Manual do Budismo - Jardim do Dharma

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aterrorizado, decidiu que se contentaria em submeter-se aos mosteiros. Depois da ascensão de Cho-gyal Ralpachen, seguiu-se um período durante o qual o budismo fez-se subterrâneo. Durante esse período, os lamas ngakphang mantiveram viva a linhagem Nyingma, razão pela qual são mantidas em altíssima estima na Escola Nyingma. Se não fosse pela sangha ngakphang, a linhagem Nyingma estaria morta. A história desse período é obviamente muito mais complexa e detalhada do que se descreve aqui, ainda que se espere que seja suficiente como introdução à nossa tradição. Esta é obviamente uma maravilhosa oportunidade para aqueles que são inspirados pelo budismo, ainda que sua personalidade não se harmonize com o celibato. Mas isso também possui um pouco de ameaça para quem vai ao budismo primariamente monástico, do que para quem considera como seu dever conservar a primazia do estado monástico no estabelecimento do budismo no ocidente. Muita gente considera que há unicamente duas possibilidades dentro do budismo: "monge" ou "leigo", e principalmente a opção "leigo" é vista como inferior, a menos que uma pessoa chegue a ser tulku tibetano, aqueles que tomaram os votos monásticos ou nunca os receberam. Existem tanto tulkus celibatários quanto não celibatários, mas não existe "tulku leigo" ou "lama leigo". Não existe lama que possa ser considerado não praticante ou não especialista. São os Lamas quem sustentam ou a ordenação monástica ou a ordenação ngakphang, especialmente na tradição Dzogchen, mas não existem lamas leigos. Usar o termo "leigo" para “não celibatário” também conduz à confusão quando se fala de ordens religiosas não celibatárias que não são budistas. Uma vez que a sensibilidade política aconselha cuidado com a língua, deveríamos prestar atenção ao inadvertido prejuízo inerente ao classificar praticantes não celibatários como "leigos". Tanto o judaísmo, quanto o cristianismo e o islamismo têm uma associação não celibatária, e seria altamente desrespeitoso classificá-los como não praticantes, não especialistas, ou aficionados não pertencentes ao clero. A ordenação ngakphang baseia-se nos votos tântricos e, portanto é diferente em seu caráter da ordenação tomada por monges e monjas. (adaptado da revista Vision – Primavera 1996, N° 1). Praticantes não monásticos da Yoga Budista Ngakpas (sngags-pa, aqueles que usam o mantra) são praticantes comprometidos e não monásticos da tradição tântrica budista. Sabemos que nem todos os discípulos do Buda Sakyamuni são monges e monjas. O mercador Vimalakirti foi um debatedor tão reconhecido quanto o monge erudito Shariputra, Estudiosos como Lamotte e Conze e o sociologista Weber sugeriram que um fator do desenvolvimento do budismo mahayana foi a tensão entre os bhikkus (monges) de manto vermelho escuro e os praticantes budistas que usam vestimentas brancas. Isso culminou com uma divisão no Conselho de Vaishali entre os Sthaviras (antigos) e os Mahasanghikas (grande assembléia) há mais ou menos 100 anos depois da passagem do Buda Sakyamuni. O primeiro grupo (as dezoito escolas do Hinayana) defendiam que para obter a liberação do ciclo de nascimento e morte, uma pessoa deveria, em primeiro lugar, renascer como homem e assim tornar-se um monge. Os outros defendiam que a iluminação era possível para qualquer um, já que todos os seres humanos possuem uma inclinação inata para isso. (Poderíamos ir além e dizer que todos os seres sencientes têm a natureza búdica). Ambas as visões são tradições autênticas. O budismo tibetano também absorveu, em especial, a tradição Mahasiddha. Esse é um movimento que talvez tenha se originado no sul da Índia, mas definitivamente alcançou seu 126

