(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
tôda a parte é o mesmo, em nenhuma é mais nem<br />
menos; pode parecer maior, mas ser, não. O sol ao<br />
meio-dia brilha mais, não porque deixe de ser o<br />
mesmo, nem porque então tenha mais luz, mas porque<br />
esta faz mais efeito em um lugar, que em outro; no<br />
ocaso, e no oriente é o mesmo sol, e a mesma luz, mas<br />
não parece o mesmo. Assim são os <strong>homens</strong>; em<br />
qualquer parte que os ponham, to<strong>dos</strong> são iguais e<br />
uniformes; a diferença que há entre êles, não tem outro<br />
fundamento que o que vem da preocupação e do<br />
conceito; são duas coisas, e ambas vãs, porque<br />
nenhuma tem realidade. A fortuna pode armar o<br />
homem com hieroglíficos e adornos figura<strong>dos</strong>, mas não<br />
o pode armar senão por fôrça; quem levantar as roupas,<br />
há de ver o engano e a suposição : não há de achar mais<br />
do que um homem como os outros, cujo ornato é pura<br />
fantasia, arbitrária, artificial e separável; a fortuna pode<br />
vestir, não pode formar; sabe fingir, mas não sabe<br />
fazer. O mesmo obséquio todo se compõe de um<br />
cerimonial imaginário, mudável, de instituição<br />
nacional e variante. O incenso que algumas vêzes é<br />
símbolo da <strong>vaidade</strong> e da lisonja, primeiro que exale o<br />
seu perfume, arde, e no ar se extingue e se consome.<br />
Tudo o que nos recreia e nos atrai é exalação e fumo;<br />
por isso o emprego da <strong>vaidade</strong> tôda consiste em dar<br />
substância às vozes, entidade ao modo, e corpo ao<br />
vento.<br />
A <strong>vaidade</strong> satisfeita, ou ofendida, é a que nos (82) faz<br />
buscar a solidão e o retiro; como temerosos de perder a<br />
tristeza, em que achamos um agrado de gênero diverso. Há<br />
muitos males, em que a <strong>vaidade</strong> parece se deleita; e ainda sem<br />
<strong>vaidade</strong> a ale-