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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

do vem de um grande amor; há delitos em que o<br />

perdão se alcança em favor do mesmo crime; então<br />

aborrece-se o efeito, mas a causa admira-se; ninguém<br />

quisera o sucesso em si, mas to<strong>dos</strong> invejam o motivo.<br />

Um amor medíocre, e vulgar só se ocupa no (94) deleite<br />

<strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>, e dêle faz a maior felicidade; um amor sublime<br />

alimenta-se em contemplar o objeto que ama; êste é o amor<br />

humano de quem se diz, tem semelhança com o amor divino.<br />

Há vícios, que de alguma sorte, parece que dão documentos<br />

para a virtude. O amor ordinário é impulso da natureza; o<br />

amor subido é como uma emanação da alma; aquele é sujeito<br />

à saciedade, e por consequência à dor; porque a saciedade é<br />

uma espécie de dor, e de tormento, porém êste não é<br />

susceptível de algum desassossêgo; aquele busca fora de si o<br />

alívio; este acha em si mesmo o contentamento; um é como<br />

dependente da vontade de outrem; o outro é isento do arbítrio<br />

alheio. O nosso bem só deve depender de nós; por isso nos<br />

fazemos infelizes, à proporção que buscamos a nossa<br />

felicidade em outra parte. Mas como pode deixar de ser<br />

assim? O nosso desejo não se pode conter dentro de nós,<br />

porque os seus objetos to<strong>dos</strong> são exteriores; a cada instante<br />

envelhecemos, porém os nossos desejos a cada instante se<br />

renovam, e renascem: vivemos no mundo rodea<strong>dos</strong> de uma<br />

imensidade de coisas diferentes, e estas sucessivamente vão<br />

sendo o emprêgo do nosso cuidado, e das nossas atenções;<br />

tôdas acham em nós uma certa disposição, que faz, que a<br />

umas queremos, e a outras não; as nossas paixões são as que<br />

escolhem, ou reprovam; as coisas já vêm configuradas

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