Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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Após a morte <strong>do</strong> pai, Vidūdabha assumiu o trono e decidiu massacrar os Śākyas. Por três vezes, ele viu<br />
o Buddha meditan<strong>do</strong> sob uma árvore na fronteira <strong>do</strong> país e desistiu de atacar. Porém, na quarta e<br />
última empreitada, suas tropas marcharam sobre Kapilavastu.<br />
Apesar de estarem arma<strong>do</strong>s, os Śākyas não atacaram e foram completamente aniquila<strong>do</strong>s. Algumas<br />
fontes afirmam que 77.000 pessoas foram mortas e 80.000 crianças foram raptadas. Os registros<br />
afirmam que 500 mulheres foram levadas ao harém de Vidūdabha, mas como não quiseram se<br />
submeter, elas tiveram seus membros corta<strong>do</strong>s e foram mortas.<br />
Os únicos poupa<strong>do</strong>s por Vidūdabha foram o seu avô Mahānāma e os segui<strong>do</strong>res dele. O próprio<br />
Mahānāma foi aprisiona<strong>do</strong> e convida<strong>do</strong> a participar de uma refeição, na qual deveria comer a carne <strong>do</strong><br />
filho de uma escrava. Para escapar, Mahānāma pediu para se banhar em um lago, onde tentou se<br />
suicidar e teria si<strong>do</strong> milagrosamente salvo pelos míticos nāgas. Pouco tempo depois, durante uma<br />
noite, Vidūdabha e seus solda<strong>do</strong>s foram leva<strong>do</strong>s por uma enchente noturna, morren<strong>do</strong> afoga<strong>do</strong>s. O<br />
Buddha faleceu no ano seguinte, atingin<strong>do</strong> a liberação final.<br />
Alguns Śākyas fugiram para os Himalāyas, onde fundaram a cidade de Maurya-nagara.<br />
Nesta cidade originou-se a dinastia Maurya, responsável pela unificação da Índia nos tempos <strong>do</strong><br />
impera<strong>do</strong>r budista Aśoka<br />
Pandu, filho de Amitodana <strong>do</strong>s Śākyas, também teria consegui<strong>do</strong> escapar, cruzan<strong>do</strong> o Ganges e<br />
fundan<strong>do</strong> uma cidade <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio. Sua filha Bhaddakaccānā casou-se com o rei Panduvāsudeva<br />
<strong>do</strong> Śrī Lankā. Seis irmãos de Bhaddakaccānā também foram para o Śrī Lankā.<br />
A cidade de Kapilavastu caiu em ruínas provavelmente após a morte <strong>do</strong> rei Kaniska <strong>do</strong>s Kuṣānas<br />
(séculos I-II a.C.).<br />
Os Textos Tradicionais Sobre Buda<br />
Os textos tradicionais sobre o Buddha Śākyamuni e suas vidas passadas estão repletos de alegorias que<br />
foram adicionadas ao longo <strong>do</strong>s séculos. Apesar de não poderem ser trata<strong>do</strong>s como registros históricos,<br />
os elementos mitológicos possuem uma importância espiritual muito grande, expressan<strong>do</strong> verdades<br />
profundas de maneira simples.<br />
Desta forma, o budismo tornou-se acessível a um número<br />
maior de pessoas e há mais de 2.500 anos tem inspira<strong>do</strong><br />
gerações de praticantes laicos e monásticos.<br />
A história de Buddha, pode-se dizer, não é um mito. Na<br />
verdade é possível desemaranhar da lenda de Buddha, assim<br />
como da história de Cristo, um núcleo de fato histórico. Fazer<br />
isso e demonstrar claramente seu preceito tem si<strong>do</strong> uma grande realização <strong>do</strong> ensino oriental durante o<br />
último meio século. Aqui, entretanto, iremos nos preocupar com a história mítica <strong>do</strong> Buddha, tal como<br />
esta é relatada em vários trabalhos que não são, estritamente falan<strong>do</strong>, históricos, mas têm um<br />
inquestionável valor literário e espiritual.<br />
Há mais de meio século, os eruditos ocidentais passaram a estudar o mito por uma perspectiva que<br />
contrasta sensivelmente com a <strong>do</strong> século XIX, por exemplo.<br />
Ao invés de tratar, como seus predecessores, o mito na acepção usual <strong>do</strong> termo, isto é, como "fábula",<br />
"invenção", "ficção", eles o aceitaram tal qual era compreendi<strong>do</strong> pelas sociedades arcaicas, onde o<br />
mito designa, ao contrário, uma "história verdadeira" e, ademais, extremamente preciosa por seu<br />
caráter sagra<strong>do</strong>, exemplo e significativo.<br />
Mas esse novo valor semântico conferi<strong>do</strong> ao vocábulo "mito" torna o seu emprego na linguagem um<br />
tanto equívoco. De fato, a palavra é hoje empregada tanto no senti<strong>do</strong> de "ficção" ou "ilusão" como no<br />
senti<strong>do</strong> — familiar, sobretu<strong>do</strong> aos etnólogos, sociólogos e historia<strong>do</strong>res de religiões — de "tradição<br />
sagrada, revelação primordial, modelo exemplar”.<br />
Compreender a estrutura e a função <strong>do</strong>s mitos nas sociedades tradicionais não significa apenas elucidar<br />
uma etapa na história <strong>do</strong> pensamento humano, mas também compreender melhor uma categoria <strong>do</strong>s<br />
nossos contemporâneos.<br />
O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorri<strong>do</strong> no tempo primordial, o<br />
tempo fabuloso <strong>do</strong> "princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas <strong>do</strong>s entes<br />
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