Manual do Budismo - Jardim do Dharma
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Pergunta: Pode falar mais sobre a visão Bon de Madhyamaka?<br />
Alex: Eu não estudei textos Bon sobre Madhyamaka. A interpretação de Madhyamaka varia em cada<br />
uma das quatro tradições tibetanas. Mesmo dentro de cada tradição, os vários livros didáticos e autores<br />
têm opiniões diferentes. Imagino que dentro <strong>do</strong> Bon também há variações. Estou in<strong>do</strong> apenas pela<br />
inferência. Se os bonpos estão aprenden<strong>do</strong> debate em mosteiros Gelug – embora alguns também<br />
debatam em mosteiros Sakya – eles têm de aceitar a visão <strong>do</strong> mosteiro em que estão treinan<strong>do</strong>. Não<br />
faria senti<strong>do</strong> nenhum que eles não aceitassem essa visão. Poderiam igualmente fazer o treinamento <strong>do</strong><br />
debate num mosteiro Nyingma se aceitassem a visão Nyingma de Madhyamaka.<br />
Precisamos de uma visão correta <strong>do</strong> vazio para alcançar a iluminação. Contu<strong>do</strong>, há muitas maneiras de<br />
explicar a visão correta. Temos de ter muito cuida<strong>do</strong> ao examinar as diferentes tradições tibetanas.<br />
Elas definem os termos centrais de uma maneira muito diferente. Se dermos as definições Gelug aos<br />
termos Kagyu, por exemplo, então o que dizemos soará muito estranho. Mas se lermos a apresentação<br />
Kagyu <strong>do</strong> ponto de vista das suas próprias definições, fará perfeitamente senti<strong>do</strong>.<br />
Também temos de ter o cuida<strong>do</strong> de considerar a teoria de percepção de cada escola. Se apenas<br />
olharmos para a apresentação de Madhyamaka de uma escola independentemente da sua definição de<br />
cognição conceptual e não-conceptual, esta se torna muito confusa. As teorias de percepção Nyingma,<br />
Kagyu e Sakya são muito diferentes da Gelug. Nós, no ocidente, vin<strong>do</strong>s de uma visão bíblica <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>, queremos Uma Verdade, Um Deus — esta é a maneira que é, e acabou. Mas não é assim.<br />
Uma visão correta pode ser descrita de muitas maneiras diferentes. A diferença principal está em falar<br />
<strong>do</strong> vazio como um objeto que é compreendi<strong>do</strong> pela mente ou então como a mente que compreende o<br />
vazio. Dzogchen descreve o vazio <strong>do</strong> ponto de vista da mente que o compreende. Gelug discute-o, no<br />
sutra, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> próprio vazio. No tantra anuttarayoga, com a discussão da luz clara, a<br />
apresentação Gelug é semelhante à de dzogchen. Pareceria que o Bon segue Gelug na tradição <strong>do</strong><br />
sutra, mas segue o estilo Nyingma pelo menos em dzogchen. Eu não sei sobre as classes <strong>do</strong> tantra mais<br />
baixas. Não fiz um treino aprofunda<strong>do</strong> sobre Bon. Apenas li sobre ele.<br />
Eu penso que, de tu<strong>do</strong> isto, temos de concluir que este assunto é na verdade muito complexo. Todas<br />
estas linhagens não existiam isoladas umas das outras no Tibete. As coisas não existem assim. Elas<br />
tiveram contato e interação. Linhagens independentes não existem. Mesmo dentro de cada escola<br />
tibetana há várias linhagens de tantra, várias interpretações de Madhyamaka, etc., cada uma com uma<br />
história diferente. Algumas são em comum com outras escolas. É como um entrelaçar de diferentes<br />
tranças de cabelo, ou como uma família. Não é que cada linhagem tenha permaneci<strong>do</strong> igual desde sua<br />
fundação. As coisas são muito mais fluidas. Nós gostamos de traçar um grande círculo à volta das<br />
coisas e de transformá-las em entidades sólidas, mas essa não é a realidade.<br />
Pergunta: Você diria que a religião no Tibete era, antes da tradição monástica, uma atividade<br />
principalmente de família, que era mantida localmente?<br />
Alex: Eu não diria isso. Não é como a religião judaica, por exemplo, em que depois da destruição <strong>do</strong><br />
Segun<strong>do</strong> Templo, os rituais foram continua<strong>do</strong>s dentro da família de mo<strong>do</strong> que a mãe conduzia os<br />
serviços na sexta-feira à noite e a família tinha a responsabilidade pela educação das crianças. No<br />
Tibete a religião não era uma tradição de família nesse senti<strong>do</strong>. A única evidência que temos vem <strong>do</strong>s<br />
sacrifícios e das Cerimônias de enterro oficiais para o rei.<br />
Como é que era ao nível local? Imagino que havia clérigos locais que faziam rituais nas vilas para as<br />
pessoas, tal como os budistas fazem agora. Os monges são convida<strong>do</strong>s a ir às suas casas fazer rituais e<br />
outras práticas. Como é que os antigos clérigos das vilas eram treina<strong>do</strong>s? Era de pai para filho? As<br />
mulheres estavam envolvidas? Era uma casta?<br />
Não faço ideia. Uma vez mais, há muito pouca evidência. Devem ter ti<strong>do</strong> uma tradição escrita. Havia<br />
tradutores de Zhang-zhung em Samyay que obviamente estavam traduzin<strong>do</strong> algo. Penso que o nível de<br />
educação e sofisticação nas áreas remotas <strong>do</strong> antigo Tibete não era muito eleva<strong>do</strong>. Em muitos países<br />
das épocas antigas, os rituais eram exclusivos às cortes reais e não estavam muito difundi<strong>do</strong>s à<br />
população, especialmente nas áreas remotas. Lembrem-se, por favor, que o Tibete não tinha grandes<br />
cidades.<br />
Não era como a antiga Roma. Havia pequenas vilas e nômades. Como seria disseminada a instrução<br />
sobre os rituais?<br />
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