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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />

(67) To<strong>dos</strong> conhecemos os delírios, a que a <strong>vaidade</strong><br />

nos incita, mas nem por isso deixamos de os seguir.<br />

Parece que cada um de nós tem duas vontades sempre<br />

opostas entre si; ao mesmo tempo queremos, e não<br />

queremos; ao mesmo tempo condenamos, e aprovamos<br />

; ao mesmo tempo buscamos, e fugimos; amamos, e<br />

aborrecemos. Temos uma vontade pronta para<br />

conhecer, e detestar o vício; mas também temos outra<br />

pronta para o abraçar; uma vontade nos inclina, a outra<br />

arrasta-nos: a vontade dominante é a que segue o<br />

partido da <strong>vaidade</strong>; por mais que queiramos ser<br />

humildes, e que tenhamos vontade de desprezar o<br />

fausto, a vontade contrária sempre vence, e se acaso se<br />

conforma, a violência com que o faz, é um sacrifício.<br />

A <strong>vaidade</strong> é uma espécie de concupiscência, não se lhe<br />

resiste com as fôrças do corpo, com as do espírito sim;<br />

a carne não é frágil só por um princípio, mas por<br />

muitos, e a <strong>vaidade</strong> não é o menor dêles.<br />

(68) O aplauso é o ídolo da <strong>vaidade</strong>, por isso as ações<br />

heróicas não se fazem em segrêdo, e por meio delas<br />

procuramos que os <strong>homens</strong> formem de nós o mesmo<br />

conceito, que nós temos de nós mesmos. Raras vêzes<br />

fomos generosos, só pela generosidade, nem valorosos<br />

só pelo valor. A <strong>vaidade</strong> nos propõe, que o mundo do<br />

todo se aplica em registrar os nossos; para este mundo<br />

é que obramos; por isso há muita diferença de um<br />

homem, a êle mesmo: pôsto no retiro é um homem<br />

comum, e muitas vêzes ainda com menos talento que o<br />

comum <strong>dos</strong> <strong>homens</strong>: porém pôsto em parte donde o<br />

vejam, todo é ação, movimento, esfôrço. Nunca<br />

mostramos o que somos, senão quando entendemos<br />

que ninguém nos vê, e isto

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