pico no noroeste desse país, entre os séculos três e treze. Esses praticantes caracterizavam-se pelo reconhecimento do papel essencial das mulheres e sua singular devoção ao Guru. Sua atitude e prática talvez tenham se originado em escolas do Hinduísmo, como nas tradições de Shivaite e Shakti (inclusive a tradição Goraknath, ainda viva hoje no Nepal, é considerada tanto Hindu quanto Budista.). Por certo, os métodos de meditação e práticas que eles adotaram eram diferentes daqueles geralmente ensinados nos mosteiros da época. Um siddha é um individuo (popularmente conhecido como yogui ou, na tradição Islâmica, como fakir) que por meio da prática de certos rituais e disciplinas psicofísicas obtém o reconhecimento de siddhis – habilidades extraordinárias. Muitos desses siddhas eram eremitas ou yoguis itinerantes, muito parecidos aos sadhus da Índia moderna. Mahasiddha é a expressão sânscrita para um grande adepto. O termo se aplica apenas àqueles yoguis que demonstraram sinais indiscutíveis de sua realização. A tradição indiana mostra que existem oitenta e quatro desses, cuja graça preenchem o mundo (resquício da idéia judaica do Lamed Vav, os trinta e seis homens justos). Aqueles que obtinham realizações (e estavam dispostos a ela) geralmente aceitavam alunos e, quando também demonstravam a eficácia de seus ensinamentos, então, a linhagem era fundada. Algumas vezes, a fonte dos ensinamentos tântricos que permite a aquisição de siddhis é considerada o Buda histórico, mas muitas vezes é atribuída a Vajradhara, também conhecido em algumas ocasiões como Vajradharma, que é o Professor metafísico. Talvez ele tenha revelado os ensinamentos diretamente ou tenha escondido-os para serem recuperados mais tarde, via intuição, visões ou sonhos. Transformação Já que o budismo tântrico usa o método da transformação em vez da supressão ou extirpação, os “apetites” como o desejo sexual não estão fora dos limites para praticantes avançados. De fato, os mais altos tantras trabalham com as energias do corpo para avançar o progresso de uma pessoa rumo à iluminação. Nem todos nesse caminho têm um parceiro, mas para alguns é uma vantagem. (Hoje em dia, um casal geralmente casa de acordo as normas sociais – mas casamento não necessariamente é visto como uma “necessidade espiritual”. Algumas vezes os tabus convencionais eram quebrados intencionalmente quando um parceiro sexual provinha de uma casta inferior ou não pertencia ao grupo. O mesmo acontecia com as profissões. Por exemplo, o jovem Brahman, Saraha, um dos grandes eruditos e poetas do budismo, vivia com sua namorada de casta inferior, que fazia flechas (trabalhando com as penas de pássaros mortos). Naropa, abade da universidade monástica de Nalanda, abandonou sua carreira para seguir Tilopa, o (aparentemente) louco asceta que vivia isoladamente em lugares de cremação com várias mulheres. Uma vez que os tantras mais elevados promoviam atividades que não podiam ser praticadas nos mosteiros porque as regras monásticas (skt. Vinaya) proibiam-nos, quando mahasiddhas como Padmasambhava e Vimalamitra levaram o budismo tântrico para o Tibete no século oito, formou-se uma irmandade alternativa. Esses grupos foram estabelecidos sob a orientação de indivíduos como Nubchen Sangye Yeshe (9º. Século) que, em contraste com os monges do mosteiro Samye, vestiam-se como um xamã Bonpo. Foi ele que intimidou o Rei Langdarma com escorpiões. Na caverna de Drag-yang-dzang, sua purba, ou sua “adaga” mágica com três laminas, perfurou um rocha sólida como se fosse manteiga. Nubchen era um praticante budista casado e realizado que também era um Lama (skt. Guru) e, além de ser um feiticeiro/mago, era um erudito e tradutor. Entretanto, seus ensinamentos baseados nos tantras mais elevados usavam simbolismo sexual e outras referências que não eram consideradas apropriadas – a sociedade Tibetana não é nada pudica, mas mostrar imagens como as usadas nos tantras elevados causavam ofensa. Com o budismo sendo patrocinado pelo governo que pagava pela tradução e disseminação dos sutras, do Vinaya e dos comentários, e apenas até certo ponto dos tantras menores, qualquer professor de tantras elevados ou seus alunos tinham de ser muito discretos. De fato, alguns dos métodos transformadores empregam um tipo de método de choque. Então, por 127

aterroriza<strong>do</strong>, decidiu que se contentaria em submeter-se aos mosteiros.<br />

