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Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmo, ou apenas um<br />

fragmento.<br />

Uma possibilidade é a de ver o Buddha como uma figura histórica particular, uma pessoa que viveu no<br />

que é hoje o norte da Índia, no V e VI séculos a.C. e que passou por um despertar transforma<strong>do</strong>r aos<br />

trinta e cinco anos de idade. Podemos nos remeter de uma forma muito humana e histórica,<br />

compreenden<strong>do</strong> suas lutas, sua busca, sua iluminação, da perspectiva de um ser humano em relação a<br />

outro. Outro nível de relacionamento é o de ver o Buddha como um arquétipo fundamental da<br />

humanidade; isto é, como a manifestação plena da natureza <strong>do</strong> Buddha, a mente que está livre de<br />

aviltamento e distorção, compreenden<strong>do</strong> sua história de vida como uma grande jornada representan<strong>do</strong><br />

alguns aspectos arquetípicos básicos da existência humana.<br />

Olhan<strong>do</strong> a vida <strong>do</strong> Buddha dessas duas maneiras, como um personagem histórico e como um<br />

arquétipo, torna-se possível ver o desenrolar <strong>do</strong>s princípios universais dentro <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> particular de<br />

sua experiência de vida. Podemos então ver a vida <strong>do</strong> Buddha não como a história abstrata e remota de<br />

alguém que viveu há 2.500 anos, porém como uma que revela a natureza <strong>do</strong> universal dentro de to<strong>do</strong>s<br />

nós. Isto se torna um meio de entender nossa própria experiência num contexto maior e mais profun<strong>do</strong>,<br />

um que conecta a jornada <strong>do</strong> Buddha à nossa própria.<br />

De qualquer forma, existe um núcleo comum a to<strong>do</strong>s os registros tradicionais sobre o Buddha. Os<br />

aspectos mais importantes da sua vida e <strong>do</strong> seu ensinamento são os mesmos em todas as escolas<br />

budistas.<br />

A função <strong>do</strong> mito consiste em revelar os modelos e fornecer assim uma significação ao mun<strong>do</strong> e à<br />

existência humana. Daí seu imenso papel na constituição <strong>do</strong> homem. Graças ao mito, despontam<br />

lentamente as idéias de realidade, de valor, de transcendência. Graças ao mito, o mun<strong>do</strong> pode ser<br />

discerni<strong>do</strong> como cosmo perfeitamente articula<strong>do</strong>, inteligível e significativo.<br />

Ao narrar como as coisas foram feitas, os mitos revelam por quem e por que o foram, e em quais<br />

circunstâncias. Todas essas "revelações" engajam o homem mais ou menos diretamente, pois<br />

constituem uma "história sagrada". Os mitos, em suma, recordam continuamente que eventos<br />

grandiosos tiveram lugar sobre a Terra, e que esse "passa<strong>do</strong> glorioso" é em parte recuperável.<br />

A imitação <strong>do</strong>s gestos paradigmáticos tem igualmente um aspecto positivo: o rito força o homem a<br />

transcender os seus limites, obriga-o a situar-se ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s deuses e <strong>do</strong>s heróis míticos, a fim de poder<br />

realizar os atos deles. Direta ou indiretamente, o mito "eleva" o homem.<br />

Em suma, as experiências religiosas privilegiadas, quan<strong>do</strong> são comunicadas através de um enre<strong>do</strong><br />

fantástico e impressionante, conseguem impor a toda a comunidade os modelos ou as fontes da<br />

inspiração. Nas sociedades arcaicas como em todas as outras partes, a cultura se constitui e se renova<br />

graças às experiências cria<strong>do</strong>ras de alguns indivíduos.<br />

Mas, como a cultura arcaica gravita em torno <strong>do</strong>s mitos, e como estes últimos são continuamente<br />

reinterpreta<strong>do</strong>s e aprofunda<strong>do</strong>s pelos especialistas <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>, a sociedade em seu conjunto é<br />

conduzida para os valores e as significações descobertas e veiculadas por esses poucos indivíduos.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o mito ajuda o homem a ultrapassar os seus próprios limites e condicionamentos, e<br />

incita-o a elevar-se para "onde estão os maiores".<br />

To<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> poderia ser dedica<strong>do</strong> às relações entre as grandes personalidades religiosas, sobretu<strong>do</strong><br />

os reforma<strong>do</strong>res e os profetas, e os esquemas mitológicos tradicionais. Os movimentos messiânicos e<br />

milenaristas <strong>do</strong>s povos das antigas colônias constituem um campo de investigações quase ilimita<strong>do</strong>.<br />

Pode-se reconstituir, ao menos em parte, o cunho de Zaratustra na mitologia iraniana ou de Buddha nas<br />

mitologias tradicionais indianas. Quan<strong>do</strong> ao judaísmo, a poderosa "desmistificação" realizada pelos<br />

profetas é há longo tempo conhecida.<br />

Há uma riqueza de material fonte quanto ao Buddha Gautama, muito mais <strong>do</strong> que para Confúcio ou<br />

Jesus Cristo, por exemplo. O problema, assim, torna-se de seleção. Há também, como Erich<br />

Frauwallner que apontou muito mais fatos históricos disponíveis para o Buddha <strong>do</strong> que para seus<br />

contemporâneos próximos, os gregos Tales e Pitágoras. Não há dúvida quanto à existência da pessoa<br />

que advogou o pensamento único que atribuímos a ele.<br />

A história da vida <strong>do</strong> Buddha tem um grande significa<strong>do</strong> para nós. Ela exemplifica os grandes<br />

potenciais e capacidades que são intrínsecos à existência humana. No meu ponto de vista, os eventos<br />

que conduziram [o Buddha] à iluminação completa dão um exemplo adequa<strong>do</strong> e inspira<strong>do</strong>r aos seus<br />

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