VJ JUN 09.p65 - Visão Judaica
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Nahum Sirotsky *<br />
ão se conhecem todos<br />
os detalhes do plano<br />
de paz de Obama para<br />
o conflito israelensepalestino.<br />
Então recordo<br />
que, único jornalista<br />
brasileiro (era meu titulo que escondia<br />
a ignorância de meus 20 anos) cobrindo<br />
as Nações Unidas, de 45/46,<br />
lembro os argumentos para aprovação<br />
da Resolução da Partilha do que<br />
se chamava Palestina entre um país<br />
árabe e outro judeu. A Palestina que<br />
equivalia a cerca de um terço da província<br />
otomana do mesmo nome da<br />
qual o governo inglês, que recebera<br />
um mandato sobre a região da Liga<br />
das Nações no fim da primeira grande<br />
guerra, de 1914/18, precursora das<br />
Nações Unidas, destacara cerca de<br />
dois terços para implantar o Emirado<br />
(Principado) da Transjordânia, hoje<br />
Jordânia. Abdala, um dos dois irmãos<br />
beduínos que haviam apoiado o mitológico<br />
Lawrence Arábia numa revolta<br />
contra os turcos, fora feito Emir.<br />
Seu irmão mais velho, Faiçal, recebera<br />
o trono da Babilônia, hoje Iraque.<br />
Um magnífico filme com a história da<br />
revolta foi feito e é emocionante,<br />
Lawrence da Arábia.<br />
Os irmãos tiveram morte violenta.<br />
Abdala foi assassinado por ára-<br />
Pilar Rahola,<br />
que recebeu<br />
o prêmio<br />
"Senador Ángel<br />
Pulido 2009",<br />
outorgado<br />
anualmente pela Federação das Comunidades<br />
<strong>Judaica</strong>s na Espanha, declarou:<br />
"não estamos num país no qual exista<br />
um problema de religiões", mas que o<br />
principal problema para os judeus "são<br />
alguns de nossos colegas de esquerda<br />
e do jornalismo único".<br />
A jornalista, que denunciou os atos<br />
de antissemitismo que vêm sendo produzidos<br />
na Espanha, e dos quais ela tem<br />
sido vítima por dizer que se trata de um<br />
problema complexo, indicou que intelectuais<br />
e gente importante "tornam-se<br />
imbecis quando falam de Israel".<br />
"Sobre Israel não se debate, se impõe<br />
um pensamento único; repetem-se<br />
Obama não é Aladim<br />
be fanático após as preces de sexta-feira,<br />
dia santo muçulmano, na<br />
saída da mesquita da al Aksa, em<br />
Jerusalém. Faiçal foi massacrado<br />
com toda a sua família em revolução<br />
contra a monarquia. Ambos eram<br />
Husseni, descendentes do Profeta<br />
Maomé, filhos do derrubado rei de<br />
Medina pela tribo dos Saud que hoje<br />
reina na Arábia Saudita de Meca,<br />
Medina e ricas reservas de petróleo.<br />
Trinta e três foi o número anunciado<br />
pelo presidente da Segunda Assembléia<br />
Geral das Nações Unidas, o<br />
gaúcho Oswaldo Aranha, considerando<br />
aprovada a resolução da partilha.<br />
Foi há tanto tempo que às vezes me<br />
sinto pré-histórico. A decisão resultou<br />
de anos de tentativas de pacificar<br />
árabes e judeus. A coexistência<br />
parecia impossível. No Oriente Médio<br />
todos os países são habitados e<br />
divididos entre minorias com tranqüilidade<br />
imposta por autoritários.<br />
A língua brasileira fez do Brasil um<br />
só país. Não é o caso do Oriente Médio<br />
dividido entre religiões, seitas,<br />
etnias, línguas. A partilha logo resultou<br />
em guerras. Passados 61 anos Israel<br />
aumentou de 500 mil a cerca de<br />
seis milhões de judeus e milhão e 500<br />
mil árabes, todos cidadãos israelenses.<br />
Mas de forma geral cada um vive<br />
em seu canto. Nos centros urbanos<br />
árabes elevado percentual não fala o<br />
hebraico ou um hebraico precário.<br />
Uma minoria de judeus fala árabe.<br />
Árabes são isentos de certas obrigações<br />
dos judeus como serviço militar.<br />
Existe um estado de muitas culturas<br />
que não é um estado multicultural<br />
como, por exemplo. Estados Unidos.<br />
Há milhões de refugiados palestinos<br />
nos chamados territórios ocupados<br />
pelos judeus na guerra de 1967. Em<br />
Gaza, mais de milhão e meio. Palestinos<br />
sem direitos políticos espalharam-se<br />
e vivem em países árabes<br />
como estrangeiros. A fórmula de dois<br />
países na mesma terra é a única solução<br />
visível e possível. Os palestinos<br />
são um povo mais aberto à modernidade<br />
do que os seus irmãos árabes.<br />
Com apoio econômico e técnico<br />
poderão criar um estado de grande<br />
potencial de desenvolvimento.<br />
No Oriente Médio nasceram as<br />
três religiões monoteístas, os Mandamentos,<br />
a Bíblia, o Corão, e obras<br />
literárias insuperáveis como as Histórias<br />
das Mil e Uma Noites. Mas<br />
Obama pode ter a visão, mas não tem<br />
poderes mágicos. E presença e orador<br />
