Manual do Budismo - Jardim do Dharma
Manual do Budismo - Jardim do Dharma Manual do Budismo - Jardim do Dharma
A descrição deste lugar parece ser uma mistura das ideias sobre Shambhala, Monte Meru, e Monte Kailash. É a descrição de uma terra espiritual ideal. Diz-se estar dentro de uma área maior chamada Tazig. A palavra “Tazig” pode ser encontrada tanto no persa como no árabe para se referir à Persia ou à Arábia. Em outros contextos, refere-se a uma tribo nomádica. Na tradição Bon, Tazig é descrita como sendo a oeste do reino de Zhang-zhung, que era no Tibete Ocidental. Isto sugere que o Bon veio da Ásia Central, e provavelmente de uma área cultural iraniana. É possível que Shenrab Miwo tenha vivido numa cultura iraniana antiga e tenha depois ido para Zhang-zhung. Algumas versões dizem que ele veio entre os séculos XI e VII a.C. Isso também foi há muito tempo atrás e, uma vez mais, não há maneira de provar uma posição ou outra. O que é claro é que na altura da fundação da Dinastia Yarlung no Tibete Central (127 a.C.) já havia algo como uma tradição nativa. Nós nem sequer sabemos o que era chamada nessa altura. A Conexão Iraniana A conexão iraniana é fascinante. Houve muita especulação sobre ela. Tem de ser analisada não só sob o ponto de vista Bon, como também do ponto de vista budista. Há uma tremenda quantidade de material em comum entre Bon e o Budismo. Os bonpos dizem que os budistas obtiveram-no deles e os budistas dizem que os bonpos o obtiveram deles. Cada lado afirma ser a fonte. É uma questão difícil de decidir. Como é que sabemos? O budismo foi da India para o Afeganistão muito cedo. De fato, diz-se que dois dos discípulos do próprio Buda vieram do Afeganistão e que levaram o Budismo para lá. Nos séculos I e II a.C., vemos que o Budismo foi para o próprio Irã e até mesmo à Ásia Central. O Budismo estava lá. Se Bon diz que ideias que parecem ser muito semelhantes ao que o Buda ensinou vieram de uma área persa para dentro do Tibete Ocidental durante um período muito antes de terem vindo diretamente da India, é muito possível que tenham vindo de uma mistura de Budismo e ideias culturais iranianas locais que estavam presentes nessa área. A área que parece ser a mais lógica fonte das ideias budistas iranianas é Khotan. Khotan Khotan está no norte do Tibete Ocidental. Como sabem, o Tibete é um platô muito elevado com muitas montanhas. Ao irmos mais para o norte para o fim desse platô, há outra cadeia de montanhas, e depois [o terreno] vai para baixo, até chegar abaixo do nível do mar, a um deserto no Turquistão Oriental, que é agora a província Xinjiang da China. Khotan estava no pé dessas montanhas ao entrarmos no deserto. Era uma área cultural iraniana; o povo veio do Irã. Era um enorme centro de Budismo e de comércio. Teve um impacto cultural significativo no Tibete, embora os tibetanos minimizem isto e digam que tudo veio da India ou da China. Até o sistema de escrita tibetano veio do alfabeto khotanês. O imperador tibetano Songtsen-gampo enviou um ministro a Khotan para obter um sistema de escrita para a língua tibetana. A estrada comercial para Khotan atravessava Caxemira, e o grande professor de Khotan que esperavam encontrar estava lá. Assim, obtiveram dele o sistema de escrita em Caxemira, e a história passou a ser que obtiveram um sistema de escrita de Caxemira. Se analisarmos o sistema de escrita, podemos ver que vem realmente de Khotan. É claro, o sistema khotanês veio originalmente da India. O ponto é que havia muito contato cultural com Khotan. Podemos ver que a apresentação do Bon é muito plausível. Pode bem ser que veio de Khotan. Deste ponto de vista, poderíamos dizer que o budismo chegou ao Tibete de duas direções: de Khotan ou das culturas iranianas para o Tibete Ocidental e depois, mais tarde, da India. No primeiro caso, poderia ter vindo na forma do antigo Bon. É bastante possível que o Budismo, e em especial o dzogchen, tenha vindo de ambos os lados e que cada lado tenha emprestado do outro. Isso está provavelmente mais perto da verdade. Descrição do Universo e da Vida Após Morte Um elemento Bon que vem de uma crença cultural iraniana é a narrativa de como o universo evoluiu. O Budismo tem os ensinamentos do abhidharma sobre Monte Meru e assim por diante, mas essa não é a única explicação. Há também a explicação de Kalachakra, que é ligeiramente diferente. Os textos Bon contêm a explicação do abhidharma, tal como está no Budismo, mas também têm a sua própria explicação para com certos aspectos que parecem totalmente iranianos, como um dualismo entre a luz 116
