Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Manual do Budismo - Jardim do Dharma Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Temos de regar as sementes de nossa consciência lúcida. Há ignorância em nós, mas também há sabedoria. A semente do despertar também está presente em cada elo. No adubo há flores; e nas flores há adubo. Se soubermos como olhar para as flores, elas durarão mais. Não pense que há apenas ignorância nos doze elos. Há também a semente da sabedoria desperta. Se você jogar fora os doze elos, não terá os meios para chegar à paz e à alegria. Não jogue fora a ignorância, as ações volicionais ou a consciência. Transforme-as em entendimento e em outros atributos maravilhosos. Como você pode ver, também há um lado positivo dos doze elos, apesar de os mestres buddhistas desde o tempo do Buddha parecerem ter omitido isto. Precisamos encontrar palavras para descrever o co-surgimento interdependente dos estados positivos da mente e do corpo, e não apenas dos estados negativos. O Buddha ensinou que quando a ignorância termina, nada há. O que o entendimento claro condiciona? A claridade, a ausência de ignorância, dá surgimento ao desejo de agir com amor e compaixão. Isto é chamado a grande aspiração ou mente do despertar (sânsc. bodhichitta) no buddhismo Mahayana. Quando você praticar as quatro verdades nobres, verá que pode liberar a você mesmo e os outros seres, parará de fugir e de destruir você mesmo. O lado positivo das ações volicionais é a energia motivadora chamada a grande aspiração que nos propele para os reinos belos e sadios ao invés dos reinos do inferno. Assim como as ações volicionais condicionam a consciência, a grande aspiração condiciona a sabedoria. Quando nossa ignorância for transformada, o que temos chamado de consciência torna-se sabedoria. A consciência é descrita no esquema Vijnanavada em termos de oito consciências e estas são transformadas em quatro sabedorias. Quando as sementes do despertar, do amor e da compaixão de nossa consciência armazém tiverem sido desenvolvidas e amadurecidas, nossa consciência armazém será transformada e se tornará a sabedoria do grande espelho que reflete a realidade do cosmos. Todas as sementes que podem se tornar a sabedoria do grande espelho já estão presentes em nossa consciência armazém. Precisamos apenas regá-las. A sabedoria do grande espelho é o resultado do voto de salvar todos os seres como nossa ação volicional. Quando invocamos o nome de Avalokiteshvara, esta é a vontade e a capacidade de estar lá, ouvindo, respondendo ao sofrimento e ajudando os outros. Quando invocamos o nome de Samantabhadra, essa é a vontade e a capacidade de agir atentamente e de servir alegremente aos outros. Quando invocamos o nome de Manjushri, essa é a vontade e a capacidade de olhar profundamente, entendendo e sendo os olhos do mundo. Com este tipo de vontade, guiada pelo entendimento claro, nossa consciência torna-se um instrumento de engajamento no mundo. A presença de um Buddha é um exemplo deste tipo de ação volicional, uma oferenda de consciência do que está acontecendo, a vontade de ajudar, e saber o que fazer e como fazer a fim de aliviar o sofrimento do mundo. Essa consciência manifesta-se na mente/corpo, assim como ela faz para qualquer um. Mas a qualidade da mente/corpo do Buddha é diferente da nossa, e podemos ver e sentir isso. Precisamos aprender os modos de usar nossa consciência como uma ferramenta de transformação. Nossos seis órgãos dos sentidos — olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente — podem contribuir para o surgimento da sabedoria do grande espelho. Vemos que o Buddha também tem seis sentidos que entram em contato com seis objetos dos sentidos, mas ele sabe como guardar seus sentidos para que os nós mais internos não sejam amarrados. O Buddha usa seus seis sentidos habilmente e realiza coisas maravilhosas. As cinco primeiras consciências tornam-se a sabedoria da realização maravilhosa. Podemos usar estas cinco consciências 54
