<br />

– Mas amores passam – comentou o delegado. – Como certas modas musicais...<br />

Adão Flores foi ao jornal onde trabalhava Lauro de Freitas.<br />

– Quantos quilos você pesa, Lauro?<br />

– Acha que estou engordando?<br />

– Que mal há nisso? Os gordos são belos.<br />

– Setenta quilos.<br />

– Então, venha.<br />

– Onde?<br />

– Você tem o mesmo peso do homem que matou Barrios, segundo declaração de Estela na delegacia.<br />

– E isso me torna um suspeito?<br />

– Vamos ao apartamento.<br />

13<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


À porta do edifício, Adão identificou-se a um guarda, que vigiava o lugar desde o assassinato. Não foi<br />

fácil convencê-lo a deixar que o detetive e o jornalista entrassem no apartamento.<br />

– Estamos aqui. E agora, Adão?<br />

– Você vai fazer uma coisa, Lauro: saltar do peitoril da janela para o corredor.<br />

Abriram a janela e o jornalista espiou.<br />

– Altinho. Posso sentar no peitoril?<br />

– Não, suba nele e salte.<br />

– E se o pára-quedas não abrir?<br />

– Não salte ainda. Vou para a sala. Aguarde minhas ordens, então salte e corra até a entrada do<br />

edifício.<br />

Adão voltou para a sala, deu as instruções e ficou atento. Ouviu o baque dos pés de Lauro no cimento<br />

e, em seguida, seus passos rumo ao portão. Pouco depois, Lauro voltou à sala.<br />

– O que quer mais. Sei plantar bananeira.<br />

– Como atleta amador você não pode ser pago. Mas vou lhe fornecer uma bela história para sua<br />

indigna coluna. Não tire os olhos de mim. Agora vamos à gravadora Metrópole.<br />

– Por quê?<br />

– Porque quero pôr na cadeia a pessoa que matou o melhor intérprete de “Perfume de Gardênia”.<br />

Quem fez isso é meu inimigo pessoal. Não se apaga assim um parágrafo da História.<br />

Adão e Lauro foram à gravadora, onde o detetive conversou com o diretor-artístico. Sim, Barrios ia gravar<br />

mesmo um elepê. Esperavam vendê-lo para uns cem mil saudosistas. E o homem fez mais, forneceu<br />

certo endereço que Flores considerou importantíssimo.<br />

Quando os jornais revelaram o assassino de Júlio Barrios, a melhor reportagem certamente foi a de<br />

Lauro de Freitas, por dentro de tudo. Adão, claro, ficou muito orgulhoso com a literatura que o amigo<br />

deitou sobre ele. O gordo era um saco de vaidade. Naquele dia saiu cedo à rua para receber os louros. O<br />

porteiro de seu hotel de duas estrelas foi o primeiro a cumprimentá-lo com uma reverência. Logo depois,<br />

gravava uma entrevista para o rádio e uma declaração para a tevê.<br />

Mas o local onde seus casos mais repercutiam era mesmo o “Yes Club”, sempre ouvidos com degustada<br />

atenção por aquela senhora de cabelos prateados e piteira longa, a Bianca, e pelo grupo de freqüentadores<br />

mais íntimos. Aí, sim, Adão assumia por inteiro o physique du rôle de detetive internacional.<br />

Na véspera, antes que os jornais publicassem a solução do enigma, Adão esteve lá para contar tudo em<br />

primeira mão.<br />

– Em que momento você começou a puxar o fio da meada? – perguntou a dona da casa.<br />

– Sou um homem do visual, da imagem – disse Flores. – Aquele cuba-libre sem gelo me chamou logo a<br />

atenção. Júlio gostava de colocar verdadeiros icebergs nas suas bebidas. Como não havia mais gelo e o copo<br />

voltara à temperatura ambiente, deduzi que o crime tinha acontecido há algum tempo. Uma hora, talvez...<br />

– Não me parece argumento suficiente para levar a conclusões – disse um homem, provavelmente um<br />

desses invejosos que estão em toda parte.<br />

– Certamente não foi minha única dedução. Havia aquela tesoura, arma ocasional demais para servir<br />

a um criminoso determinado, que fazia ameaças telefônicas.<br />

O mesmo freguês, que se recusava a bater palmas para Adão, voltou a obstar:<br />