e a escuridão. Alguns eruditos russos observaram semelhanças entre os nomes persas antigos e os nomes tibetanos para vários deuses e figuras. Esta conexão iraniana é para onde estão apontando. O que é muito único ao antigo Bon é uma ênfase na vida após a morte, especialmente no estado intermediário. Quando os reis morriam, iam para uma vida após a morte. Porque precisavam de coisas para a sua viagem, havia sacrifício de animais, e possivelmente até sacrifícios humanos, embora isso seja discutível. Certamente, enterravam retratos, alimentos e todas as coisas que uma pessoa necessitaria na sua viagem após a morte. É bastante interessante reparar que o Budismo tibetano adotou esta ênfase no estado entre vidas. No Budismo indiano há menção do bardo, mas ele recebe uma ênfase muito pequena, enquanto que há muitos rituais de bardo e assim por diante no budismo tibetano. Também podemos encontrar uma ênfase na preparação para a vida após a morte na antiga cultura persa. O único aspecto do antigo Bon de que podemos falar com confiança é a prática de rituais de enterro, e o que é encontrado nos túmulos mostra essa crença na vida após a morte. Todo o resto é apenas especulação. Podemos ainda ver os túmulos dos reis antigos. A influência de Zhang-zhung chegou à área Yarlung do Tibete Central e durou desde os tempos mais antigos até a fundação do primeiro império tibetano por Songsten-gampo. Ele criou alianças casando com princesas de países diferentes. Todos sabem que casou com uma princesa da China e outra do Nepal. Contudo, ele também se casou com uma princesa de Zhang-zhung. Por conseguinte, este primeiro imperador tibetano foi influenciado por cada uma destas culturas. Os ensinamentos completos do Budismo não chegaram ao Tibete durante este período mais antigo, e a sua influência foi na verdade muito pequena. No entanto, o imperador construiu templos budistas em vários “pontospoder”. O Tibete era visto como um demônio deitado de costas, e acreditava-se que a construção de templos em vários pontos de acupuntura iria subjugar as forças selvagens. Ver as coisas em termos de pontos de acupuntura, subjugar demônios e assim por diante é uma coisa muito chinesa. Esta era a forma de Budismo presente no Tibete naquela época. Aqui, o que é relevante é que o imperador Songtsen-gampo, apesar da sua adoção do Budismo, manteve os rituais Bon de enterro que eram praticados em Yarlung antes dele. Isto foi obviamente reforçado pela sua [esposa] rainha de Zhangzhung. Assim, os rituais de enterro, com os sacrifícios e assim por diante, continuaram neste primeiro período budista. O Exílio dos Bonpos Por volta de 760, o imperador Songdetsen convidou Guru Rinpoche, Padmasambhava, da India. Construíram o primeiro mosteiro, Samyay, e começaram uma tradição monástica. Em Samyay, tinham um departamento de tradução para traduzir textos não só das línguas indiana e chinesa, como também da de Zhang-zhung, que pelos vistos já era uma língua escrita nessa época. Há dois sistemas tibetanos de escrita. O sistema impresso é aquele que o imperador Songtsen-gampo obteve de Khotan. De acordo com a pesquisa de alguns grandes eruditos, Zhang-zhung teve um sistema de escrita mais antigo, que era a base para a forma do tibetano escrito à mão. Em Samyay, estavam traduzindo textos Bon, supostamente sobre enterros e assim por diante, da língua de Zhang-zhung em sua própria escrita, para o tibetano. Em Samyay, houve o famoso debate entre o budismo indiano e chinês; a seguir um conselho religioso foi estabelecido e, em 779, o Budismo foi declarado à religião estatal do Tibete. Estiveram envolvidas, sem dúvida, muitas considerações políticas. Pouco depois, em 784, houve uma perseguição à facção Bon. É aqui que toda a hostilidade começa. É importante analisar isto. O que se estava realmente se passando? Dentro da corte imperial havia uma facção pró-China, uma facção pró-India e uma facção nativa xenófoba ultra-conservadora. O pai do imperador Tri Songdetsen tinha casado uma rainha chinesa que tinha muita influência e conseqüentemente o pai tinha sido pró-Chinês em muitos assuntos políticos. A facção conservadora tinha assassinado o pai. Eu penso que esta é uma das razões por que os chineses perderam o debate. Não havia maneira de conseguirem ganhar um debate. Os chineses não tinham a tradição do debate e foram postos contra o melhor debatedor da India. Não tinham uma língua em comum, por isso em que língua debateram? Tudo estava sendo traduzido. Obviamente, foi uma estratégia política para se livrarem da facção chinesa. Por causa dos chineses, o 117
