Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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Os quatro véus Ainda que possuindo tathagatagarbha, ainda que sendo Buddha por natureza, por que não experimentamos as qualidades desta natureza, e somos afetados por todas as limitações de um ser ordinário? Isto se deve aos "véus". Quando apareceram esses véus? De fato, eles não têm origem, recobrem a mente desde que ela existe, ou seja, desde sempre. O véu da ignorância A mente fundamental é ainda chamada "o potencial da partida para a felicidade". Pertence a todos os seres. Não reconhecê-la é a ignorância e constitui o principal véu que recobre a mente. Nossos olhos permitem que vejamos, claramente, os objetos exteriores; entretanto, não podem ver nosso rosto nem ver a si mesmos. Da mesma maneira, a mente não se vê a si mesma, não se reconhece pelo que é. É este fato que chamamos o véu da ignorância. O véu dos condicionamentos latentes A primeira conseqüência da ignorância é a dualidade. Ali onde só há vacuidade, a mente concebe falsamente um eu, centro de toda experiência. Ali onde Sá há claridade, ela concebe objetos percebidos como outros. Este fenômeno pode ser compreendido mais facilmente se nos referirmos ao sonho. Não percebendo a verdadeira natureza do mundo onírico, nós o cindimos em dois: um sujeito ao qual nós nos assimilamos, e objetos que constituem um universo exterior. Dividindo a mente única em dois, vivemos no universo da dualidade sujeito-objeto. Este é o segundo véu, o dos condicionamentos latentes. O véu das emoções conflituosas Da noção de eu procede necessariamente a esperança de obter o que é agradável e que conforte o eu em sua existência, assim como o medo de não obter o que se deseja e viver situações ameaçadoras. Sobre o pólo se introduzem assim a esperança e o medo. O outro pólo da dualidade, a noção de outro, engloba todos os objetos dos sentidos: formas, sons, odores, sabores, contatos ou objetos mentais. Todo objeto percebido como agradável cria a alegria e todo objeto percebido como desagradável, o descontentamento, sentimentos que se transformam em apego e em aversão. Da dualidade eu-outro emana, portanto, a esperança e o medo, assim como o apego e a aversão. De fato, eles não vêm de nenhum lugar senão da vacuidade da mente e não têm, portanto, nenhuma existência material, nem nenhuma entidade própria. Não os reconhecendo, do mesmo modo que não reconhecemos a verdadeira natureza dos fenômenos, conferindo-lhes uma realidade indevida; é o que chamamos cegueira ou ainda opacidade mental. Assim, chegamos a um grupo de três emoções conflituosas de base: apego, aversão e cegueira, de onde procedem três outras: Do apego, a cobiça; Da aversão, o ciúme; Da opacidade mental, o orgulho. Isto resulta em seis emoções conflituosas principais. Todavia, considera-se que as três emoções conflituosas de base podem se subdividir de muitas maneiras. Assim, atribui-se ao apego 21 mil ramificações relacionadas aos tipos de objetos aos quais ele se aplica: apego a uma pessoa, a uma casa, a um veículo, etc. Do mesmo modo, desmembramos 21 mil variantes da aversão e da cegueira, assim como 21 mil emoções conflituosas compostas de um amálgama das três precedentes. Obtemos um total tradicional de 84 mil emoções conflituosas. Nossa mente é habitada, assim, por uma grande quantidade de emoções conflituosas, que constituem um véu suplementar. O véu do karma Sob o domínio das emoções conflituosas, cometemos todos os tipos de atos negativos com o corpo, a palavra e a mente, que formam o véu do karma. 62

