Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Manual do Budismo - Jardim do Dharma Manual do Budismo - Jardim do Dharma
ela é destituída de qualquer característica material, não é possível designá-la como uma coisa visível e facilmente reconhecida, caso contrário alguém poderia mostrá-la para nós. De fato, possuindo uma mente, todos devemos consultar a nós mesmos e, guiados por um mestre, proceder a uma investigação que nos leve até a descoberta de que ela é verdadeiramente. Qual é sua forma, sua cor, seu volume? Ela está situada no exterior ou no interior do corpo? São questões que necessitam de uma resposta verificada pela experiência, mesmo se tivermos recebido previamente explicações teóricas como estas dadas aqui. Escuta, reflexão, meditação A prática do dharma compreende sempre três etapas, chamadas escuta, reflexão e meditação. A escuta consiste em receber ensinamentos teóricos e instruções. Seu corolário indispensável é lembrar-se com fidelidade do que foi dito ou lido. A reflexão consiste em proceder a um exame discursivo dos dados que recebemos ou ainda a uma investigação para tentar responder às questões colocadas. No caso presente, por exemplo, pesquisar a forma e a cor da mente, sua localização, seu grau de existência, etc. A meditação acontece quando são alcançadas as conclusões pela reflexão. Ela deve ser não-discursiva e sem descontinuidade. Essas três etapas constituem uma sucessão obrigatória. O que é exposto aqui pertence à fase da escuta. É necessário retê-la antes de abordar as etapas seguintes. Para descrever a mente consideramos três aspectos: Sua essência: a vacuidade; Sua natureza: claridade; Seu modo de funcionamento: inteligência. Vacuidade A essência da mente é ser vazia. O que significa, como já foi dito, que ela não tem nenhuma existência material. Não tem forma, cor, volume, tamanho. É impalpável e indivisível, semelhante ao espaço. Claridade Todavia, a mente não é como um espaço obscuro que nem o sol, a lua ou as estrelas clareia, mas sim como o espaço diurno ou ainda como o espaço de uma sala iluminada. É uma comparação, e apenas aproximada. Significa que a mente possui certo poder de conhecer. Não é o próprio conhecimento, mas a claridade, a faculdade consciente, que o torna possível. Esse poder compreende, além disso, a faculdade de produzir a manifestação. Quando vocês pensam na América ou na Índia, sua mente tem a possibilidade de fazer nascer a imagem interior desses locais. Esse poder de conhecer e a faculdade de evocar são a claridade da mente. Graças à luz, vocês podem ver os objetos dentro da sala onde se encontram, estar conscientes da presença deles. Graças à claridade, a mente tem, do mesmo modo, a faculdade de conhecer. O que entendemos por claridade da mente é ligeiramente diferente da claridade no sentido comum. Esta, de fato, permite unicamente o exercício da função visual, enquanto que a claridade da mente dá a possibilidade não somente de ver, mas também de ouvir, de sentir, de degustar, de tocar e estar consciente dos prazeres ou desprazeres do mental. Portanto, é uma claridade cujo campo de aplicação é extremamente vasto. Inteligência sem obstrução A sala onde vocês estão sentados contém vacuidade (o espaço da peça) e claridade (a iluminação). No entanto, não é suficiente para atribuir-lhe uma mente. Portanto, devemos encontrar um terceiro elemento de descrição. Para que a mente exista, deve-se acrescentar à vacuidade e à claridade, a inteligência sem obstrução. É esta inteligência que permite conhecer efetivamente cada coisa sem confusão. Não somente a mente tem consciência dos fenômenos — o que é a claridade — mas ela os reconhece sem confusão — o que é a inteligência. No espetáculo do que ela vê, por exemplo, ela sabe o que é o céu, o que é uma casa, o que é um homem, etc. Sobre o suporte da vacuidade e da claridade, surge a inteligência sem obstrução. È a faculdade que 60
identifica, avalia, compreende. É quem diz, por exemplo: "Isto é um objeto; ele é bonito ou ele é feio", identificação que se aplica também aos sons, dos quais se percebem a potência e a qualidade, aos odores agradáveis ou repugnantes, aos sabores e suas diferentes nuanças, às experiências mentais agradáveis ou desagradáveis. Assim, a mente é conjuntamente vacuidade, claridade e inteligência. Tal mente é pequena? Não, já que possui a faculdade de fazer aparecer e de abraçar todo o universo. Então, ela é grande? Também não podemos afirmálo, visto que, ao sentirmos uma dor muito localizada, num local do corpo preciso, provocada, digamos por uma picada, assimilamos nossa mente a esse local minúsculo, dizendo: "Sinto dor". Cada um identifica-se com seu corpo e a mente o penetra por inteiro: para um elefante, numa grande escala, para