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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

coisa é a vida para to<strong>dos</strong> mais do que um enleio de<br />

<strong>vaidade</strong>s, e um giro sucessivo entre o gôsto, a dor, a<br />

alegria, a tristeza, a aversão, e o amor? Ainda ninguém<br />

nasceu com a propriedade de insensível, a vida não<br />

pode subsistir, sem estar subordinada às impressões do<br />

gôsto, e do sentimento. To<strong>dos</strong> nascemos para chorar, e<br />

para rir; a circunstância de chorar mais, ou menos,<br />

resulta de cada um de nós. A violência, e a <strong>vaidade</strong> das<br />

nossas paixões nos fazem apetecer, e quem apetece, já<br />

se expõe aos delírios do riso, e às amarguras das<br />

lágrimas; êsse mesmo apetecer ainda só por si, é uma<br />

espécie de sentimento, e de prazer; a imaginação nos<br />

antecipa tudo, por isso o nosso contentamento, ou a<br />

nossa pena, chegam primeiro do que o seu objeto, e<br />

êste quando vem, já nós estamos, ou abati<strong>dos</strong> de<br />

tristeza, ou cheios de alegria: somos tão sensíveis, que<br />

os sucessos para nos moverem, não é necessário que<br />

estejam em nós, basta que os vejamos de longe; a<br />

nossa sensibilidade tem maior fôrça na nossa mesma<br />

apreensão; daqui vem que no mal, que se espera, ou se<br />

receia, não pode haver alívio, porque o pensamento Ihe<br />

dá uma extensão maior; em lugar, que o mal que já se<br />

sente, pode consolar-se, porque então se vê que tem<br />

limite. As coisas parecem que se espiritualizam para se<br />

entregarem a nós assim que as imaginamos; ou ao<br />

menos para que a eficácia delas se incorpore em nós,<br />

muito antes que elas che-guem; e dêste modo as coisas<br />

antes que as tenhamos, já são nossas; e quando a causa<br />

se apresenta, já temos sentido os seus efeitos; por isso<br />

desconhecemos tudo o que vimos a alcançar, e nos<br />

parece que há falta naquilo que vimos a conseguir: as<br />

coisas, quando chegam, já nos acham sacia<strong>dos</strong>; porque<br />

o desejo é uma espécie de gozar mais ativa, e

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