- Page 68 and 69: Sarvastivada A escola Sarvastivada
- Page 70 and 71: De acordo com Kempo Tsultrin Rimpoc
- Page 72 and 73: Cap.6: O Terceiro Giro da Roda do D
- Page 74 and 75: Estes textos incluem o: 1- Pratyupa
- Page 76 and 77: — são inseparáveis da lucidez e
- Page 78 and 79: No nível último da realidade os o
- Page 80 and 81: - É pois, o eixo o carro? - Não r
- Page 82 and 83: 2- A mente subseqüente, que é com
- Page 84 and 85: permanente no "eu" e nos "fenômeno
- Page 86 and 87: O Yogachara e o Madhyamaka ou Madhy
- Page 88 and 89: O Enfoque sobre a Vacuidade é cham
- Page 90 and 91: Sutras: O Sutra da Grande Sabedoria
- Page 92 and 93: A compaixão levada ao extremo tran
- Page 94 and 95: - “Vejo o Buda levantando um de s
- Page 96 and 97: limpam a sujeira nem o corpo; com i
- Page 98 and 99: eu sempre emprego minha mente em es
- Page 100 and 101: corpo. Eu era um monge que praticav
- Page 102 and 103: Assim, avançando passo a passo, ta
- Page 104 and 105: Durante muitas idades tão numerosa
- Page 106 and 107: Ficando triste e só agora a rainha
- Page 108 and 109: cores das areias diamantinas. Nessa
- Page 110 and 111: iluminam o praticante e seu corpo.
- Page 112 and 113: 4) Conhecimento de todas as formas
- Page 114 and 115: O Buda contestou: - “É Sutra de
- Page 116 and 117: Este corpo composto de cinco grande
- Page 120 and 121: pai do imperador tinha sido morto.
- Page 122 and 123: uma ênfase igual na harmonização
- Page 124 and 125: Alex: Como é que sabemos que Buda
- Page 126 and 127: As pessoas estavam muito isoladas.
- Page 128 and 129: aterrorizado, decidiu que se conten
- Page 130 and 131: exemplo, diz-se que durante os ensi
- Page 132 and 133: As escolas posteriores no Tibete s
- Page 134 and 135: Nagarjuna Shawaripa Marpa Lotsawa M
- Page 136 and 137: divindades (Sadhana das Divindades
- Page 138 and 139: 3) Com intenção 4) Sem intenção
- Page 140 and 141: por nosso lama raiz ou pelo lama qu
- Page 142 and 143: porque faz práticas sexuais deixan
- Page 144 and 145: castidade, a mulher, se tivesse est
- Page 146 and 147: A este poder que tem os Budas, gra
- Page 148 and 149: 3) Esta rareza se ilustra com um ex
- Page 150 and 151: Para citar outro exemplo, podemos t
- Page 152 and 153: poderia resultar num renascimento n
- Page 154 and 155: Cap. 10: Karma - Por Dharmaraksita
- Page 156 and 157: caluniamos e causamos terminar muit
- Page 158 and 159: 34. Quando o preconceito, a pólio
- Page 160 and 161: 55. Apareça Yamantaka, ó protetor
- Page 162 and 163: 73. Descartando nossa prática para
- Page 164 and 165: 91. Todas as coisas que nós devemo
- Page 166 and 167: 112. Quando os músicos tocam uma m
A descrição deste lugar parece ser uma mistura das ideias sobre Shambhala, Monte Meru, e Monte<br />
Kailash. É a descrição de uma terra espiritual ideal. Diz-se estar dentro de uma área maior chamada<br />
Tazig. A palavra “Tazig” pode ser encontrada tanto no persa como no árabe para se referir à Persia ou<br />
à Arábia. Em outros contextos, refere-se a uma tribo nomádica. Na tradição Bon, Tazig é descrita<br />
como sen<strong>do</strong> a oeste <strong>do</strong> reino de Zhang-zhung, que era no Tibete Ocidental. Isto sugere que o Bon veio<br />
da Ásia Central, e provavelmente de uma área cultural iraniana.<br />
É possível que Shenrab Miwo tenha vivi<strong>do</strong> numa cultura iraniana antiga e tenha depois i<strong>do</strong> para<br />
Zhang-zhung. Algumas versões dizem que ele veio entre os séculos XI e VII a.C. Isso também foi há<br />
muito tempo atrás e, uma vez mais, não há maneira de provar uma posição ou outra. O que é claro é<br />
que na altura da fundação da Dinastia Yarlung no Tibete Central (127 a.C.) já havia algo como uma<br />
tradição nativa. Nós nem sequer sabemos o que era chamada nessa altura.<br />
A Conexão Iraniana<br />