um inseto, numa pequena escala. De fato, a própria mente, fora de toda assimilação, não é nem pequena, nem grande. Escapa desse gênero de conceitos. Essa mente fundamental é a mesma para todos os seres. Caso se reconheça o seu modo de ser, neste caso ela nada mais é do que o Despertar: a vacuidade é o corpo absoluto (dharmakaya); a claridade é o corpo de glória (sambhogakaya); a inteligência, o corpo de manifestação (nirmanakaya). A unidade dos três componentes — vacuidade, claridade e inteligência — é o que se chama de "mente". É ainda o que se chama de tathagatagarbha, o potencial do Despertar. Quando os três componentes não são reconhecidos pelo que são, é o estado de ser ordinário. A vacuidade se exprime então como mental, a claridade como palavra, a inteligência sem obstrução como corpo. Os três componentes da mente pura se condensam nos três componentes da personalidade temporária. Pela meditação do mahamudra, a natureza verdadeira da mente é reconhecida e os três componentes se revelam como os três corpos do Despertar. Na verdade, um Buddha e um ser ordinário são idênticos. Possuem fundamentalmente a mesma natureza. Um Budhha a reconhece, um ser ordinário não. É a única diferença. Seria muito longo examinar detalhadamente todas as implicações de natureza da mente, do ciclo das existências e da liberação. Para resumí-las citamos Gampopa: A mente sem criação artificial é felicidade A água sem poluição é pura. Quando se deixa a mente permanecer tal qual em sua própria natureza, ocorre a felicidade interior. A água deixada em repouso é sem agitação e pura. A mente agitada por muitos pensamentos torna-se agitada; livre de uma superabundância de pensamentos, guarda sua limpidez própria. Nossa mente, enquanto vacuidade, claridade e inteligência, é perfeitamente boa em si mesma, naturalmente livre de sofrimentos. Mas nós não a reconhecemos. Pensamos: "Sou eu", e nós mesmos nos prendemos com a corda do ego, pensando então: "É preciso que eu seja feliz, que eu evite tudo o que é desagradável". Imobilizada nesta atitude, a mente torna-se como que contraída e cria seu próprio sofrimento. 61
- Page 12 and 13: Quando Sidarta passou por um determ
- Page 14 and 15: Mara observou que o medo não iria
- Page 16 and 17: sofrimento, que tal sofrimento resu
- Page 18 and 19: Krisha Gotami foi ver o Iluminado e
- Page 20 and 21: Refletindo profundamente sobre o pr
- Page 22 and 23: mente constantemente em alerta para
- Page 24 and 25: Após a morte do pai, Vidūdabha as
- Page 26 and 27: seguidores. Resumindo, sua vida faz
- Page 28 and 29: formação de comunidades e de rein
- Page 30 and 31: capital, Pagan, entre os séculos X
- Page 32 and 33: -Não. Tudo isso já fora preparado
- Page 34 and 35: Cittavaga - A Mente “Como um arqu
- Page 36 and 37: Um homem não é um monge porque va
- Page 38 and 39: 5) O Khuddaka Nikaya, coleção men
- Page 40 and 41: Cap. 3: Abhidharma - Ven. Thich Nha
- Page 42 and 43: filosofia especulativa, mas descrit
- Page 44 and 45: Anurudha. Muito pouco é conhecido
- Page 46 and 47: os reinos inferiores como uma puni
- Page 48 and 49: Dois homens num bote. O organismo p
- Page 50 and 51: constitui um obstáculo para o surg
- Page 52 and 53: O terceiro elo é a consciência (s
- Page 54 and 55: Duas outras teorias baseadas nos do
- Page 56 and 57: Temos de regar as sementes de nossa
- Page 58 and 59: Usamos o termo nirmanakaya (corpo d
- Page 60 and 61: Os Dois Aspectos do Co-Surgimento I
- Page 64 and 65: Os quatro véus Ainda que possuindo
- Page 66 and 67: Consciência primordial, consciênc
- Page 68 and 69: Sarvastivada A escola Sarvastivada
- Page 70 and 71: De acordo com Kempo Tsultrin Rimpoc
- Page 72 and 73: Cap.6: O Terceiro Giro da Roda do D
- Page 74 and 75: Estes textos incluem o: 1- Pratyupa
- Page 76 and 77: — são inseparáveis da lucidez e
- Page 78 and 79: No nível último da realidade os o
- Page 80 and 81: - É pois, o eixo o carro? - Não r
- Page 82 and 83: 2- A mente subseqüente, que é com
- Page 84 and 85: permanente no "eu" e nos "fenômeno
- Page 86 and 87: O Yogachara e o Madhyamaka ou Madhy
- Page 88 and 89: O Enfoque sobre a Vacuidade é cham
- Page 90 and 91: Sutras: O Sutra da Grande Sabedoria
- Page 92 and 93: A compaixão levada ao extremo tran
- Page 94 and 95: - “Vejo o Buda levantando um de s
- Page 96 and 97: limpam a sujeira nem o corpo; com i
- Page 98 and 99: eu sempre emprego minha mente em es
- Page 100 and 101: corpo. Eu era um monge que praticav
- Page 102 and 103: Assim, avançando passo a passo, ta
- Page 104 and 105: Durante muitas idades tão numerosa
- Page 106 and 107: Ficando triste e só agora a rainha
- Page 108 and 109: cores das areias diamantinas. Nessa
- Page 110 and 111: iluminam o praticante e seu corpo.
