(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
que há uma certa porção de alegria e de tristeza, que há<br />
de passar por nós precisamente; a fortuna e a desgraça<br />
não a produz; só a desperta. Tudo nos é dado como por<br />
conta; a vida, a fortuna, a desgraça, a alegria e a<br />
tristeza: em tudo há um ponto certo e fixo; a <strong>vaidade</strong><br />
que governa tôdas as paixões, em umas aumenta a<br />
atividade, em outras diminui; e tôdas recebem o valor,<br />
que a <strong>vaidade</strong> lhes dá. Estamos no mundo para ser alvo<br />
do tempo; e dêste tôdas as mudanças não se dirigem a<br />
nós, dirigem-se à nossa <strong>vaidade</strong>: os sucessos fazem<br />
efeito em nós, porque primeiro o fazem na nossa<br />
<strong>vaidade</strong>; de sorte que um homem sem <strong>vaidade</strong> seria o<br />
mesmo que um homem insensível; o prazer, e o<br />
desgôsto, que não vêm das primeiras leis da natureza,<br />
são vãos em si mesmos, de instituição política, e<br />
unicamente criaturas da <strong>vaidade</strong>.<br />
As virtudes humanas muitas vêzes se compõem (86) de<br />
melancolia, e de um retiro agreste. As mais das vêzes é humor<br />
o que julgamos razão; é temperamento o que chamamos<br />
desengano; e é enfermidade o que nos parece virtude. Tudo<br />
são efeitos da tristeza; esta nos obriga a seguir os parti<strong>dos</strong><br />
mais violentos, e mais duros; raras vêzes nos faz refletir sôbre<br />
o passado; quase sempre nos ocupa em considerar futuros; por<br />
isso nos infunde temor e covardia, na incerteza de<br />
acontecimentos felizes ou infaustos, e verdadeiramente a<br />
alegria nos governa em forma, que seguimos como por fôrça<br />
os movimentos dela; e do mesmo modo os da tristeza. Um<br />
ânimo alegre disfarça mal o riso; um coração triste encobre<br />
mal o seu desgôsto: como há de chorar quem está contente? E<br />
como há de rir quem está triste?