(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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ações alheias. O heroísmo, e a nobreza, eram qualidades<br />
pessoais, e não hereditárias; uma, e outra dependiam<br />
de ações heróicas, e em ambas era necessário<br />
o requisito do poder; se êste cessava, extiguia-se a<br />
nobreza. Dêste modo é, que antigamente haviam<br />
nobres, porque em todo o tempo houveram poderosos;<br />
êstes ficavam distintos por grandeza, e não por<br />
natureza; passava a nobreza de uns a outros, quando o<br />
poder também passava; de uma, e outra coisa se<br />
formava uma herança indivisível. Acabada a nobreza<br />
por falta do luzimento, se êste depois tornava, não fazia<br />
ressuscitar a nobreza já perdida; compunha-se outra<br />
nova, e esta não era de menos entidade, ou menos<br />
nobre que a primeira. O tempo não é o que enobrece.<br />
Os séculos que envelhecem tudo, só a nobreza não<br />
haviam de fazer caduca? Os anos tudo diminuem, e só<br />
a nobreza haviam de fazer maior? Uma flor moderna<br />
não tem menos graça do que uma flor antiga. A verdura<br />
com que a primave se reveste, já no outono fica<br />
prostrada, e macilenta. As estrelas começaram com o<br />
mundo, e nem por isso brilham mais; aquilo que<br />
depende de mais, ou menos tempo é frágil. A <strong>vaidade</strong><br />
até se quer aproveitar das horas, e <strong>dos</strong> dias, que passaram.<br />
Por aquêle modo de entender, cresce a <strong>vaidade</strong>,<br />
a nobreza não. Que pouco o cuidam os <strong>homens</strong> em que<br />
há uma eternidade, e que a duração do mundo, não é<br />
mais do que um instante!<br />
Se há nos <strong>homens</strong> diferença, esta só se acha nos (163)<br />
cetros, e coroas; os que dominam a terra, têm a semelhança<br />
<strong>dos</strong> humanos, mas não sei que têm de mais: têm o mesmo ser<br />
para serem <strong>homens</strong>, mas não para serem como os mais<br />
<strong>homens</strong>: quem os fêz