para servir os outros. A consciência mental, sob emancipação, torna-se a sabedoria da observação maravilhosa, a sabedoria que vê as coisas como elas são. Quando os seis sentidos e seus objetos entram em contato, este contato dá surgimento a um sentimento agradável, desagradável ou neutro. Quando um bodhisatwa vê o sofrimento de uma criança, ele sabe como é o sentimento do sofrimento e também tem um sentimento desagradável. Mas por causa desse sofrimento, a preocupação e a compaixão surgem nele e o bodhisattva é determinado a agir. Os bodhisatwas sofrem como o resto de nós, mas em um bodhisattva os sentimentos não dão surgimento ao apego ou aversão. Eles dão surgimento à preocupação, aos desejos e à vontade de ficar no meio do sofrimento e da confusão, e de agir. Quando um bodhisatwa vê uma bela flor, ele reconhece que a flor é bela. Mas também vê a natureza de impermanência na flor. É por isso que não há apego. Ele tem um sentimento agradável mas não cria uma formação interna. A emancipação não significa que ele suprime todos os sentimentos. Quando ele entra em contato coma a água quente, ele sabe que é quente. Os sentimentos são normais. De fato, estes sentimentos ajudam-no a permanecer na felicidade, não o tipo de felicidade que é sujeito à tristeza e à ansiedade, mas o tipo de felicidade que nutre. Quando você pratica respirando, sorrindo, sendo tocado pelo ar e pela água, esse tipo de felicidade não cria sofrimento em você. Ele o ajuda a ser forte e sensato, capaz de ir além a seu caminho para a realização. Os Buddhas, os bodhisatwas e muitos outros têm a capacidade de desfrutar de um sentimento agradável, o tipo de sentimento que é curador e rejuvenescedor sem se tornar apegados. O sentimento que temos quando vemos pessoas oprimidas ou sofrendo pode fazer surgir em nós a preocupação, a compaixão e o desejo de agir com equanimidade, não com apego. Esta sabedoria da igualdade vem da sétima consciência, manas. Manas é o discriminador número um. Ela diz: "Isto sou eu. Isto é meu. Isto não é meu". Essa é a especialidade de manas. Temos de manter esta consciência, então ela pode se tornar a sabedoria da igualdade. Nossa consciência tem de se transformar e não ser jogada fora. É o mesmo com os cinco agregados. Não dizemos "os cinco agregados são sofrimento" e os jogamos fora. Se o fizermos, nada será deixado — nenhum nirvana, nenhuma paz e nenhuma alegria. Precisamos de uma política inteligente para tomar conta de nosso lixo. A sabedoria da observação maravilhosa transforma manas na sabedoria da igualdade. Somos um. Somos iguais. Posso pensar que você é meu inimigo, mas enquanto toco a dimensão última, vejo que você e eu somos um. Às vezes, precisamos tocar o coração da Terra apenas uma vez e a sabedoria da igualdade aparecerá bem no coração de nossa consciência manas. A sabedoria da observação maravilhosa toma o lugar da sexta consciência, a consciência mental. Antes do desaparecimento da ignorância, a sexta consciência dá surgimento a muitas percepções errôneas, como ver uma corda como sendo uma cobra, e a muito sofrimento. Devido à "transformação na base" — a consciência armazém tornando-se a sabedoria do grande espelho — a sexta consciência pode ser transformada na sabedoria da observação maravilhosa. A quarta sabedoria, a sabedoria do grande espelho, traz milagres. No passado, nossa consciência visual nos fez apaixonados ou nos colocou no escuro. Agora, com nossos olhos abertos, podemos ver o dharmakaya, o ensinamento do corpo do Buddha. Quando nossa mente for clara como um rio claro, a sexta consciência será a sabedoria da observação maravilhosa e nossa consciência armazém será a sabedoria do grande espelho. O entendimento claro condiciona a grande aspiração e a sabedoria. Se a consciência condiciona a mente/corpo, o que a sabedoria condiciona? Nós temos corpo e mente, os bodhisatwas têm corpo e mente e o Buddha tem um corpo e uma mente. Não devemos jogar nosso corpo e mente a fim de experienciar a liberação. 55
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Temos de regar as sementes de nossa consciência lúcida. Há ignorância em nós, mas também há<br />
sabe<strong>do</strong>ria. A semente <strong>do</strong> despertar também está presente em cada elo. No adubo há flores; e nas flores<br />
há adubo. Se soubermos como olhar para as flores, elas durarão mais.<br />
Não pense que há apenas ignorância nos <strong>do</strong>ze elos. Há também a semente da sabe<strong>do</strong>ria desperta.<br />
Se você jogar fora os <strong>do</strong>ze elos, não terá os meios para chegar à paz e à alegria.<br />
Não jogue fora a ignorância, as ações volicionais ou a consciência. Transforme-as em entendimento e<br />
em outros atributos maravilhosos.<br />
Como você pode ver, também há um la<strong>do</strong> positivo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze elos, apesar de os mestres buddhistas<br />
desde o tempo <strong>do</strong> Buddha parecerem ter omiti<strong>do</strong> isto.<br />
