Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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Portanto, temos assim quatro véus que se engendram sucessivamente:<br />
O véu da ignorância: a mente não reconhecen<strong>do</strong> a si mesma;<br />
O véu <strong>do</strong>s condicionamentos latentes: a dualidade, ou seja, a cisão entre o eu e o outro;<br />
O véu das emoções conflituosas: as 84 mil perturbações oriundas da dualidade;<br />
O véu <strong>do</strong> karma: os atos negativos cometi<strong>do</strong>s sob o poder das emoções conflituosas.<br />
Pureza e desabrochar<br />
Os véus que recobrem a mente fazem com que sejamos seres ordinários. Os Buddhas e os bodhisattvas<br />
<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> também eram, na origem, seres comuns. Eles seguiram mestres espirituais <strong>do</strong>s quais<br />
receberam instruções sobre a natureza da mente, meditaram e realizaram o mahamudra. Ten<strong>do</strong> se<br />
desfeito <strong>do</strong>s quatro véus, eles se tornaram puros e todas as qualidades inerentes à mente<br />
desabrocharam. Em tibetano, puro se traduz por sang e desabrochar por gye. A conjunção das duas<br />
sílabas forma a palavra que significa Buddha: Sang-gye, pureza e desabrochar. É uma via que está<br />
aberta para nós: podemos receber instruções, meditar e obter a realização <strong>do</strong> mahamudra, isto é, o<br />
Despertar. A exemplo de Milarepa é possível percorrermos o caminho em uma única vida.<br />
Sinais da vacuidade<br />
Aquele que realiza a verdadeira natureza da mente compreende ao mesmo tempo em que to<strong>do</strong>s os<br />
fenômenos, as coisas e os seres, os universos e to<strong>do</strong>s aqueles que os povoam, são apenas uma<br />
produção da mente, vazia em sua essência.<br />
Certo número de sinais nos indicam a vacuidade da mente e a ausência de entidade própria <strong>do</strong>s<br />
fenômenos, mas, geralmente, não prestamos atenção neles.<br />
No momento da concepção, quan<strong>do</strong> a mente entra no ventre da mãe, os pais não podem vê-la. Nenhum<br />
efeito materialmente perceptível permite revelar sua vinda. No momento da morte, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>,<br />
mesmo que o moribun<strong>do</strong> esteja rodea<strong>do</strong> de muitas pessoas, ninguém vê a mente sair <strong>do</strong> corpo.<br />
Ninguém poderia dizer: "Ela saiu por aqui", ou ainda: "Ela saiu por ali".<br />
Talvez vocês tenham estuda<strong>do</strong> durante muitos anos e armazena<strong>do</strong> muitos conhecimentos. No entanto,<br />
eles não estão dentro de um armário, de uma casa ou <strong>do</strong> peito. Não estão em parte alguma, pois são<br />
desprovi<strong>do</strong>s de existência em si mesmos. Eles estão armazena<strong>do</strong>s na vacuidade.<br />
À noite, a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s, sonhamos e vemos um mun<strong>do</strong> inteiro, com paisagens, cidades, homens,<br />
animais, e to<strong>do</strong>s os objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, aos quais adicionamos um movimento emocional feito de<br />
desejo, de aversão, etc. Durante o próprio sonho, somos persuadi<strong>do</strong>s da existência real de to<strong>do</strong>s os<br />
fenômenos oníricos. Entretanto, uma vez acorda<strong>do</strong>s, eles desaparecem. Não existe em parte alguma<br />
fora da mente daquele que sonha. É o mesmo processo que se desenvolve durante o bar<strong>do</strong> <strong>do</strong> vir-a-ser.<br />
Formas, sons, o<strong>do</strong>res, sabores, etc são percebi<strong>do</strong>s como reais. As aparências manifestadas durante a<br />
vida que se completou não têm mais existência. Depois, quan<strong>do</strong> a mente entra de novo em uma matriz,<br />
são então as aparências <strong>do</strong> bar<strong>do</strong> que se desfazem e não existe mais em parte alguma.<br />
Três suportes de existência<br />
A vigília, o sonho e o bar<strong>do</strong> de fato não têm realidade em si: são apenas manifestações da mente aos<br />
quais conferimos, erroneamente, uma entidade própria. Esses três esta<strong>do</strong>s são descritos como três<br />
corpos:<br />
O "corpo de maturidade kármica" designa o corpo e o ambiente percebi<strong>do</strong>s durante o esta<strong>do</strong> de<br />
vigília, que são o resulta<strong>do</strong>, depois de um longo processo de amadurecimento, de karmas acumula<strong>do</strong>s<br />
em vidas passadas;<br />
O "corpo <strong>do</strong>s condicionamentos latentes" se refere ao corpo e ao ambiente <strong>do</strong> sonho;<br />
O "corpo mental", enfim, designa o corpo e a experiência <strong>do</strong> bar<strong>do</strong>, regi<strong>do</strong>s unicamente pelo<br />
pensamento.<br />
Pela sucessão contínua desses três corpos se desenvolve nossa experiência no ciclo das<br />
existências, falsamente tomada como real.<br />
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