Depois da ascensão de Cho-gyal Ralpachen, seguiu-se um perío<strong>do</strong> durante o qual o budismo fez-se<br />

subterrâneo.<br />

Durante esse perío<strong>do</strong>, os lamas ngakphang mantiveram viva a linhagem Nyingma, razão pela qual são<br />

mantidas em altíssima estima na Escola Nyingma.<br />

Se não fosse pela sangha ngakphang, a linhagem Nyingma estaria morta. A história desse perío<strong>do</strong> é<br />

obviamente muito mais complexa e detalhada <strong>do</strong> que se descreve aqui, ainda que se espere que seja<br />

suficiente como introdução à nossa tradição.<br />

Esta é obviamente uma maravilhosa oportunidade para aqueles que são inspira<strong>do</strong>s pelo budismo, ainda<br />

que sua personalidade não se harmonize com o celibato.<br />

Mas isso também possui um pouco de ameaça para quem vai ao budismo primariamente monástico, <strong>do</strong><br />

que para quem considera como seu dever conservar a primazia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> monástico no<br />

estabelecimento <strong>do</strong> budismo no ocidente.<br />

Muita gente considera que há unicamente duas possibilidades dentro <strong>do</strong> budismo: "monge" ou "leigo",<br />

e principalmente a opção "leigo" é vista como inferior, a menos que uma pessoa chegue a ser tulku<br />

tibetano, aqueles que tomaram os votos monásticos ou nunca os receberam.<br />

Existem tanto tulkus celibatários quanto não celibatários, mas não existe "tulku leigo" ou "lama leigo".<br />

Não existe lama que possa ser considera<strong>do</strong> não praticante ou não especialista.<br />

São os Lamas quem sustentam ou a ordenação monástica ou a ordenação ngakphang, especialmente na<br />

tradição Dzogchen, mas não existem lamas leigos.<br />

Usar o termo "leigo" para “não celibatário” também conduz à confusão quan<strong>do</strong> se fala de ordens<br />

religiosas não celibatárias que não são budistas.<br />

Uma vez que a sensibilidade política aconselha cuida<strong>do</strong> com a língua, deveríamos prestar atenção ao<br />

inadverti<strong>do</strong> prejuízo inerente ao classificar praticantes não celibatários como "leigos". Tanto o<br />

judaísmo, quanto o cristianismo e o islamismo têm uma associação não celibatária, e seria altamente<br />

desrespeitoso classificá-los como não praticantes, não especialistas, ou aficiona<strong>do</strong>s não pertencentes ao<br />

clero. A ordenação ngakphang baseia-se nos votos tântricos e, portanto é diferente em seu caráter da<br />

ordenação tomada por monges e monjas. (adapta<strong>do</strong> da revista Vision – Primavera 1996, N° 1).<br />

Praticantes não monásticos da Yoga Budista<br />

Ngakpas (sngags-pa, aqueles que usam o mantra)<br />

são praticantes comprometi<strong>do</strong>s e não monásticos<br />

da tradição tântrica budista.<br />

Sabemos que nem to<strong>do</strong>s os discípulos <strong>do</strong> Buda<br />

Sakyamuni são monges e monjas. O merca<strong>do</strong>r<br />

Vimalakirti foi um debate<strong>do</strong>r tão reconheci<strong>do</strong><br />

quanto o monge erudito Shariputra,<br />

Estudiosos como Lamotte e Conze e o sociologista<br />

Weber sugeriram que um fator <strong>do</strong><br />

desenvolvimento <strong>do</strong> budismo mahayana foi a<br />

tensão entre os bhikkus (monges) de manto<br />

vermelho escuro e os praticantes budistas que<br />

usam vestimentas brancas.<br />

Isso culminou com uma divisão no Conselho de Vaishali entre os Sthaviras (antigos) e os<br />

Mahasanghikas (grande assembléia) há mais ou menos 100 anos depois da passagem <strong>do</strong> Buda<br />

Sakyamuni.<br />

O primeiro grupo (as dezoito escolas <strong>do</strong> Hinayana) defendiam que para obter a liberação <strong>do</strong> ciclo de<br />

nascimento e morte, uma pessoa deveria, em primeiro lugar, renascer como homem e assim tornar-se<br />

um monge. Os outros defendiam que a iluminação era possível para qualquer um, já que to<strong>do</strong>s os seres<br />

humanos possuem uma inclinação inata para isso. (Poderíamos ir além e dizer que to<strong>do</strong>s os seres<br />

sencientes têm a natureza búdica). Ambas as visões são tradições autênticas.<br />

O budismo tibetano também absorveu, em especial, a tradição Mahasiddha.<br />

Esse é um movimento que talvez tenha se origina<strong>do</strong> no sul da Índia, mas definitivamente alcançou seu<br />

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