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Marley & Eu

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nos últimos anos, metendo-se por todas as fendas e dobras. Aos<br />

poucos, os sinais do velho cão foram sendo apagados. Certa manhã, fui<br />

colocar os sapatos e dentro havia uma camada de pêlos de <strong>Marley</strong> que<br />

havia ficado grudado em minhas meias e iam lentamente se depositando<br />

dentro dos sapatos. Fiquei ali sentado, olhando — na verdade,<br />

acariciando os pêlos com os dedos — e sorri. Ergui o sapato para<br />

mostrá-lo a Jenny e comentei:<br />

— Não vamos conseguir nos livrar dele tão facilmente.<br />

Ela riu, mas, naquela noite, no quarto, Jenny — que não falara<br />

muito durante toda a semana — resolveu extravasar:<br />

— <strong>Eu</strong> sinto falta dele. Quer dizer, eu realmente, realmente sinto a<br />

falta dele. Sinto tanto a falta dele que chega a doer em mim.<br />

— <strong>Eu</strong> sei — respondi. — <strong>Eu</strong> também sinto.<br />

Quis escrever uma coluna para me despedir de <strong>Marley</strong>, mas tinha<br />

medo que minha emoção se derramasse de forma melodramática e<br />

sentimental a ponto de me constranger. Então, tratei de assuntos<br />

menos importantes para meu coração. Mas carregava um gravador<br />

comigo e, quando me ocorria um pensamento, eu o registrava. Sabia<br />

que queria descrevê-lo como ele realmente era e não como a perfeita e<br />

improvável reencarnação de Rin Tin Tin ou da Lassie, como se houvesse<br />

alguma chance de isso acontecer. Tantas pessoas reinventam seus<br />

bichos de estimação quando eles morrem, transformando-os em animais<br />

nobres, sobrenaturais, que, em vida, faziam tudo por seus donos, menos<br />

fritar ovos para o café da manhã. <strong>Eu</strong> queria ser honesto. <strong>Marley</strong> era um<br />

pé no saco engraçado e extraordinário, que nunca entendeu muito bem<br />

como acatar uma ordem. Francamente, ele talvez tenha sido o cão<br />

mais mal comportado do mundo. Mesmo assim, desde o início, ele<br />

entendeu o que significava ser o melhor amigo do homem.<br />

Na semana em que ele morreu, desci a colina até onde ele estava<br />

enterrado várias vezes. Em parte queria ter certeza que nenhum animal<br />

selvagem estaria aparecendo à noite. O túmulo continuava intocado,<br />

mas já dava para perceber que na primavera eu teria de trazer alguns<br />

carrinhos de terra para cobrir a depressão que estava se formando.

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