(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
ouvir, e de entender; a <strong>vaidade</strong>, que de tôdas as paixões<br />
é a mais forte, a tôdas arrasta, e dá ao nosso conceito a<br />
fornia, que lhe parece: o entendimento é como uma<br />
estampa, que se deixa figurar, e que fàcilmente recebe<br />
a figura, que se imprime. A <strong>vaidade</strong> propõe, e decide<br />
logo, de sorte que quando as coisas chegam ao<br />
entendimento já êste está vencido; o que faz é aprovar<br />
a preocupação anterior, que a <strong>vaidade</strong> lhe introduz, e<br />
assim quando a <strong>vaidade</strong> busca o entendimento é só por<br />
formalidade, e só para a defender, e autorizar, e não<br />
para aconselhar. O discorrer com liberdade, supõe uma<br />
exclusão de tôdas as paixões; que os <strong>homens</strong> se possam<br />
isentar de algumas, pode ser, mas que de tôdas fiquem<br />
isentos ao mesmo tempo, é mui difícil. Tudo quanto<br />
vemos, é como por uma interposta nuvem; o que<br />
imaginamos, também é como por entre o embaraço de<br />
mil princípios diferentes, incertos e duvi<strong>dos</strong>os e<br />
quando nos parece que a nossa vista rompeu a nuvem,<br />
e que o nosso discurso desfêz o embaraço, então é que<br />
estamos cegos, e então é que erramos mais. A <strong>vaidade</strong><br />
nos tem em um contínuo movimento, e como é paixão<br />
dominante em nós, a tôdas as mais sujeitas, e prevalece<br />
a tôdas semelhante ao impulso das ondas, a que não<br />
resiste o frágil de uma nau, quando o mar embravecido<br />
a faz correr com a atormenta; o navegante parece que<br />
busca o perigo, porque não se opõe à corrente das<br />
águas, antes as segue, e só assim escapa ao naufrágio.<br />
Quantas vêzes o buscar o precipício é o único meio de<br />
o evitar! A <strong>vaidade</strong> é a tormenta, ou o mar tempestuoso<br />
que nos move; o deixar de a seguir, nem sempre pode<br />
ser, nem é acertado sempre ; porque a <strong>vaidade</strong> é um<br />
mal comum, e entre os <strong>homens</strong> é culpa ou não<br />
participar de um contágio