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Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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Vacuidade significa interdependência e vice-versa.<br />

De acor<strong>do</strong> com Nagarjuna, não há fenômeno que não surja de mo<strong>do</strong> interdependente; portanto, não há<br />

fenômeno que não seja vazio.<br />

Isto não significa que as coisas não existem, mas sim que elas surgem de mo<strong>do</strong> interdependente, sen<strong>do</strong> impossível encontrar qualquer<br />

essência dura<strong>do</strong>ura ou auto-suficiente.<br />

A vacuidade não é algo distante, separada ou acima das coisas — na verdade, é a verdadeira natureza<br />

de tu<strong>do</strong>. Se as coisas possuíssem uma existência inerente, o universo não seria dinâmico, mas sim seria<br />

estático. Do mesmo mo<strong>do</strong> que o espaço abarca as estrelas, planetas e cometas, a vacuidade é o que<br />

permite que as aparências de to<strong>do</strong>s os fenômenos venham a ser através da interdependência.<br />

Como verdade absoluta (paramartha-satya), a vacuidade é inexplicável, indescritível ou inefável,<br />

além <strong>do</strong>s conceitos convencionais.<br />

Segun<strong>do</strong> a filosofia Madhyamaka, existem <strong>do</strong>is tipos de ignorância.<br />

A primeira é adquirida através de influências culturais, religiosas e educacionais. Devi<strong>do</strong> a essas<br />

influências, passamos a a<strong>do</strong>tar certos conceitos e <strong>do</strong>gmas sem avaliar se são corretos ou não — por<br />

exemplo, as visões eternalistas e niilistas. Este tipo de ignorância pode ser supera<strong>do</strong> através da<br />

compreensão intelectual que aponta para a vacuidade; porém, esta compreensão não é a vacuidade em<br />

si.<br />

O segun<strong>do</strong> tipo de ignorância, mais sutil, é inato — a crença consciente ou inconsciente de que os<br />

fenômenos têm existência inerente. Este tipo de ignorância é mais difícil de superar porque só pode<br />

ser elimina<strong>do</strong> através da experiência direta da natureza vazia <strong>do</strong>s fenômenos.<br />

Na antiga Índia, os filósofos deterministas, os he<strong>do</strong>nistas e os materialistas ou mundanos<br />

subestimavam a natureza da realidade e acreditavam apenas na existência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> material. Segun<strong>do</strong><br />

eles, os seres são compostos por cinco elementos (terra, água, fogo, ar e espaço) que se dissolveriam<br />

na hora da morte, sem deixar qualquer continuidade de consciência. Por isso, rejeitavam a teoria <strong>do</strong><br />

karma, não mantinham qualquer tipo de moralidade e se entregavam aos prazeres sensuais. Esta é uma<br />

das duas visões errôneas ou extremas— o niilismo porque nega a causalidade e a interdependência. Ao<br />

se apegarem aos prazeres temporários, os niilistas não conseguem encontrar um esta<strong>do</strong> de liberação<br />

dura<strong>do</strong>ura.<br />

A outra visão errônea ou extrema é o eternalismo sustenta<strong>do</strong> por textos hindus chama<strong>do</strong>s Upanishads.<br />

Os eternalistas superestimam a realidade e acreditam na existência intrínseca de um atman ou "eu<br />

superior", que seria permanente, inalterável, imutável e eterno, idêntico à natureza pura de todas as<br />

coisas <strong>do</strong> universo — o brahman ou absoluto. Em algumas escolas hindus, o atman é descrito de<br />

forma pessoal, enquanto outras o consideram algo impessoal. De forma semelhante, alguns filósofos<br />

hindus postulam o brahman de forma teísta, enquanto outros o consideram como um princípio<br />

abstrato, metafísico. Os eternalistas costumam se engajar em yogas ascéticas a fim de "purificar o<br />

espírito", mas acabam trazen<strong>do</strong> mais sofrimento e não a liberação. Esta visão absolutista é errônea<br />

porque atribui existência dura<strong>do</strong>ura a coisas que de fato não possuem uma essência independente.<br />

Segun<strong>do</strong> a filosofia budista de Nagarjuna, a visão correta é o caminho <strong>do</strong> meio, que não cai nos<br />

pólos extremos <strong>do</strong> niilismo e <strong>do</strong> eternalismo. Este caminho <strong>do</strong> meio enfatiza que devemos ver as<br />

coisas como elas realmente são, e não como elas parecem ser.<br />

O apego surge porque os seres acreditam que as coisas são permanentes e que podem trazer felicidade<br />

dura<strong>do</strong>ura. Ao compreender a natureza vazia <strong>do</strong>s fenômenos, é possível superar esse apego e alcançar<br />

a paz suprema da liberação (sânsc. nirvana). O nirvana incondiciona<strong>do</strong> e o samsara condiciona<strong>do</strong>,<br />

apesar de diferentes em seu nível relativo, são igualmente vazios no nível absoluto.<br />

Simplesmente proferir as palavras "o açúcar é <strong>do</strong>ce" não produz a experiência, mas se for degusta<strong>do</strong>,<br />

descobre-se que o seu sabor é <strong>do</strong>ce. Do mesmo mo<strong>do</strong>, simplesmente proferir a palavra "vacuidade"<br />

não produz a experiência, mas através da meditação o seu sabor é experiencia<strong>do</strong>.<br />

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