(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
prudencial, histórica, e muitas vêzes imbecil. O ser antigo<br />
não da juízo à to<strong>dos</strong>, antes o tira, porque o tempo<br />
insensivelmente vai destruindo o homem em tôdas as suas<br />
partes, e por mais, que o não sintamos, o que primeiro<br />
cansa, é o entendimento; porque êste é o como a fôrça, que<br />
até um certo tempo cresce, até outro se conserva, e depois<br />
sempre vai diminuindo. Perdemos a inocência assim que<br />
entramos a ter uso de razão, e perdemos a razão assim que<br />
tornamos ao estado da inocência: uma, e outra coisa são<br />
virtudes puras, e excelentes, mas insociáveis.<br />
Primeiramente adquirimos a razão à custa da inocência, é<br />
depois alcançamos a inocência à custa da razão; não sei<br />
quando é que perdemos, ou ganhamos. Indiscretamente<br />
fazemos <strong>vaidade</strong> de sermos entendi<strong>dos</strong>: o entendimento<br />
parece que nos foi dado por castigo pois com êle ficamos<br />
sem desculpa para nada. Que maior mal!<br />
É rara a coisa, em que não tenha parte a vai- (61) dade. A<br />
mesma ingratidão, de quem recebe um benefício, é efeito da<br />
<strong>vaidade</strong>; porque sendo o benefício uma espécie de socorro, sempre<br />
indica superioridade em quem o faz, e necessidade naquele que o<br />
recebe, por isso a lembrança de um benefício, humilha, e mortifica<br />
a nossa <strong>vaidade</strong>, e se alguma vez nos lembra, é porque a natureza se<br />
acusa de sentir-se ingrata. Muitos por <strong>vaidade</strong> confessam benefícios,<br />
que nunca receberam; é confissão, que os não aflige, porque<br />
assenta em uma dívida suposta: outros também por <strong>vaidade</strong><br />
reconhecem benefícios verdadeiros, e isto porque fazem <strong>vaidade</strong> de<br />
uma dívida, que já julgam satisfeita pela confissão.