Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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Temos outro problema, tem muitas pessoas que sonham que estão acordan<strong>do</strong>, toman<strong>do</strong> o café da<br />
manha e vão trabalhar, para depois perceber que ainda estão na cama, e que na realidade estavam<br />
sonhan<strong>do</strong>.<br />
Assim aconteceu a um velho mendigo; ele desejava ter tanto um dinheiro para comprar um pouco de<br />
comida que sonhou que encontrava uma carteira embaixo de uma poça de água congelada. No seu<br />
sonho, se perguntou como faria para retirar esta carteira e assim ele decidiu urinar para derreter o gelo.<br />
Quan<strong>do</strong> realizou este trabalho e foi pegar a carteira descobriu que estava to<strong>do</strong> molha<strong>do</strong> de sua própria<br />
urina.<br />
Ultimamente, até a ciência médica e a psicologia acadêmica não podem precisar qual é a barreira, o<br />
ponto limite entre o sonho e o esta<strong>do</strong> de vigília. Na realidade nossa “realidade é uma questão de<br />
educação básica, de ‘descrição sistemática <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>’”. Por outro la<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tipo de experiência que<br />
temos no mun<strong>do</strong> da vigília também a temos nos mun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s sonhos.<br />
Podemos também dizer que o tempo no mun<strong>do</strong> “real” é diferente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos, porém<br />
existem muitos relatos e histórias de pessoas que em sonhos tiveram a nítida impressão de que<br />
passaram muitos anos, como por exemplo uma professora chinesa, que me contou toda a sua<br />
experiência nos infernos; para ela tinham-se passa<strong>do</strong> mais de três anos observan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os detalhes<br />
<strong>do</strong> lugar que visitou. Observan<strong>do</strong> um espelho pode contemplar toda sua vida com riqueza de detalhes,<br />
até acordar e perceber que tinha passa<strong>do</strong> poucas horas.<br />
Estes exemplos podem ajudar a compreender que ainda que pareça haver um espírito observa<strong>do</strong>r e um<br />
mun<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>, na realidade tu<strong>do</strong> isto não é mais <strong>do</strong> que um processo de nossa imaginação e que<br />
realmente tanto o espírito quanto o mun<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> não são diferentes entre si.<br />
No caso de uma experiência onírica, percebe-se claramente que o mun<strong>do</strong> é de acor<strong>do</strong> a nossa própria<br />
ilusão, nossa própria descrição <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. No caso de uma experiência no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sonhos, se<br />
alguém sente que uma pedra o afoga apertan<strong>do</strong> seu peito, tanto a pedra como o corpo sen<strong>do</strong> aperta<strong>do</strong><br />
pela mesma são somente criações da mente e na sua substância não são diferentes <strong>do</strong> próprio espírito.<br />
Enfoque da Vacuidade:<br />
Também dentro <strong>do</strong>s ensinamentos sobre o Prajna Paramita, Buddha expôs a natureza última <strong>do</strong>s<br />
fenômenos. “Os fenômenos não são realmente existentes, são vacuidade.”<br />
Este termo “Vacuidade” não se entende dentro da tradição Budista como o termo vazio que<br />
comumente as pessoas outorgam quan<strong>do</strong> ao procurar se dentro de uma xícara existe água ou chá, nada<br />
encontram. Este termo não se aplica ao fato de “nada ter” nem sequer se lhe dá o senti<strong>do</strong> de “nada”.<br />
Quan<strong>do</strong> se fala de Vacuidade, deve-se entender como o esta<strong>do</strong> naturalmente aberto e sereno <strong>do</strong><br />
espírito, onde nenhum conceito ou idéia, ou sensação encontram algum suporte para se aferrar.<br />
To<strong>do</strong>s os praticantes sérios de meditação das diferentes correntes místicas lhe conferem nomes<br />
diferentes, porém to<strong>do</strong>s coincidem em afirmar que a sua experiência se traduz num momento<br />
arrebata<strong>do</strong>r de luz e silêncio profun<strong>do</strong>.<br />
Pensemos no caso de nos encontrar com uma pessoa desagradável, ao qual chamamos de inimigo.<br />
Poderemos encontrar uma entidade susceptível de ser reconhecida como inimigo?<br />
Para ilustrar este ponto de vista existe um diálogo entre o Rei Grego Meneandro (Milinda - em<br />
sânscrito) e um grande mestre da Universidade de Nalanda chama<strong>do</strong> Nagasena. Eis o mesmo:<br />
A Pessoa como um carro<br />
O Venerável Nagasena falou ao Rei Milinda (Meneandro em sânscrito)<br />
“Como rei tens si<strong>do</strong> educa<strong>do</strong> no maior refinamento, e evitais a to<strong>do</strong> tipo de incômo<strong>do</strong> físico. Porém se<br />
caminhasses ao meio dia sobre este ardente solo arenoso, engessa<strong>do</strong> vossos pés teriam que pisar as<br />
duras e ásperas pedras, elas os lastimaria, vosso corpo se cansaria, vossa mente teria que experimentar<br />
sofrimentos e a percepção de vosso corpo estaria associada com a <strong>do</strong>r profunda.<br />
- Como é que Vossa Senhoria tem chega<strong>do</strong> até aqui - a pé ou numa cavalgadura?<br />
- Eu não cheguei, Senhor a pé, cheguei de carro”<br />
- Se tens chega<strong>do</strong> de carro, rogo que me expliques o que é um carro:<br />
- É a vara o carro?<br />
-Não reveren<strong>do</strong> Senhor!<br />
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