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Marley & Eu

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— Como está se sentindo, Lisa?<br />

— Estou bem — ela respondeu. — Quase normal.<br />

— Você parece ótima — respondi. — Um pouco melhor do que<br />

da última vez que a vi.<br />

— Ah, sim — ela disse, e baixou os olhos. — Que noite aquela!<br />

— Que noite! — repeti.<br />

Foi tudo que comentamos a respeito do que acontecera. Ela me<br />

falou do hospital, dos médicos, do investigador que a interrogou, das<br />

inúmeras cestas de frutas que recebeu, o tédio de ter de ficar em casa<br />

sem poder sair enquanto se recuperava. Mas evitou comentar o ataque<br />

que sofrerá, e eu fiz o mesmo. Algumas coisas não precisam ser ditas.<br />

Lisa me fez companhia por um longo tempo naquela tarde,<br />

acompanhando minhas tarefas no quintal, brincando com <strong>Marley</strong>,<br />

jogando conversa fora. <strong>Eu</strong> senti que havia alguma coisa que ela queria<br />

me contar, mas não conseguia. Ela tinha dezessete anos. <strong>Eu</strong> não<br />

esperava que ela conseguisse verbalizar o que queria. Nossas vidas<br />

haviam se entroncado de forma inesperada, duas pessoas estranhas<br />

unidas por um surto de inexplicável violência. Não houve tempo de nos<br />

familiarizarmos como vizinhos comuns; não houve tempo para que<br />

estabelecêssemos nossos limites. Num segundo, estávamos ali,<br />

intimamente ligados num momento de crise, um pai em calções de<br />

dormir, e uma adolescente com uma blusa encharcada de sangue,<br />

abraçados a uma única esperança. Havia agora uma proximidade. Como<br />

poderia deixar de haver? Havia também um desconforto, um ligeiro<br />

constrangimento, por termos nos encontrado naquele momento sem<br />

nenhuma barreira. As palavras não foram necessárias. <strong>Eu</strong> sabia que ela<br />

se sentia grata por eu tê-la acudido. <strong>Eu</strong> sabia que ela aceitara meu<br />

esforço em consolá-la, mesmo sem surtir nenhum efeito. Ela sabia que<br />

eu me importara realmente com ela e estava ali para tentar ajudá-la.<br />

Compartilhamos algo naquela noite, sentados no meio do asfalto — um<br />

desses momentos breves de claridade que definem todos os demais ao<br />

longo da vida — que nenhum de nós jamais esqueceria.<br />

— Fico feliz que tenha vindo me ver — eu disse.

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