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Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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No nível último da realidade os objetos exteriores percebi<strong>do</strong>s e o espírito interior que os percebe estão<br />

completamente desprovi<strong>do</strong>s de existência própria, são Vacuidade.<br />

Natureza Finalmente Existente:<br />

A Vacuidade, esta verdade última e o “finalmente existente”. Para esta Via <strong>do</strong>s Cittamatra, a<br />

consciência que capta os objetos está orientada simultaneamente em duas direções, uma que dirigida<br />

ao exterior usa os cinco senti<strong>do</strong>s e apreende um objeto como, por exemplo, um carro, e uma<br />

consciência que dirigida para si própria, que experimentan<strong>do</strong> sua própria natureza não distingue aquilo<br />

que é exterior como, por exemplo, o carro, e aquilo pela qual “ela conhece”, ou seja, “ela mesma”.<br />

Esta consciência que se conhece e se “ilumina a si própria” é o elemento que nos permite ter uma<br />

lembrança, uma experiência vivida, ainda que o objeto anteriormente percebi<strong>do</strong> tenha desapareci<strong>do</strong><br />

permanece presente no espírito.<br />

Porém, ainda que possamos lembrar, a consciência não pode de nenhuma forma manter a lembrança<br />

por muito tempo, nem sequer pode demonstrar por ela mesma nem em si mesma que ela está<br />

projetan<strong>do</strong> uma imagem. Ou seja, não tem a capacidade de pegar e conservar nenhum pensamento. É<br />

por este motivo que se pede ao praticante de meditação que “deixe passar” e que não tente “reter”<br />

nenhum tipo de pensamento ou imagem, porque essencialmente a própria consciência que está<br />

lembran<strong>do</strong>-se de dita imagem em si mesma “não sabe” nem “pode” realizar este processo.<br />

Refletin<strong>do</strong> mais profundamente sobre este ponto de vista, para a via <strong>do</strong>s Cittamatra a vacuidade<br />

ensinada por Buddha se refere ao fato de que “esta consciência que se conhece e ilumina a si própria”<br />

não consiste num “espírito interior” que percebe e um “objeto exterior” percebi<strong>do</strong>, porque esta idéia<br />

não é correta, na realidade tanto o espírito quanto o objeto não são entidades separadas.<br />

Esta consciência que se conhece e ilumina a si própria está, pois, isenta da dualidade sujeito-objeto.<br />

Quan<strong>do</strong> através de um exaustivo processo de meditação o meditante percebe que os objetos percebi<strong>do</strong>s<br />

exteriormente e a consciência que os percebe são uma e a mesma coisa, tem então uma percepção da<br />

própria natureza da mente que nada mais é senão Clara luz. Por este motivo é denominada como a<br />

“Consciência que se conhece e ilumina a si própria”.<br />

Segun<strong>do</strong> os Cittamatra esta consciência é realmente existente sen<strong>do</strong> este o ponto crucial que é<br />

contesta<strong>do</strong> pelo conjunto das escolas da Via <strong>do</strong> meio ou Madhyamaka.<br />

Refletin<strong>do</strong> sobre a via <strong>do</strong>s Cittamatra:<br />

Para explicar este ponto de vista <strong>do</strong>s Cittamatra, o sonho é por demais esclarece<strong>do</strong>r. Por exemplo, as<br />

imagens que percebemos num sonho nos dão a idéia de que há um objeto percebi<strong>do</strong>, como por<br />

exemplo uma linda pessoa e alguém que observa. Este jogo de imagens nos dá a idéia de que há duas<br />

entidades separadas, ou seja, o observa<strong>do</strong>r e o observa<strong>do</strong>, porém na realidade quan<strong>do</strong> o observa<strong>do</strong>r foi<br />

produzi<strong>do</strong>? De onde surgiu e para onde foi o objeto percebi<strong>do</strong>?<br />

A fim de compreender mais estes interrogantes poderíamos nos perguntar:<br />

Como saber se neste momento em que estou na frente de meu computa<strong>do</strong>r não estou sonhan<strong>do</strong>?<br />

Se você responde não, não estou sonhan<strong>do</strong>, porque as formas são muito nítidas, as cores são vivas, os<br />

sons, os cheiros, o tato etc., e as imagens de sonhos não são assim, são mais confusas e caóticas, quer<br />

dizer então que seria necessário debilitar um pouco as faculdades <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, para que a experiência<br />

da vigília se parecesse com a experiência <strong>do</strong> sonho? E muitas vezes não são os sonhos, vivos, níti<strong>do</strong>s e<br />

claros?<br />

Poderíamos afirmar que na experiência da vigília, há uma continuidade da consciência, sempre que<br />

acordamos os móveis, o trabalho, nossos amigos, e familiares continuam, elas são as mesmas que antes<br />

<strong>do</strong> sonho, no entanto na experiência <strong>do</strong> sonhar, os objetos observa<strong>do</strong>s pelo sonha<strong>do</strong>r, nunca tem uma<br />

continuidade, são breves e instantaneamente mudam de forma constante.<br />

Porém, se o sonhe<strong>do</strong>r sonhase durante longos perío<strong>do</strong>s, acordan<strong>do</strong> por breves momentos, e voltan<strong>do</strong> a<br />

sonhar com os mesmos personagens no mesmo lugar, seria este sonho uma experiência de vigília?<br />

Agora se se despertan<strong>do</strong> por breves momentos não se recordar o que foi sonha<strong>do</strong>, se converteria esta<br />

experiência num sonho?<br />

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