Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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— são inseparáveis da lucidez e vacuidade, intrínsecas da mente, pois a mente — um movimento incessante — manifesta-se nos pensamentos dualistas. O meditador deve, portanto, resolver que os diversos pensamentos são as manifestações da mente, mas também são inseparáveis da lucidez intrínseca da mente que é vazia de qualquer essência ou identidade. De acordo com Kempo Tsultrim Rimpoche A Escola dos Cittamatra destaca esta percepção e a denomina como o enfoque idealista; isto está relacionado com o momento em que Sidarta Gautama o Buda inaugurou os ensinamentos do Prajna Paramita, enunciou as palavras de que os três mundos não são diferentes do espírito. Esta afirmativa está sustentada sobre o ponto fundamental de que tanto a realidade dos fenômenos como sua aparência estão desprovidas de existência própria. Ainda que tanto os objetos exteriores como a mente que os percebe pareçam existir como entidades diferentes e independentes entre si, na realidade objeto e sujeito são vacuidade, e não são diferentes do espírito, o qual está livre desta dualidade. Este ponto de vista é ilustrado através do exemplo do sonho. Durante o estado de sonhos aparecem objetos, pessoas, sentimentos, situações favoráveis, agradáveis ou desfavoráveis e desagradáveis. Durante este estado existe um observador que percebe as formas assim como o desenrolar do sonho, se existe fogo parece que nos vai queimar, se alguém nos persegue corremos e nos desesperamos diante da presença de nosso inimigo. Porém, de acordo com os ensinamentos do Sr. Buda, ainda que um ser apareça como inimigo e ameaçador na realidade ele é somente uma projeção de nossa própria consciência, na realidade ele é indiferenciado da própria mente que os criou; e o mesmo acontece com o céu, o mundo exterior e até nosso próprio corpo que, na realidade, não são mais que ilusões oníricas desprovidas de existência separada da mente que as projeta. Refletindo profundamente sobre este exemplo poderemos aplicá-lo depois às experiências que vivenciamos na dita “realidade”. Tomemos por exemplo a forma do corpo de uma bela modelo de TV. Para os homens que podem observar seu lindo corpo ela poderá causar admiração, porém para as esposas ou namoradas dos mesmos somente olhar para essa menina causará raiva e ciúmes. Porém quando esta menina for somente um cadáver, o corpo desta pessoa que num dado tempo foi belo, somente será um meio de subsistência; e para os germes e microorganismos que nesse momento também estarão compartilhando desse corpo ele será na realidade como um universo vasto e ilimitado. Então qual é a realidade do corpo desta modelo? O fato de que um objeto possa aparecer de formas tão variadas para seres tão diferentes é sinal de que não é diferente do espírito mesmo. A Via dos Cittamatra: Até agora observamos o ponto principal de meditação dos Sravakas, que descobre através de uma analise profunda sobre a existência do ego, que na realidade ele é simplesmente um nome dado a um sim fim de sensações impressões etc. que continuamente nos vem desde o mundo exterior e que ao observá-las e identificá-las nos produzem a falsa idéia de sua existência. Agora, a Via dos Cittamatra, se bem que não descarta esta análise profunda que é verdadeira e que serve de base para os bons praticantes de meditação, ela lhe agrega mais uns pontos de reflexão que nos leva a descobrir que a etapa seguinte a desenvolver é a disposição do espírito da iluminação, que na realidade nada mais é que criar a motivação verdadeira de trabalhar pelo bem de todos os seres. Nesta escola o Ideal de Bodhisattva faz sentido, pois somente ele possui esta motivação; na Via do Sravaka o ideal a ser atingido é a mera pacificação das emoções e encontrar a paz do Nirvana. Para o Bodhisattva, o supremo estado de Buda lhe confere a suprema motivação de obrar pelo bem dos seres, e para realizar este estado, já não basta meditar somente sobre a inexistência do eu, ele também procura a não existência dos fenômenos. Especialmente a meditação sobre a não existência dos fenômenos é o ponto abordado pela Via dos Cittamatra. O fato de Buda ter pronunciado “Todos os fenômenos não são senão espírito” é o pensamento básico desta Via. 74