Portanto, temos assim quatro véus que se engendram sucessivamente: O véu da ignorância: a mente não reconhecendo a si mesma; O véu dos condicionamentos latentes: a dualidade, ou seja, a cisão entre o eu e o outro; O véu das emoções conflituosas: as 84 mil perturbações oriundas da dualidade; O véu do karma: os atos negativos cometidos sob o poder das emoções conflituosas. Pureza e desabrochar Os véus que recobrem a mente fazem com que sejamos seres ordinários. Os Buddhas e os bodhisattvas do passado também eram, na origem, seres comuns. Eles seguiram mestres espirituais dos quais receberam instruções sobre a natureza da mente, meditaram e realizaram o mahamudra. Tendo se desfeito dos quatro véus, eles se tornaram puros e todas as qualidades inerentes à mente desabrocharam. Em tibetano, puro se traduz por sang e desabrochar por gye. A conjunção das duas sílabas forma a palavra que significa Buddha: Sang-gye, pureza e desabrochar. É uma via que está aberta para nós: podemos receber instruções, meditar e obter a realização do mahamudra, isto é, o Despertar. A exemplo de Milarepa é possível percorrermos o caminho em uma única vida. Sinais da vacuidade Aquele que realiza a verdadeira natureza da mente compreende ao mesmo tempo em que todos os fenômenos, as coisas e os seres, os universos e todos aqueles que os povoam, são apenas uma produção da mente, vazia em sua essência. Certo número de sinais nos indicam a vacuidade da mente e a ausência de entidade própria dos fenômenos, mas, geralmente, não prestamos atenção neles. No momento da concepção, quando a mente entra no ventre da mãe, os pais não podem vê-la. Nenhum efeito materialmente perceptível permite revelar sua vinda. No momento da morte, do mesmo modo, mesmo que o moribundo esteja rodeado de muitas pessoas, ninguém vê a mente sair do corpo. Ninguém poderia dizer: "Ela saiu por aqui", ou ainda: "Ela saiu por ali". Talvez vocês tenham estudado durante muitos anos e armazenado muitos conhecimentos. No entanto, eles não estão dentro de um armário, de uma casa ou do peito. Não estão em parte alguma, pois são desprovidos de existência em si mesmos. Eles estão armazenados na vacuidade. À noite, adormecidos, sonhamos e vemos um mundo inteiro, com paisagens, cidades, homens, animais, e todos os objetos dos sentidos, aos quais adicionamos um movimento emocional feito de desejo, de aversão, etc. Durante o próprio sonho, somos persuadidos da existência real de todos os fenômenos oníricos. Entretanto, uma vez acordados, eles desaparecem. Não existe em parte alguma fora da mente daquele que sonha. É o mesmo processo que se desenvolve durante o bardo do vir-a-ser. Formas, sons, odores, sabores, etc são percebidos como reais. As aparências manifestadas durante a vida que se completou não têm mais existência. Depois, quando a mente entra de novo em uma matriz, são então as aparências do bardo que se desfazem e não existe mais em parte alguma. Três suportes de existência A vigília, o sonho e o bardo de fato não têm realidade em si: são apenas manifestações da mente aos quais conferimos, erroneamente, uma entidade própria. Esses três estados são descritos como três corpos: O "corpo de maturidade kármica" designa o corpo e o ambiente percebidos durante o estado de vigília, que são o resultado, depois de um longo processo de amadurecimento, de karmas acumulados em vidas passadas; O "corpo dos condicionamentos latentes" se refere ao corpo e ao ambiente do sonho; O "corpo mental", enfim, designa o corpo e a experiência do bardo, regidos unicamente pelo pensamento. Pela sucessão contínua desses três corpos se desenvolve nossa experiência no ciclo das existências, falsamente tomada como real. 63

Os quatro véus<br />

Ainda que possuin<strong>do</strong> tathagatagarbha, ainda que sen<strong>do</strong> Buddha por natureza, por que não<br />

experimentamos as qualidades desta natureza, e somos afeta<strong>do</strong>s por todas as limitações de um ser<br />

ordinário? Isto se deve aos "véus". Quan<strong>do</strong> apareceram esses véus? De fato, eles não têm origem,<br />

recobrem a mente desde que ela existe, ou seja, desde sempre.<br />

O véu da ignorância<br />

A mente fundamental é ainda chamada "o potencial da partida para a felicidade". Pertence a to<strong>do</strong>s os<br />

