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Marley & Eu

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de <strong>Marley</strong> tinha sido totalmente esvaziado, seu intestino, não. O sol<br />

estava refletindo sobre a água e me cegando, e eu apertei os olhos para<br />

observar <strong>Marley</strong> brincando com os outros cachorros. Enquanto eu o<br />

olhava, de repente, ele se afastou e começou a andar em círculos no<br />

raso. <strong>Eu</strong> conhecia muito bem a manobra circular. Era o que ele fazia<br />

todas as manhãs no quintal de casa ao se preparar para evacuar. Era<br />

como um ritual para ele, embora nem todo lugar servisse para ele<br />

entregar o presente que estava a ponto de ofertar ao mundo. Às vezes, a<br />

caminhada em círculos se prolongaria por mais de um minuto enquanto<br />

procurava pelo lugar perfeito. E agora ele estava andando em círculos<br />

no raso na Praia dos Cães, naquela histórica fronteira onde nenhum<br />

cachorro havia ousado evacuar antes. Ele estava começando a se<br />

abaixar. E desta vez ele tinha uma platéia. O papai de Matador e vários<br />

outros donos de cachorro estavam de pé a poucos metros dele. A mãe e<br />

sua filha desviaram a atenção de seu castelo de areia para olhar para o<br />

mar. Um casal se aproximou, caminhando de mãos dadas pela beira<br />

d’água.<br />

— Não! — eu sussurrei. — Por favor, Deus, não!<br />

— Ei! — alguém gritou. — Segure seu cachorro!<br />

— Não o deixe evacuar! — alguém mais gritou.<br />

Enquanto as vozes gritavam alarmadas, os banhistas se<br />

levantavam para ver do que se tratava toda aquela comoção.<br />

Disparei, correndo para agarrá-lo antes que fosse tarde demais. Se<br />

eu pudesse alcançá-lo e tirá-lo daquela posição agachada antes que seu<br />

intestino começasse a funcionar, eu seria capaz de interromper toda<br />

aquela humilhação, pelo menos o suficiente para carregá-lo a salvo para<br />

o outro lado da duna de areia. Ao correr na direção dele, aconteceu o que<br />

somente poderia ser descrito como uma experiência extracorpórea.<br />

Enquanto corria, eu me via de cima, a cena se desenrolando embaixo,<br />

quadro a quadro. Cada passo parecia durar uma eternidade. Cada<br />

passada batia na areia provocando um estampido surdo. Meus braços<br />

elevaram-se no ar; meu rosto se contorceu numa expressão de agonia.<br />

Enquanto corria, eu percebia os quadros se sucedendo em câmera lenta à

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