Marley & Eu

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18.04.2013 Views

de água na coitadinha. Quanto mais fraca a planta ficava, mais água ela colocava, até praticamente dissolvê-la. Eu olhei desalentado para seu esqueleto esquálido no vaso junto à janela e pensei: “Puxa, se eu acreditasse em presságios, estaria apavorado de ver isto”. E agora aqui estava ela, de algum modo fazendo um salto cósmico de lógica, de uma flora morta em um vaso, a uma fauna viva em um anúncio classificado de animais de estimação. Mate uma planta, compre um cachorrinho. Bem, claro, parecia bem lógico. Olhei mais atentamente para o jornal a frente dela e vi que um anúncio em especial parecia ter-lhe chamado mais a atenção. Ele desenhara três estrelas vermelhas e gordas do lado. Lia-se: “Filhotes de labrador, amarelo. AKC raça pura. Todos os matizes. Pais no local”. — Então — eu disse — você vai tentar me enganar nesse negócio de tomar conta de planta e cachorro novamente? — Você sabe — ela disse, erguendo a cabeça — eu me esforcei tanto e veja só o que aconteceu. Não sei sequer tomar conta de uma planta estúpida. Quero dizer, qual é a grande dificuldade? Tudo que precisamos fazer é jogar água na maldita planta. Então, ela abriu o jogo: — Se eu não consigo sequer manter uma planta viva, como vou conseguir manter um bebê com vida? Ela fez como se fosse começar a chorar. A “Questão Bebê”, como designava, havia se tornado uma constante na vida de Jenny e estava aumentando a cada dia. Quando nos conhecemos, num pequeno jornal do lado oeste do Estado de Michigan, ela tinha saído havia poucos meses da faculdade e uma vida adulta séria ainda parecia algo muito distante. Para nós, era nosso primeiro trabalho profissional fora da escola. Comíamos um monte de pizzas, bebíamos um monte de cervejas, e nem esquentávamos com a possibilidade de algum dia ser qualquer outra coisa senão jovens, solteiros e consumidores inveterados de pizza e cerveja. Mas os anos se passaram. Nós mal tínhamos começado a

namorar, quando várias oportunidades de emprego — e um ano de programa de pós-graduação para mim — nos levaram em direções opostas ao longo da costa leste dos Estados Unidos. No início, estávamos a uma hora de distância de carro. Depois, ficamos a três horas de estrada. Em seguida, oito e, mais tarde, vinte e quatro horas. Na época em que aterrissamos ao mesmo tempo no sul da Flórida e nos amarramos, ela tinha quase trinta. Suas amigas estavam tendo bebês. Seu corpo estava começando a cobrar isso dela. Aquela antiga e aparentemente eterna janela de oportunidade procriativa estava lentamente se fechando. Eu me aproximei dela por trás, passei meus braços em volta de seus ombros, e beijei o alto de sua cabeça. — Está bem — eu disse. Mas eu tive de admitir, ela havia feito uma boa pergunta. Nenhum de nós jamais cuidara de qualquer coisa na vida. Com certeza, tínhamos tido animais de estimação, mas eles não contavam. Sempre soubemos que nossos pais os manteriam vivos e bem. Sabíamos que um dia gostaríamos de ter filhos, mas algum de nós estava realmente pronto para isso? Filhos eram tão... tão... assustadores. Eles eram indefesos e frágeis, e parecia que iriam se quebrar ao meio se caíssem no chão. arrematou. Um sorriso irrompeu no rosto de Jenny. — Pensei que talvez um cachorro nos desse alguma prática — ela Estávamos dirigindo no escuro, seguindo em direção noroeste para fora da cidade, onde os subúrbios de West Palm Beach se transformam em propriedades agrícolas espalhadas por toda parte. Repensei a nossa decisão de trazer um cão para casa. Era uma enorme responsabilidade, especialmente para duas pessoas que trabalhavam em período integral. Apesar disso, sabíamos o que queríamos com isso. Crescêramos com cachorros e os amamos imensamente. Eu tivera São Shaun e Jenny tivera Santa Winnie, sua setter inglesa tão amada por sua família. Nossas mais felizes lembranças de infância quase sempre incluíam nossos cães.

namorar, quando várias oportunidades de emprego — e um ano de<br />

programa de pós-graduação para mim — nos levaram em direções<br />

opostas ao longo da costa leste dos Estados Unidos. No início,<br />

estávamos a uma hora de distância de carro. Depois, ficamos a três<br />

horas de estrada. Em seguida, oito e, mais tarde, vinte e quatro horas.<br />

Na época em que aterrissamos ao mesmo tempo no sul da Flórida e nos<br />

amarramos, ela tinha quase trinta. Suas amigas estavam tendo bebês.<br />

Seu corpo estava começando a cobrar isso dela. Aquela antiga e<br />

aparentemente eterna janela de oportunidade procriativa estava<br />

lentamente se fechando.<br />

<strong>Eu</strong> me aproximei dela por trás, passei meus braços em volta de<br />

seus ombros, e beijei o alto de sua cabeça.<br />

— Está bem — eu disse.<br />

Mas eu tive de admitir, ela havia feito uma boa pergunta.<br />

Nenhum de nós jamais cuidara de qualquer coisa na vida. Com certeza,<br />

tínhamos tido animais de estimação, mas eles não contavam. Sempre<br />

soubemos que nossos pais os manteriam vivos e bem. Sabíamos que um<br />

dia gostaríamos de ter filhos, mas algum de nós estava realmente pronto<br />

para isso? Filhos eram tão... tão... assustadores. Eles eram indefesos e<br />

frágeis, e parecia que iriam se quebrar ao meio se caíssem no chão.<br />

arrematou.<br />

Um sorriso irrompeu no rosto de Jenny.<br />

— Pensei que talvez um cachorro nos desse alguma prática — ela<br />

Estávamos dirigindo no escuro, seguindo em direção noroeste para<br />

fora da cidade, onde os subúrbios de West Palm Beach se transformam<br />

em propriedades agrícolas espalhadas por toda parte. Repensei a nossa<br />

decisão de trazer um cão para casa. Era uma enorme responsabilidade,<br />

especialmente para duas pessoas que trabalhavam em período integral.<br />

Apesar disso, sabíamos o que queríamos com isso. Crescêramos com<br />

cachorros e os amamos imensamente. <strong>Eu</strong> tivera São Shaun e Jenny<br />

tivera Santa Winnie, sua setter inglesa tão amada por sua família. Nossas<br />

mais felizes lembranças de infância quase sempre incluíam nossos cães.

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