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Marley & Eu

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se lembravam da explosão, sentei com uma mulher que perdera a filha em<br />

um acidente de carro e que viera para encontrar consolo nesta comunhão<br />

pelos que ali morreram. Documentei as lembranças e cartas que lotavam o<br />

estacionamento de chão de cascalho. Mas ainda não havia conseguido um<br />

gancho para minha coluna. O que eu poderia dizer sobre aquela imensa<br />

tragédia que ainda não tivesse sido dita? Fui para a cidade jantar e revi<br />

minhas anotações. Escrever uma coluna de jornal é como construir uma<br />

torre com blocos; cada pedaço de informação, cada citação ou<br />

acontecimento registrado é um bloco. Você começa construindo uma base<br />

sólida, forte o suficiente para sustentar seu argumento, então, vai<br />

trabalhando as idéias até atingir o ápice. Meu caderno estava cheio de<br />

blocos bem sólidos para começar a construir meu texto, mas estava me<br />

faltando a liga. <strong>Eu</strong> não sabia o que fazer com eles.<br />

Depois que terminei de comer minha carne assada e tomar meu<br />

chá gelado, voltei para o hotel para tentar escrever. No meio do<br />

caminho, seguindo um impulso, dei meia-volta e voltei ao local do<br />

acidente que ficava a vários quilômetros do centro da cidade; cheguei<br />

exatamente no momento em que o sol se punha atrás de uma colina e<br />

os últimos visitantes deixavam o local. Fiquei ali sentado, sozinho,<br />

durante muito tempo, enquanto o pôr-do-sol se transformava em lusco-<br />

fusco e o lusco-fusco em noite. Soprava um vento gelado nas colinas e<br />

eu puxei para cima o zíper do casaco. Acima das cabeças, a brisa fazia<br />

tremular uma gigantesca bandeira americana, as cores brilhando quase<br />

iridescentes sob os últimos raios de sol. Só então a emoção deste lugar<br />

sagrado me tocou e a magnitude do que acontecera no céu acima deste<br />

campo solitário começou a tomar conta de mim. Olhei para o local<br />

onde o avião havia caído e depois para a bandeira e senti meus olhos<br />

se encherem de lágrimas. Pela primeira vez em minha vida, contei as<br />

listras. Sete vermelhas e seis brancas. Contei as estrelas, cinqüenta<br />

sobre um fundo azul. A bandeira americana havia adquirido outro<br />

significado para nós. Para uma nova geração, voltava a simbolizar valor<br />

e sacrifício. <strong>Eu</strong> sabia o que deveria escrever.<br />

Enfiei as mãos nos bolsos e andei até a beira do estacionamento de

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