Nesta Via dos Cittamatra, se aceita a idéia das 8 consciências, 5 consciências resultantes dos 5 sentidos, 1 consciencia surgida da mente, o espírito que está sob o domínio das emoções e por ultimo a Consciência fundamental que transmite as tendências Karmicas do passado. Reflexão sobre esta Via: Desde tempos imemoriais atos anteriores imprimiram nesta consciência fundamental “elementos” que se transformaram em ”tendências” fundamentais que hoje engendram os modos de percepções erradas. Por conseqüência o espírito interior que percebe os objetos exteriores está sustentado e é somente o fruto desta tendência fundamental quando ela chega a sua maturidade. Assim como numa fita de vídeo, que funciona como consciência fundamental, quando se reúnem todas as condições, como, por exemplo, aparelho de vídeo, TV, energia elétrica etc. as imagens que estão gravadas na fita novamente aparecem. Esta Consciência fundamental se compara ao oceano, e as 6 consciências sensoriais (5 sentidos e a mente) se comparam as ondas que agitam o vento do espírito. Na realidade as ondas não são diferentes do Oceano, o seu movimento em nada afeta a própria natureza do Oceano. As ondas se mexem, pela ação da influência das aflições negativas e as tendências kármicas do passado. Assim todas as aparências do Samsara se manifestam através das 6 consciências sensoriais, tendo como base este “Oceano” que se transforma num continuo, que liga entre si todos os estados do ser: O sono, o sonho, o sonho profundo, a consciência de vigília ou desperta e o estado de completamente desperto dos yogues. Na via do Cittamatra todos os fenômenos são classificados de acordo a três características. a) A natureza imaginária; b) A natureza dependente; c) A natureza finalmente existente. A Natureza Imaginária: Dentro deste conceito estão incluídos todos os nomes e conceitos que lhe conferimos aos objetos percebidos. Assim como observamos na parábola do carro, os objetos são chamados de uma forma específica porque os homens chegaram a conceitos comuns e cristalizaram o mesmo para poder educar os povos. É como se todos os loucos de um hospício chegassem a um conceito básico de que todos são Jesus Cristo. Ninguém brigaria pelo contrário, esses loucos passariam para seus filhos estes conceitos básicos e depois de vários anos temos o que consideramos hoje história. Ou seja, uma série de narrativas sobre nada. Os nomes e conceitos não têm outra realidade que o próprio pensamento, e estes conceitos são desprovidos de existência própria; igual aos sonhos... observamos “um inimigo”, um “fogo”, “um amigo” até que acordamos e percebemos que nada existia a não ser enquanto nosso pensamento conceitual lhe adjudicava a sua própria existência. Por isso a todos os nomes e conceitos dentro da Via dos Cittamatra se lhes denomina “imaginários”. Natureza Dependente: Porém, antes que a consciência reconheça qualquer fenômeno pelo algum nome, o próprio fenômeno produz uma “primeira imagem na consciência”; à esta simples aparição se denomina de “dependente” porque além de lhe incumbir qualquer conceito ela por si mesma está, e para estar depende de causas e condições. Tomemos o exemplo que anteriormente percebemos na rua escura sobre a pessoa que lhe adjudicamos o “nome” de inimigo. O fato de compreendermos que essa pessoa não é um amigo nem um inimigo, além de tirar dela todos os conceitos essa “aparição” está. As causas e as condições as colocaram naquele lugar, e antes que a consciência reconheça este fenômeno através de um nome, a “aparição” produz uma primeira imagem na consciência. Dependente é sinônimo de real, porque ainda essa imagem não foi recoberta de conceitos e julgamentos. Por conseqüência a mera aparição de um fenômeno, que é produto de causas e condições dependentes, e seu reconhecimento através de conceitos e pensamentos, é imaginário; as duas juntas constituem a verdade relativa da existência. 75

— são inseparáveis da lucidez e vacuidade, intrínsecas da mente, pois a mente — um movimento<br />

incessante — manifesta-se nos pensamentos dualistas. O medita<strong>do</strong>r deve, portanto, resolver que os<br />

diversos pensamentos são as manifestações da mente, mas também são inseparáveis da lucidez<br />

intrínseca da mente que é vazia de qualquer essência ou identidade.<br />

De acor<strong>do</strong> com Kempo Tsultrim Rimpoche<br />

A Escola <strong>do</strong>s Cittamatra destaca esta percepção e a denomina como o enfoque idealista; isto está<br />

relaciona<strong>do</strong> com o momento em que Sidarta Gautama o Buda inaugurou os ensinamentos <strong>do</strong> Prajna<br />

Paramita, enunciou as palavras de que os três mun<strong>do</strong>s não são diferentes <strong>do</strong> espírito.<br />

