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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

são sagra<strong>dos</strong>, no tempo de cumprir o que achamos, são<br />

durezas; uma coisa nos inclina, a outra ofende-nos;<br />

quando prometemos, ficamos bem conosco, por-que<br />

nunca faltam agradecimentos e lisonjas, e por<br />

consequência <strong>vaidade</strong>s; quando havemos de cum-prir,<br />

ficamos mal conosco, porque comumente nos<br />

arrependemos. Que coisa é o arrependimento, senão<br />

uma ira contra si próprio? Êste são os motivos de que<br />

nasce a deslealdade nos contratos; e que poucos se<br />

haviam de observar, se a <strong>vaidade</strong> que em tudo governa,<br />

não nos obrigasse a guardar a fé nas nossas<br />

convenções! Estas, quando se cumprem, não é por<br />

vontade, mas por <strong>vaidade</strong>; como o nosso empenho é<br />

conservar a estimação, e opinião <strong>dos</strong> <strong>homens</strong>, por isso<br />

tememos que alguém diga, que mudamos, que faltamos<br />

ao ajuste, e à palavra, ou que enganamos: tôdas estas<br />

expressões infamam, porque contêm um caráter de<br />

reprovação universal, trazem o desprêzo em<br />

consequência, e se se justificam, fazem perder o nome<br />

e o respeito, à maneira de uma proscrição, ou anátema<br />

civil; por isso a <strong>vaidade</strong> se estremece, e nos obriga a<br />

ser leais, por fôrça da nossa mesma <strong>vaidade</strong>. É justiça<br />

rigorosa: de sorte que a <strong>vaidade</strong> sendo uma parte de<br />

nós mesmos, contra nós mesmos se revolta e se dirige:<br />

e assim são poucas as coisas que fazemos só pela<br />

obrigação, que temos de as fazer; é necessário que<br />

outro maior motivo nos incite; o que não fazemos pela<br />

<strong>vaidade</strong>, e desta sorte tudo quanto obramos, é por um<br />

princípio vicioso; o bem muitas vêzes desce de uma<br />

origem má; a razão no homem é como um licor<br />

precioso em um vaso impuro; o licor sempre se<br />

contamina com a infecção do vaso; êste em nós é a<br />

<strong>vaidade</strong>.

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