– Usar armas da casa é um meio para implicar inocentes. Os romances policiais sempre relatam<br />

coisas assim.<br />

– Uma tesoura não oferece segurança – replicou Flores. – A não ser que o criminoso tivesse sido um<br />

alfaiate...<br />

Bianca tinha outra pergunta a fazer:<br />

– Houve roubo? As gavetas estavam todas abertas, não?<br />

14<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA


– Elas não foram simplesmente abertas, algumas estavam vazias. E sabe quem as esvaziou? O próprio<br />

Júlio.<br />

– O que havia nas gavetas? – perguntaram. – Tóxico?<br />

– Roupas, simplesmente roupas. Encontrei-as em uma pequena mala. Mas me deixem prosseguir. O<br />

que consolidou minhas suspeitas foi uma questão de acústica.<br />

– Disse acústica?<br />

– Disse. Aí o nosso Lauro ajudou muito. Seu peso equivale ao do homem visto por Estela. Fui com<br />

Lauro ao apartamento de Júlio e pedi que saltasse da janela e depois corresse até o portão. Eu me plantei<br />

na sala, como na noite do crime. E ouvi perfeitamente o baque e depois os passos de seus pés no<br />

cimento. Como naquela noite eu não ouvira nada?<br />

– Então você teve a certeza – adiantou-se Bianca.<br />

– Faltavam ainda os motivos. Na gravadora fiquei sabendo que Barrios andava aparecendo na companhia<br />

de uma jovem, seu novo amor. E obtive o endereço dela, pois era para ela que telefonavam quando<br />

precisavam contactá-lo. Fui procurá-la. Estava muito assustada com tudo, mas acabou se abrindo. Ela e<br />

Barrios iam viver juntos. Apenas faltava-lhe fazer a mala.<br />

– E a confissão veio fácil? – perguntou Bianca, equilibrada em sua piteira.<br />

– Aconteceu na própria polícia onde fora olhar alguns suspeitos na passarela. Pretexto. O delegado<br />

já aceitara meu ponto de vista. Eu próprio lhe contei minha versão: Estela surpreendera Júlio quando<br />

jogava roupas na mala para sumir. Espremeu-o. Ele confessou. Ia deixá-la por outra mulher. O amor<br />

é algo inesperado e o amor é fraco. Ela não gostou da letra desse bolero. Júlio vivia praticamente à<br />

custa dela. Viu a tesoura sobre a mesa. Golpeou-o pelas costas. Depois do choque, pensou em livrar<br />

a cara. Havia terra numa floreira. Levou um pouco para o peitoril da janela. Deixou as gavetas abertas<br />

como estavam. E serviu um cuba-libre ao defunto. Antes ou depois se lembrou de Adão Flores. Ele<br />

tinha mania de bancar o detetive. Júlio sempre se ria disso. Decidiu ir buscá-lo. Se o encontrasse, a<br />

encenação seria perfeita. Quanto à segunda ponta de cigarro, ela mesma esclareceu que a apanhara<br />

no “Yes”, enquanto esperava pelo detetive. Queria que ficasse bem claro que outra pessoa estivera<br />

com Júlio. Enquanto isso, o gelo do último cuba-libre derretia, pois o cadáver não podia renová-lo.<br />

– Ela agiu como uma perfeita atriz – comentou Bianca. – E que grande talento!<br />

Adão Flores concordou:<br />

– Apenas participei como ator convidado.<br />

(Transcrito de “Para gostar de ler: histórias de detetive”. São Paulo: Ática, 1992, p.86-93).<br />

CONSTRUINDO SENTIDOS PARA O TEXTO<br />

1. Em uma história de detetive, o assassino usa de vários despistes para desviar a atenção<br />

sobre si, como suspeito do crime. A princípio, nem Adão Flores, nem nós, leitores, desconfiaríamos<br />

de Estela.<br />

Retomando as informações da 1ª e 2ª partes do conto, enumere alguns dos despistes usados,<br />

brilhantemente, por Estela, para nos enganar:<br />

( ) A própria Estela vai procurar o detetive, Adão Flores, no “Yes Club”, e o leva ao local do<br />

crime.<br />

( ) Estela inventa que Júlio vinha sofrendo ameaças por telefone.<br />

( ) Após sua chegada ao apartamento, Estela simula uma invasão no quarto por um criminoso<br />

que acabara de matar Júlio.<br />

( ) Estela cooperou com a polícia, ajudando-a a fazer o retrato falado do suposto assassino.<br />