Esta afirmativa está sustentada sobre o ponto fundamental de que tanto a realidade <strong>do</strong>s fenômenos<br />

como sua aparência estão desprovidas de existência própria.<br />

Ainda que tanto os objetos exteriores como a mente que os percebe pareçam existir como entidades<br />

diferentes e independentes entre si, na realidade objeto e sujeito são vacuidade, e não são diferentes <strong>do</strong><br />

espírito, o qual está livre desta dualidade.<br />

Este ponto de vista é ilustra<strong>do</strong> através <strong>do</strong> exemplo <strong>do</strong> sonho. Durante o esta<strong>do</strong> de sonhos aparecem<br />

objetos, pessoas, sentimentos, situações favoráveis, agradáveis ou desfavoráveis e desagradáveis.<br />

Durante este esta<strong>do</strong> existe um observa<strong>do</strong>r que percebe as formas assim como o desenrolar <strong>do</strong> sonho, se<br />

existe fogo parece que nos vai queimar, se alguém nos persegue corremos e nos desesperamos diante<br />

da presença de nosso inimigo. Porém, de acor<strong>do</strong> com os ensinamentos <strong>do</strong> Sr. Buda, ainda que um ser<br />

apareça como inimigo e ameaça<strong>do</strong>r na realidade ele é somente uma projeção de nossa própria<br />

consciência, na realidade ele é indiferencia<strong>do</strong> da própria mente que os criou; e o mesmo acontece com<br />

o céu, o mun<strong>do</strong> exterior e até nosso próprio corpo que, na realidade, não são mais que ilusões oníricas<br />

desprovidas de existência separada da mente que as projeta.<br />

Refletin<strong>do</strong> profundamente sobre este exemplo poderemos aplicá-lo depois às experiências que<br />

vivenciamos na dita “realidade”. Tomemos por exemplo a forma <strong>do</strong> corpo de uma bela modelo de TV.<br />

Para os homens que podem observar seu lin<strong>do</strong> corpo ela poderá causar admiração, porém para as<br />

esposas ou namoradas <strong>do</strong>s mesmos somente olhar para essa menina causará raiva e ciúmes.<br />

Porém quan<strong>do</strong> esta menina for somente um cadáver, o corpo desta pessoa que num da<strong>do</strong> tempo foi<br />

belo, somente será um meio de subsistência; e para os germes e microorganismos que nesse momento<br />

também estarão compartilhan<strong>do</strong> desse corpo ele será na realidade como um universo vasto e ilimita<strong>do</strong>.<br />

Então qual é a realidade <strong>do</strong> corpo desta modelo?<br />

O fato de que um objeto possa aparecer de formas tão variadas para seres tão diferentes é sinal de que<br />

não é diferente <strong>do</strong> espírito mesmo.<br />

A Via <strong>do</strong>s Cittamatra:<br />

Até agora observamos o ponto principal de meditação <strong>do</strong>s Sravakas, que descobre através de uma<br />

analise profunda sobre a existência <strong>do</strong> ego, que na realidade ele é simplesmente um nome da<strong>do</strong> a um<br />

sim fim de sensações impressões etc. que continuamente nos vem desde o mun<strong>do</strong> exterior e que ao<br />

observá-las e identificá-las nos produzem a falsa idéia de sua existência.<br />

Agora, a Via <strong>do</strong>s Cittamatra, se bem que não descarta esta análise profunda que é verdadeira e que<br />

serve de base para os bons praticantes de meditação, ela lhe agrega mais uns pontos de reflexão que<br />

nos leva a descobrir que a etapa seguinte a desenvolver é a disposição <strong>do</strong> espírito da iluminação, que<br />

na realidade nada mais é que criar a motivação verdadeira de trabalhar pelo bem de to<strong>do</strong>s os seres.<br />

Nesta escola o Ideal de Bodhisattva faz senti<strong>do</strong>, pois somente ele possui esta motivação; na Via <strong>do</strong><br />

Sravaka o ideal a ser atingi<strong>do</strong> é a mera pacificação das emoções e encontrar a paz <strong>do</strong> Nirvana.<br />

Para o Bodhisattva, o supremo esta<strong>do</strong> de Buda lhe confere a suprema motivação de obrar pelo bem <strong>do</strong>s<br />

seres, e para realizar este esta<strong>do</strong>, já não basta meditar somente sobre a inexistência <strong>do</strong> eu, ele também<br />

procura a não existência <strong>do</strong>s fenômenos.<br />

Especialmente a meditação sobre a não existência <strong>do</strong>s fenômenos é o ponto aborda<strong>do</strong> pela Via <strong>do</strong>s<br />

Cittamatra. O fato de Buda ter pronuncia<strong>do</strong> “To<strong>do</strong>s os fenômenos não são senão espírito” é o<br />

pensamento básico desta Via.<br />

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