Marley & Eu

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18.04.2013 Views

Marley seguiu Jenny até o quarto, enfiando o nariz fundo na sacola que ela trouxe de volta da maternidade. Ele literalmente não sabia que havia um ser vivo em cima de nossa cama. Então Patrick se moveu e emitiu um som semelhante a um chilreio abafado de pássaro. As orelhas de Marley se ergueram e ele congelou. De onde veio esse barulho? Patrick repetiu o som, e Marley levantou uma pata no ar, apontando como um cão de caça. Meu Deus, ele estava apontando para nosso bebê como um cão caçador apontaria para uma... presa. Nesse instante, lembrei do travesseiro de penas que ele atacou com tanta ferocidade. Ele não seria tão burro para confundir um bebê com um faisão, seria? Em seguida, ele se aproximou. Não foi um ataque feroz para “matar o inimigo”; ele não mostrou os dentes nem grunhiu. Mas tampouco foi uma aproximação de “boas-vindas ao mais novo habitante do bairro”. Seu peito tocou o colchão com tanta força que a cama andou de lugar. Patrick estava bem acordado agora, os olhos esbugalhados. Marley retrocedeu e avançou novamente, desta vez aproximando sua boca a poucos centímetros dos pezinhos do nosso recém-nascido. Jenny agarrou o bebê e eu agarrei o cachorro, puxando-o para trás pela coleira com ambas as mãos. Marley estava lívido, espichando-se para se aproximar desta nova criatura, que, de alguma forma, havia invadido o nosso santuário. Ele se sentou sobre as patas traseiras e eu o puxei pela coleira, sentindo-me como Zorro montado em seu belo cavalo negro. — Muito bem, está tudo bem agora — eu disse. Jenny colocou Patrick no moisés; eu coloquei Marley entre as minhas pernas e segurei-o firme pela coleira com os punhos cerrados. Até Jenny percebeu que Marley não queria agredi-lo. Ele estava arfando com aquela expressão abobada que ele tinha; os olhos estavam brilhando e o rabo balançando. Enquanto eu o segurava, Jenny se aproximou de nós, permitindo que Marley farejasse primeiro os dedinhos do bebê, depois seus pés, pernas e coxas. A pobre criança tinha apenas um dia e meio de idade e já estava sob o ataque de um aspirador de pó.

Quando Marley farejou a fralda, ele pareceu entrar num estado alterado de consciência, um tipo de transe induzido por fraldas infantis. Ele estava no paraíso. Ele se mostrava eufórico. — Um movimento em falso, Marley, e você está frito — Jenny alertou, e ela estava falando sério. Se ele tivesse demonstrado o menor gesto agressivo em relação ao bebê, seria o fim dele. Mas ele nunca fez isso. Logo descobrimos que nosso problema não era evitar que Marley machucasse nosso precioso bebê. Nosso problema era mantê-lo afastado do cesto de fraldas usadas. À medida que os dias se transformavam em semanas e as semanas em meses, Marley aceitou Patrick como seu mais novo amigo de infância. Certa noite, enquanto eu estava desligando as luzes para ir dormir, eu não conseguia achar Marley em lugar algum. Finalmente, resolvi olhar no quarto do bebê, e lá estava ele, deitado ao lado do berço de Patrick, os dois dormindo a sono solto, numa felicidade cúmplice e fraternal. Marley, nosso bronco selvagem, comportava-se de modo diferente com Patrick. Ele parecia entender que este era um pequeno ser humano, frágil e indefeso; ele se movia lentamente toda vez que estava próximo dele, lambendo seu rosto e orelhas delicadamente. Quando Patrick começou a engatinhar, Marley ficava deitado no chão, e deixava o bebê escalá-lo como se fosse uma montanha, puxando suas orelhas, colocando o dedo em seus olhos, e puxando tufos de seu pêlo. Nada disso o perturbava. Marley continuava parado como uma estátua. Ele era um gigante gentil perto de Patrick, e aceitou sua condição de segundo violino da orquestra com benevolência e humilde resignação. Nem todo mundo aprovava a confiança que depositávamos em nosso cão. Eles o viam como uma besta selvagem, imprevisível e possante — ele pesava quase cinqüenta quilos agora — e pensavam que fôssemos idiotas por confiar nele em relação a um bebê indefeso. Minha mãe batia firme nessa tecla e não abria mão de expressar sua opinião a respeito. Ela se contorcia ao ver Marley lamber o seu neto: — Vocês sabem onde ele já passou essa língua? — ela

Quando <strong>Marley</strong> farejou a fralda, ele pareceu entrar num estado alterado<br />

de consciência, um tipo de transe induzido por fraldas infantis. Ele estava<br />

no paraíso. Ele se mostrava eufórico.<br />

— Um movimento em falso, <strong>Marley</strong>, e você está frito — Jenny<br />

alertou, e ela estava falando sério.<br />

Se ele tivesse demonstrado o menor gesto agressivo em relação<br />

ao bebê, seria o fim dele. Mas ele nunca fez isso. Logo descobrimos que<br />

nosso problema não era evitar que <strong>Marley</strong> machucasse nosso precioso<br />

bebê. Nosso problema era mantê-lo afastado do cesto de fraldas usadas.<br />

À medida que os dias se transformavam em semanas e as<br />

semanas em meses, <strong>Marley</strong> aceitou Patrick como seu mais novo amigo de<br />

infância. Certa noite, enquanto eu estava desligando as luzes para ir<br />

dormir, eu não conseguia achar <strong>Marley</strong> em lugar algum. Finalmente,<br />

resolvi olhar no quarto do bebê, e lá estava ele, deitado ao lado do berço<br />

de Patrick, os dois dormindo a sono solto, numa felicidade cúmplice e<br />

fraternal. <strong>Marley</strong>, nosso bronco selvagem, comportava-se de modo<br />

diferente com Patrick. Ele parecia entender que este era um pequeno ser<br />

humano, frágil e indefeso; ele se movia lentamente toda vez que estava<br />

próximo dele, lambendo seu rosto e orelhas delicadamente. Quando<br />

Patrick começou a engatinhar, <strong>Marley</strong> ficava deitado no chão, e deixava<br />

o bebê escalá-lo como se fosse uma montanha, puxando suas orelhas,<br />

colocando o dedo em seus olhos, e puxando tufos de seu pêlo. Nada disso<br />

o perturbava. <strong>Marley</strong> continuava parado como uma estátua. Ele era<br />

um gigante gentil perto de Patrick, e aceitou sua condição de segundo<br />

violino da orquestra com benevolência e humilde resignação.<br />

Nem todo mundo aprovava a confiança que depositávamos em<br />

nosso cão. Eles o viam como uma besta selvagem, imprevisível e<br />

possante — ele pesava quase cinqüenta quilos agora — e pensavam que<br />

fôssemos idiotas por confiar nele em relação a um bebê indefeso. Minha<br />

mãe batia firme nessa tecla e não abria mão de expressar sua opinião a<br />

respeito. Ela se contorcia ao ver <strong>Marley</strong> lamber o seu neto:<br />

— Vocês sabem onde ele já passou essa língua? — ela

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