Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Manual do Budismo - Jardim do Dharma Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Usamos o termo nirmanakaya (corpo de transformação) para descrever o lado brilhante da mente/corpo. Neste corpo e mente, não há mais ignorância, ações volicionais ou consciência errônea. A função deste corpo e mente é despertar e liberar os seres vivos. O amor e a compaixão podem se manifestar em centenas de milhares de formas diferentes. Avalokiteshvara pode aparecer como uma criança, como um político, ou como uma bela mulher com uma voz tão clara quanto a canção do pássaro kalavinka, o cuco indiano. Um bodhisattva pode ser bonito ou feio, pobre ou rico, saudável ou doente. Qualquer mente/corpo que tem a função de trazer amor, entendimento e felicidade é o corpo de transformação do Buddha. Se a mente/corpo condiciona a consciência por um lado e os seus ayatanas por outro, e se o corpo de transformação condiciona a sabedoria por um lado, o que ele condiciona por outro? Podemos dizer que ele condiciona o corpo resultante (sambhogakaya), que é o fruto da prática profunda que é dita como sendo marcada pelos trinta e dois sinais. Cada corpo é uma coleção dos cinco agregados e tem componentes mentais e fisiológicos (nome e forma). No caso do sambhogakaya, a fisiologia e a psicologia contêm a claridade, a bodhichitta e as quatro sabedorias como meios para ensinar o caminho e não contém a ignorância. Mesmo dentro da mente/corpo do Buddha, há contato. O Buddha bebe água e veste roupas quentes. Se ele não for protegido do frio, ficará doente. Quando os seis órgãos dos sentidos do Buddha estão em contato com os seis objetos dos sentidos, o Buddha não tem sentimento, mas esse sentimento não conduz ao apego. O contato em um Buddha (sambhogakaya) é purificado e atento, e os sentimentos são o mesmo. O sambhogakaya é totalmente protegido porque faz a prática de guardar seus seis órgãos dos sentidos e seus objetos. Também podemos fazer a prática de brilhar a lua da atenção sobre os contatos que tomam lugar entre nossos órgãos dos sentidos e objetos dos sentidos. Se não guardarmos estes contatos, mesmo se nos sentarmos em uma sala de meditação vinte e quatro horas por dia, não estaremos praticando. Quando andamos, falamos, comemos ou o que quer que façamos, se guardarmos nossos sentidos, os contatos que tomarão lugar entre nossos órgãos dos sentidos e os objetos dos sentidos serão claros e calmos. Quanto mais o lado positivo dos doze elos for concernido, mais o contato se tornará a atenção do contato, e mais o sentimento se tornará a atenção do sentimento. Cada contato dos sentidos e cada sentimento têm claridade e calma. Quando os sentimentos e contato são projetados, eles não conduzem ao apego, mas ao amor, à compaixão, à alegria e à equanimidade — as quatro mentes imensuráveis. Com atenção, vemos os sentimentos como dolorosos, agradáveis ou neutros. Quando vemos pessoas sofrendo ou em dor, ou quando as vemos se divertindo de modo tolo, um sentimento em nós dá surgimento à energia da bondade amorosa — o desejo e a capacidade de oferecer alegria real, e isto conduz à energia da compaixão — o desejo e a capacidade de ajudar os seres vivos a por um fim ao seu sofrimento. Esta energia dá surgimento à alegria em nós, e somos capazes de compartilhar nossa alegria com os outros. Também dá surgimento à equanimidade — não tomar partido ou ser levado pelas imagens e sons trazidos a nós através do contato e dos sentimentos. Equanimidade não significa indiferença. Vemos igualmente aqueles que amamos e que odiamos, e tentamos, o melhor que pudermos, fazer ambos felizes. Aceitamos as flores e o lixo nem com apego, nem com aversão. Tratamos ambos com respeito. A equanimidade significa deixar ir, não abandonar. O abandono causa sofrimento. Quando não estamos apegados, somos capazes de deixar ir. As quatro mentes imensuráveis são a base para a liberdade. Quando estamos em contato com as coisas por meio da mente de amor, não fugimos ou procuramos, e essa é a base da liberdade. O não-objetivo tomo o lugar do apego. Quando temos liberdade, o que parecia ser sofrimento torna-se o ser maravilhoso. Também pode ser chamado de o reino de Deus ou a terra pura. Alguém que é livre tem a habilidade de estabelecer uma terra pura, um lugar onde as pessoas não precisam correr. O ser maravilhoso está além do ser e do não-ser. Se um bodhisatwa precisar manifestar um ser, se precisar nascer neste mundo, ele nascerá neste mundo. Ainda há vida, mas ele não está preso nas idéias de ser, não-ser, nascimento ou morte. 56