15<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


2. Duas informações recebidas por Adão Flores, após o crime, foram fundamentais para que<br />

ele começasse a suspeitar de alguém. Quais? Por quê?<br />

Informação importante Por que foi importante?<br />

Desmente a afirmação de Estela de que Júlio<br />

andava preocupado nos últimos dias.<br />

O endereço era da residência de uma mulher,<br />

que não Estela, o que o levou a concluir<br />

que Júlio já estava interessado em<br />

outra mulher.<br />

3. Que sentimentos levaram Estela a matar Júlio Barrios?<br />

__________________________________________________________________________________<br />

__________________________________________________________________________________<br />

4. Uma boa história de detetive traz, no final, um resumo de como as pistas foram seguidas<br />

pelo detetive, até chegar ao verdadeiro culpado.<br />

a) Em que parte do conto essa explicação começa a ser dada ao leitor?<br />

Começa em: ______________________________________________________________________<br />

e termina em ______________________________________________________________________.<br />

b) Para desvendar um crime, o detetive deve juntar fatos, hipóteses e versões verdadeiras<br />

dos fatos, e, então, tirar suas conclusões. Preencha o quadro abaixo considerando esses<br />

elementos da investigação:<br />

Fato Hipótese Versão verdadeira<br />

Dois tocos de cigarro<br />

no cinzeiro.<br />

O parapeito da janela<br />

estava sujo de terra.<br />

O copo deveria estar<br />

ainda com gelo.<br />

O assassino teria matado<br />

para roubar.<br />

16<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA<br />

Um dos tocos de cigarro<br />

foi recolhido pela própria<br />

Estela no Yes Club, e colocado<br />

despistadamente<br />

no cinzeiro.


REFLETINDO SOBRE USOS DA LÍNGUA<br />

1. Releia a coluna Hipótese que compõe o quadro abaixo: Observe os verbos em negrito:<br />

Hipótese<br />

Haveria duas pessoas no apartamento, enquanto Estela fora chamar Adão.<br />

O suposto assassino teria pulado a janela com os sapatos sujos de terra.<br />

O copo deveria estar ainda com gelo.<br />

O assassino teria matado para roubar.<br />

Os verbos em negrito trazem a idéia de que não há total certeza do fato anunciado;<br />

ou seja, a informação é uma HIPÓTESE, uma POSSIBILIDADE. O tempo verbal<br />

usado para expressar essa idéia é o _________________________________.<br />

Considerando a trama narrada no conto de Marcos Rey, complete as frases abaixo, usando<br />

o verbo no tempo: Futuro do Pretérito do Indicativo.<br />

a) Estela não __________________ Júlio, se ele fosse um amante fiel. (verbo: ter matado)<br />

b) Se Adão Flores não tivesse ido à gravadora investigar, jamais ______________ o endereço<br />

da nova amante de Júlio. (verbo: ter)<br />

c) Se Júlio não tivesse arrumado nova amante, ______________ com Estela por mais um<br />

tempo. (verbo: estar)<br />

d) Estela não podia imaginar que Adão ______________ toda a sua trama. (verbo: descobrir)<br />

PRODUZINDO TEXTO<br />

Abaixo, estão dois enigmas, retirados do site http://sitededicas.uol.com.br/enigma_20e.htm.<br />

Juntamente com seu colega, imaginem-se um detetive e seu ajudante e... mãos à obra<br />

para desvendarem os mistérios! Mostrem ter capacidade de observar pistas e concluir. O<br />

culpado precisa ser descoberto e mandado para a cadeia, já!<br />

a) Como bons detetives, anotem pistas, levantem hipóteses e apresentem uma versão possível<br />

para os fatos. Orientem-se pelo quadro da Atividade 2 acima. Escrevam, em seguida,<br />

uma pequena história de detetive, aproveitando as informações.<br />

b) Como bons detetives, anotem pistas, levantem hipóteses e apresentem uma versão possível<br />

para os fatos. Orientem-se pelo quadro da Atividade 2 acima. Escrevam, em seguida,<br />

uma pequena história de detetive, aproveitando as informações.<br />

17<br />

OFICINA 5 – LEITURAS LITERÁRIAS


18<br />

ESTUDOS COMPLEMENTARES II – LÍNGUA PORTUGUESA

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