(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />
vir; e que faça detestável, não só o autor do crime, e a<br />
sua descendência, mas ainda a mesma lembrança do<br />
seu nome. Quantos há que não temem o castigo, pelo<br />
que êste tem de insuportável, mas pelo que tem de<br />
infame; e que o não receiam pelo que toca a si, senão<br />
pelo que há de tocar aos seus? A corrupção da<br />
natureza, chega nêles a desprezar a sua própria<br />
conservação, mas não a sua reputação; desatendem ao<br />
seu opróbrio pessoal, mas não àquele que há de ficar, e<br />
continuar nos que hão de vir depois: êste resto de<br />
<strong>vaidade</strong> é unicamente o que os reprime. A malícia lhes<br />
ensina, que o perder a vida não é grande pena; porque<br />
esta verdadeiramente não assenta em se perder a vida,<br />
mas em a perder antecipadamente; e com efeito não é<br />
grande o mal que sempre é infalível por outra parte, e<br />
que por ora só consiste na circunstância do tempo; isto<br />
é, em ser com antecendência, e ser já, aquilo que<br />
certamente há-de vir a ser daqui a pouco: por isso o<br />
prêso, que se mata, é como um prêso que foge; um e<br />
outro, iludiram o castigo, porque êste devia consistir na<br />
duração, e não na extinção. Daquela forma ficou<br />
impune o crime? Não, porque suposto se ausentasse o<br />
delinquente, cá deixou o nome, e a memória; e nesta<br />
ainda tem lugar a pena; contra ela se fulmina a<br />
condenação de um labéu perpétuo: o que acabou com a<br />
fugida, ou com a morte, foi a pena temporal, e por<br />
consequência pena curta, porque acabava com a vida;<br />
mas fica subsistindo a pena da ignomínia, pena quase<br />
sem fim, porque a tradição e a história a fazem<br />
renascer a cada instante. A <strong>vaidade</strong> faz-nos adorar o<br />
respeito e a estimação <strong>dos</strong> <strong>homens</strong>; por isso o desprêzo<br />
aflige, ainda só considerado em um cadáver, em uma<br />
posteridade, em um nome; a pena vil imposta em uma<br />
estátua faz pavor, não pelo que é, mas pelo que<br />
representa; o criminoso,