O ser maravilhoso é o equivalente do vir a ser dos doze elos convencionais. O ser maravilhoso é a base para o ser nascido sem estar preso em idéias errôneas sobre nascimento e morte. A folha tem a aparência de nascer e morrer, mas não está presa em nenhum deles. A folha cai na terra sem qualquer idéia de morrer, e é nascida novamente ao se decompor aos pés da árvore e nutri-la. A nuvem tem a aparência de morrer e se tornar chuva, mas não sente tristeza ou dor. Há pessoas que sofrem quando vêem uma folha morrer. Na época do romantismo, havia jovens que pegavam pétalas de flor caídas, enterravam-nas, lamentavam e escreviam epitáfios. Quando uma folha nasce, podemos cantar Feliz Continuação. Quando uma folha cai, podemos cantar Feliz Continuação. Quando tivermos despertado o entendimento, o nascimento é uma continuação e a morte é uma continuação, o nascimento é uma aparência e a morte é uma aparência. As pessoas também parecem nascer, crescer e morrer. Estudamos os doze elos do co-surgimento interdependente a fim de diminuir o elemento da ignorância em nós e de aumentar o elemento da claridade. Quando nossa ignorância é diminuída, o apego, o ódio, o orgulho e as visões também são diminuídos; e o amor, a compaixão, a alegria e a equanimidade são aumentados. Isto acontece em todos os nidanas. Após a claridade, há a bodhichitta, a grande aspiração. A chave é guardar os seis sentidos e a atenção aos sentimentos e ao contato. Este é o lugar por onde podemos entrar no ciclo e começar a transformálo. Em seu primeiro ensinamento do Dharma, o Buddha precaveu seus discípulos a não se apegarem nem ao bhava nem ao abhava, ao ser ou ao não-ser, porque bhava e abhava são apenas construções da mente. A realidade é algo que está em algum lugar no meio. Quando apresentamos os doze elos da maneira usual, se dissermos que não há apego, isto significa que não haverá ser, que estamos aspirando ao abhava. Mas isto é claramente o que o Buddha não queria. Se você disser que o objetivo da prática é destruir o ser a fim de atingir o não-ser, isto é inteiramente incorreto. Com o não-apego, vemos tanto o ser quanto o não-ser como criações da mente, e flutuamos sobre a onda do nascimento e da morte. Não nos importamos com o nascimento. Não nos importamos com a morte. Se tivermos que nascer de novo para continuar o trabalho de ajudar, tudo bem. Sabemos que nada nasce e que nada pode morrer. Temos a sabedoria do não-nascimento e da não-morte. Sabemos que há nascimento, velhice e morte, mas também sabemos que estas são apenas ondas sobre as quais os bodhisatwas flutuam. O nascimento está tudo bem e a morte está tudo bem se soubermos que eles são apenas conceitos em nossa mente. A realidade transcende tanto o nascimento quanto a morte. No século XI, no Vietnã, um monge perguntou ao seu mestre de meditação: "Onde é o lugar além do nascimento e da morte?". O mestre respondeu: "No meio do nascimento e da morte". Se você abandonar o nascimento e a morte a fim de encontrar o nirvana, não encontrará o nirvana. O nirvana está no nascimento e na morte. O nirvana é nascimento e morte. Depende de como você olha para ele. De um ponto de vista, é nascimento e morte. De outro, é nirvana. Não vamos apresentar o ensinamento do Buddha com uma tentativa de escapar da vida e de ir para o nada ou para o não-ser. Os bodhisatwas fazem o voto de vir de novo e de novo para servir, não por causa do apego, mas por causa de sua preocupação e de sua vontade de ajudar. A prática do viver atento desenvolve o mesmo tipo de sabedoria, preocupação e bondade amorosa em nós, então podemos servir. É a hora de apresentarmos o ensinamento do co-surgimento interdependente de um modo que seja fácil e acessível para as pessoas de nosso tempo. Aqueles que ensinam os doze elos também precisam entender seu lado positivo. 57
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Usamos o termo nirmanakaya (corpo de transformação) para descrever o la<strong>do</strong> brilhante da<br />
mente/corpo.<br />
Neste corpo e mente, não há mais ignorância, ações volicionais ou consciência errônea.<br />
A função deste corpo e mente é despertar e liberar os seres vivos.<br />
O amor e a compaixão podem se manifestar em centenas de milhares de formas diferentes.<br />
Avalokiteshvara pode aparecer como uma criança, como um político, ou como uma bela mulher com<br />
uma voz tão clara quanto a canção <strong>do</strong> pássaro kalavinka, o cuco indiano.<br />
Um bodhisattva pode ser bonito ou feio, pobre ou rico, saudável ou <strong>do</strong>ente. Qualquer mente/corpo que<br />
tem a função de trazer amor, entendimento e felicidade é o corpo de transformação <strong>do</strong> Buddha.<br />
Se a mente/corpo condiciona a consciência por um la<strong>do</strong> e os seus ayatanas por outro, e se o corpo de<br />
transformação condiciona a sabe<strong>do</strong>ria por um la<strong>do</strong>, o que ele condiciona por outro?<br />