A conexão iraniana é fascinante. Houve muita especulação sobre ela. Tem de ser analisada não só sob<br />
o ponto de vista Bon, como também <strong>do</strong> ponto de vista budista. Há uma tremenda quantidade de<br />
material em comum entre Bon e o <strong>Budismo</strong>. Os bonpos dizem que os budistas obtiveram-no deles e os<br />
budistas dizem que os bonpos o obtiveram deles. Cada la<strong>do</strong> afirma ser a fonte. É uma questão difícil de<br />
decidir. Como é que sabemos? O budismo foi da India para o Afeganistão muito ce<strong>do</strong>. De fato, diz-se<br />
que <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s discípulos <strong>do</strong> próprio Buda vieram <strong>do</strong> Afeganistão e que levaram o <strong>Budismo</strong> para lá. Nos<br />
séculos I e II a.C., vemos que o <strong>Budismo</strong> foi para o próprio Irã e até mesmo à Ásia Central. O<br />
<strong>Budismo</strong> estava lá. Se Bon diz que ideias que parecem ser muito semelhantes ao que o Buda ensinou<br />
vieram de uma área persa para dentro <strong>do</strong> Tibete Ocidental durante um perío<strong>do</strong> muito antes de terem<br />
vin<strong>do</strong> diretamente da India, é muito possível que tenham vin<strong>do</strong> de uma mistura de <strong>Budismo</strong> e ideias<br />
culturais iranianas locais que estavam presentes nessa área. A área que parece ser a mais lógica fonte<br />
das ideias budistas iranianas é Khotan.<br />
Khotan<br />
Khotan está no norte <strong>do</strong> Tibete Ocidental. Como sabem, o Tibete é um platô muito eleva<strong>do</strong> com<br />
muitas montanhas. Ao irmos mais para o norte para o fim desse platô, há outra cadeia de montanhas, e<br />
depois [o terreno] vai para baixo, até chegar abaixo <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar, a um deserto no Turquistão<br />
Oriental, que é agora a província Xinjiang da China. Khotan estava no pé dessas montanhas ao<br />
entrarmos no deserto. Era uma área cultural iraniana; o povo veio <strong>do</strong> Irã. Era um enorme centro de<br />
<strong>Budismo</strong> e de comércio. Teve um impacto cultural significativo no Tibete, embora os tibetanos<br />
minimizem isto e digam que tu<strong>do</strong> veio da India ou da China. Até o sistema de escrita tibetano veio <strong>do</strong><br />
alfabeto khotanês. O impera<strong>do</strong>r tibetano Songtsen-gampo enviou um ministro a Khotan para obter um<br />
sistema de escrita para a língua tibetana. A estrada comercial para Khotan atravessava Caxemira, e o<br />
grande professor de Khotan que esperavam encontrar estava lá. Assim, obtiveram dele o sistema de<br />
escrita em Caxemira, e a história passou a ser que obtiveram um sistema de escrita de Caxemira. Se<br />
analisarmos o sistema de escrita, podemos ver que vem realmente de Khotan. É claro, o sistema<br />
khotanês veio originalmente da India. O ponto é que havia muito contato cultural com Khotan.<br />
Podemos ver que a apresentação <strong>do</strong> Bon é muito plausível. Pode bem ser que veio de Khotan. Deste<br />
ponto de vista, poderíamos dizer que o budismo chegou ao Tibete de duas direções: de Khotan ou das<br />
culturas iranianas para o Tibete Ocidental e depois, mais tarde, da India. No primeiro caso, poderia ter<br />
vin<strong>do</strong> na forma <strong>do</strong> antigo Bon. É bastante possível que o <strong>Budismo</strong>, e em especial o dzogchen, tenha<br />
vin<strong>do</strong> de ambos os la<strong>do</strong>s e que cada la<strong>do</strong> tenha empresta<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro. Isso está provavelmente mais<br />
perto da verdade.<br />
Descrição <strong>do</strong> Universo e da Vida Após Morte<br />
Um elemento Bon que vem de uma crença cultural iraniana é a narrativa de como o universo evoluiu.<br />
O <strong>Budismo</strong> tem os ensinamentos <strong>do</strong> abhidharma sobre Monte Meru e assim por diante, mas essa não é<br />
a única explicação. Há também a explicação de Kalachakra, que é ligeiramente diferente. Os textos<br />
Bon contêm a explicação <strong>do</strong> abhidharma, tal como está no <strong>Budismo</strong>, mas também têm a sua própria<br />
explicação para com certos aspectos que parecem totalmente iranianos, como um dualismo entre a luz<br />
116