Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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mesma (svabhava) e só pode existir quan<strong>do</strong> os sentimentos e as percepções são puros e diretos.<br />
Quan<strong>do</strong> visto através <strong>do</strong> véu da conceitualização, o mesmo objeto só pode ser uma imagem da<br />
realidade ou uma imagem pura como um sonho ou um devaneio. Embora o objeto de uma sensação<br />
pura seja a realidade em si mesma, quan<strong>do</strong> essa realidade é vista através de conceitos e pensamentos,<br />
ela já está distorcida. A realidade em si mesma é um fluxo de vida, sempre em movimento. As<br />
imagens da realidade produzidas pelos conceitos são estruturas concretas compostas pelos conceitos de<br />
espaço-tempo, nascimento-morte, produção-destruição, existência-não existência.<br />
Manas: é um tipo de intuição, a sensação [errônea] de que há um "eu" separa<strong>do</strong> que pode existir<br />
independentemente <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Essa intuição é produzida pelo hábito e pela ignorância. Sua<br />
natureza ilusória foi construída pelo vijnana, e ela por sua vez tornou-se uma base para vijnana. O<br />
objetivo dessa intuição [errônea] é um fragmento distorci<strong>do</strong> de alaya que ela considera como um "eu",<br />
composto de um corpo e uma alma. É claro que ele nunca é a realidade em si mesma, e sim apenas<br />
uma representação da realidade. Em seu papel como um "eu", bem como consciência <strong>do</strong> "eu", Manas<br />
é considerada o obstáculo fundamental à penetração da realidade. A contemplação executada por<br />
vijnana é capaz de remover as percepções errôneas ocasionadas por Manas.<br />
Estes ensinamentos da escola Vijnanavada nos são transmiti<strong>do</strong>s para serem úteis em nossa prática de<br />
meditação, não como descrições da realidade.<br />
O processo <strong>do</strong> karma depende da consciência depósito, que guardaria as marcas ou impressões<br />
kármicas das ações passadas. A consciência depósito seria neutra, o substrato fundamental das outras<br />
consciências. As delusões surgiriam a partir das interações das três últimas consciências (mental,<br />
egocêntrica e depósito). Todas as experiências <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s passariam pela consciência egocêntrica.<br />
Suas marcas kármicas ficariam plantadas na consciência depósito, reforçan<strong>do</strong> os hábitos deludi<strong>do</strong>s da<br />
mente dualista. Mais tarde, essas marcas amadureceriam e influenciariam a maneira como os seres<br />
percebem a realidade externa através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s — como se ela existisse de forma totalmente<br />
independente da mente.<br />
A filosofia Yogachara enfatiza a prática de meditação porque ela permite enxergar as interações das consciências, transformar a<br />
consciência depósito e reconhecer que o mun<strong>do</strong> exterior é em grande parte cria<strong>do</strong> pela própria mente.<br />
Foram Asanga e Vasubandhu os que desenvolveram o conceito de consciência cósmica (alayavijnana),<br />
esboça<strong>do</strong> em alguns sutras mahayanistas, elaboran<strong>do</strong> a <strong>do</strong>utrina de que o real, como se<br />
apresenta para nós, nada mais é <strong>do</strong> que uma construção de nossa consciência. Eles não se limitaram a<br />
levar em conta os aspectos conscientes da mente, mas consideram também seus aspectos<br />
inconscientes. Quase <strong>do</strong>is mil anos antes de Freud, descobriram os mecanismos <strong>do</strong> inconsciente. Sua<br />
idéia de uma matriz cósmica, impessoal e inconsciente de todas as manifestações psíquicas (alayavijnana)<br />
é uma antecipação <strong>do</strong> conceito de inconsciente coletivo desenvolvi<strong>do</strong> por Jung. O mesmo<br />
conceito também foi desenvolvi<strong>do</strong> no importantíssimo Discurso sobre o Despertar da Fé no Mahayana,<br />
<strong>do</strong> poeta e filósofo Ashvaghosha, que compara a relação entre o ego limita<strong>do</strong> e impermanente e o<br />
Inconsciente Universal ilimita<strong>do</strong> com a relação existente entre as ondas e o oceano.<br />
Segun<strong>do</strong> a escola Yogachara, os fenômenos (dharma) <strong>do</strong> samsara e <strong>do</strong> nirvana podem ser<br />
classifica<strong>do</strong>s em três naturezas.<br />
1- Elas não são completamente diferentes,<br />
2- São vazias por natureza e<br />
3- Só surgem em relação à mente deludida. Às vezes, os fenômenos são classifica<strong>do</strong>s como se<br />
pertencessem a uma única dessas três naturezas; outras vezes, é dito que to<strong>do</strong>s os fenômenos<br />
possuem cada uma destas três naturezas:<br />
Natureza imaginada ou imputada:<br />
Os fenômenos conceitualiza<strong>do</strong>s, concepções mentais errôneas e desprovidas de características auto<br />
defini<strong>do</strong>ras, como os objetos externos percebi<strong>do</strong>s como se fossem separa<strong>do</strong>s da mente. Alguns são<br />
fantasia<strong>do</strong>s, mera imaginação sem qualquer base; outros são rótulos atribuí<strong>do</strong>s a algum tipo de<br />
entidade, tecnicamente chamada "base de designação" ou "base de imputação". É uma natureza<br />
conceitualmente construída que imputa conceitos irreais, especialmente de uma auto-identidade<br />
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