(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />
ou eleição, e quem não vê, não distingue, nem elege; o<br />
amor vem por natureza, a <strong>vaidade</strong> por contágio; o amor<br />
busca uma felicidade física, e por consequência<br />
material e visível: a <strong>vaidade</strong> busca um bem de idéia, e<br />
fantasia, e por consequência cego: a estimação <strong>dos</strong><br />
<strong>homens</strong> é o objeto maior da <strong>vaidade</strong>; objeto vago, e<br />
que não tem figura própria em que possa ver-se. Há<br />
porém na <strong>vaidade</strong> a diferença, que tudo o que se faz<br />
por <strong>vaidade</strong>, queremos que se veja, que se diga, e que<br />
se saiba; então é fortuna a publicidade, se é que nos<br />
parece, que o mundo inteiro não basta para<br />
testemunha: daqui vem que um furor heróico até chega<br />
a invocar o céu e a terra, para estarem atentos a uma<br />
ação: como tudo se faz pelo estímulo da <strong>vaidade</strong>, por<br />
isso se julga perdida uma façanha, que não tem quem a<br />
divulgue; como se um ato generoso consistisse mais<br />
em se saber do que se obrar. A <strong>vaidade</strong> que nos move,<br />
não é pela substância da virtude, mas pela glória dela.<br />
(69) No desprêzo da vida, é onde a <strong>vaidade</strong> se mostra<br />
altiva e arrogante. Os clarins que incitam ao<br />
combate, não são vozes que a natureza entenda, a<br />
<strong>vaidade</strong> sim; aquela sempre vai com um passo vacilante<br />
e trêmulo; esta conduz o peito ardente e furioso :<br />
por mais que se encontrem precipícios, e que os olhos<br />
só vejam fogo e sangue, nem por isso desmaia o<br />
coração que a <strong>vaidade</strong> anima. Aquêle a quem o escudo<br />
da fortuna cobre, e quem marcha resoluto, já cuida que<br />
está vendo os faustos do triunfo: aquêle que prostrado,<br />
já fica agonizando, parece-lhe que expira, ou nos<br />
braços da vitória, ou nos da fama. Que felicidade de<br />
morrer! A <strong>vaidade</strong> tira da morte