(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
acaba em nós o gôsto, do que nelas a duração; unicamente<br />
sensíveis quando começamos a ter, ou a alcançar;<br />
então gozamos, depois só possuímos. Os<br />
objetos depois de vistos muitas vêzes ficam como<br />
diferentes da primeira vez que os vimos; perdem todo<br />
o nosso reparo e atenção: os olhos fàcilmente se<br />
esquecem do que sempre vêem, não porque o costume<br />
nos tire a admiração, mas porque a fraqueza <strong>dos</strong> nossos<br />
senti<strong>dos</strong> a não pode conservar. Oh, quão diversos são<br />
em si os princípios de que se compõe o homem;<br />
primeiramente terra, e ultimamente racional! Começa a<br />
melhorar-se desde a sua primeira origem, até que vem<br />
a tornar àquilo de que procedeu. Infeliz metamorfose!<br />
Tudo o que nasce é para não ser firme nem constante: a<br />
terra apenas alenta as suas produções, quando logo as<br />
deixa, e desanima; o mesmo firmamento, com giro<br />
rápido, esconde pela tarde os astros que amanheceram<br />
com a aurora. Só a <strong>vaidade</strong> é constante em nós; em<br />
tudo o mais a firmeza nos molesta: com o tempo e a<br />
razão vimos a perder uma grande parte da sensibilidade<br />
no exercício das paixões; porém o exercício da <strong>vaidade</strong><br />
não se perde com a razão nem com o tempo. O nosso<br />
gôsto debilita-se, altera-se, muda-se, e também se<br />
acaba; a <strong>vaidade</strong> sempre persiste e dura: isto deve ser,<br />
porque os nossos senti<strong>dos</strong> usam-se; a <strong>vaidade</strong> não:<br />
naqueles o costume os enfraquece, nesta o costume<br />
aumenta a aviva. A jurisdição <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong> é muito<br />
limitada, porque os olhos só vêem, os ouvi<strong>dos</strong> só<br />
ouvem, e o tato só sente; e para haver ainda menos<br />
firmeza nos senti<strong>dos</strong>, êstes quase sempre estão<br />
enfermos; e não pode haver constância, donde pode<br />
haver enfermidade; de sorte que a inconstância não é<br />
mais do que enfermidade <strong>dos</strong> senti<strong>dos</strong>. As nossas ações<br />
dependem mais