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Marley & Eu

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mocassins italianos sem meias, e gastavam uma incrível quantidade de<br />

tempo fazendo ligações de celular a torto e a direito como se estivessem<br />

discutindo os assuntos mais importantes. As mulheres eram<br />

exageradamente bronzeadas, no mesmo tom das bolsas de couro<br />

Gucci que mais gostavam, contrastando a pele escura com o cabelo<br />

tingido em alarmantes tons platinum blonde.<br />

A cidade fervilhava com cirurgiões plásticos, que possuíam as<br />

maiores mansões e os sorrisos mais largos. Para as mulheres bem<br />

conservadas de Boca Raton, os implantes de seios eram uma exigência<br />

tácita para estabelecer residência no local. Todas as mulheres mais<br />

jovens tinham bustos magníficos; todas as mulheres mais velhas tinham<br />

bustos magníficos e plásticas faciais. Escultura de nádegas, plásticas de<br />

nariz, barrigas alisadas, e maquiagem permanente delineavam a<br />

variedade cosmética, dando à população feminina da cidade a estranha<br />

aparência de soldados rasos de um exército de bonecas infláveis<br />

anatomicamente perfeitas. Como eu cantei certa vez numa paródia que<br />

escrevi para uma matéria do jornal, “Lipoaspiração e silicone são os<br />

melhores amigos da mulher de Boca Raton”.<br />

Em minha coluna eu fazia piada ao estilo de vida de Boca,<br />

começando pelo próprio nome da cidade. Os moradores na verdade<br />

nunca a chamavam de Boca Raton. Eles simplesmente se referiam a ela<br />

pelo apelido familiar de “Boca”. E não o pronunciavam como o dicionário<br />

indicava que deveriam, com um “O” mais longo, Bo-ca. Em vez disso,<br />

davam uma inflexão suave, nasal, bem ao estilo de Jersey: “Bouca!”,<br />

assim: “Ah, as árvores cortadas são liiiindas aqui eu Bouuuca!”.<br />

O desenho animado da Disney Pocahontas estava passando nos<br />

cinemas na época, e eu lancei uma paródia com o tema da princesa<br />

indígena, que batizei de “Bocahontas”. Minha protagonista bronzeada<br />

era uma princesa dos subúrbios que dirigia uma BMW cor-de-rosa,<br />

com o busto rijo e cirurgicamente esculpido, apoiado-o sobre a<br />

direção do carro, o que lhe permitia dirigir sem pôr as mãos no<br />

volante, falando em seu celular e ajeitando o cabelo platinado no<br />

espelho retrovisor, enquanto acelerava para o salão de bronzeamento.

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