Marley & Eu

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18.04.2013 Views

cachorros que lhe permitiria atar Marley no cinto de segurança do carro para que ele não se mexesse com o carro em movimento. Nos primeiros noventa segundos em que ele usou o novo equipamento, conseguiu mastigar não apenas o pesado arreio, mas o cinto de segurança da nossa mini van novinha em folha. Gosse. — O.k., todo mundo, vamos fazer um intervalo! — exclamou Virando-se para mim, ele perguntou, numa voz surpreendentemente calma: — Em quanto tempo consegue arranjar outra guia para ele? Ele não precisava me contar quanto cada minuto perdido custava para ele enquanto os atores e equipe de produção ficavam parados. — Há uma loja de animais a poucos metros daqui — respondi. — Dá pra voltar em quinze minutos. — E desta vez compre algo que ele não consiga mastigar — ele recomendou. Voltei com uma corrente pesada que se assemelhava mais a algo que um treinador de leões usaria, e a filmagem continuou, tomada após tomada, todas mal sucedidas. Cada cena era pior que a anterior. Em determinado momento, Danielle, a atriz adolescente, soltou um guincho desesperado no meio da cena e gritou, realmente horrorizada: — Oh, meu Deus! Ele está com tudo para fora! — Corta! Em outra cena, Marley estava arfando tão alto sentado aos pés de Danielle, enquanto ela falava ao telefone com o namorado, que o engenheiro de som arrancou os fones de ouvido, desgostoso e reclamou bem alto: — Não consigo ouvir nenhuma palavra do que ela está dizendo. Tudo que consigo ouvir é uma respiração resfolegante. Parece um filme pornô. — Corta! Assim se passou o primeiro dia de filmagem. Marley foi um desastre, incorrigível e indesculpável. Por um lado, eu me defendia:

“Bem, o que eles esperavam dele de graça? O cão Benji?”, e por outro, eu estava mortificado. Eu olhava de esguelha para o elenco e para a equipe de filmagem e podia ver claramente na expressão deles: “De onde saiu este animal, e como conseguimos nos livrar dele?”. Ao final do dia, um dos assistentes, segurando uma plaqueta na mão, nos disse que a escalação para a manhã seguinte ainda estava em aberto. — Não precisa se preocupar em vir amanhã — ele disse. — Nós chamaremos vocês se precisarmos do Marley. E para ter certeza de que não houvesse confusão, ele repetiu: — Só venha se nós ligarmos para vocês, entendeu? Sim, eu entendi, em alto e bom som. Gosse mandou seu ajudante nos dispensar. A carreira promissora de ator de Marley havia terminado. Não que eu pudesse culpá-los por isso. Com a exceção da cena em Os Dez Mandamentos em que Charlton Heston abre o Mar Vermelho, Marley causou o maior pesadelo logístico da história do cinema. Ele causou não sei quantos milhares de dólares em atrasos inúteis e perda de filme. Ele lambrecou inúmeras roupas, atacou a mesa de comida, e quase derrubou uma câmera de trinta mil dólares no chão. Eles cortaram os prejuízos nos cortando de cena. Era a velha rotina conhecida como “Não nos chame, nós chamamos você”. — Marley — eu disse, ao chegarmos em casa, — esta era sua grande chance e você a estragou. Na manhã seguinte, eu ainda estava lamentando nossos sonhos de estrelato perdido quando o telefone tocou. Era o assistente, dizendo- nos para levarmos Marley até o hotel o mais rápido possível. — Você quer dizer que querem que ele volte? — perguntei. — Imediatamente — ele respondeu. — Bob quer que ele esteja na próxima cena. Cheguei trinta minutos depois, sem conseguir acreditar que haviam nos pedido para voltar. Gosse estava eufórico. Ele assistira às tomadas da véspera e não poderia estar mais feliz:

cachorros que lhe permitiria atar <strong>Marley</strong> no cinto de segurança do carro<br />

para que ele não se mexesse com o carro em movimento. Nos primeiros<br />

noventa segundos em que ele usou o novo equipamento, conseguiu<br />

mastigar não apenas o pesado arreio, mas o cinto de segurança da<br />

nossa mini van novinha em folha.<br />

Gosse.<br />

— O.k., todo mundo, vamos fazer um intervalo! — exclamou<br />

Virando-se para mim, ele perguntou, numa voz<br />

surpreendentemente calma:<br />

— Em quanto tempo consegue arranjar outra guia para ele?<br />

Ele não precisava me contar quanto cada minuto perdido custava<br />

para ele enquanto os atores e equipe de produção ficavam parados.<br />

— Há uma loja de animais a poucos metros daqui — respondi. —<br />

Dá pra voltar em quinze minutos.<br />

— E desta vez compre algo que ele não consiga mastigar — ele<br />

recomendou.<br />

Voltei com uma corrente pesada que se assemelhava mais a algo<br />

que um treinador de leões usaria, e a filmagem continuou, tomada após<br />

tomada, todas mal sucedidas. Cada cena era pior que a anterior. Em<br />

determinado momento, Danielle, a atriz adolescente, soltou um guincho<br />

desesperado no meio da cena e gritou, realmente horrorizada:<br />

— Oh, meu Deus! Ele está com tudo para fora!<br />

— Corta!<br />

Em outra cena, <strong>Marley</strong> estava arfando tão alto sentado aos pés de<br />

Danielle, enquanto ela falava ao telefone com o namorado, que o<br />

engenheiro de som arrancou os fones de ouvido, desgostoso e reclamou<br />

bem alto:<br />

— Não consigo ouvir nenhuma palavra do que ela está dizendo.<br />

Tudo que consigo ouvir é uma respiração resfolegante. Parece um filme<br />

pornô.<br />

— Corta!<br />

Assim se passou o primeiro dia de filmagem. <strong>Marley</strong> foi um<br />

desastre, incorrigível e indesculpável. Por um lado, eu me defendia:

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