Marley & Eu

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18.04.2013 Views

E realmente cresceu. Ele se transformou num espécime elegante, e eu me senti obrigado a lembrar à Sra. Jenny que o nome formal que eu havia criado para ele não estava longe de corresponder à verdade. Grogan’s Majestic Marley of Churchill, além de morar na Churchill Road, era a própria definição do termo majestático. Quer dizer, quando ele parava de correr atrás do seu próprio rabo. Às vezes, depois de gastar toda a sua energia, ele se deitava sobre o tapete persa na sala de visitas, aquecendo-se sob os raios de sol que filtravam pelas frestas das venezianas. A cabeça erguida, o nariz brilhante, patas cruzadas à sua frente, ele parecia uma esfinge egípcia. Não fomos os únicos a notar essa transformação. Podíamos ver pela reação de espanto que as pessoas estranhas tinham diante dele e o modo como se encolhiam, quando ele as encarava, de que não parecia mais um filhote inofensivo. Para elas, Marley havia se transformado em um animal cuja aparência causava temor. Nossa porta da frente tinha uma pequena janela oblonga à altura dos olhos, com dez centímetros de largura por vinte de altura. Marley adorava companhia e toda vez que alguém tocava a campainha, ele atravessava a casa num pinote, e deslizava ao chegar no hall de entrada, cortando o assoalho de madeira, tirando todas as passadeiras do lugar, parando apenas ao chocar-se contra a porta com um trambolhão. Então ele se erguia em suas patas traseiras, latindo que nem um louco e colocando a cabeça pela pequena janela para olhar direto no rosto de quem estivesse do outro lado. Para Marley, que se considerava o perfeito Comitê de Recepção em cachorro, era uma saudação calorosa. Para vendedores de porta-a-porta, carteiros e entregadores, ou qualquer outra pessoa que não o conhecesse, era como se cujo tivesse saltado de uma das páginas do romance de Stephen King, e a única coisa que os separava era a porta da frente da casa. Mais de uma vez aconteceu de alguém tocar a campainha e, ao ver Marley latir através da janela, dar meia-volta até outro acesso de entrada, onde esperaria um de nós vir abrir a porta. Nós achávamos que isso não era necessariamente ruim.

Vivíamos, como dizem os planejadores urbanos, num bairro em constante mutação. Construído nas décadas de 1940 e 1950, e inicialmente ocupado por turistas do norte e aposentados, começou a mudar de aspecto quando os primeiros moradores começaram a morrer e foram trocados por um grupo de proprietários e famílias trabalhadoras. Quando nos mudamos para cá, a vizinhança estava novamente passando por uma transformação, desta vez ocupada por homossexuais, artistas e jovens profissionais atraídos para este refúgio à beira-mar, e por sua arquitetura déco kitsch. Nosso quarteirão servia de área intermediária entre a South Dixie Highway e as mansões ao longo da costa. A Dixie Highway era a via original US 1 que seguia ao longo da costa leste da Flórida e servia como a estrada principal até Miami antes da abertura da interestadual. Tinha cinco pistas de concreto, com uma pista dupla em cada direção, uma de conversão a esquerda, pontilhada por lojas baratas, postos de gasolina, estandes de frutas, revendedoras, restaurantes e motéis em decadência, que foram marcos de outra era. Nas quatro esquinas da South Dixie Highway e a Churchill Road havia uma casa de bebidas, um mercado de conveniência 24 horas, uma loja de importados com barras pesadas nas janelas e uma lavanderia automática a céu aberto, onde as pessoas ficavam a noite inteira, muitas das vezes deixando para trás, garrafas vazias de bebida. Nossa casa ficava no meio do quarteirão, a oito casas do centro da muvuca. A vizinhança parecia segura para nós, mas havia histórias sobre seu lado obscuro. Sumiam ferramentas esquecidas no quintal e, durante os raros períodos de frio, alguém roubara toda a lenha da lareira que eu tinha estocado ao lado da casa. Num domingo, estávamos tomando o café da manhã em nosso restaurante favorito, sentados à mesa que sempre usávamos, bem em frente à janela, quando Jenny apontou para um buraco de baía no vidro logo acima de nossas cabeças e comentou, secamente: — Definitivamente não havia isto da última vez que viemos aqui. Certa manhã, eu estava saindo de carro para ir trabalhar,

E realmente cresceu. Ele se transformou num espécime elegante,<br />

e eu me senti obrigado a lembrar à Sra. Jenny que o nome formal que<br />

eu havia criado para ele não estava longe de corresponder à verdade.<br />

Grogan’s Majestic <strong>Marley</strong> of Churchill, além de morar na Churchill Road,<br />

era a própria definição do termo majestático. Quer dizer, quando ele<br />

parava de correr atrás do seu próprio rabo. Às vezes, depois de gastar<br />

toda a sua energia, ele se deitava sobre o tapete persa na sala de visitas,<br />

aquecendo-se sob os raios de sol que filtravam pelas frestas das<br />

venezianas. A cabeça erguida, o nariz brilhante, patas cruzadas à sua<br />

frente, ele parecia uma esfinge egípcia.<br />

Não fomos os únicos a notar essa transformação. Podíamos ver<br />

pela reação de espanto que as pessoas estranhas tinham diante dele e o<br />

modo como se encolhiam, quando ele as encarava, de que não parecia<br />

mais um filhote inofensivo. Para elas, <strong>Marley</strong> havia se transformado em<br />

um animal cuja aparência causava temor.<br />

Nossa porta da frente tinha uma pequena janela oblonga à altura<br />

dos olhos, com dez centímetros de largura por vinte de altura. <strong>Marley</strong><br />

adorava companhia e toda vez que alguém tocava a campainha, ele<br />

atravessava a casa num pinote, e deslizava ao chegar no hall de<br />

entrada, cortando o assoalho de madeira, tirando todas as passadeiras<br />

do lugar, parando apenas ao chocar-se contra a porta com um<br />

trambolhão. Então ele se erguia em suas patas traseiras, latindo que<br />

nem um louco e colocando a cabeça pela pequena janela para olhar<br />

direto no rosto de quem estivesse do outro lado. Para <strong>Marley</strong>, que se<br />

considerava o perfeito Comitê de Recepção em cachorro, era uma<br />

saudação calorosa. Para vendedores de porta-a-porta, carteiros e<br />

entregadores, ou qualquer outra pessoa que não o conhecesse, era como<br />

se cujo tivesse saltado de uma das páginas do romance de Stephen<br />

King, e a única coisa que os separava era a porta da frente da casa. Mais<br />

de uma vez aconteceu de alguém tocar a campainha e, ao ver <strong>Marley</strong> latir<br />

através da janela, dar meia-volta até outro acesso de entrada, onde<br />

esperaria um de nós vir abrir a porta.<br />

Nós achávamos que isso não era necessariamente ruim.

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