irresistíveis, mas não basta. Já<br />
investiu trilhões para salvar a economia<br />
das conseqüências de cínica vigarice<br />
de grandes empresários. Mostrou<br />
a mesma coragem que o elevou<br />
de senador a presidente. Mas ainda<br />
não se pode dizer que venceu.<br />
VISÃO JUDAICA junho de 2009 Tamuz / Av 5769<br />
Obama mandou George Mitchell<br />
à região para dizer que quer uma solução<br />
do conflito israelense-palestino<br />
nos próximos dois anos. Mitchell<br />
conhece bem a questão que tentou<br />
resolver em 2.002. A vontade do Presidente<br />
na basta. Digamos que, para<br />
começar, opte-se por tentar traçar as<br />
linhas de fronteira do país que quer<br />
ser estado, Palestina, mas não tem a<br />
infra-estrutura burocrática de governo,<br />
o povo não é unido. Não é provável<br />
Israel aceitar recuar para as linhas<br />
de há 42 anos e os riscos de ter um<br />
país islâmico vizinho e inimigo. Compartilhar<br />
a soberania da cidade antiga<br />
de Jerusalém com um Hamas que<br />
não reconheceu o seu direto de existir<br />
numa região?<br />
Não duvido que o governo israelense<br />
atual confirme apoio à formula<br />
de dois estados.<br />
Não há alternativa. O chefe do<br />
governo deve discursar domingo e<br />
talvez faça isto. Mas é um longo caminho<br />
cheio de obstáculos a serem<br />
superados. Dois anos? Chega a ser<br />
piada. Há milhares de anos que os judeus<br />
rezam "paz para nós a todo o<br />
povo". "Shabat Shalom", Sábado de<br />
Paz, desejam uns aos outros no Shabat,<br />
o sétimo dia de criação, e como<br />
escrito de descanso de D-us.<br />
Mas Obama não é Aladim.<br />
Pilar Rahola: "Intelectuais e gente importante<br />
tornam-se imbecis quando falam de Israel"<br />
os clichês e cai-se num maniqueísmo<br />
de bons e maus que não ajuda ninguém.<br />
É a derrota do jornalismo espanhol".<br />
Pilar Rahola teve palavras de agradecimento<br />
pelo "orgulho e o alívio que<br />
supõe ver que alguém te quer", mas<br />
também o prêmio - acrescentou - traz<br />
uma enorme responsabilidade que te<br />
leva a implicar-se mais, a comprometer-se<br />
mais "em cair de cara com a palavra<br />
nas trincheiras" nas quais ainda<br />
há muito o quem fazer.<br />
A premiada dirigiu estas palavras ao<br />
ministro de Justiça, Francisco Caamaño,<br />
que estava entre os assistentes ao ato,<br />
e que havia expressado o propósito do<br />
Governo de "manter-se vigilante e beligerante"<br />
contra qualquer reaparição<br />
do antissemitismo.<br />
"Nenhuma sociedade que se considere<br />
decente, disse Caamaño, pode esquecer<br />
o Holocausto. Tolerância zero com o<br />
antissemitismo", afirmou categórico, em<br />
respostas à intervenção de Jacobo Israel,<br />
presidente da Federação de Comunidades<br />
<strong>Judaica</strong>s, que denunciara o crescimento<br />
de atos de antissemitismo na Espanha.<br />
Caamaño referiu-se à reforma da Lei<br />
da Liberdade Religiosa em trâmite, reforma<br />
que busca, explicou, estabelecer<br />
as regras de convivência e a melhor<br />
política de igualdade e de equiparação<br />
em relação às confissões religiosas,<br />
respeitando as diferenças.<br />
Jacobo Israel, que abriu o ato, assinalou<br />
que a comunidade judaica espanhola<br />
"está com a legitimidade do Estado<br />
de Israel, independentemente de qual<br />
seja seu Governo", e citou casos recentes<br />
de antissemitismo na Espanha por<br />
causa da recente operação israelense em<br />
Gaza, e enfatizou que "queremos a paz<br />
com todos os vizinhos, a paz para todos".<br />
Avaliou as atuações do governo es-<br />
15<br />
* Nahum Sirotsky<br />
é jornalista,<br />
correspondente<br />
da RBS e do<br />
Último Segundo/IG<br />
em Israel. A<br />
publicação<br />
exclusiva desta<br />
coluna tem a<br />
autorização do<br />
autor.<br />
panhol em torno da liberdade religiosa<br />
e o reconhecimento das minorias, assim<br />
como o trabalho que a respeito vem<br />
sendo realizado pela Fundação Pluralismo<br />
e Convivência, e agregou que "necessitamos<br />
que o Estado avance na<br />
neutralidade religiosa e que se resolvam<br />
alguns problemas".<br />
E citou a respeito a atenção religiosa<br />
nos quartéis, a necessidade de terrenos<br />
públicos para a construção de sinagogas,<br />
o avanço do antissemitismo,<br />
a conservação do patrimônio e um sistema<br />
de financiamento estável.<br />
Durante o evento, Enrique Múgica,<br />
que recebeu o prêmio "Senador Ángel<br />
Pulido" no ano passado, apresentou Pilar<br />
Rahola, enquanto que o embaixador<br />
de Israel na Espanha, Raphael Schtz<br />
expressou seu reconhecimento e amizade<br />
à homenageada, por sua defesa<br />
do Estado de Israel.