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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />

universal; é crime o conservar-se puro no meio da<br />

impureza: essas mesmas águas nos ensinam; tôdas se<br />

movem, o furor, com que se quebram, as conserva; o<br />

seu repouso seria o mesmo que a sua corrupção.<br />

(81) Em nada podemos estar firmes, pois vivemos<br />

no meio de mil revoluções diversas: as idades, e a<br />

fortuna continuamente combatem a nossa constância;<br />

tudo consiste em representação que começa, não para<br />

existir, mas para acabar; menos para ser, que para ter<br />

sido. Vimos ao mundo a mostrar-nos, e a fazer parte da<br />

diversidade dêle; as coisas parece que nos vão fugindo,<br />

até que nós vimos a desaparecer também. Somos<br />

forma<strong>dos</strong> de inclinações opostas entre si, o temos em<br />

nós uma propensão oculta, que sôbre aparência de<br />

buscar os objetos, só procura nêles a mudança. A<br />

inconstância nos serve de alívio, e desoprime, porque a<br />

firmeza é como um pêso, que não podemos suportar<br />

sempre, por mais que seja leve: e com efeito como<br />

podem as nossas idéias serem fixas, e sempre as<br />

mesmas, se nós sempre vamos sendo outros? Tudo nos<br />

é dado por um certo tempo; em breves dias, e em<br />

breves horas se desvanece a razão da novidade, que<br />

nos fazia apetecer; fica invisível aquêle agrado, que<br />

nos tinha induzido para desejar. Quantas vêzes esperamos<br />

as sombras da noite com mais fervor do que as<br />

luzes do dia; não por vício do desejo, mas porque não<br />

temos forças para suportar o bem, nem para conservar<br />

o mal? Tudo nos cansa: não só nos é preciso constância<br />

para sofrer; também necessitamos paciência para<br />

gozar; a mesma delícia nos importuna. Perdemos as<br />

coisas, primeiro pela nossa indiferença, que pelo fim<br />

delas; primeiro porque se

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