Precisamos encontrar palavras para descrever o co-surgimento interdependente <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s positivos<br />
da mente e <strong>do</strong> corpo, e não apenas <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s negativos.<br />
O Buddha ensinou que quan<strong>do</strong> a ignorância termina, nada há. O que o entendimento claro condiciona?<br />
A claridade, a ausência de ignorância, dá surgimento ao desejo de agir com amor e compaixão.<br />
Isto é chama<strong>do</strong> a grande aspiração ou mente <strong>do</strong> despertar (sânsc. bodhichitta) no buddhismo<br />
Mahayana.<br />
Quan<strong>do</strong> você praticar as quatro verdades nobres, verá que pode liberar a você mesmo e os outros seres,<br />
parará de fugir e de destruir você mesmo. O la<strong>do</strong> positivo das ações volicionais é a energia motiva<strong>do</strong>ra<br />
chamada a grande aspiração que nos propele para os reinos belos e sadios ao invés <strong>do</strong>s reinos <strong>do</strong><br />
inferno.<br />
Assim como as ações volicionais condicionam a consciência, a grande aspiração condiciona a<br />
sabe<strong>do</strong>ria.<br />
Quan<strong>do</strong> nossa ignorância for transformada, o que temos chama<strong>do</strong> de consciência torna-se sabe<strong>do</strong>ria.<br />
A consciência é descrita no esquema Vijnanavada em termos de oito consciências e estas são<br />
transformadas em quatro sabe<strong>do</strong>rias.<br />
Quan<strong>do</strong> as sementes <strong>do</strong> despertar, <strong>do</strong> amor e da compaixão de nossa consciência armazém tiverem<br />
si<strong>do</strong> desenvolvidas e amadurecidas, nossa consciência armazém será transformada e se tornará a<br />
sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> grande espelho que reflete a realidade <strong>do</strong> cosmos.<br />
Todas as sementes que podem se tornar a sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> grande espelho já estão presentes em nossa<br />
consciência armazém. Precisamos apenas regá-las.<br />
A sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> grande espelho é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> voto de salvar to<strong>do</strong>s os seres como nossa ação<br />
volicional.<br />
Quan<strong>do</strong> invocamos o nome de Avalokiteshvara, esta é a vontade e a capacidade de estar lá, ouvin<strong>do</strong>,<br />
responden<strong>do</strong> ao sofrimento e ajudan<strong>do</strong> os outros.<br />
Quan<strong>do</strong> invocamos o nome de Samantabhadra, essa é a vontade e a capacidade de agir atentamente e<br />
de servir alegremente aos outros.<br />
Quan<strong>do</strong> invocamos o nome de Manjushri, essa é a vontade e a capacidade de olhar profundamente,<br />
entenden<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> os olhos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Com este tipo de vontade, guiada pelo entendimento claro,<br />
nossa consciência torna-se um instrumento de engajamento no mun<strong>do</strong>.<br />
A presença de um Buddha é um exemplo deste tipo de ação volicional, uma oferenda de consciência<br />
<strong>do</strong> que está acontecen<strong>do</strong>, a vontade de ajudar, e saber o que fazer e como fazer a fim de aliviar o<br />
sofrimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Essa consciência manifesta-se na mente/corpo, assim como ela faz para<br />
qualquer um. Mas a qualidade da mente/corpo <strong>do</strong> Buddha é diferente da nossa, e podemos ver e sentir<br />
isso.<br />
Precisamos aprender os mo<strong>do</strong>s de usar nossa consciência como uma ferramenta de transformação.<br />
Nossos seis órgãos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s — olhos, ouvi<strong>do</strong>s, nariz, língua, corpo e mente — podem contribuir<br />
para o surgimento da sabe<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> grande espelho. Vemos que o Buddha também tem seis senti<strong>do</strong>s<br />
que entram em contato com seis objetos <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, mas ele sabe como guardar seus senti<strong>do</strong>s para<br />
que os nós mais internos não sejam amarra<strong>do</strong>s.<br />
O Buddha usa seus seis senti<strong>do</strong>s habilmente e realiza coisas maravilhosas. As cinco primeiras<br />
consciências tornam-se a sabe<strong>do</strong>ria da realização maravilhosa. Podemos usar estas cinco consciências<br />
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