seres. Não reconhecê-la é a ignorância e constitui o principal véu que recobre a mente. Nossos olhos<br />

permitem que vejamos, claramente, os objetos exteriores; entretanto, não podem ver nosso rosto nem<br />

ver a si mesmos. Da mesma maneira, a mente não se vê a si mesma, não se reconhece pelo que é. É<br />

este fato que chamamos o véu da ignorância.<br />

O véu <strong>do</strong>s condicionamentos latentes<br />

A primeira conseqüência da ignorância é a dualidade. Ali onde só há vacuidade, a mente concebe<br />

falsamente um eu, centro de toda experiência. Ali onde Sá há claridade, ela concebe objetos percebi<strong>do</strong>s<br />

como outros. Este fenômeno pode ser compreendi<strong>do</strong> mais facilmente se nos referirmos ao sonho. Não<br />

perceben<strong>do</strong> a verdadeira natureza <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> onírico, nós o cindimos em <strong>do</strong>is: um sujeito ao qual nós<br />

nos assimilamos, e objetos que constituem um universo exterior. Dividin<strong>do</strong> a mente única em <strong>do</strong>is,<br />

vivemos no universo da dualidade sujeito-objeto. Este é o segun<strong>do</strong> véu, o <strong>do</strong>s condicionamentos<br />

latentes.<br />

O véu das emoções conflituosas<br />

Da noção de eu procede necessariamente a esperança de obter o que é agradável e que conforte o eu<br />

em sua existência, assim como o me<strong>do</strong> de não obter o que se deseja e viver situações ameaça<strong>do</strong>ras.<br />

Sobre o pólo se introduzem assim a esperança e o me<strong>do</strong>. O outro pólo da dualidade, a noção de outro,<br />

engloba to<strong>do</strong>s os objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s: formas, sons, o<strong>do</strong>res, sabores, contatos ou objetos mentais.<br />

To<strong>do</strong> objeto percebi<strong>do</strong> como agradável cria a alegria e to<strong>do</strong> objeto percebi<strong>do</strong> como desagradável, o<br />

descontentamento, sentimentos que se transformam em apego e em aversão. Da dualidade eu-outro<br />

emana, portanto, a esperança e o me<strong>do</strong>, assim como o apego e a aversão. De fato, eles não vêm de<br />

nenhum lugar senão da vacuidade da mente e não têm, portanto, nenhuma existência material, nem<br />

nenhuma entidade própria. Não os reconhecen<strong>do</strong>, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que não reconhecemos a verdadeira<br />

natureza <strong>do</strong>s fenômenos, conferin<strong>do</strong>-lhes uma realidade indevida; é o que chamamos cegueira ou ainda<br />

opacidade mental.<br />

Assim, chegamos a um grupo de três emoções conflituosas de base:<br />

apego, aversão e cegueira, de onde procedem três outras:<br />

Do apego, a cobiça;<br />

Da aversão, o ciúme;<br />

Da opacidade mental, o orgulho.<br />

Isto resulta em seis emoções conflituosas principais. Todavia, considera-se que as três emoções<br />

conflituosas de base podem se subdividir de muitas maneiras.<br />

Assim, atribui-se ao apego 21 mil ramificações relacionadas aos tipos de objetos aos quais ele se<br />

aplica: apego a uma pessoa, a uma casa, a um veículo, etc.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, desmembramos 21 mil variantes da aversão e da cegueira, assim como 21 mil<br />

emoções conflituosas compostas de um amálgama das três precedentes. Obtemos um total tradicional<br />

de 84 mil emoções conflituosas. Nossa mente é habitada, assim, por uma grande quantidade de<br />

emoções conflituosas, que constituem um véu suplementar.<br />

O véu <strong>do</strong> karma<br />

Sob o <strong>do</strong>mínio das emoções conflituosas, cometemos to<strong>do</strong>s os tipos de atos negativos com o corpo, a<br />

palavra e a mente, que formam o véu <strong>do</strong> karma.<br />

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