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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

que de longe a considera, se estremece; por via do<br />

pensamento se lhe comunica de alguma sorte a dor, e<br />

assim nem por fugir ao castigo, fica livre dêle. A<br />

<strong>vaidade</strong> entende que tudo quanto é nosso, é susceptível<br />

de aflição e de prazer, de respeito e de vitupério; e<br />

assim nos persuade que para as razões da mágoa e do<br />

contentamento, a nossa semelhança tem ser, a nossa<br />

sombra vida, e a nossa estátua sentimento.<br />

A falta de religião e de bons costumes, faz cair (75) o<br />

homem no estado total de perversidade, a falta de religião<br />

consiste em se não temer a Deus, a falta de costumes resulta<br />

de se não temer os <strong>homens</strong>; e verdadeiramente quem não<br />

temer a lei de Deus nem as leis <strong>dos</strong> <strong>homens</strong>, que princípio lhe<br />

fica por onde haja de praticar o bem? A nossa natureza propende<br />

para o mal, e por isso foi preciso prescrever-lhe um<br />

certo modo de viver; vivemos por regras. No exercício do mal<br />

achamos uma espécie de doçura, e de naturalidade, as virtudes<br />

praticam-se por ensino, o vício sabe-se, a virtude aprende-se.<br />

Miserável condição do homem! O que devia saber, ignora, e o<br />

que devia ignorar, sabe: para o que nos é útil, necessitamos de<br />

estudo, e para o que nós é pernicioso não; para o bem<br />

necessitamos de lembrança, e para o mal de esquecimento. É<br />

necessária que nos esqueçamos do mal que já sabemos, e que<br />

nos lembremos do bem, que devemos saber; uma coisa custanos<br />

a lembrar, a outra custa-nos a esquecer. O vício fazemos<br />

sem arte, sem tempo, sem mestre, e sem trabalho; a virtude<br />

não vem comu-mente, senão como fruto da experiência, da<br />

meditação, <strong>dos</strong> preceitos, e <strong>dos</strong> anos: para o vício não

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