VJ JUN 09.p65 - Visão Judaica
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Jonathan Sacks *<br />
odos os judeus que são<br />
conscientes de suas<br />
identidades como judeus<br />
estão impregnados<br />
de história" - escreveu<br />
Sir Isaiah Berlin. "Eles<br />
têm lembranças mais longas, estão<br />
cônscios de uma continuidade mais<br />
longa como comunidade que qualquer<br />
outra que tenha sobrevivido".<br />
Ele estava certo. O Judaísmo é<br />
uma religião de memória. O verbo zachor,<br />
lembrar, aparece nada menos<br />
que 169 vezes na Torá. "Lembrem-se<br />
que vocês eram estrangeiros no Egito."<br />
"Lembrem-se dos dias de antigamente."<br />
"Lembrem-se do sétimo dia<br />
para mantê-lo sagrado."<br />
A memória,<br />
para os judeus, é<br />
uma obrigação religiosa.<br />
Especialmente<br />
nesta época do<br />
ano. Nós a chamamos<br />
de "três semanas",<br />
que nos conduz<br />
ao dia mais<br />
triste no Calendário<br />
Judaico, Nove<br />
de Av, aniversário<br />
da destruição dos<br />
dois Templos, o primeiro por Nabucodonosor,<br />
rei da Babilônia em 586<br />
a.e.c. e o segundo por Tito, em 70 e.c.<br />
Os judeus jamais esqueceram<br />
aquelas tragédias. Até hoje, em<br />
todo casamento, quebramos um<br />
copo em sua memória. Durante as<br />
três semanas, não temos celebrações.<br />
Em Nove de Av passamos o dia<br />
jejuando, sentados no chão ou em<br />
assentos baixos como enlutados,<br />
lendo o Livro das Lamentações. É<br />
um dia de profundo luto coletivo.<br />
Dois mil e quinhentos anos é um<br />
longo tempo para recordar. Muitas<br />
vezes me perguntam - geralmente em<br />
Para ser livre, é preciso<br />
abandonar o ódio.<br />
Transforme-o numa<br />
bênção, não numa<br />
maldição; numa fonte<br />
de esperança, não em<br />
humilhação.<br />
O mapa da vida<br />
conexão com o Holocausto - é realmente<br />
certo recordar? Não deveria<br />
haver uma moratória no luto? A maioria<br />
dos conflitos étnicos no mundo<br />
não é alimentada por lembranças de<br />
antigas injustiças? O mundo não seria<br />
mais pacífico se de vez em quando<br />
esquecêssemos?<br />
Sim e não. Depende de como nos<br />
lembramos. Meu falecido predecessor<br />
Lord Jacobovits costumava enfatizar<br />
um fato fascinante. Três vezes no Livro<br />
de Bereshit D-us é mencionado<br />
como tendo Se lembrado. "D-us Se lembrou<br />
de Nôach" e tirou-o da Arca para<br />
a terra firme. "D-us Se lembrou de<br />
Avraham" e salvou seu sobrinho Lot da<br />
destruição das cidades da planície.<br />
"D-us Se lembrou de Raquel" e deu um<br />
filho a ela. Quando D-us Se lembra, Ele<br />
o faz para o futuro e<br />
para a vida.<br />
De fato, embora<br />
as duas sejam confundidas<br />
com frequência,<br />
memória é<br />
diferente de história.<br />
A história é sobre<br />
eventos ocorridos<br />
há muito tempo<br />
com outra pessoa.<br />
Memória é a minha<br />
história. Trata de<br />
onde eu vim e de<br />
qual narrativa eu faço parte. A história<br />
responde à pergunta: "O que aconteceu?"<br />
A memória responde a pergunta.<br />
"Quem, então, sou eu?" É sobre<br />
identidade e a conexão entre as<br />
gerações. No caso da memória coletiva,<br />
tudo depende de como relatamos<br />
a história.<br />
Não nos lembramos para buscar<br />
vingança. "Não odeiem os egípcios" -<br />
disse Moshê - "pois vocês foram estrangeiros<br />