Podemos dizer que ele condiciona o corpo resultante (sambhogakaya), que é o fruto da prática<br />
profunda que é dita como sen<strong>do</strong> marcada pelos trinta e <strong>do</strong>is sinais.<br />
Cada corpo é uma coleção <strong>do</strong>s cinco agrega<strong>do</strong>s e tem componentes mentais e fisiológicos (nome e<br />
forma). No caso <strong>do</strong> sambhogakaya, a fisiologia e a psicologia contêm a claridade, a bodhichitta e as<br />
quatro sabe<strong>do</strong>rias como meios para ensinar o caminho e não contém a ignorância.<br />
Mesmo dentro da mente/corpo <strong>do</strong> Buddha, há contato. O Buddha bebe água e veste roupas quentes. Se<br />
ele não for protegi<strong>do</strong> <strong>do</strong> frio, ficará <strong>do</strong>ente.<br />
Quan<strong>do</strong> os seis órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Buddha estão em contato com os seis objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, o<br />
Buddha não tem sentimento, mas esse sentimento não conduz ao apego. O contato em um Buddha<br />
(sambhogakaya) é purifica<strong>do</strong> e atento, e os sentimentos são o mesmo.<br />
O sambhogakaya é totalmente protegi<strong>do</strong> porque faz a prática de guardar seus seis órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e<br />
seus objetos. Também podemos fazer a prática de brilhar a lua da atenção sobre os contatos que tomam<br />
lugar entre nossos órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s. Se não guardarmos estes contatos,<br />
mesmo se nos sentarmos em uma sala de meditação vinte e quatro horas por dia, não estaremos<br />
pratican<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> andamos, falamos, comemos ou o que quer que façamos, se guardarmos nossos<br />
senti<strong>do</strong>s, os contatos que tomarão lugar entre nossos órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e os objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />
serão claros e calmos.<br />
Quanto mais o la<strong>do</strong> positivo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze elos for concerni<strong>do</strong>, mais o contato se tornará a atenção <strong>do</strong><br />
contato, e mais o sentimento se tornará a atenção <strong>do</strong> sentimento.<br />
Cada contato <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e cada sentimento têm claridade e calma. Quan<strong>do</strong> os sentimentos e contato<br />
são projeta<strong>do</strong>s, eles não conduzem ao apego, mas ao amor, à compaixão, à alegria e à equanimidade —<br />
as quatro mentes imensuráveis.<br />
Com atenção, vemos os sentimentos como <strong>do</strong>lorosos, agradáveis ou neutros. Quan<strong>do</strong> vemos pessoas<br />
sofren<strong>do</strong> ou em <strong>do</strong>r, ou quan<strong>do</strong> as vemos se divertin<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> tolo, um sentimento em nós dá<br />
surgimento à energia da bondade amorosa — o desejo e a capacidade de oferecer alegria real, e isto<br />
conduz à energia da compaixão — o desejo e a capacidade de ajudar os seres vivos a por um fim ao<br />
seu sofrimento. Esta energia dá surgimento à alegria em nós, e somos capazes de compartilhar nossa<br />
alegria com os outros. Também dá surgimento à equanimidade — não tomar parti<strong>do</strong> ou ser leva<strong>do</strong><br />
pelas imagens e sons trazi<strong>do</strong>s a nós através <strong>do</strong> contato e <strong>do</strong>s sentimentos.<br />
Equanimidade não significa indiferença. Vemos igualmente aqueles que amamos e que odiamos, e<br />
tentamos, o melhor que pudermos, fazer ambos felizes. Aceitamos as flores e o lixo nem com apego,<br />
nem com aversão. Tratamos ambos com respeito. A equanimidade significa deixar ir, não aban<strong>do</strong>nar.<br />
O aban<strong>do</strong>no causa sofrimento. Quan<strong>do</strong> não estamos apega<strong>do</strong>s, somos capazes de deixar ir.<br />
As quatro mentes imensuráveis são a base para a liberdade.<br />
Quan<strong>do</strong> estamos em contato com as coisas por meio da mente de amor, não fugimos ou procuramos, e<br />
essa é a base da liberdade. O não-objetivo tomo o lugar <strong>do</strong> apego. Quan<strong>do</strong> temos liberdade, o que<br />
parecia ser sofrimento torna-se o ser maravilhoso.<br />
Também pode ser chama<strong>do</strong> de o reino de Deus ou a terra pura. Alguém que é livre tem a habilidade de<br />
estabelecer uma terra pura, um lugar onde as pessoas não precisam correr. O ser maravilhoso está além<br />
<strong>do</strong> ser e <strong>do</strong> não-ser.<br />
Se um bodhisatwa precisar manifestar um ser, se precisar nascer neste mun<strong>do</strong>, ele nascerá neste<br />
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