identifica, avalia, compreende. É quem diz, por exemplo: "Isto é um objeto; ele é bonito ou ele é feio",<br />
identificação que se aplica também aos sons, <strong>do</strong>s quais se percebem a potência e a qualidade, aos<br />
o<strong>do</strong>res agradáveis ou repugnantes, aos sabores e suas diferentes nuanças, às experiências mentais<br />
agradáveis ou desagradáveis.<br />
Assim, a mente é conjuntamente vacuidade, claridade e inteligência.<br />
Tal mente é pequena? Não, já que possui a faculdade de fazer aparecer e de<br />
abraçar to<strong>do</strong> o universo. Então, ela é grande? Também não podemos afirmálo,<br />
visto que, ao sentirmos uma <strong>do</strong>r muito localizada, num local <strong>do</strong> corpo<br />
preciso, provocada, digamos por uma picada, assimilamos nossa mente a<br />
esse local minúsculo, dizen<strong>do</strong>: "Sinto <strong>do</strong>r". Cada um identifica-se com seu<br />
corpo e a mente o penetra por inteiro: para um elefante, numa grande escala,<br />
para um inseto, numa pequena escala. De fato, a própria mente, fora de toda<br />
assimilação, não é nem pequena, nem grande. Escapa desse gênero de<br />
conceitos.<br />
Essa mente fundamental é a mesma para to<strong>do</strong>s os seres. Caso se reconheça o seu mo<strong>do</strong> de ser,<br />
neste caso ela nada mais é <strong>do</strong> que o Despertar:<br />
a vacuidade é o corpo absoluto (dharmakaya);<br />
a claridade é o corpo de glória (sambhogakaya);<br />
a inteligência, o corpo de manifestação (nirmanakaya).<br />
A unidade <strong>do</strong>s três componentes — vacuidade, claridade e inteligência — é o que se chama de<br />
"mente". É ainda o que se chama de tathagatagarbha, o potencial <strong>do</strong> Despertar. Quan<strong>do</strong> os três<br />
componentes não são reconheci<strong>do</strong>s pelo que são, é o esta<strong>do</strong> de ser ordinário.<br />
A vacuidade se exprime então como mental, a claridade como palavra, a inteligência sem<br />
obstrução como corpo.<br />
Os três componentes da mente pura se condensam nos três componentes da personalidade temporária.<br />
Pela meditação <strong>do</strong> mahamudra, a natureza verdadeira da mente é reconhecida e os três componentes se<br />
revelam como os três corpos <strong>do</strong> Despertar. Na verdade, um Buddha e um ser ordinário são idênticos.<br />
Possuem fundamentalmente a mesma natureza. Um Budhha a reconhece, um ser ordinário não. É a<br />
única diferença.<br />
Seria muito longo examinar detalhadamente todas as implicações de natureza da mente, <strong>do</strong> ciclo das<br />
existências e da liberação.<br />
Para resumí-las citamos Gampopa:<br />
A mente sem criação artificial é felicidade<br />
A água sem poluição é pura.<br />
Quan<strong>do</strong> se deixa a mente permanecer tal qual em sua própria natureza, ocorre a felicidade interior. A<br />
água deixada em repouso é sem agitação e pura. A mente agitada por muitos pensamentos torna-se<br />
agitada; livre de uma superabundância de pensamentos, guarda sua limpidez própria. Nossa mente,<br />
enquanto vacuidade, claridade e inteligência, é perfeitamente boa em si mesma, naturalmente livre de<br />
sofrimentos. Mas nós não a reconhecemos. Pensamos: "Sou eu", e nós mesmos nos prendemos com a<br />
corda <strong>do</strong> ego, pensan<strong>do</strong> então: "É preciso que eu seja feliz, que eu evite tu<strong>do</strong> o que é desagradável".<br />
Imobilizada nesta atitude, a mente torna-se como que contraída e cria seu próprio sofrimento.<br />
61