Marley & Eu

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18.04.2013 Views

um profissional. Jenny levantava-se toda manhã e levava Marley para uma caminhada rápida ao longo da rebentação. Eu estaria ainda acordando quando eles voltavam, com cheiro de maresia. Minha mulher era a imagem perfeita de saúde em todos os sentidos, menos um. Ela passava quase todos os dias querendo vomitar o dia inteiro. Mas ela não se queixava: ela superava cada ataque de enjôo com um modo de aceitação tácita, por indicar que o minúsculo corpo dentro dela estava conseguindo se desenvolver perfeitamente. E estava mesmo. Desta vez, Essie pegou a minha fita de vídeo e gravou as primeiras imagens nebulosas e granuladas do nosso bebê. Pudemos ouvir o coração bater e ver suas quatro minúsculas cavidades pulsarem. Pudemos ver o contorno da cabeça e contar todos os braços e perninhas. Dr. Sherman pôs a cabeça para dentro da sala de sonografia para dizer que tudo estava perfeito e, depois, olhou para Jenny e disse com sua voz retumbante: — Por que você está chorando, meu bem? Você deveria estar feliz. Essie bateu nele com a prancheta de mão e o repreendeu: — Vá embora e deixe-a em paz! — disse ela, e virou os olhos para Jenny com se quisesse dizer: “Homens! Eles não entendem nada!”. Quanto a lidar com mulheres grávidas, essa seria a melhor definição para mim. Eu dava a Jenny o seu espaço, era solidário quando ela se sentia enjoada ou com dor, e tentava não fazer uma cara muito feia quando ela insistia em ler o livro O que esperar quando se está esperando em voz alta para mim. Eu fazia elogios à forma que seu corpo adquiria à medida que sua barriga crescia, dizendo coisas como: “Você está ótima. De verdade. Você parece que resolveu colocar uma cesta de basquete debaixo da camiseta”, Eu ainda me esforçava para levar numa boa seu comportamento cada vez mais bizarro e irascível. Logo me tornei íntimo do atendente de plantão do mercadinho 24 horas ao me tornar um assíduo freqüentador, aparecendo a qualquer hora do dia ou da noite para comprar sorvete, maçãs, aipo ou chiclete em sabores que

eu nem suspeitava que existissem. — Você tem certeza que isto é cravo? — eu perguntaria a ele. — Ela disse que tem de ser de cravo. Certa noite, quando Jenny estava no quinto mês de gravidez, ela cismou que precisávamos comprar meias de bebê. Sim, claro que precisávamos, e eu concordei com ela, e certamente compraríamos tudo que o bebê precisasse antes de nascer. Mas ela não dizia que precisaríamos comprar as meias, apenas, ela dizia que precisaríamos comprá-las imediatamente. — Não vamos ter nada para colocar nos pés do bebê quando voltarmos da maternidade — ela disse numa voz trêmula. Não importava que o dia previsto para o parto fosse dali a quatro meses. Não importava que quando o bebê nascesse a temperatura externa seria de “gélidas” 36 graus Celsius. Não importava que até mesmo um rapaz desavisado como eu sabia que o bebê estaria embrulhado da cabeça aos pés em um cobertor quando fosse liberado do berçário da maternidade. — Meu bem, pelo amor de Deus! — eu disse. — Seja razoável, são oito horas da noite de domingo. Onde é que vou achar meias de bebê? — Precisamos das meias — ela repetiu. — Temos várias semanas pela frente para comprar as meias — tentei contornar. — Vários meses pela frente para comprar meias. — Veja esses dedinhos pequeninhos — ela choramingou. Não adiantou. Dirigi a esmo resmungando até encontrar uma loja que estivesse aberta e peguei uma seleção efusiva de meias que eram tão ridiculamente minúsculas que pareciam luvinhas de polegar. Quando cheguei em casa e despejei-as da sacola, Jenny ficou satisfeita. Finalmente, tínhamos meias. E graças a Deus que conseguimos pegar os últimos dos poucos pares disponíveis antes que o fornecimento nacional de meias de bebê se esgotasse, o que poderia acontecer a qualquer momento, sem prévio aviso. Os frágeis dedinhos do nosso bebê agora estavam a salvo. Poderíamos nos deitar e dormir em paz.

eu nem suspeitava que existissem.<br />

— Você tem certeza que isto é cravo? — eu perguntaria a ele. —<br />

Ela disse que tem de ser de cravo.<br />

Certa noite, quando Jenny estava no quinto mês de gravidez, ela<br />

cismou que precisávamos comprar meias de bebê. Sim, claro que<br />

precisávamos, e eu concordei com ela, e certamente compraríamos tudo<br />

que o bebê precisasse antes de nascer. Mas ela não dizia que<br />

precisaríamos comprar as meias, apenas, ela dizia que precisaríamos<br />

comprá-las imediatamente.<br />

— Não vamos ter nada para colocar nos pés do bebê quando<br />

voltarmos da maternidade — ela disse numa voz trêmula.<br />

Não importava que o dia previsto para o parto fosse dali a quatro<br />

meses. Não importava que quando o bebê nascesse a temperatura<br />

externa seria de “gélidas” 36 graus Celsius. Não importava que até<br />

mesmo um rapaz desavisado como eu sabia que o bebê estaria<br />

embrulhado da cabeça aos pés em um cobertor quando fosse liberado<br />

do berçário da maternidade.<br />

— Meu bem, pelo amor de Deus! — eu disse. — Seja razoável, são<br />

oito horas da noite de domingo. Onde é que vou achar meias de bebê?<br />

— Precisamos das meias — ela repetiu.<br />

— Temos várias semanas pela frente para comprar as meias —<br />

tentei contornar. — Vários meses pela frente para comprar meias.<br />

— Veja esses dedinhos pequeninhos — ela choramingou.<br />

Não adiantou. Dirigi a esmo resmungando até encontrar uma loja que<br />

estivesse aberta e peguei uma seleção efusiva de meias que eram tão<br />

ridiculamente minúsculas que pareciam luvinhas de polegar. Quando<br />

cheguei em casa e despejei-as da sacola, Jenny ficou satisfeita. Finalmente,<br />

tínhamos meias. E graças a Deus que conseguimos pegar os últimos dos<br />

poucos pares disponíveis antes que o fornecimento nacional de meias de bebê<br />

se esgotasse, o que poderia acontecer a qualquer momento, sem prévio aviso.<br />

Os frágeis dedinhos do nosso bebê agora estavam a salvo. Poderíamos nos<br />

deitar e dormir em paz.

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