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Marley & Eu

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cascalho, e fiquei olhando para o céu cada vez mais escuro. Ali, de pé,<br />

no escuro, senti muitas coisas diferentes. Uma delas foi orgulho dos meus<br />

compatriotas americanos, gente comum que reagiu às circunstâncias,<br />

sabendo que não tinham saída. Outra foi humildade, pois eu estava vivo e<br />

não havia sido atingido pelos horrores daquele dia, livre para continuar<br />

minha vida feliz, como marido, pai de família e escritor. Na solidão da<br />

escuridão, quase consegui sentir a finitude da vida e sua preciosidade.<br />

Não damos valor, mas ela é frágil, precária, incerta, capaz de terminar a<br />

qualquer momento, sem aviso. Lembrei-me do que deveria ser óbvio,<br />

mas nem sempre é: que cada dia, cada hora e cada minuto merecem ser<br />

apreciados.<br />

Também senti algo mais — espanto diante da infinita capacidade<br />

do coração humano, grande o bastante para absorver uma tragédia<br />

desta magnitude e ainda ser capaz de encontrar espaço para os<br />

pequenos momentos de dor e sofrimento pessoal que fazem parte da<br />

vida de qualquer um. No meu caso, um desses pequenos momentos<br />

dizia respeito ao meu cachorro doente. Um pouco envergonhado,<br />

percebi que mesmo no meio daquela colossal tragédia que foi o Vôo 93,<br />

eu ainda sentia uma dor aguda por causa da perda que eu sabia que<br />

teria de enfrentar.<br />

<strong>Marley</strong> estava vivendo um tempo a mais, isto estava claro. Outra<br />

crise poderia surgir a qualquer momento e, quando surgisse, eu não iria<br />

lutar contra o inevitável. Qualquer procedimento médico invasivo a esta<br />

altura da vida seria cruel, algo que Jenny e eu faríamos mais por nós do<br />

que por ele. Nós amávamos aquele velho cachorro doido, nós o<br />

amávamos apesar de tudo — ou talvez por causa de tudo. Mas eu via que<br />

estava chegando a hora em que teríamos de deixá-lo ir. Andei até o carro<br />

e voltei para o quarto do hotel.<br />

No dia seguinte, depois de entregar o artigo da minha coluna,<br />

telefonei do hotel para casa.<br />

Jenny.<br />

— Você precisa saber que <strong>Marley</strong> realmente sente sua falta — disse

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