Marley & Eu
Marley & Eu Marley & Eu
pelo menos nos primeiros meses, fiquei ruminando sobre nossa decisão de nos mudarmos para um lugar onde aparentemente tão poucos queriam viver. Marley, por outro lado, não tinha qualquer dúvida. Com exceção dos disparos da arma de Digger, o novo estilo de vida no campo ajustava-se para ele de forma esplêndida. Para um cachorro com mais energia do que bom-senso, o que é que poderia ser ruim? Ele corria pelo gramado, atirava-se contra as amoreiras, pulava no riacho, A missão de sua vida era pegar um dos inúmeros coelhos que faziam da minha horta seu prato de salada particular. Ele descobria um coelho mordendo uma hortaliça e disparava pela colina para persegui-lo em desatino, as orelhas ao vento, as patas batendo no chão, a respiração resfolegante. Ele era tão discreto quanto uma fanfarra, e nunca conseguia se aproximar menos do que três metros sem que sua presa se refugiasse no mato em segurança. Fiel à sua marca registrada, ele continuava um otimista incorrigível, acreditando que o sucesso estaria à sua espera na tentativa seguinte. Ele dava meia-volta balançando o rabo, sem desanimar e, cinco minutos depois, fazia tudo de novo. Felizmente, ele também não tinha muita sorte na perseguição às doninhas fedidas. O outono chegou e, com ele, uma travessura completamente nova: atacar o monte de folhas. Na Flórida, as árvores não perdiam as folhas no outono, e Marley se convencera de que as folhas que caíam agora do céu eram um presente especial para ele. Enquanto eu juntava as folhas amarelas e alaranjadas com um ancinho, em montes gigantescos, Marley ficava sentado e assistia pacientemente, aguardando sua vez, esperando o momento certo para atacar. Só depois que eu tivesse feito um monte realmente grande, ele viria furtivamente para a frente, todo agachado. Dava alguns passos e parava, erguia as patas da frente, sentindo o ar como um leão na savana africana preparando-se para emboscar uma gazela imprudente. Então, quando eu abaixava o ancinho para admirar minha obra, ele avançava, saltando pelo gramado, atirando- se nos últimos centímetros e pousava de barriga no meio do monte, rosnando, rolando, agitando-se, coçando-se e mordendo e, por razões
que eu desconhecia, tentava caçar o rabo, e não sossegava até que o monte que eu juntara com tanto cuidado estivesse totalmente esparramado de novo. Então, ficava sentado no meio da sua obra, com pedaços de folhas pendurados no pêlo, olhando para mim com uma expressão satisfeita, como se sua contribuição fizesse parte do processo de recolher as folhas. Esperávamos que nosso primeiro Natal na Pensilvânia fosse branco. Jenny e eu tivemos de usar uma série de razões para convencer Patrick e Conor de que estariam deixando sua casa e seus amigos na Flórida em troca de algo melhor, e uma das maiores delas fora a promessa de que teriam neve. E não era qualquer tipo de neve, mas uma grande quantidade, fofinha, corno em um cartão postal, que caía do céu em flocos grandes e silenciosos, formando montanhas, com a consistência perfeita para se fazer bonecos de neve. E a neve do dia de Natal, bem, essa era a melhor de todas, o Santo Graal da vida no inverno no norte. Nós até fizemos uma montagem com uma fotografia para mostrar a eles o que seria acordar na manhã de Natal com uma paisagem completamente branca, imaculada, exceto pelas marcas solitárias do trenó do Papai Noel do lado de fora de casa. Na semana que iria culminar com o grande dia, os três se sentaram diante da janela por várias horas, olhando fixamente o céu carregado, como se assim pudessem fazer que ele se abrisse e soltasse sua carga. — Vamos lá, neve! — exclamavam as crianças. Eles nunca haviam visto; Jenny e eu há anos não víamos. Queríamos neve, mas as nuvens não estavam dispostas a ceder. Poucos dias antes do Natal, a família inteira se apertou na minivan e fomos até uma fazenda há menos de um quilômetro, onde cortamos um pinheirinho e ganhamos uma volta de charrete e cidra quente de maçã em volta de uma fogueira. Era o momento clássico durante a época de festas de final de ano do norte que tanto sentíamos falta enquanto vivíamos na Flórida, mas ainda faltava uma coisa. Onde estava a
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que eu desconhecia, tentava caçar o rabo, e não sossegava até que o<br />
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pedaços de folhas pendurados no pêlo, olhando para mim com uma<br />
expressão satisfeita, como se sua contribuição fizesse parte do processo<br />
de recolher as folhas.<br />
Esperávamos que nosso primeiro Natal na Pensilvânia fosse<br />
branco. Jenny e eu tivemos de usar uma série de razões para convencer<br />
Patrick e Conor de que estariam deixando sua casa e seus amigos na<br />
Flórida em troca de algo melhor, e uma das maiores delas fora a promessa<br />
de que teriam neve. E não era qualquer tipo de neve, mas uma grande<br />
quantidade, fofinha, corno em um cartão postal, que caía do céu em<br />
flocos grandes e silenciosos, formando montanhas, com a consistência<br />
perfeita para se fazer bonecos de neve. E a neve do dia de Natal, bem,<br />
essa era a melhor de todas, o Santo Graal da vida no inverno no norte.<br />
Nós até fizemos uma montagem com uma fotografia para mostrar a eles<br />
o que seria acordar na manhã de Natal com uma paisagem<br />
completamente branca, imaculada, exceto pelas marcas solitárias do<br />
trenó do Papai Noel do lado de fora de casa.<br />
Na semana que iria culminar com o grande dia, os três se<br />
sentaram diante da janela por várias horas, olhando fixamente o céu<br />
carregado, como se assim pudessem fazer que ele se abrisse e soltasse<br />
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Eles nunca haviam visto; Jenny e eu há anos não víamos.<br />
Queríamos neve, mas as nuvens não estavam dispostas a ceder. Poucos<br />
dias antes do Natal, a família inteira se apertou na minivan e fomos até<br />
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pinheirinho e ganhamos uma volta de charrete e cidra quente de maçã<br />
em volta de uma fogueira. Era o momento clássico durante a época de<br />
festas de final de ano do norte que tanto sentíamos falta enquanto<br />
vivíamos na Flórida, mas ainda faltava uma coisa. Onde estava a