Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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- É pois, o eixo o carro? - Não reverendo Senhor! - São, pois, as rodas, a armação, a aste, as correias? - Não, reverendo Senhor! - Então a combinação da vara, eixo, rodas, armação, aste, etc. é o carro. - Não reverendo Senhor! - Então está este “carro” fora da combinação que antes te nomeie? - Não reverendo Senhor! - Então por mais que pergunte ainda não pude descobrir carro algum. Este “carro” é tão só um mero som, porém qual é o verdadeiro carro? - Vossa Majestade tem dito uma mentira, tem falado com falsidade! Não há na realidade carro! - Vossa Majestade é o maior rei de toda Índia, de quem tens medo, já que não falais a verdade! E exclamou: Escutem agora vós, 500 gregos e 80000 monges, este rei Milinda me fala que tem vindo num carro. Porém quando lhe pedi que me explique o que é um carro, ele não pode estabelecer a sua existência, como é possível aprovar isto?... -Pelo qual os 500 gregos ovacionaram o Venerável Nagasena e falaram para o Rei Milinda: “Agora que o rei saia desta se puder!” Porém o rei Milinda falou a Nagasena: “Não tenho falado com falsidade, porque és em dependência da vara, do eixo, das rodas, da armação, da aste, etc. que tem lugar a denominação chamada “carro”, esta designação, este termo conceitual, que é uma apelação corrente e um mero nome”. - Vossa majestade tem falado bem acerca do carro. E justamente o mesmo comigo. Em dependência das trinta e duas partes do corpo e dos cinco Skandas tem lugar esta denominação “Nagasena”, esta denominação, este termo conceitual, uma apelação corrente e um mero nome. Porém numa última instância, esta pessoa não pode ser apreendida. Compreendendo este ponto fundamental, e aplicando esta parábola e seu mesmo raciocínio diante da procura do eu, ou do “ego” poderemos compreender que na realidade não poderemos encontrar algum tipo de entidade que responda exatamente ao nome de “eu”, “ego”, “um” etc. Pode-se concluir que este “eu” é em realidade vacuidade, e dizer que está desprovido ou vazio de existência própria. Porém se não há um “eu” o que é que atinge o estado de Buda? Na realidade nada é atingido, o que acontece é que o próprio espírito é purificado dos impedimentos passageiros que o recobrem, despertando a sua própria e verdadeira natureza, a natureza de Buddha. Assim, ao afirmar a vacuidade da existência própria dos fenômenos não significa que estes sejam inexistentes, como elefantes voadores. Também está errado afirmar que são “nada”. Afirmar a vacuidade dos fenômenos é reconhecer que em nível último estão desprovidos de realidade própria, ainda que quando o observamos num nível relativo da consciência eles apareçam sob diferentes formas. O Ensinamento Sobre a Causalidade Quando falamos sobre o princípio da causação, devemos compreender as características básicas dessa doutrina. É apresentada com bastante clareza no texto de Asanga chamado Compêndio do Conhecimento -Abhidharma Samucchaya-. Ele declara que a causalidade tem três características principais. Primeiro, não há aceitação de um criador autônomo. Não há idéia de um desígnio porque o Buddha declara que as causas existiam e, por isso, se seguiram os efeitos ou frutos. Portanto, é preciso compreender puramente em termos de condicionalidade porque não há a aceitação de um agente autônomo independente ou criador. A segunda característica, a de que qualquer coisa que é uma causa deve ter uma natureza transitória; deve ser impermanente. Se for permanente, eterna e inalterada, então não pode ter a capacidade de produzir qualquer coisa. A terceira característica é a de que deve haver uma correspondência, um relacionamento singular entre causa e efeito. 78
Essas são as três características da teoria da causalidade universal, ou princípio da causalidade. A filosofia Yogachara enumera oito consciências. As seis primeiras cognições ou consciências (vijnana) são: 1- A consciência visual, 2- A consciência auditiva, 3- A consciência olfativa, 4- A consciência gustativa, 5- A consciência tátil 6- A consciência mental (mano-vijnana). As consciências visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil não são conceituais e estão voltadas para o exterior. A consciência mental é conceitual e incluem os pensamentos, sentimentos, impressões e imagens, sendo a mera apreensão que pode ligar o exterior com o interior, tendo como objeto uma imagem mental dos objetos percebidos pelos sentidos. Esta cognição mental da ocorrência sutil de pensamento é voltada tanto para o exterior quanto para o interior. 7- A consciência ideacional, aflita, perturbada ou egocêntrica (manas), a raiz da ilusão de uma auto-identidade, a origem do falso "eu" ou "ego", a fonte do dualismo entre "sujeito" e "objeto", "eu" e "outro", "gostar" e "não gostar". Ela forma as cognições que aceitam ou rejeitam os objetos dos sentidos, fixando a idéia de uma auto-identidade sobre a 8- Oitava consciência (alaya-vijnana), a consciência depósito — e fazendo surgira as consciências perturbadas pelo desejo, pela raiva e pela delusão. Esta consciência perturbada é voltada para o interior e é muitas vezes comparada ao inconsciente da psicologia ocidental e ao subconsciente contínuo da vida apresentado pela tradição Theravada. Esta consciência é comparada à superfície de um espelho, que não alcança objetos externos mas forma a base para a cognição acontecer. O karma é acumulado na consciência depósito através da consciência perturbada. O armazém ou depósito (sânsc. alaya), não-conceitual e natural, seria a base para todas as consciências funcionarem, como em