na terra deles." Para ser<br />
livre, é preciso abandonar o ódio.<br />
Transforme-o numa bênção, não<br />
numa maldição; numa fonte de esperança,<br />
não em humilhação.<br />
Até hoje, os sobreviventes do Holocausto<br />
que conheço passam o tempo<br />
partilhando suas lembranças com<br />
os jovens, não por vingança, mas o<br />
oposto: para ensinar tolerância e o<br />
valor da vida. Cientes das lições de<br />
Bereshit, nós também tentamos nos<br />
lembrar para o futuro e para a vida.<br />
Na cultura apressada de hoje,<br />
desprezamos atos de recordação. A<br />
memória dos computadores aumentou,<br />
enquanto que a nossa encolheu.<br />
Nossos filhos não memorizam mais<br />
trechos de poesia. Seu conhecimento<br />
de história é muito vago. Nosso senso<br />
de espaço se expandiu. Nosso senso<br />
de tempo encolheu. Sociedades,<br />
como indivíduos, podem sofrer do<br />
Mal de Alzheimer.<br />
Isso não pode estar certo. Um dos<br />
maiores presentes que podemos dar<br />
aos nossos filhos é o conhecimento<br />
<strong>VJ</strong> INDICA<br />
O Pequeno Traidor<br />
Título original: The Little Traitor<br />
Ficha Técnica<br />
Gênero: Drama<br />
País de origem: EUA/Israel<br />
Duração: 89 minutos<br />
Ano de Lançamento: 2007<br />
DVD colorido<br />
Estúdio/Distribuição: Universal<br />
Pictures<br />
Classificação etária: 12 anos<br />
Direção: Lynn Roth<br />
Roteiro: Amos Oz e Lynn Roth<br />
Elenco<br />
Alfred Molina (Dunlop), Ido Port (Proffi),<br />
Jake Barker (Chaim Zosoma), Theodore<br />
Bikel Oficial), Levana Finkelstein<br />
(Tykocinski), Rami Heuberger (Pai de<br />
Proffi), Boris Reinis (Pai de Chita) e Lior<br />
Sasson (Sr. Hochberg).<br />
VISÃO JUDAICA junho de 2009 Tamuz / Av 5769<br />
de onde nós viemos, as coisas pelas<br />
quais lutamos, e por quê. Nenhuma<br />
das coisas que valorizamos - liberdade,<br />
dignidade humana, justiça - foi<br />
conquistada sem conflito. Nem pode<br />
ser sustentada sem uma vigilância<br />
consciente. Uma sociedade sem memória<br />
é como uma jornada sem mapa.<br />
É muito fácil se perder.<br />
Quanto a mim, prezo a riqueza de<br />
saber que minha vida é um capítulo<br />
num livro iniciado pelos meus ancestrais<br />
há muito tempo, ao qual acrescentarei<br />
minha contribuição antes de<br />
entregá-lo aos meus filhos. A vida<br />
tem significado quando é parte de<br />
uma história, e quanto maior a história,<br />
mais nossos horizontes se expandem.<br />
Além disso, as coisas lembradas<br />
não morrem. É o mais próximo<br />
que podemos chegar da imortalidade<br />
na terra.<br />
FILME<br />
Sinopse<br />
Baseado no romance de Amos Oz "Pantera no<br />
Porão". Em 1947, meses antes da criação do<br />
Estado de Israel, tudo o que Proffi Leibowitz<br />
(Ido Port) deseja é que o exército britânico saia<br />
de sua terra. Numa noite, ao soar o toque de<br />
recolher, o menino é pego pelo sargento Dunlop.<br />
Proffi tinha a intenção de espionar o bunker<br />
inglês. O militar, ao invés de prendê-lo, decide<br />
deixá-lo em casa. Proffi fica surpreso ao perceber<br />
que Dunlop tem grande curiosidade pela<br />
cultura local. Quando os amigos de Proffi descobrem<br />
que ele visita o inimigo, o denunciam.<br />
O garoto é levado a um tribunal para ser julgado<br />
como traidor.<br />
7<br />
* Jonathan Sacks<br />
é professor e<br />
rabino-chefe da<br />
Inglaterra.