um momento de descanso mental em que não há exame ou cognição clara. Obs. Mais tarde, alguns textos passaram a usar este termo para ser referir a diferentes conceitos que não devem ser confundidos com a definição da filosofia Yogachara. Por exemplo, alguns textos usam o termo depósito para se referir à: 1- Verdadeira natureza dos fenômenos (dharmata), 2- Talidade (tathata) 3- Natureza búddhica (tathagatagarbha, sugatagarbha). Na filosofia Madhyamika, há referências à vacuidade (shunyata) como sendo alaya, o depósito ou base de tudo. Na escola Sakya do Budismo tibetano e no Guhyasamaja Tantra, o termo alaya refere-se ao continuum causal, a base de tudo, a mente inata fundamental de clara luz. Na escola Nyingma, alaya não se refere à natureza da mente, mas sim a um estado mental neutro e sem lucidez. A consciência mental pode ser dividida em dois aspetos: 1- A mente perturbada [manas], que se fixa sobre o depósito [alaya] pensando "Eu sou", fazendo a cognição perturbada; 79
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- Não reveren<strong>do</strong> Senhor!<br />
- São, pois, as rodas, a armação, a aste, as correias?<br />
- Não, reveren<strong>do</strong> Senhor!<br />
- Então a combinação da vara, eixo, rodas, armação, aste, etc. é o carro.<br />
- Não reveren<strong>do</strong> Senhor!<br />
- Então está este “carro” fora da combinação que antes te nomeie?<br />
- Não reveren<strong>do</strong> Senhor!<br />
- Então por mais que pergunte ainda não pude descobrir carro algum. Este “carro” é tão só um mero<br />
som, porém qual é o verdadeiro carro?<br />
- Vossa Majestade tem dito uma mentira, tem fala<strong>do</strong> com falsidade! Não há na realidade carro!<br />
- Vossa Majestade é o maior rei de toda Índia, de quem tens me<strong>do</strong>, já que não falais a verdade! E<br />
exclamou: Escutem agora vós, 500 gregos e 80000 monges, este rei Milinda me fala que tem vin<strong>do</strong><br />
num carro. Porém quan<strong>do</strong> lhe pedi que me explique o que é um carro, ele não pode estabelecer a sua<br />
existência, como é possível aprovar isto?...<br />
-Pelo qual os 500 gregos ovacionaram o Venerável Nagasena e falaram para o Rei Milinda: “Agora<br />
que o rei saia desta se puder!”<br />
Porém o rei Milinda falou a Nagasena: “Não tenho fala<strong>do</strong> com falsidade, porque és em dependência da<br />
vara, <strong>do</strong> eixo, das rodas, da armação, da aste, etc. que tem lugar a denominação chamada “carro”, esta<br />
designação, este termo conceitual, que é uma apelação corrente e um mero nome”.<br />
- Vossa majestade tem fala<strong>do</strong> bem acerca <strong>do</strong> carro. E justamente o mesmo comigo. Em dependência<br />
das trinta e duas partes <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong>s cinco Skandas tem lugar esta denominação “Nagasena”, esta<br />
denominação, este termo conceitual, uma apelação corrente e um mero nome. Porém numa última<br />
instância, esta pessoa não pode ser apreendida.<br />
Compreenden<strong>do</strong> este ponto fundamental, e aplican<strong>do</strong> esta parábola e seu mesmo raciocínio diante da<br />
procura <strong>do</strong> eu, ou <strong>do</strong> “ego” poderemos compreender que na realidade não poderemos encontrar algum<br />
tipo de entidade que responda exatamente ao nome de “eu”, “ego”, “um” etc. Pode-se concluir que este<br />
“eu” é em realidade vacuidade, e dizer que está desprovi<strong>do</strong> ou vazio de existência própria.<br />
Porém se não há um “eu” o que é que atinge o esta<strong>do</strong> de Buda?<br />
Na realidade nada é atingi<strong>do</strong>, o que acontece é que o próprio espírito é purifica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s impedimentos<br />
passageiros que o recobrem, despertan<strong>do</strong> a sua própria e verdadeira natureza, a natureza de Buddha.<br />
Assim, ao afirmar a vacuidade da existência própria <strong>do</strong>s fenômenos não significa que estes sejam<br />
inexistentes, como elefantes voa<strong>do</strong>res. Também está erra<strong>do</strong> afirmar que são “nada”.<br />
Afirmar a vacuidade <strong>do</strong>s fenômenos é reconhecer que em nível último estão desprovi<strong>do</strong>s de realidade<br />
própria, ainda que quan<strong>do</strong> o observamos num nível relativo da consciência eles apareçam sob<br />
diferentes formas.<br />
O Ensinamento Sobre a Causalidade<br />
Quan<strong>do</strong> falamos sobre o princípio da causação, devemos compreender as características básicas dessa<br />
<strong>do</strong>utrina. É apresentada com bastante clareza no texto de Asanga chama<strong>do</strong> Compêndio <strong>do</strong><br />
Conhecimento -Abhidharma Samucchaya-.<br />
Ele declara que a causalidade tem três características principais.<br />
Primeiro, não há aceitação de um cria<strong>do</strong>r autônomo. Não há idéia de um desígnio porque o Buddha<br />
declara que as causas existiam e, por isso, se seguiram os efeitos ou frutos. Portanto, é preciso<br />
compreender puramente em termos de condicionalidade porque não há a aceitação de um agente<br />
autônomo independente ou cria<strong>do</strong>r.<br />
A segunda característica, a de que qualquer coisa que é uma causa deve ter uma natureza transitória;<br />
deve ser impermanente. Se for permanente, eterna e inalterada, então não pode ter a capacidade de<br />
produzir qualquer coisa.<br />
A terceira característica é a de que deve haver uma correspondência, um relacionamento singular<br />
entre causa e efeito.<br />
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